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Presidente francês endureceu o discurso e deixou mais um aviso aos manifestantes

SOPA Images/LightRocket via Gett

Presidente francês endureceu o discurso e deixou mais um aviso aos manifestantes

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Aumento da idade da reforma cria risco de "explosão social" em França, mas Macron não cede: "Escolho o interesse geral do país"

Aumento da idade da reforma origina várias manifestações em França, algumas com contornos violentos. Macron não desarma e defende medida, mesmo que isso implique perda de popularidade.

Protestos violentos nas ruas. Várias moções de censura ao governo. Uma primeira-ministra com a imagem desgastada. Os últimos dias da vida política francesa foram conturbados. À boleia do polémico aumento da idade de reforma dos 62 para os 64 anos, imposto por decreto presidencial, Emmanuel Macron tem enfrentado a revolta dos sindicatos e dos manifestantes. Para tentar apaziguar os ânimos, o Presidente francês deu esta quarta-feira uma entrevista, em que sublinhou que a medida não era um “luxo” e que não lhe dava “prazer” pô-la em prática. Ela é, sublinhou Macron, uma “necessidade”. 

No entanto, 64% dos franceses opõem-se à medida, mostra uma sondagem realizada pelo Instituto Francês de Opinião Pública (IFOP) publicada este domingo. E isso tem obviamente impacto na popularidade de Emmanuel Macron, que atingiu um mínimo histórico: apenas 28% dos inquiridos do mesmo estudo de opinião aprovam a atuação do Presidente. Apesar destes indicadores, o chefe de Estado não desarma. “Eu não ando à procura da reeleição. Entre as sondagens de curto prazo e o interesse geral do país, escolho o interesse geral do país.”

Da esquerda à direita, quase toda a oposição também está contra o aumento da idade da reforma e tem aproveitado o momento para fragilizar a imagem do Presidente, tentando forçar novas eleições. Entre segunda e terça-feira, o governo de França resistiu a 12 moções de censura. Embora o partido de Macron não detenha maioria na Assembleia Nacional francesa (a câmara baixa do Parlamento), boa parte dos aliados do centro-direita, os Republicanos, deram a mão ao chefe de Estado e salvaram o executivo liderado pela primeira-ministra, Élisabeth Borne.

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Macron durante a entrevista desta quarta-feira

AFP via Getty Images

Mesmo dentro do grupo dos Republicanos, 19 deputados não respeitaram o sentido de voto imposto pelo líder do partido, Eric Ciotti, e apoiaram a moção de censura apresentada pelo grupo de parlamentares independentes LIOT, que contou também com o apoio da coligação de esquerda NUPES (que inclui o PS francês, o Partido Comunista Francês e o França Insubmissa liderada pelo antigo candidato presidente, Jean-Luc Mélenchon).

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As críticas ao aumento da idade da reforma e a reprovação da utilização do decreto presidencial desagradam inclusive a alguns membros do partido do Presidente francês, Renaissance. O deputado Patrick Vignal pediu que Emmanuel Macron voltasse atrás “diante de tanta raiva” que se via nas ruas. “Precisamos de discutir com os sindicatos”, afirmou o parlamentar em declarações ao canal de televisão BFMTV, que sublinhou a necessidade de haver um “apaziguamento” e um “debate pacífico” na sociedade francesa.

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Deputados da Assembleia Nacional votaram 12 moções de censuras nos últimos dias

AFP via Getty Images

De forma irónica, outro deputado do Renaissance confessou ao Le Figaro que a atitude “viril” do Presidente francês ao insistir no aumento da idade da reforma terá consequência negativas para o futuro do seu mandato. “O governo está a adotar uma posição dura, fechada e distante” da população. Contudo, Emmanuel Macron não vai, pelo menos para já, desistir daquilo que considera ser uma “necessidade vital” para França.

Macron: “Esta reforma não é um luxo, não é um prazer, é uma necessidade”

A posição dos sindicatos, que prometem continuar a luta

A tentativa de Emmanuel Macron em tentar acalmar os ânimos não parece ter resultado. Logo após a entrevista, os sindicatos prometeram continuar as manifestações. O líder da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), Laurent Berget, acusou o Presidente francês de ter “mentido” e de ter “negado” a realidade. “Está a tentar esconder a sua incapacidade de encontrar uma maioria para votar ao lado da sua reforma injusta.” 

Por sua vez, o secretário-geral da Confederação-Geral do Trabalho (CGT), Philippe Martinez, disse que Emmanuel Macron manteve o “desprezo” pelos manifestantes, lamentando que o líder francês ainda continue a viver “no mundo da Lua”: “‘Está tudo bem, estou a fazer tudo, não se passa nada na rua’. Parece que não aconteceu nada durante dois meses para ele”.

"'Está tudo bem, estou a fazer tudo, não se passa nada na rua'. Parece que não aconteceu nada durante dois meses para ele"
Líder da Confederação-Geral do Trabalho (CGT), Philippe Martinez

Já Cyril Chabanier, líder da Confederação Francesa de Trabalhadores Cristãos (CFTC), afirmou que esperava”autocrítica” por parte de Emmanuel Macron. Porém, o Presidente francês “persiste em isolar-se”.

A inflexibilidade do Presidente francês, que não deu garantias suficientes aos sindicatos, não deverá, assim, travar a onda de manifestações e greves marcadas um pouco por toda a França para os próximos dias. Para esta quinta-feira, esperam-se várias perturbações em áreas como os transportes públicos, principalmente no setor ferroviário e aeroportuário, ou na recolha de lixo.

As críticas da oposição — que está num beco sem saída

A oposição, que tem criticado o aumento da idade da reforma, também não viu com bons olhos a entrevista do Presidente francês. Marine Le Pen, candidata presidencial e ex-líder do partido de extrema-direita Reagrupamento Nacional, viu um homem “cada vez mais sozinho” a braços com o “desprezo dos franceses”. “O governo está a criar conscientemente todas as condições para que aconteça uma explosão social. É como se estivesse a procurar isso.”

epa10255214 French far-right party Rassemblement National (RN) leader and Member of Parliament Marine Le Pen speaks to media after a gathering in front of the National Assembly to observe a minute of silence for Lola,  a young girl murdered in a northern district of French capital, in Paris, France, 20 October 2022. Lola, aged 12, was found dead in a trunk near the building where her parents are caretakers. Her death has sparked a political controversy over immigration as an Algerian woman has been arrested and is suspected of being the perpetrator.  EPA/CHRISTOPHE PETIT TESSON
"O governo está a criar conscientemente todas as condições para que aconteça uma explosão social. É como se estivesse a procurar isso"
Marine Le Pen

À esquerda, o líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, frisou igualmente o “desprezo” do Presidente francês, que “vive fora da realidade”. O líder do PS, Olivier Faure, destacou, por sua vez, que Emmanuel Macron está em “absoluta negação”, considerando mesmo que a entrevista colocou mais “achas numa fogueira já bem acesa”. Já o secretário-geral dos comunistas, Fabien Roussel, lamentou que o chefe de Estado não tenha sido capaz de “apaziguar a legítima raiva manifestada pelo aumento da reforma”.

Abertamente contra o aumento da idade da reforma, a coligação NUPES e a extrema-direita manifestaram por várias vezes o seu repúdio contra a medida. Porém, a segunda e a terceira maiores forças partidárias chegaram a um beco sem saída e não têm qualquer forma de impedir a sua implementação, após o chumbo das moções de censura. Estando Emmanuel Macron inflexível, a única alternativa seria a realização de eleições antecipadas. No entanto, o governo do Presidente francês continua a poder contar com o apoio do Republicanos — apenas a perda de confiança deste partido levaria à alteração do panorama político francês.

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Olivier Faure (PS) e Jean-Luc Mélenchon (França Insubmissa)

AFP via Getty Images

Resta, por isso, à NUPES, ao Reagrupamento Nacional e às forças partidárias com menor expressão que são contra a aumento da idade de reforma incentivarem as ações de rua e esperar que, eventualmente, Emmanuel Macron venha a ceder e volte atrás, pela pressão das manifestações nas ruas.

A primeira-ministra. O elo mais fraco?

No complicado xadrez político que Emmanuel Macron tem de gerir, de entre o reduzido leque de opções que tem à sua disposição, pode estar a possibilidade de sacrificar a rainha — neste caso, a primeira-ministra. Não obstante, o chefe de Estado recusou para já essa hipótese. Durante a entrevista desta quarta-feira, assinalou que continua a confiar em Élisabeth Borne. “Ela tem a minha confiança para liderar o governo”, assinalou o líder francês, que ressalvou, contudo, que lhe pediu para encontrar aliados nos restantes partidos.

Enquanto chefe do executivo francês, Élisabeth Borne é o principal alvo das críticas da oposição na Assembleia Nacional, defendendo publicamente o aumento da idade de reforma. “É absolutamente necessário”, reafirmou ainda esta quarta-feira. Porém, certo é que a primeira-ministra não conseguiu reunir os apoios necessários no hemiciclo para levar avante a medida — e Emmanuel Macron teve de intervir através do decreto presidencial.

epa10019650 French President Emmanuel Macron (R) and French Prime Minister Elisabeth Borne attend a ceremony marking the 82nd anniversary of late French General Charles de Gaulle's resistance call of 18 June 1940, at the Mont Valerien memorial in Suresnes near Paris, France, 18 June 2022.  EPA/GONZALO FUENTES / POOL  MAXPPP OUT

Macron renovou a confiança na primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne

GONZALO FUENTES / POOL/EPA

Élisabeth Borne poderá, por isso, ficar com a imagem fragilizada e não conseguir sobreviver à pressão das ruas. Por agora, Emmanuel Macron continua a segurar a sua primeira-ministra.

A violência nas ruas e a comparação de Macron com o Capitólio e a invasão no Brasil

Em vários pontos de França, as manifestações repetem-se todos os dias. Aliás, diariamente, desde que os protestos começaram, cerca de uma centena de pessoas é detida na sequência de confrontos com as autoridades. O governo fala em desacatos provocados pelos manifestantes; os sindicatos, alguns partidos da oposição e até algumas organizações não governamentais denunciam o que dizem ser a violência policial. 

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Manifestações violentas em França
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Manifestações violentas em França
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Manifestações violentas em França
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Manifestações violentas em França
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Manifestações violentas em França
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Manifestações violentas em França
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Manifestações violentas em França
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Manifestações violentas em França
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Manifestações violentas em França
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Manifestações violentas em França
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Na entrevista desta quarta-feira, o Presidente francês endureceu o discurso e deixou mais um aviso aos manifestantes: “Não vamos tolerar violência”, garantiu Emmanuel Macron, ressalvando, ainda assim, que o governo está disponível para escutar “a raiva legítima” — desde que ela não se manifeste com atos de violência. “É legítimo que os sindicatos se manifestem contra o aumento da idade da reforma e eu respeito-os. Estão a defender o seu ponto de vista e é algo que está garantido na Constituição.”

“Mas, quando certos grupos utilizam violência extrema para atacar dirigentes políticos e quando recorrem à violência porque estão infelizes, [França] não é mais é uma república”, prosseguiu Emmanuel Macron, que comparou a situação que o país vive com outros episódios, tais como a invasão do Capitólio por apoiantes de Donald Trump, a invasão da Praça dos Três Poderes por apoiantes de Jair Bolsonaro e as ondas de “violência extrema” na Alemanha e nos Países Baixos.

“Não podemos aceitar fações e desordem”, declarou Emmanuel Macron, reforçando que o governo francês “não vai tolerar tumultos”. Esta quinta-feira, os manifestantes voltam a sair à rua e ainda não há sinal de quando pretendem pôr fim aos protestos.

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