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Getty Images/iStockphoto

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Cancro da Cabeça e Pescoço, um cancro visível

É o sexto cancro mais comum no mundo e pode deixar marcas físicas e psicológicas. No entanto, existem novos tratamentos que dão esperança aos doentes.

As estatísticas não deixam dúvidas sobre a gravidade que representa o cancro da cabeça e pescoço, sabendo-se que, por exemplo, em 2018, surgiram 650 mil novos casos em todo o mundo, provocando 330 mil mortes. De acordo com a plataforma Cancro Online, trata-se de um problema que representa seis por cento dos casos de cancro em todo o planeta, sendo que em Portugal são diagnosticados cerca de três mil novos doentes anualmente, metade dos quais, em maiores de 65 anos.

6%

O cancro da cabeça e pescoço representa 6% dos casos de cancro em todo o mundo

Sendo classificado de acordo com o local em que incide, este cancro pode manifestar-se de forma mais frequente na boca, incluindo lábios, língua, gengivas, interior das bochechas, debaixo da língua e palato (céu da boca), assim como na garganta, nomeadamente na faringe e laringe, ou nariz, e mais especificamente nos seios paranasais (pequenas cavidades no interior dos ossos que estão à volta do nariz). Ainda que seja mais raro, o cancro da cabeça e pescoço pode também ter origem nas glândulas salivares. Por outro lado, e apesar da sua localização, não são incluídos neste grupo cancros relacionados com cérebro, olhos ou esófago.

Impactos físicos e psicológicos

Uma das características mais marcantes do cancro da cabeça e pescoço são as repercussões que pode infligir, não apenas em termos físicos, mas também do foro psicológico e emocional. Isto porque se trata de uma doença que afeta funções tão básicas como falar, sorrir, comer e/ou respirar.

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3 mil

É o número aproximado de novos casos diagnosticados, anualmente, em Portugal

Tal deve-se às consequências da própria doença e que pode implicar mudanças na aparência, não apenas na face, mas também no resto do corpo. Entre essas modificações, enumeram-se alterações ou perda da voz, dificuldade em respirar e/ou na mastigação, perda de peso significativa como consequência de desnutrição, assim como privação dos sentidos, com especial incidência no paladar, olfato, audição e visão.

Já em relação aos danos psicológicos, o cancro da cabeça e pescoço pode levar a comportamentos de isolamento social, estando esse cenário diretamente relacionado com o estigma que a doença pode provocar, o que, em muitos casos, leva o doente a refugiar-se no consumo de álcool ou tabaco, com a agravante, só per si, de que este tipo de hábitos de vida está na origem da esmagadora maioria dos casos de cancro na cavidade oral, orofaringe, hipofaringe e laringe.

Sintomas e fatores de risco

Perante lesões na cavidade oral que não curam, manchas incomuns, dor e dificuldade ao engolir ou respirar, rouquidão, dores de garganta e/ou de ouvidos persistentes, aumento dos gânglios linfáticos, tosse, dispneia e tumefação cervical — sintomas que também podem ser causados por outras patologias e de menor gravidade, e erradamente desvalorizados —, aconselha-se prudência e uma ida ao médico, seja na área da medicina geral e familiar ou estomatologia, para avaliar a situação. É que estes são alguns dos sintomas do cancro da cabeça e pescoço.

Infografia: Carlos Rocha

No que toca aos fatores e comportamentos de risco, como já referido, existe uma relação íntima entre esta doença e o consumo de algumas substâncias. Nesse sentido, o álcool e o tabaco são os dois fatores de risco mais significativos para o cancro da cabeça e pescoço, estando associados a cerca de 75 por cento dos casos, com a agravante de que quem mantém o hábito de fumar e ingerir bebidas alcoólicas tem um risco acrescido de desenvolver este tipo de cancro quando comparado com quem os consome isoladamente.

O álcool e o tabaco são os dois fatores de risco mais significativos para o cancro da cabeça e pescoço

Ainda no âmbito comportamental, sabe-se que a ingestão de alimentos ricos em sal ou processados, principalmente nos primeiros anos de vida, pode elevar a probabilidade de vir a ter um cancro da nasofaringe, assim como uma má higiene oral ou falta de dentes possam estar associados ao cancro da cavidade oral.

75%

É a percentagem de casos de cancro da cabeça e pescoço associados ao consumo de álcool e tabaco

Também a exposição a alguns ambientes, nomeadamente em termos profissionais, pode ser fator de risco para o desenvolvimento de alguns tipos de cancro da cabeça e pescoço. Exemplo disso é trabalhar na indústria madeireira, pois a exposição ao pó da madeira pode elevar a hipótese de se ter um cancro da nasofaringe. Já quem exerce profissões nas indústrias de construção, metalúrgica, têxtil, cerâmica e alimentar pode ter risco aumentado de cancro da laringe, dos seios paranasais e cavidade nasal.

O facto de os cenários e hábitos e estilo de vida acima descritos serem mais frequentes entre o universo masculino, faz com que os homens tenham um risco duas a cinco vezes superior de desenvolver cancro da cabeça e pescoço, comparativamente com as mulheres.

Os homens têm um risco duas a cinco vezes superior de desenvolver cancro da cabeça e pescoço

Por outro lado, sabe-se também que alguns vírus podem estar na origem desta doença. Nesse campo, os mais perigosos são o Vírus do Papiloma Humano (HPV), principalmente entre os mais jovens, em especial do tipo 16, e que está entre os fatores de risco para o cancro da orofaringe. Já a infeção por Vírus de Epstein-Barr está associada ao carcinoma da nasofaringe.

Do diagnóstico aos tratamentos

Muitas vezes, e à semelhança de outros carcinomas, o cancro da cabeça e do pescoço é apenas identificado numa fase já avançada e na sequência de alguns sintomas. Perante esta realidade, como prevenção, aconselham-se idas regulares ao médico, até porque algumas alterações são detetadas em consultas de rotina.

Nesses casos, o passo seguinte implica a consulta a um médico especialista em doenças dos ouvidos, nariz e/ou garganta, que vai avaliar o histórico do paciente e, se necessário, solicitar exames de diagnóstico. Entre os mais frequentes estão testes neurológicos, endoscopia, laringoscopia, biópsia, tomografia computorizada (TAC), Ressonância Magnética Nuclear, radiografia, tomografia por emissão de positrões (PET) ou análises laboratoriais, nomeadamente ao sangue, ou exames de audição. Podem também ser pedidos testes aos vírus de Epstein-Barr ou HPV.

6 formas de prevenir o cancro da cabeça e pescoço

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À semelhança de outras doenças, e dos cancros em particular, para reduzir a incidência do cancro da cabeça e pescoço é essencial seguir uma série de recomendações, nomeadamente evitando alguns comportamentos de risco. Eis alguns exemplos:

  1. Mantenha uma boa higiene oral e faça visitas regulares ao dentista;
  2. Não fume ou ingira bebidas alcoólicas em excesso;
  3. Siga uma dieta rica em frutas e legumes;
  4. Evite a exposição solar nas horas de maior calor e mantenha-se sempre protegido do sol;
  5. Seja responsável e proteja-se aquando das relações sexuais;
  6. Antes de iniciar a vida íntima, recomenda-se a toma da vacina do HPV, tanto no caso de mulheres como homens.

American Society of Clinical Oncology

Além de permitir comprovar a presença de carcinoma, esta bateria de exames vai dar mais informações relativamente à fase e estadio da doença, indicar se o cancro já se disseminou e, caso tenha acontecido, para que regiões do corpo. Estes dados são essenciais para o especialista planear a terapêutica a seguir.

Por norma, “o tratamento tem uma abordagem multidisciplinar, englobando cirurgia, radioterapia, quimioterapia, terapia alvo e imunoterapia, podendo ocorrer em monoterapia, concomitância ou sequência, dependendo da fase em que a doença é diagnosticada, estando isso também associado ao sucesso da intervenção”, explica Leonor Abreu Ribeiro, médica oncologista do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e do Instituto Cuf Oncologia, Hospital Cuf Infante Santo, e membro da direção do Grupo de Estudos do Cancro da Cabeça e Pescoço. “Como exemplo, os tumores da cavidade oral e da laringe, quando diagnosticados precocemente, são tratados via cirurgia, tendo uma taxa de sucesso que pode ir aos 90 por cento”.

“Os tumores da cavidade oral e da laringe quando, diagnosticados precocemente, são tratados via cirurgia, tendo uma taxa de sucesso que pode ir aos 90 por cento”
Leonor Abreu Ribeiro, médica oncologista

Além de se adequarem ao estadio da doença, “também o facto de se tratar ou não de uma recaída ou recorrência, ou o local afetado, pode interferir na abordagem”, afirma a especialista. “A zona afetada, poderá influenciar a decisão de cirurgia ou mesmo da radioterapia. Em relação à quimioterapia, por exemplo, poderá influenciar o tipo de medicamentos a utilizar. Outro fator importante, e na realidade o primeiro a considerar, será o tipo da doença, algo que se verifica através de biópsia.”

Danos colaterais e acompanhamento contínuo

A especificidade desta doença e o local afetado têm ainda outra relevância na questão terapêutica. “Em relação à cirurgia que, muitas vezes, implica abordagens complexas com reconstrução local, poderá haver alterações funcionais como da fala e deglutição, pelo menos temporariamente”, indica a médica oncologia. Já em relação à radioterapia e quimioterapia, “existem efeitos secundários imediatos, como inflamação da boca e da pele da face e pescoço, náuseas, problemas de funcionamento renal — sobretudo se existir uma má hidratação —, ou erupção cutânea, entre outros efeitos secundários, embora raros da imunoterapia”, enumera e salvaguarda Leonor Abreu Ribeiro. Por outro lado, “alguns efeitos só acontecem meses após os tratamentos. Exemplo disso são a fibrose e retração da pele do pescoço, diminuição da audição, hipotiroidismo e ainda inchaço do pescoço por edema (acumulação de líquido por deficiente drenagem), que levam os doentes a achar que a doença ‘voltou’”.

27 de julho

É a data que assinala o Dia Mundial do Cancro da Cabeça e Pescoço. Saiba mais sobre esta doença em www.cancro-online.pt

Ainda assim, é possível minimizar esses problemas, e isso passa por “explicar ao doente esses mesmos efeitos secundários e a necessidade da sua prevenção”, garante a médica oncologista. Para tal, é essencial ter a noção que “uma adequada hidratação oral e local (na pele) pode significar uma redução importante dos efeitos locais, prevenindo a diminuição da audição e da insuficiência renal. Além disso, existem medicamentos para uso profilático de náuseas, inflamação da boca, redução do mal-estar e dores. Já em relação aos efeitos tardios, exige-se uma vigilância regular e tratamento das sequelas. Também uma equipa de reabilitação da fala e deglutição é fundamental nestes doentes”, aponta Leonor Abreu Ribeiro.

No fundo, “recomenda-se um acompanhamento multidisciplinar entre as especialidades de cirurgia (otorrinolaringologia, estomatologia, cirurgia maxilofacial, cirurgia plástica), radioncologia, oncologia médica e outras, como a gastrenterologia (quando é necessário adotar técnicas de alimentação para substituição da via oral). Fundamental é também o apoio de toda uma equipa que inclui nutricionista, psicólogo e enfermagem”, refere a especialista.

De olhos no futuro

Apesar de toda essa complexidade, a medicina tem evoluído exponencialmente nas últimas décadas, e a investigação na área do cancro tem apresentado novas soluções terapêuticas. “Hoje, temos dados sólidos e comprovados que permitem o recurso a medicamentos do grupo da imunoterapia em casos de doença avançada, ou seja, na recaída local, regional ou em órgãos à distância, como nas metástases pulmonares. Os últimos dados mostram que os tratamentos à base de medicamentos imunoterapêuticos permitem uma sobrevivência média global de cerca de 14 meses, o que é superior ao que se obtinha com a quimioterapia”, explica a médica oncologista.

“Os últimos dados da investigação mostram que os tratamentos à base de medicamentos imunoterapêuticos permitem uma sobrevivência média global de cerca de 14 meses, o que é superior ao que se obtinha com a quimioterapia”
Leonor Abreu Ribeiro, médica oncologista

“O que se perspetiva, num futuro mais ou menos próximo, será o alargamento do uso da imunoterapia, com associação à quimioterapia, numa fase mais precoce do tratamento, nomeadamente antes da cirurgia, de forma a aumentar a taxa de sucesso do mesmo, com o objetivo de cura maiores, mesmo para tumores com algum volume inicial”, revela Leonor Abreu Ribeiro. “Felizmente, existe uma larga investigação clínica neste sentido, e esperamos novidades que darão mais esperança a quem sofre de uma patologia como o cancro da cabeça e pescoço, que pode ser muito limitante”.

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