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LLUIS GENE/AFP/Getty Images

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Carles Puigdemont: o rapaz da pastelaria cresceu e afronta Espanha

Carles Puigdemont nasceu numa família de pasteleiros, mas cedo se interessou pelo jornalismo e pela política. Obsessivamente independente desde jovem, o autor moral do referendo pode vir a ser preso.

(Nota: Este texto é recuperado a propósito da leitura da sentença do processo independentista pelo Tribunal Supremo de Espanha, mas foi publicado originalmente a 30 de setembro de 2017, véspera do referendo à independência da Catalunha. Desde então Carles Puigdemont saiu de Espanha para a Bélgica, onde vive até hoje em auto-exílio — e, por isso, não compareceu ao julgamento do processo independentista, no qual é arguido. Apesar disso, foi eleito pelas listas do Juntos Pela Catalunha nas eleições regionais de 2017, além das eleições europeias de 2019. Não chegou a exercer nenhum dos mandatos, por estar obrigado a viajar para Espanha para poder assumir aqueles cargos)

Em Espanha existe um decreto real que determina que, quando se toma posse num cargo público, qualquer pessoa é obrigada a responder afirmativamente à seguinte pergunta: “Jura e promete, pela sua consciência e honra, cumprir fielmente as obrigações do cargo com lealdade ao Rei, zelar e fazer zelar a Constituição, o Estatuto da Catalunha e as instituições nacionais da Catalunha?”.

Porém, quando chegou a vez de Carles Puigdemont tomar posse como presidente da Generalitat, o governo regional da Catalunha, o independentista garantiu que a pergunta era outra. Em vez de jurar fidelidade a Filipe VI e à Constituição — que impede a Catalunha e outras regiões de serem independentes — prometeu que ia “cumprir fielmente a vontade do povo da Catalunha e dos seus representantes no parlamento”. Por “parlamento”, entenda-se o regional da Catalunha, claro. E por “vontade”, entenda-se um referendo à independência catalã.

Foi assim que Carles Puigdemont entrou no cargo mais alto da política catalã, no dia 10 de janeiro de 2016, depois de uma saída conturbada de Artur Mas, eleito para o cargo em 2010, que acabou por cair por falta de apoio à sua esquerda. No discurso de tomada de posse, Carles Puigdemont deixou claro ao que ia: a promoção da independência da Catalunha, através de um referendo.

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Quando tomou posse, Carles Puigdemont contrariou a lei, que requer uma jura de fidelidade ao Rei e à Constituição. Em vez disso, o ex-jornalista jurou "cumprir fielmente a vontade do povo da Catalunha e dos seus representantes no parlamento”.

“Temos de começar a caminhar em direção à luz da declaração do 9N [9 de novembro, data do referendo não vinculativo à independência da Catalunha, em que o sim venceu com 80,7%] para iniciar o processo de constituição de um Estado independente”, disse. “Se não temos as ferramentas necessárias, deixamos de ser uma nação e passamos a ser uma resignação.”

Este domingo, a caminhada independentista catalã dá o seu passo mais importante: o referendo de 1 de outubro, que o parlamento catalão votou como sendo vinculativo, mas que o Tribunal Constitucional considerou “ilegal” e merece a forte oposição do Governo de Mariano Rajoy, que mobilizou 12 mil guardas civis de todo o país para estarem na Catalunha durante o referendo. Além de ali estarem para impedir a realização do referendo, os guardas também vão preparados para fazer detenções. E entre os vários punhos algemados, é possível que venham a estar os de Carles Puigdemont.

O jovem independentista que começou por escrever discursos para o tio

A infância de Carles Puigdemont não fazia prever nada disto. A 29 de dezembro de 1962, em Amer, uma pequena aldeia na província de Girona, nasceu Carles, o segundo filho de Núria Casamajó Ruiz e de Xavier Puigdemont. O casal iria ter, ao todo, oito filhos. Um a um, eram todos chamados a contribuir para o negócio da família: a pastelaria Capricis, no centro de Amer, fundada pelo avô de Carles Puigdemont em 1934. Era frequente ver a prole daquela família, integralmente catalã por parte do pai, e com uma metade andaluz do lado da mãe, a servir clientes atrás do balcão. Carles Puigdemont também o fez, sobretudo no verão, para poder juntar dinheiro. Porém, cedo se tornou claro que não tinha perfil para comerciante.

À direita, Carles Puigdemont atrás do balcão de uma das pastelarias da família. Ao lado está o seu irmão mais velho (Fotografia do site da Generalitat)

A primeira paixão de Carles Puigdemont foi o jornalismo. Aos 16 anos, começou a publicar os seus primeiros textos no Los Sitios, um jornal de Girona atualmente convertido no Diari di Girona. Escrevia artigos na qualidade de correspondente em Amer, o que implicava escrever notícias do quotidiano e algumas crónicas futebolísticas.

Mas a política também já lhe interessava. No colégio interno de padres onde estou até à universidade, o El Collel, conta o El Mundo, já era anti-franquista e a favor da causa catalanista. Nos anos finais do franquismo, pregou à farda um papel a dizer “Queremos o Estatuto [regional da Catalunha]”. Um dos padres disse-lhe: “Tu sabes lá o que é o Estatuto”. O rapaz, então com 12 anos, respondeu-lhe: “Claro que sei. E se quiser explico-lhe”.

Aos 17 anos, já depois do fim do franquismo, começou a servir-se do seu talento para a escrita a favor da política. Com essa idade, já escrevia discursos para o seu tio, Josep Puigdemont, quando este concorreu (e venceu) as eleições para a autarquia de Amer nas listas Convergência Democrática Catalã (CDC), de centro-direita. Já depois da vitória eleitoral do tio, o então presidente do governo regional catalão, Jordi Pujol, visitou pela primeira vez a vila. Carles Puigdemont ficou rendido e tornou-se militante daquele partido. Depois, seria um dos fundadores da Juventude Nacionalista da Catalunha.

Aos 18 anos, continuou a aprofundar o seu interesse pelo catalanismo e o seu apreço pela ideia do independentismo catalão. Por isso, foi para a Universidade de Girona estudar Filologia Catalã. Porém, não chegou a acabar o curso porque, nesses anos, começou a trabalhar a tempo inteiro no jornal Punt Diari (hoje em dia El Punt Avui), um título com sede em Girona e um dos mais abertamente catalanistas das bancas.

O jornalismo com o independentismo como pano de fundo

Entrou no jornal como revisor, mas acabou por subir a um dos cargos mais importantes da redação: foi editor de justiça e de local e, mais à frente, chefe de redação. Nos corredores do jornalismo, era conhecido como “Puigdi”, alcunha que ainda hoje o acompanha.

Josep M. Flores, amigo e biógrafo de Carles Puigdemont, era um dos vários jornalistas sob a sua batuta. “Ele foi meu editor durante um ano e meio. Foi um período muito intenso”, recorda ao Observador, numa entrevista por telefone. “Passámos muito tempo juntos, os dias começavam às 10 da manhã e iam até às 11 da noite, meia-noite, uma da manhã… Éramos jovens, havia tempo para isso tudo”, ri-se Josep M. Flores.

O independentismo não parou de crescer em Carles Puigdemont. Aqueles que conviveram com ele, descrevem-no de forma afável, mas sempre realçando o seu grau de envolvimento político. Ao La Vanguardia, o jornalista Albert Gimeno, que conheceu Carles Puigdemont na redação do El Punt, recorda como iam “beber uns copos por Girona e pela Costa Brava”. “Eu podia fazer um comentário sobre uma mulher que acabava de passar e Puigdi respondia-me com a independência”, recorda.

Carles Puigdemont na redação do El Punt, jornal independentista de Girona, onde chegou a ser chefe de redação (Fotografia do site da Generalitat)

Também a sua namorada da altura, a jornalista Elianne Ros, conta ao La Vanguardia como ele “vivia o independentismo, quando quase ninguém era independentista, com absoluta normalidade”.

Quando terminou a relação com Elianne Ros, Carles Puigdemont tirou um ano sabático e aproveitou para viajar. Os destinos não foram escolhidos ao acaso. Então com pouco mais de 30 anos, Carles Puigdemont viajou até comunidades onde, de uma maneira ou de outra, está presente um sentimento independentista, como o Tirol do Sul (Itália) e Sardenha (Itália), Flandres (Bélgica), Occitânia e Córsega (França). No mesmo ano, escreveu o livro “Cata…què?” (La Campana, 1994, sem edição portuguesa), onde fazia uma recolha e análise da cobertura da questão catalã nos media internacionais.

Em 1999, sai do El Punt para fundar a Agência Catalã de Notícias, um projeto jornalístico financiado pelo governo regional da Catalunha. A primeira sede da agência não foi em Barcelona, mas sim em Girona. “Toda a gente dizia que ele estava maluco”, recorda Josep M. Flores. “E não era só porque ele começou a agência em Girona. Era também porque queria que os seus jornalistas começassem a usar o e-mail em vez do fax! Depois, como é evidente, percebeu-se que ele tinha razão. Mas só depois disto é que começaram a falar do jornalista 2.0, do jornalista 3.0 e por aí fora.”

Um “culo inquieto” que, mal chegou à política, foi agredido em público

Josep M. Flores descreve o seu biografado como um “culo inquieto” o que, em termos mais ligeiros, pode ser descrito como alguém não sabe estar quieto. Uma nova prova disso, foi quando, três anos depois de fundar e dirigir a Agência Catalã de Notícias, Carles Puigdemont se ausentou do jornalismo para liderar a Casa da Cultura de Girona. Um dos eventos que organizou naquela cidade catalã foi o Festival Internacional de Teatro Amador. Entre os vários grupos, havia um que ali chegava da Roménia. Com eles, na qualidade de atriz, seguia a jornalista Marcela Topor. Carles Puigdemont conheceu-a e, depois de iniciarem uma relação, casaram-se. Graças à mulher aprendeu a falar romeno — juntando assim aquela língua ao catalão, castelhano, francês e inglês, tudo línguas que domina. Hoje, o casal tem duas filhas.

Em 2004, Carles Puigdemont inicia o seu último projeto dentro do jornalismo: a revista mensal Catalonia Today, dirigida à comunidade anglófona da Catalunha. No início de 2016, na mesma altura em que Carles Puigdemont se tornou presidente do governo regional da Catalunha, Marcela Topor tornou-se diretora do Catalonia Today, onde escreve colunas fortemente independentistas. Segundo o Vozpópuli, esta revista recebeu 12,3 milhões de euros de subsídios da Generalitat, entre 2008 e 2014.

“Ele entrou na política por acidente, é tudo fruto de casualidades”, garante Josep M. Flores. “Ele só foi chamado pela CiU porque a primeira escolha do partido para a câmara de Girona desistiu. Então começaram a pensar em nomes e houve um deputado, que é de Girona, que se lembrou dele”, conta o biógrafo. O convite foi feito e Carles Puigdemont pediu dois dias para pensar sobre o assunto. Depois, aceitou ser candidato à autarquia de Girona. Mas tinha uma condição: também queria ser deputado no parlamento regional.

Em 2006, é convidado pela Convergência e União (CiU), a coligação a que se juntara ao CDC, para se candidatar à autarquia de Girona. O desafio era retirar a liderança daquela província das mãos do Partido Socialista da Catalunha (PSC), que representa o PSOE naquela região. Embora tenha sido eleito como deputado para a Generalitat, a câmara continuou no centro-esquerda. Porém, em 2011, o caso mudou de figura. Carles Puigdemont passava agora por cima dos socialistas e tornava-se o primeiro alcaide de centro-direita de Girona. E, mais importante, era o primeiro independentista à frente da cidade.

“Carles Puigdemont entrou na política por acidente, é tudo fruto de casualidades”
Josep M. Flores, amigo e biógrafo de Carles Puigdemont

Quando ainda só levava duas semanas como autarca de Girona, Carles Puigdemont recebeu a visita do conselheiro para a Saúde na Catalunha, Boi Ruiz, que foi até àquela cidade para participar numa conferência. Quando tentou entrar no edifício que dava lugar ao evento, Carles Puigdemont foi cercado por um grupo de manifestantes que protestavam contra os cortes na saúde que o governo regional da CiU, então com a liderança de Artur Mas, estava a aplicar. Bloqueando a passagem ao autarca de Girona, os manifestantes agrediram-no com murros e atiraram-lhe objetos. No final, disse que aquilo tinha sido “um espetáculo lamentável do qual não vale fazer queixa”.

Enquanto alcaide, foi também responsável por conseguir que parte da sexta temporada da série Game of Thrones fosse rodada em Girona. “O facto de produtores ingleses e americanos terem escolhido a nossa cidade para filmarem a nova temporada de uma das séries com mais sucesso no mundo, demonstra que Girona é popular”, disse à altura Carles Puigdemont, para quem sempre foram importantes as opiniões vindas de além-fronteiras.

Quando se tornou presidente de Girona, em 2011, a causa do independentismo não era consensual dentro do seu partido. Porém, aos poucos esse sentimento viria a crescer dentro do partido, tal como uma aproximação à social-democracia, em detrimento de uma postura de centro-direita. “Isto gerou muitas tensões dentro do partido, mas no final de contas ganhou respeito”, sublinha Josep M. Flores. A ideia de que Carles Puigdemont, fazendo jus à reputação de “culo inquieto”, começava a preparar-se para novos voos, foi reforçada com a sua ascensão à presidência da Associação de Municípios pela Independência da Catalunha (AMIC).

Carles Puigdemont foi nomeado presidente da Generalitat depois de Artur Mas ter saído do cargo sob forte pressão dos independentistas de extrema-esquerda (Alex Caparros/Getty Images)

Alex Caparros/Getty Images

Em setembro de 2015 há novas eleições regionais e o independentismo ganha uma nova força, com a Generalitat a contar com uma maioria de deputados independentistas vindos de vários quadrantes do espectro ideológico. Artur Mas, que lidera a coligação independentista Juntos Pelo Sim, a lista mais votada, acredita que vai continuar à frente do governo regional. Há, porém, um entrave: a Candidatura de União Popular (CUP, de extrema-esquerda anti-capitalista) não aceita Artur Mas, imerso num escândalo de corrupção e defensor de uma política de cortes, para o cargo de presidente regional.

Perante a pressão da CUP, Artur Mas promete que não iria dar “nem um passo atrás”. Mas, com as folhas do calendário a passar, e correndo o risco de ter de haver novas eleições, o então presidente da Generalitat saiu de cena. “Vou dar um passo ao lado”, proclamou. Carles Puigdemont foi o seu escolhido para suceder-lhe.

“Ou referendo, ou referendo”

Quando, na sua tomada de posse, prometeu “cumprir fielmente a vontade do povo da Catalunha e dos seus representantes no parlamento”, recusando qualquer referência ao Rei, à Constituição e ao Estatuto da Catalunha, que não prevê a possibilidade de um referendo para a independência, Carles Puigdemont deixava claro que, a partir de então, o caminho para a realização de uma consulta popular ia ser feito em linha reta e em velocidade. Já não era tempo de curvas apertadas e de passos atrás, a sua inquietação não o permitiria.

Duas semanas depois de assumir a liderança da Generalitat, o parlamento regional cria a Comissão de Estudo do Processo Constituinte. Esta reúne-se ao longo de seis meses e, em julho de 2016, chega à conclusão a que todos os independentistas já tinham chegado e à qual todos os federalistas se opunham: o povo catalão tem o direito de referendar a sua pertença a Espanha. O ritmo acelerado do processo independentista coincide com o impasse em Madrid em torno da formação de Governo. Embora tivesse participado nas duas eleições que levaram a um bloqueio político de quase um ano (20 dezembro de 2015 e 26 de junho de 2016), a Catalunha comportava-se já como um país à parte.

Houve, porém, uma altura em que Carles Puigdemont quase foi impedido de seguir em frente, à semelhança de Artur Mas. Quem lhe barrava o caminho eram os mesmos que forçaram a saída do seu antecessor: a CUP. Descontentes com a proposta do governo regional para o orçamento anual da Catalunha, os anti-capitalistas ameaçaram com novo bloqueio. Em resposta, Carles Puigdemont disse que se submeteria a uma moção de confiança. No debate, anunciou que no final de junho de 2017 seriam aprovadas “as leis necessárias para que a Catalunha funcione como um Estado independente” e comprometeu-se com a marcação de um referendo em setembro. Tudo isto agradava à CUP, e mais agradada ficou quando ouviu que as opções apresentadas ao Governo de Mariano Rajoy seriam: “Ou referendo, ou referendo”. Carles Puigdemont passou na moção de confiança com 72 votos a favor e 63 contra.

"Luta do ano: Mariano Vs. Carles", lê-se num cartaz em Barcelona

(JOSEP LAGO/AFP/Getty Images)

Errou por um dia: o referendo viria a ser marcado para 1 de outubro de 2017. Porém, os dois meses que lhe antecederam não foram fáceis e demonstraram que, ao mesmo tempo que o processo independentista é tido como imparável por parte dos catalanistas, o Governo de Mariano Rajoy também mantém uma posição irredutível. Num país onde, oito décadas depois, ainda se sentem as feridas de uma guerra civil, nada disto pode ser apenas um pormenor.

Ainda assim, Josep M. Flores recusa descrever o seu biografado como um radical. Prefere dizê-lo “pragmático”. “É uma palavra que lhe cai muito bem, porque ele sempre viu a política como maneira de fazer progredir a sociedade, sempre foi assim que ele olhou para a política. Ele está à frente de uma revolução, mas é uma revolução que começa no povo e só depois passa para os líderes”, explica. “Por isso, ele é um instrumento. Ele não é o líder, não é o herói deste movimento. Ele é um instrumento e sabe que o é.”

Foi essa a ideia que Carles Puigdemont deixou num discurso perante os autarcas independentistas catalães, falando-lhes do “processo transformador político institucional” que via naquela região. “O poder não parte de cima para baixo, não parte das personalidades para as pessoas, mas sim das pessoas para as personalidades”, diz. Depois, sem dizer nomes, fala de Madrid: “Isto incomoda-os. Damos-lhes medo e mais medo lhes daremos”.

“O poder não parte de cima para baixo, não parte das personalidades para as pessoas, mas sim das pessoas para as personalidades. Isto incomoda-os. Damos-lhes medo e mais medo lhes daremos."
Carles Puigdemont, num discurso perante autarcas catalães independentistas

A 7 de setembro, após recurso apresentado pelo Governo de Mariano Rajoy, os 12 juízes do Tribunal Constitucional declararam por unanimidade que o referendo é “ilegal” e proíbiram a sua realização. A acompanhar esta ordem, estava um conjunto de notificações, enviadas para várias pessoas: desde os responsáveis pela televisão pública catalã, passando pelos autarcas e, claro, terminando em Carles Puigdemont. Nessa notificação, lê-se que se devem abster de “iniciar, tramitar, informar ou dictar no âmbito das suas competências, qualquer acordo ou atuação que permita a preparação e/ou celebração do referendo sobre a autodeterminação da Catalunha”.

Nada disto, nem as detenções de 14 políticos responsáveis pela preparação do referendo, tem sido suficiente para travar as pretensões de Carles Puigdemont. Seja através discursos inflamados contra Madrid, seja através de um post no Twitter (que utiliza freneticamente, contabilizando quase 15 mil publicações) onde informa onde vai haver urnas, o presidente do governo regional da Catalunha parece avançar sem fazer caso do ruído à sua volta.

A pouco menos de um mês do 1 de outubro, Carles Puigdemont garante, numa entrevista ao Financial Times que o governo regional da Catalunha já tem “mais de seis mil urnas” preparadas para a votação. “Não quero ir para a prisão, mas não há nada que possam fazer para parar este referendo”, assegura.

Perante tudo isto, o procurador-geral espanhol, José Manuel Maza, não colocou de lado um cenário em que aprova a detenção de Carles Puigdemont. Além dos delitos de rebelião, o presidente do Governo regional da Catalunha poderia ser acusado de desvio de fundos públicos para a realização do referendo. “A possibilidade de se pedir prisão para Puigdemont por desvio de fundos está em aberto”, sublinhou o procurador-geral à Ondacero.

Numa entrevista recente, ao programa Salvados, Carles Puigdemont respondeu à possibilidade de uma detenção, ou até de prisão, de forma lacónica: “Não creio que seja uma boa ideia”. Para Carles Puigdemont, não se trata de um ato de desobediência. “Eu não estou a desobedecer. Estou a obedecer ao parlamento da Catalunha.”

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