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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Carpool Autárquicas com Álvaro Almeida: Rui Moreira tem "conflitos de interesses claros"

Álvaro Almeida, candidato do PSD ao Porto, critica os "conflitos de interesses" do presidente da câmara no caso Selminho, que envolve a família. E ataca a herança de "imobilismo" de Rui Moreira.

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Álvaro Almeida chega à sede do PSD no Porto à hora combinada com o Observador: dez em ponto. Veste blazer azul e camisa branca, apesar do calor mais do que anunciado. Seria sempre assim ao longo da entrevista: mais formal que descontraído. Durante a viagem de mais de uma hora — sede do PSD, Foz, Ramalde, Cerco, Mercado do Bolhão e Avenida dos Aliados –, raramente permitiu deixar a sua persona política fora do Smart. Fê-lo, verdadeiramente, apenas uma vez: quando confessou as saudades que sentiu do Porto quando esteve em Londres, a tirar o doutoramento na London School of Economics, ou quando trabalhou no Fundo Monetário Internacional, em Washington. Só voltou ao Porto depois de desafiar a namorada a imaginar um futuro para os filhos. Cidade escolhida? Porto, claro. Tudo correu como previsto. Só o futuro na política fugiu ao guião.

O candidato independente apoiado pelo PSD parte para estas eleições autárquicas com baixas probabilidades de vencer. O próprio reconhece-o. A última sondagem, publicada em julho, dá-lhe apenas 12,1%, a uma distância enorme de Rui Moreira e Manuel Pizarro. O objetivo assumido é ser a grande surpresa da noite eleitoral: “O Porto tem uma história de candidatos que não tinham hipótese e que acabaram por vencer“, lembra, desvalorizando as sondagens. O exemplo mais óbvio desta tendência para a imprevisibilidade é, precisamente, a vitória de Moreira em 2013. O mesmo Rui Moreira que partilha o “discurso anti-sistema e anti-partidos” (e o gosto pelo negócio imobiliário) de Donald Trump, segundo Álvaro Almeida.

A referência indireta ao caso Selminho é óbvia. Assim como é óbvio para Álvaro Almeida que está em causa “um caso claro de conflito de interesses” para o presidente da câmara do Porto. Mas as críticas apontadas a Rui Moreira são outras: as “21 promessas não cumpridas”, o abandono a que votou a zona menos nobre da cidade e a “falta de rigor” com que a câmara geriu os bairros sociais do Porto. “Temos de ser rigorosos. É preciso mudar. Se as pessoas não cumprem, sofrem as consequências. Têm é que cumprir”, afirma, sobre o eventual despejo de inquilinos dos bairros sociais (como defende André Ventura, o polémico candidato d0 PSD a Loures). E ainda deixa outra proposta: é preciso mais polícia nas ruas do Porto.

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Acusações de radicalização: “Isso é um disparate”

Na primeira entrevista que deu ao Observador, questionado sobre se se identificava com uma linha tradicional do PSD ou se estava próximo de uma ala mais liberal como a de Pedro Passos Coelho, Álvaro Almeida acabou por afirmar que não tinha afinidades com o PSD, por não ser do PSD. As palavras do candidato, e as críticas que fez ao desempenho do PSD na oposição a Rui Moreira no Porto, valeram-lhe acusações de radicalismo e de falta de ideias para a cidade.

A viagem do Observador começa, precisamente, por aí. Mas Álvaro Almeida não deixa sequer terminar a pergunta. Primeiro, desmente que tenha dito tal coisa. Depois, explica que a frase foi descontextualizada. A seguir, volta a dizer que “não disse nada disso”. E termina argumentando que a frase foi retirada do contexto. Quanto às críticas, desvaloriza-as. Radicalização? “Isso é um disparate“, atira.

Começámos esta viagem na sede do PSD do Porto. No último encontro que teve com o Observador, teve uma afirmação que provocou alguma polémica disse “não ter afinidades com o PSD, por não ser do PSD”…
Não, não disse isso. Aliás, o Observador distorceu o título. Até porque o Observador, na mesma entrevista, escreve mais à frente que estou ideologicamente ligado ao PSD, à social-democracia, partilho esses valores, sou simpatizante do PSD. O que disse apenas é que não tinha afinidades com as fações internas do PSD, porque não sou militante do PSD. A questão era se estava mais próximo do “PSD de A” ou do “PSD de B”. E aí disse que não tenho afinidades nem com uns, nem com outros.

De qualquer forma, a entrevista ficou gravada em vídeo e essa afirmação está lá.
Está lá. Está lá essa afirmação que acabei de dizer. À pergunta ‘se tem mais afinidades com A ou com B’, eu disse que não tinha afinidades com nenhuns porque não sou militante.

Ainda assim, as suas palavras causaram algum impacto aqui no PSD/Porto. Aliás, pelo menos três militantes históricos do partido entregaram os seus cartões de militante e acusaram-no de ser radical e não ter ideias para a cidade. Revê-se nessas críticas ou não?
Mas que militantes históricos?

Luís Artur Pereira, por exemplo. Luís Valente de Oliveira…
Luís Valente de Oliveira já tinha abandonado o PSD em 2013. Já em 2013 apoiou Rui Moreira.

Entregou o cartão de militante agora.
Isso é uma questão que não tem nada que ver com isso. Ele já tinha apoiado Rui Moreira em 2013. Não é novidade.

Mas Luís Artur Pereira visou-o diretamente…
O Luís Artur foi o único dirigente do PSD que votou contra a minha candidatura desde o início. A certa altura, decidiu assumir essa oposição. Não tem mais nada a dizer. Dizer que “há uma pessoa contra” e que isso são “sinais de divergência interna” parece um exagero. Então o que é que se passa no PS/Matosinhos, onde o PS põe o PS em tribunal. Comparado com isso, estamos a falar de coisas que não têm importância nenhuma.

Então não se revê nessas críticas? De ter radicalizado a posição do PSD no Porto?
Claro que não. Isso é um disparate.

Telefonou a Pedro Passos Coelho a explicar as suas palavras ou preferiu não o fazer?
Mas quais palavras? Já lhe disse que não disse nada disso. Na entrevista ao Observador, estava lá escrito, toda a gente leu, que não tinha nada que ver com os títulos que puseram. E portanto não havia nada para explicar porque eu não disse nada disso.

Deixe-me recordar mais uma vez que a entrevista está gravada em vídeo.
E está lá. Viu o vídeo?

Vi.
E eu disse isso? Em resposta a que pergunta?

“Não tenho afinidades com o PSD, porque não sou do PSD”.
Em resposta a que pergunta?

Mas disse-o.
Não pode tirar do contexto. Não pode pegar numa frase fora do contexto.

Álvaro Almeida: “Não tenho afinidades com o PSD porque não sou do PSD”

É tempo de mudar de tema, não vá a viagem pelas ruas da cidade do Porto resumir-se à entrevista concedida por Álvaro Almeida a 2 de junho. Mesmo assim, ainda há tempo para mais um regresso ao primeiro encontro entre o candidato do PSD e o Observador. Há três meses, o economista dizia ter as mesmas hipótese de ganhar do que Rui Moreira e Manuel Pizarro, probabilidade que as sondagens teimam em refrear.

Agora, com as autárquicas à porta, Álvaro Almeida continua a acreditar que os eleitores do Porto podem fazer dele o novo presidente da câmara. Se vencer, o independente apoiado pelo PSD admite coligar-se com quem partilhar a mesma ideia de projeto para a cidade. Mais: o candidato social-democrata não exclui a hipótese de procurar alianças com vereadores eleitos pela lista de Rui Moreira.

Nessa mesma entrevista, diz também que “tem condições para vencer”. Ainda mantém essa expectativa?
O Porto tem uma história de favoritos que não ganharam, tem uma história de candidatos que não tinham hipótese que acabaram por vencer e portanto acho que está tudo em aberto até ao dia das eleições.

E se vencer sem maioria absoluta vai procurar algum acordo com outra força política? Imagino que com Rui Moreira esteja fora de questão…
Se vencer sem maioria absoluta, tentaremos encontrar uma solução de governabilidade com os vereadores que forem eleitos. Não se esqueça que uma das listas é um grupo de cidadãos independentes e que, como cidadãos independentes, terá que ser discutida a questão com cada um deles.

Portanto, admite que se ganhar sem maioria absoluta procurar alguma ponte com o vereadores eleitos por Rui Moreira?
Sim. Com certeza que sim.

Acha que há condições políticas para isso?
Temos de ver na altura. Desde que haja pontos em comum que permitam construir uma plataforma de desenvolvimento da cidade do Porto, certamente que sim.

E se perder, admite juntar-se a alguma força política para ajudar a governar a cidade do Porto?
Se perder, já o disse claramente, ficarei como vereador sem pelouro na oposição.

Sempre na oposição, não admite sequer outra hipótese? Se for com Manuel Pizarro, admite coligar-se com o PS?
Para haver coligações tem que haver pontos em comum. Não é bom para a cidade, nem é bom para o país, termos coligações com partidos que não têm afinidade nenhuma. Como por exemplo no caso do governo português, em que nós temos um Partido Socialista europeísta, defensor dos tratados europeus, defensor de uma economia social de mercado, que se coliga com comunistas e radicais que não partilham esses valores. E a solução obviamente é uma má solução que faz com que haja imobilismo. E isso nós não queremos repetir na Câmara do Porto. Dito isto, desde que haja uma plataforma comum que permita um mínimo de governabilidade para a cidade, com um mínimo de capacidade para executar reformas, certamente que estaremos disponíveis para negociar com quem tiver a mesma disposição que nós.

"Se perder, já o disse claramente, ficarei como vereador sem pelouro na oposição"

Moreira vs.Trump: são ambos “anti-sistema” e “promotores imobiliários”

A foz do rio Douro projeta-se à nossa frente. “É uma das minhas zonas favoritas da cidade“, diz. É a primeira vez que Álvaro Almeida se alivia um pouco do fato de candidato. Nascido e criado no Porto, o economista fixou-se definitivamente na cidade no final da década de 90, depois de temporadas em Londres e em Washington, onde trabalhava no Fundo Monetário Internacional (FMI). “Poder vir tomar café e olhar para o mar, com o horizonte apenas à nossa frente, é um dos aspetos que mais falta senti quando estive fora do Porto“, confessa.

Mas a foz da cidade é também território de Rui Moreira — é aqui que o presidente da Câmara do Porto reside. A escolha de percurso do Observador não foi inocente: a passagem pela zona ocidental da cidade serve para falar do autarca portuense. Álvaro Almeida acompanha o ritmo.

Estamos na Foz, onde vive Rui Moreira. Nessa entrevista ao Observador, chegou a comparar Rui Moreira a Donald Trump. Disse, inclusive, que ambos tinham um elemento em comum — eram promotores imobiliários. Mantém essas críticas?
Não são críticas. É uma constatação de facto. Portanto, se é uma constatação de facto obviamente que mantenho.

Mas não há aí uma carga crítica na sua observação?
Em que sentido?

Comparar Rui Moreira a Donald Trump, uma figura que tem merecido algumas críticas pelas suas políticas…
Não vejo porque é que há-de ser algo negativo. Porque é que há de ser chocante comparar o Presidente dos Estados Unidos ao presidente da Câmara do Porto? Certamente que, a ser um elogio para alguém, será para Rui Moreira. Apesar de tudo, ele não é Presidente dos Estados Unidos…

Acredita mesmo nisso que está a dizer? Sem ponta de ironia?
Não é ironia. Repare: aquilo que disse, e que mantenho, é que os dois têm um discurso anti-partidos, anti-sistema, um discurso de independente, que é comum aos dois. Depois há essa questão: de facto, os dois são promotores imobiliários.

É preciso interromper: se Álvaro Almeida se assume como um candidato independente, faz sentido criticar Rui Moreira por ser um candidato independente? O candidato apoiado pelo PSD garante que sim. E explica porquê: são dois tipos diferentes de independência. Uma, a dele, está enquadrada dentro do sistema partidário. A outra, a de Rui Moreira, candidato apoiado pelo CDS, coloca-se proativamente à margem desse mesmo sistema. Álvaro Almeida explica-se assim:

Sou independente, mas não estou fora do sistema partidário. Candidato-me numa lista de dois partidos. Estou nesta eleição inserido no sistema partidário. Sou independente no sentido em que não sou militante do PSD e, como tal, tenho uma posição que não é em todos os aspetos aquela do PSD. É óbvio que, fazendo parte de uma lista do PSD, naquelas questões centrais de governabilidade, seguirei aquilo que for decidido pela lista de que faço parte.

Rui Moreira e Donald Trump: "A ser um elogio para alguém, será para Rui Moreira. Apesar de tudo, ele não é Presidente dos Estados Unidos"

Caso Selminho: “Há conflitos de interesses claros”

É impossível falar de Rui Moreira sem falar do diferendo entre a Câmara Municipal do Porto e a empresa que pertence à família do autarca. Álvaro Almeida repete a ideia de que não quer fazer política de casos. Aliás, se não tivesse sido questionado, não teria sequer falado desse tema, garante. No entanto, não tem dúvidas em afirmar: trata-se de um processo onde existem “conflitos de interesses claros“.

Falávamos há pouco de uma das observações que fez a Rui Moreira, de ser um “promotor imobiliário”, uma referência indireta ao caso Selminho…
É uma referência indireta a conflitos de interesses.

Que avaliação é que faz de todo o caso?
Acho que é uma situação em que há conflitos de interesses claros. Devia ter havido transparência previamente à candidatura de Rui Moreira, que deveria ter anunciado que existia esse conflito de interesses. Depois, há aqui uma questão adicional: os terrenos são propriedade da Câmara Municipal do Porto. Durante meses, isso foi sabido dentro da câmara, mas nós não tínhamos conhecimento. É preciso garantir que aquilo que é da Câmara do Porto é efetivamente da câmara e não é utilizado por nenhuma empresa privada, independentemente de ser uma empresa do presidente da câmara ou não.

Portanto, os terrenos devem estar na posse da câmara?
Com certeza. Se a empresa Selminho foi de alguma forma induzida em erro por quem lhe vendeu os terrenos, tem é de falar com quem lhe vendeu o terreno. E a câmara deve estar à margem disso e deve ser proprietária do terreno, ponto final.

São precisos mais esclarecimentos sobre todo o caso ou acha que já estudo esclarecido?
Está esclarecido que houve uma intervenção ilegítima do presidente ao emitir procurações para os advogados da câmara intervirem no processo. Isso está claro, foi declarado no despacho do procurador, o que aparentemente não é suficiente para dar perda de mandato. Mas não implica que não tenha havido uma intervenção ilegítima. Essa parte está esclarecida.

E sente que o caso vai acabar por penalizar politicamente Rui Moreira?
Não sei e não me preocupa. Preocupa-me que os interesses da Câmara do Porto sejam defendidos. Aquele terreno é da propriedade da câmara e não há condições para construir naquele terreno. As outras questões não são relevantes.

Acha que os eleitores do Porto não vão tirar conclusões do processo?
Podem tirar ou não. As pessoas formam as suas opiniões baseadas em muitas coisas. Não é uma questão que me preocupa.

Mas vai levá-la para a campanha?
Não.

Recusa-se a fazer políticas com casos?
Se não me tivesse colocado a questão, não falava sobre o assunto.

Mas não é relevante politicamente?
É relevante a existência de conflitos de interesse não declarados. É relevante que durante vários meses, sabendo-se que o terreno era da propriedade da câmara, nada tenha sido feito para assegurar esse direito. Mas é tudo.

Caso Selminho: "Devia ter havido transparência previamente à candidatura de Rui Moreira"

Reabilitação urbana: rendas controladas seria “destruir” a cidade

O pequeno Smart do Observador dá de si à medida que nos aproximamos da zona de Ramalde. As ruas em paralelo fazem o carro tremer como gelatina. Álvaro Almeida conhece bem a freguesia. Nasceu, cresceu e brincou aqui quando era mais novo. “Tenho a sensação que isto não mudou quase nada“, diz, enquanto vai apontando para as casas abandonadas e a vegetação espontânea que vai brotando por entre as paredes descascadas de tinta.

Álvaro Almeida responsabiliza diretamente a dupla Rui Moreira e Manuel Pizarro pelo “abandono” a que votou esta e outras zonas da cidade. “Há duas cidades na cidade do Porto: há a cidade que tem sido objeto de atenção deste executivo, a zona turística; e há o Porto autêntico, o Porto dos portuenses que está à margem da atenção da câmara”, critica o candidato do PSD. “Esse é provavelmente o maior erro do executivo: o facto de ter ignorado tudo o que não fosse turístico. O Porto é muito mais do que isso e tem de ser muito mais do que isso”, acusa.

À medida que elogia a herança deixada por Rui Rio, o economista escuda-se em números para criticar o “imobilismo” deste executivo: “Só para lhe dar um exemplo concreto: o investimento em reabilitação de bairros sociais nos três anos completos deste executivo foi 19 milhões de euros; no mandato anterior, no mesmo período, tinham sido 44 milhões. Mais do dobro. Parece que não estamos na mesma cidade. Na mesma cidade dos postais. De facto, esta é também a realidade do Porto. Os portuenses que moram aqui sentem os efeitos destes desleixo, deste abandono. Nada foi feito nesta zona“.

Que solução propõe?
Precisamos de reabilitar estas habitações todas. Precisamos de transformar estes edifícios que estão abandonados em habitações de qualidade. É preciso reabilitação. Propomos alargar o conceito de área de reabilitação urbana — e o conceito de reabilitação urbana tem, essencialmente, vantagens fiscais para quem faz obras de reabilitação dos edifícios — a toda cidade. Ao alargar as áreas de reabilitação urbana a toda a cidade estamos a incentivar a que se proceda à reabilitação destes edifícios que nós fomos vendo.

Isso obriga a que tipo de investimento?
Se dermos essas vantagens fiscais, ainda por cima temporárias, os promotores imobiliários irão aproveitar certamente.

Seria na lógica dos promotores imobiliários e não tanto do investimento da câmara, certo?
A câmara não deve ser proprietária dos edifícios. O que temos de fazer é incentivar os privados a colocar esses edifícios no mercado. É isso que queremos com duas propostas: alargar as áreas de reabilitação urbana a toda a cidade e o estabelecer contratos-programa com os proprietários. São uma base para haver um grande investimento e um grande aumento do número de alojamentos disponíveis.

Já disse ser contra uma política assente em rendas controladas. Mantém essa posição?
Rendas controladas por determinação administrativa claramente que sim, que sou contra. Os meus colegas economistas costumam dizer que há duas formas de destruir uma cidade: a bomba atómica e as rendas controladas.

Porque é que diz isso?
É um facto. A partir do momento em que nós controlamos as rendas e elas ficam limitadas abaixo daquilo que é capaz de gerar um rendimento suficiente para os proprietários manterem os edifícios, acontece que os edifícios não são mantidos.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

A presença de Passos: “Não vou rejeitar apoios, nem ignorar pessoas”

O caminho até ao bairro do Cerco do Porto é longo e há tempo para falar de política, um mundo novo para Álvaro Almeida. O candidato do PSD, parco em palavras, garante que os primeiros dias de pré-campanha eleitoral, apesar de “agitados”, têm sido “muito interessantes”. “Temos sido muito bem recebidos por todos os portuenses. Não temos tido grandes problemas a esse nível”, garante. À pergunta da praxe — “já o reconhecem na rua” –, Álvaro Almeida responde apenas que “sim, geralmente sim“. Perante a insistência, o candidato completa: “As pessoas reconhecem que é preciso mudar. Sem dizer nada, as pessoas vêm ter comigo e dizem que é preciso mudar e apontam as razões — que são aquelas razões que temos defendido”, garente.

A conversa é interrompida pela imagem de Manuel Pizarro, em formato XXL. “Fazer Pelos Dois”, pode ler-se em letras garrafais no outdoor de campanha do socialista. Álvaro Almeida já criticou Rui Moreira. A pergunta que se impõe é: que avaliação faz de Manuel Pizarro?

“Fez parte do executivo e portanto as críticas que dirijo ao executivo estendem-se a Manuel Pizarro. Há também críticas na forma como são geridos os bairros sociais, nomeadamente na falta de rigor e de exigência que aparentemente terá havido. Algum laxismo com o qual não o concordamos”, aponta. Voltaremos a esse tema mais tarde, até porque agora é o cartaz de Álvaro Almeida que surge no horizonte.

Tem ali outro cartaz seu. Este faz referência ao apoio de Rui Rio, Paulo Rangel, José Pedro Aguiar-Branco. É importante ter essas figuras do PSD ao seu lado?
É importante que o PSD do Porto esteja com esta candidatura. Aliás, foi uma questão que tratei de assegurar logo no início e, felizmente, temos tido esse apoio. No PSD do Porto tudo o que é pessoa reconhecida apoia a nossa candidatura. Estou muito satisfeito por ter esse apoio e de todos os que o compõem, contrariamente ao que aconteceu noutras alturas.

Espera que quando chegar a campanha essas mesmas figuras estejam ao seu lado na rua?
Já têm participado. Rui Rio, por exemplo, não só esteve na minha apresentação, como esteve numa sessão que fizemos da apresentação de Pedro Duarte à Assembleia Municipal. Participou, interveio e fez uma participação muito interessante. A mesma coisa com Paulo Rangel.

Rui Rio apoiou Rui Moreira em 2013. Acredita que houve um divórcio entre os dois?
É uma questão que terá de lhe colocar a ele.

Já falou certamente com Rui Rio…
Não vou reproduzir conversas privadas em público.

Ainda assim, os eleitores do Porto tirarão daí uma conclusão.
Se agora Rui Rio me apoia e apoia o PSD agora, alguma razão terá. Certamente não o fará sem ter bons motivos para isso.

Espera ter Pedro Passos Coelho ao seu lado na campanha eleitoral?
Já o tivemos também. Durante a campanha eleitoral voltará a estar, com certeza. É algo que nos satisfaz muito: saber que todo o PSD está unido em torno desta candidatura. Não há divergências no PSD.

Não tem receio que a presença de Pedro Passos Coelho, que atravessa um momento politicamente delicado, se reflita na sua campanha?
Não vou rejeitar apoios, nem ignorar pessoas em função dos votos que isso possa trazer. Pedro Passos Coelho foi um excelente primeiro-ministro, foi uma pessoa que, com a sua ação determinada, salvou Portugal de uma situação financeira muito difícil — temos de reconhecer e agradecer-lhe esse esforço — e que como líder do partido tem sido incansável. Tenho muito prazer e muito orgulho em ter o seu apoio.

Mas reconhece que atravessa o momento mais delicado?
Pelo menos, tentam fazer isso. Há quem tente fazer isso.

As sondagens comprovam-no.
As sondagens dizem-me muito pouco.

"Se agora Rui Rio me apoia e apoia o PSD agora, alguma razão terá. Certamente não o fará sem ter bons motivos para isso"

Bairros sociais: “Há laxismo e falta de rigor”

Deixámos Passos Coelho e o PSD para trás. “Temos aqui o Cerco do Porto à frente“, aponta Álvaro Almeida. Os 34 blocos de betão e concreto pintados tingidos com cores pálidas comprovam-no. Residem aqui mais de 2 mil pessoas, num dos bairros mais problemáticos da cidade.

Álvaro Almeida ajusta o discurso. Denuncia a falta de investimento do atual executivo na reabilitação dos bairros sociais, fala na cultura de “falta de rigor” que existe nestes espaços e admite partilhar com André Ventura, o candidato do PSD à Câmara de Loures que tanta controvérsia tem causado, uma ideia em comum: quem não paga a renda nestes apartamentos, tem de sofrer as consequências e deve, eventualmente, ser despejado.

Ainda assim, de acordo com o relatório e contas de 2016 da Domus Social, entidade que gere a habitação social no Porto, a taxa média mensal relativa ao número de incumpridores no início do ano era 4,93% e fixou-se no final do ano em 4,78%. Em termos de valor, a taxa média mensal de incumpridores era, também no início de ano, de 4,11% e fixou-se, no final do ano, em 3,99%.

Que medidas concretas propõe para reabilitação dos bairros sociais?
Os bairros sociais, sendo propriedade da câmara, tem de merecer um investimento da câmara. Um investimento forte.

De que valores é que estamos a falar?
Na casa dos 40/50 milhões de euros por triénio, portanto na casa dos 10 a 15 milhões de euros por ano. No fundo, os valores que foram investidos por Rui Rio. São valores razoáveis, que teremos de recuperar. Mas é preciso criar uma cultura de rigor que não existe. Rigor em quê? Rigor na manutenção dos edifícios, rigor no comportamento, rigor na contrapartida. As pessoas têm de cumprir as regras e a câmara tem de dar a sua parte, que é manter os edifícios em condições. Aquilo que queremos trazer para os bairros sociais é essa cultura de rigor, seja da parte da câmara, seja da parte de quem lá mora.

Quando diz rigor da parte de quem lá mora quer dizer exatamente o quê?
Tem de se pagar a renda a horas, não se pode vandalizar as instalações. É preciso que as pessoas sintam que aquela é sua casa, também é deles, e que, graças a isso, vão poder usufruir de melhores condições de vida se cumprirem as regras. É preciso que cumpram as regras e quem não cumpre as regras terá que sofrer as consequências.

André Ventura, candidato do PSD a Loures, defende que quem não paga as rendas poderá eventualmente ser despejado. Partilha esta ideia?
Quem não paga as rendas sim. As rendas são calculadas com uma componente social. Se essas pessoas não pagam rendas que supostamente têm capacidade para pagar tem de ter consequências.

Isso não deixaria essas pessoas numa situação mais débil?
Mas se têm condições para pagar porque é que não pagam? Têm de ter consequências. Não podemos entrar numa situação de desleixo em que as pessoas fazem o que querem e não têm consequências. Temos de ser rigorosos. É preciso mudar. Se não cumpre, sofre as consequências. Têm é que cumprir.

Existe um problema de exclusão social na cidade do Porto?
A exclusão social surge de uma forma que alguns bairros sociais têm de gueto. De gueto em que sentido? São fechados e não estão abertos ao exterior.

Por responsabilidade própria?
Não. Por responsabilidade de quem os concebeu. Há bairros sociais que, por construção, não há ruas que o atravessem. As ruas que supostamente poderiam atravessar os bairros estão cortadas a meio para que não sejam utilizadas como vias de comunicação. O que faz com que as pessoas que não moram lá passem à volta do bairro, mas não entrem lá. Essa construção isola as pessoas do bairro, que não têm contacto com o exterior e cria-se esse sentimento de exclusão.

Bairros sociais: "As pessoas que não cumprem as regras têm que sofrer as consequências"

O problema da segurança: “Não há polícia na rua”

A passagem pelo Bairro do Cerco permite lançar outro tema: a criminalidade na cidade do Porto. Álvaro Almeida ajeita-se no banco. É um tema caro para o candidato. Para o economista, apesar de Rui Moreira e Manuel Pizarro o negarem e de se esforçarem por esconder o problema, o fenómeno é real.

O candidato do PSD irrita-se quando o Observador fala num aparentemente aumento da sensação de segurança nas ruas do Porto. “O Porto não é só a Ribeira, não é só a Baixa“, atira. Para Álvaro Almeida, nas zonas menos nobres da cidade impera um clima de “insegurança”, sobretudo entre os mais velhos.

Um dos temas que tem trazido para a campanha é a questão do aumento da criminalidade da cidade do Porto. Nessa entrevista que deu ao Observador lamentou que o facto de esse tema não ser mais explorado. Porque é que acha que existe esse tabu em relação à criminalidade?
Não sei. O que as estatísticas nos dizem é que a criminalidade tem baixado no país em todos os níveis. Há no entanto a questão do concelho do Porto onde os crimes contra o património subiram — em 2015 foi atingido o valor mais alto. Essa questão tem sido ignorada porque não ajuda à festa de que no Porto está tudo bem. Como vai contra a narrativa de que está tudo bem, geralmente essas questões são escondidas e ignoradas.

Concordará certamente num ponto: a sensação de segurança nas ruas do Porto aumentou.
Não. Não partilho dessa opinião. Sabe qual é o problema que está por trás da sua afirmação? É que quando diz Porto está a pensar Ribeira. Está a pensar Baixa. E aí estamos certamente de acordo. Mas o Porto não é só a Ribeira, não é só a Baixa. No resto da cidade a sensação é de insegurança.

Estive há uns tempos com um pároco da cidade que dizia que tinha muita dificuldade em organizar atividades durante o dia para as pessoas mais velhas porque as pessoas tinham medo de andar na rua para ir para a igreja. Como tinham de atravessar um descampado, as pessoas não queriam ir à igreja. As pessoas sentem-se inseguras, sobretudo as pessoas mais velhas, porque estão mais expostas a essa criminalidade.

"Falta polícia nas ruas do Porto. Não vemos praticamente polícias a não ser nas zonas turísticas"

E como é que se propõe resolver esse problema? Já sugeriu por exemplo a instalação de câmaras de videovigilância em algumas zonas do Porto. Isso, por si só, resolveria o problema?
Nem é por aí. Temos duas sugestões: uma, é um sistema de transporte da porta ao transporte público para pessoas acima dos 75 anos e com mobilidade reduzida. O que é que isso permite? Permite que as tais zonas desertas que as pessoas têm de atravessar, atravessem acompanhadas.

Mas isso não resolve o problema na raiz.
Não, mas resolve o problema da insegurança nos mais velhos. Resolve o facto de as pessoas não quererem sair de casa porque têm medo. Isso já é uma solução importante. A segunda questão é ter presença de polícia nas ruas.

Acha que falta polícia nas ruas do Porto?
Falta polícia nas ruas do Porto. Não vemos praticamente polícias a não ser nas zonas turísticas. Viu algum polícia?

Não, de facto, não vi.
Não viu nenhum. Não há nenhum na rua. Passámos por meio Porto e não vimos nenhum polícia na rua. Se não for possível através da PSP, parece que tem falta de efetivos, terá que ser através da Polícia Municipal. A simples presença na rua já é um fator dissuasor.

Poderia passar por aí uma solução? Reforçar o contingente da Polícia Municipal?
Pode ser uma das soluções, com certeza.

E um último aviso: “Rui Moreira dá azar ao FC Porto”

A viagem aproxima-se do fim. O Mercado do Bolhão surge do nosso lado direito. Rui Moreira prometera avançar com a obra de requalificação do edifício, mas o projeto nunca saiu do papel. “É uma das 21 promessas não cumpridas” e a prova provada “da “incapacidade de execução” do atual executivo, ataca Álvaro Almeida.

Mas não é a única. A expansão da linha do metro do Porto é outra mancha no currículo de Rui Moreira, defende Álvaro Almeida. A concretização da linha de metro de Campo Alegre, que ligaria a cidade à zona ocidental do Porto e a Matosinhos, acabou por resumir-se a uma linha mais pequena, que ligará a Casa da Música a São Bento. A Metro do Porto, que conta com a participação da câmara, admitiu, tal como Rui Moreira, que o apoio financeiro disponível não permitia ir mais longe — esta era, na verdade, a solução possível.

Para Álvaro Almeida, no entanto, a decisão esteve sempre condicionada:
No caso das linhas de metro, há um erro cometido por este executivo, um erro de fundo, que é aceitar os termos de referência do estudo que serviu de base à decisão. A decisão com base naquele estudo era a óbvia. O problema eram os termos de referência. Se lhe pedir para fazer um estudo que me diga qual é a cor mais bonita de um equipamento…

Vai responder azul, naturalmente.
Azul e branco, naturalmente. Se me pedir a mim para lhe dizer isso, obviamente que a resposta vai ser azul e branco. No caso do estudo que serviu de base à expansão da linha de metro, a pergunta que se fez foi: ‘Quais são as linhas que maximizariam o número de utilizadores’. Ora, uma linha de metro não é meramente um instrumento de uma empresa para maximizar receitas. O metro não serve para maximizar receitas. O atual executivo deveria ter-se oposto a esse critério de decisão. E não o fez. Nós levantarmos a questão e reequacionaremos a decisão com os critérios que achamos que devem ser utilizados.

Numa altura em que os Aliados já surgem no horizonte, as críticas à falta de capacidade de execução de Rui Moreira levam a uma outra pergunta: o que distingue Álvaro Almeida de Rui Moreira? O candidato do PSD diz que é diferente pela sua história pessoal — algo que todos os candidatos dizem. Responde que é diferente porque nunca se candidatou a nenhum cargo político — Rui Moreira também não. Garante que se candidatou porque sentiu que o Porto precisava de uma alternativa — Rui Moreira disse o mesmo, em 2013. Então o que é que o distingue, verdadeiramente? A “experiência executiva“, responde.

Falta de vitórias do FC Porto? "Diria que Rui Moreira, se calhar, dá azar"

O que é que faz de si diferente de Rui Moreira?
A minha história pessoal. Sou um candidato diferente dos outros todos.

Geralmente também é algo que todos os candidatos dizem…
É natural. Mas eu sou objetivamente diferente. Nunca me candidatei a nenhum cargo político. Segundo, tenho uma experiência de gestão de instituição públicas que mostra a minha capacidade de executar. Depois, tenho uma experiência pessoal diferente dos outros. Candidatei-me não porque tenha uma carreira política e isso faça parte de um qualquer percurso nessa carreira política, mas, apenas e só, porque senti, como cidadão do Porto, que este executivo estava estagnado e era preciso encontrar uma alternativa. Isso é diferente dos outros. Os outros são políticos.

Rui Moreira não era.
Não, não era.

E Rui Moreira candidatou-se precisamente dizendo que sentiu uma vontade cívica de intervir. É o mesmo que me está a dizer.
E agora vimos que não fez nada.

Por isso pergunto: que garantia vai dar aos eleitores do Porto de que é, de facto, diferente de Rui Moreira?
A minha experiência executiva, que é diferente da dele. Ele não tinha. Eu tenho.

Podemos terminar a nossa viagem na Avenida dos Aliados. Compromete-se a receber o FC Porto se for campeão, coisa que Rui Moreira ainda não conseguiu?
Não conseguiu. Quatro anos e não conseguiu.

É o maior defeito de Rui Moreira?
Não. Isso não depende da atuação dele, obviamente. Mas diria que, se calhar, dá azar.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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