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A Câmara Municipal do Montijo inaugura um novo espaço cultural: a Casa da Música Jorge Peixinho, que abre como forma de homenagem ao maestro, compositor e pianista montijense, considerado um artista influente na música contemporânea portuguesa do século XX. A Casa da Música nasce assim no lugar da antiga Quinta das Nascentes, incorporada no novo Jardim das Nascentes. 5 de Abril de 2023 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
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A Casa da Música Jorge Peixinho é inaugurada no próximo dia 25 de abril

TOMAS SILVA/OBSERVADOR

A Casa da Música Jorge Peixinho é inaugurada no próximo dia 25 de abril

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Casa da Música Jorge Peixinho: o novo espaço cultural do Montijo quer gerar "diálogos e hábitos culturais"

Concertos, teatro e espectáculos infantis. Um museu dedicado ao compositor Jorge Peixinho e o respetivo espólio. E a vontade de gerar "diálogos culturais" num nova casa da música. Fomos conhecê-la.

Em 1986, num texto publicado na Movimento Cultural – Revista da Associação dos Municípios do Distrito de Setúbal, o compositor Jorge Peixinho, nascido no Montijo a 20 de janeiro de 1940, defendia que, face à escassez de infraestruturas no campo da música no distrito, mas também no resto do país, o “desejável seria o lançamento de um diálogo, de um debate, com a apresentação livre e aberta de propostas e sugestões”. Prosseguia assim uma forma de manifesto em relação ao lugar ocupado pela música erudita, mas também como defesa dos valores da arte contemporânea, que deveriam reconduzir “o povo ao seu papel de agente cultural ativo”, por via de uma relação artística consolidada através da fruição.

No muito que escreveu e que disse, as suas palavras continuam a criar ecos, passados 83 anos do seu nascimento. Um legado que ganha agora mais visibilidade com a inauguração da Casa da Música Jorge Peixinho, espaço que irá abrir portas no próximo dia 25 de abril, ali mesmo no centro da terra que o viu nascer, no lugar da antiga Quinta das Nascentes.

Para a programação desta casa, onde também ficará instalado o espólio de Jorge Peixinho e um espaço museológico dedicado ao conhecimento da obra do compositor, a Câmara Municipal do Montijo convidou a Companhia Mascarenhas-Martins para assumir a criação de um programa de desenvolvimento cultural do auditório deste edifício. O repto foi aceite pela companhia, fundada em 2015, que ali irá acolher e produzir espetáculos diversos, da música ao teatro, passando pela performance. Ao Observador, o diretor artístico da companhia, Levi Martins, salienta a relação da música com a localidade, que agora se pode aprofundar igualmente no diálogo e cruzamento com outras propostas artísticas.

A Câmara Municipal do Montijo inaugura um novo espaço cultural: a Casa da Música Jorge Peixinho, que abre como forma de homenagem ao maestro, compositor e pianista montijense, considerado um artista influente na música contemporânea portuguesa do século XX. A Casa da Música nasce assim no lugar da antiga Quinta das Nascentes, incorporada no novo Jardim das Nascentes. 5 de Abril de 2023 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Levi Martins, diretor artístico da companhia Mascarenhas-Martins, que assume a programação do novo espaço cultural do Montijo

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“Há uma tradição musical grande no Montijo e sempre considerámos que era importante haver uma programação regular de música porque isso cria mais hábitos de relação com o público, funcionando como porta de entrada para outro tipo de propostas. A música tem um lado muito direto na relação com as pessoas e, portanto, pareceu-nos que era importante haver essa programação nesse espaço, onde queremos depois alargar o espectro”, explica Levi Martins.

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Música, performance e espectáculos infantis

O equipamento surge como homenagem ao maestro, compositor e pianista montijense – uma das figuras mais relevantes da música contemporânea portuguesa da segunda metade do século XX –, e igualmente com o intuito de diversificar a oferta cultural na cidade, bem como em toda a Península de Setúbal e Área Metropolitana de Lisboa. Representa uma nova fase da atividade da Mascarenhas-Martins, que encara este capítulo como uma possibilidade de aprofundar a relação com o território e com a população.

“Felizmente, até hoje tivemos um percurso pautado por muitas experiências diversificadas e pudemos testar diferentes escalas de trabalho. Neste local e na relação com as diversas artes, acredito que vai haver uma continuidade de procura de uma criação contemporânea, não apenas no teatro, mas mais abrangente”, salienta o também encenador e músico. A Casa da Música Jorge Peixinho está incorporada no novo Jardim das Nascentes, espaço verde que se afigura igualmente como local de lazer e ligação às artes, num território que na visão desta companhia tem vindo a consolidar um esforço na dinamização cultural ao longo dos últimos anos. Além do auditório, programado pela Mascarenhas-Martins, a Casa da Música Jorge Peixinho pretende aprofundar o conhecimento da obra do compositor, através de um trabalho de investigação museológica concebido pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, num protocolo com a autarquia montijense.

O projeto Mão Verde atua no fim de semana de abertura. A 5 de maio, Beatriz Pessoa apresenta o seu novo disco, "Prazer Prazer". Antes disso, será a vez da Companhia Mascarenhas-Martins levar ao palco, de 18 a 28 de maio a sua nova criação “Rebentar na Primavera em três atos”. Esta primeira jornada de espetáculos será concluída com um concerto de Jasmim, agendado para 16 de junho.

Para estes primeiros momentos que se avizinham, a companhia irá apresentar um espetáculo próprio, a que chamaram “Interlúdio”, de 26 a 28 de abril, que recupera o repertório musical original criado pela Mascarenhas-Martins para as suas mais diversas criações, numa viagem sonora pela história da mesma. “Trata-se de um espetáculo concerto com algumas citações de textos dos espetáculos da companhia, mas no fundo também é uma oferta nossa à cidade, no sentido de dizer que vamos fazer a programação do espaço, sendo igualmente uma forma de nos conhecerem”, explica Levi Martins. A programação segue nesse fim de semana de abertura, com a Mão Verde, projeto de António Serginho, Capicua, Francisca Cortesão e Pedro Geraldes que quer provocar pensamento nos públicos mais jovens em torno da ecologia.

No trabalho que foi planeado ao longo dos últimos meses, a companhia definiu como eixos centrais da programação uma linha de atuação ligada à música, seguida de uma outra ligada às artes performativas e uma terceira virada para espetáculos ligados à infância. No caso do projeto Mão Verde, Levi Martins realça como esta proposta acaba por ligar os diferentes eixos pela questão da consciência ambiental, mas também por ser direcionado às famílias, numa ligação inusitada com o espaço ajardinado onde se encontra instalado o edifício. Quanto à restante programação para já pensada, o diretor artístico da companhia adianta que o auditório irá receber, a 5 de maio, a artista Beatriz Pessoa, que irá apresentar o seu novo disco. Antes disso, será a vez da Companhia Mascarenhas-Martins apresentar, de 18 a 28 de maio a sua nova criação “Rebentar na Primavera em três atos”. Esta primeira jornada de espetáculos será concluída com um concerto de Jasmim, agendado para 16 de junho.

Um novo espaço cultural de escala humana

Para a Companhia Mascarenhas-Martins, a abertura deste espaço, bem como o convite para assumirem a sua programação, surge “num momento histórico de contraciclo” pelo facto de ser o próprio município a convidar uma estrutura independente da cidade, que desde o seu começo tem reivindicado por um espaço efetivo de criação e produção. Além do apoio de 80 mil euros garantido pela autarquia, a companhia que até hoje já produziu e apresentou 13 criações próprias, conta também com o apoio quadrienal da DGArtes, através de um concurso que garante 180 mil euros anuais. Condições necessárias para manter um espaço de escala humana, com um “pensamento de relação com os outros”.

A Câmara Municipal do Montijo inaugura um novo espaço cultural: a Casa da Música Jorge Peixinho, que abre como forma de homenagem ao maestro, compositor e pianista montijense, considerado um artista influente na música contemporânea portuguesa do século XX. A Casa da Música nasce assim no lugar da antiga Quinta das Nascentes, incorporada no novo Jardim das Nascentes. 5 de Abril de 2023 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR A Câmara Municipal do Montijo inaugura um novo espaço cultural: a Casa da Música Jorge Peixinho, que abre como forma de homenagem ao maestro, compositor e pianista montijense, considerado um artista influente na música contemporânea portuguesa do século XX. A Casa da Música nasce assim no lugar da antiga Quinta das Nascentes, incorporada no novo Jardim das Nascentes. 5 de Abril de 2023 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A companhia Mascarenhas-Martins assume o que diz ser o legado de Jorge Peixinho, procurando uma criação de hábitos culturais e de um espaço que seja também de diálogo

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“O facto de ter essa escala impede qualquer tipo de pensamento comercial. Ninguém pode usar aquele auditório para fazer dinheiro. Agrada-nos a ideia de um contacto direto com as pessoas”, explica Levi Martins, que salienta a relação de parceria com as entidades e escolas do distrito que por ali poderão passar e usufruir da programação planeada também enquadrada nesse ângulo de visão.

“Nós fomos, pelo menos do que há memória, o primeiro projeto e estrutura profissional de artes performativas a fixar-se aqui e isso é um desafio grande precisamente pela falta de hábito. Estamos aqui a trabalhar e passamos a conhecer a população que começa a dialogar connosco. Acredito mesmo nessa relação pessoa e acredito até de forma mais utópica que é assim que se transforma a sociedade. Isso pode criar uma comunidade mais aberta e plural. Que este seja também um espaço de encontro de pessoas diferentes e que se confrontem ali com ideias diferentes e que possam também confraternizar e dialogar”, sintetiza o diretor artístico.

Na defesa do legado de vanguarda de Jorge Peixinho

Ao longo da sua vida, Jorge Peixinho foi descrito como talento precoce, viandante dos grandes centros da vanguarda do pós-guerra europeu, crítico, intérprete, pedagogo, organizador de inúmeros encontros e cultor de duradouras amizades. O poeta Eugénio de Andrade chegou a escrever que Peixinho “rebentou como fruto queimado”, aludindo à sua personalidade vincada, mas também ao fulgor do seu discurso criativo e modo apaixonado de viver a música, a arte e a própria vida.

“É uma ambição nossa poder contribuir para que as pessoas ganhem de facto uma relação mais forte com a cultura. Hábito e valorização real desse trabalho que está a ser feito ao lado delas e que não é abstrato. Aqui temos a oportunidade de privar com as pessoas que usufruem desse trabalho e que dele partilham de alguma maneira", diz Levi Martins.

Em 1970 – depois de um período fora de Portugal, onde colabora com Karlheinz Stockhausen e Pierre Boulez em Darmstadt, na Alemanha, passando também por Itália e pela Suíça – fundou, juntamente com alguns músicos portugueses, o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, que tem realizado uma importante ação de divulgação da música erudita atual, em especial da nova música portuguesa. Considerado como “pai da vanguarda musical portuguesa”, Jorge Peixinho não deixou, até à sua morte em 1995, de defender a valorização do ensino artístico e de uma ação cultural sistemática e descentralizada, que possibilitasse uma fruição das artes aberta aos diferentes públicos.

No jardim que agora acolhe este novo centro cultural do Montijo pode ler-se num mural uma frase de Jorge Peixinho, que é também título de uma obra sua: “Ouçam a Soma dos Sons que Soam…” Na relação inusitada que a companhia ganha (por soma de elementos) com o percurso deste compositor, sublinha-se a defesa de um legado de vanguarda, que implique uma criação de hábitos culturais e de um espaço que seja também de diálogo entre pessoas.

“É uma ambição nossa poder contribuir para que as pessoas ganhem de facto uma relação mais forte com a cultura. Hábito e valorização real desse trabalho que está a ser feito ao lado delas e que não é abstrato. Aqui temos a oportunidade de privar com as pessoas que usufruem desse trabalho e que dele partilham de alguma maneira. O desejo para os próximos anos é conseguirmos que essa relação se traduza não necessariamente em quantidade, mas que pelo menos haja à nossa volta um grupo de pessoas que ganharam alguma coisa com isto e que querem continuar a dialogar connosco.”

A Casa da Música Jorge Peixinho será inaugurada, no dia 25 de abril, terça-feira, às 11h00, sendo integrada nas comemorações da cidade que assinalam os 49 Anos da Revolução e que vai contar com a presença do presidente da Câmara Municipal do Montijo, Nuno Canta. Além da programação pensada pela Companhia Mascarenhas-Martins, esse dia conta ainda com um concerto de inauguração, a cargo do Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, às 17h30.

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