A novela em torno da nomeação (e demissão) da administração da Caixa Geral de Depósitos liderada por António Domingues arrasta-se desde junho de 2016, com avanços e recuos, diplomas à medida e acusações de mentira. Mário Centeno, mas também Ricardo Mourinho Félix, secretário de Estado Adjunto e das Finanças, são personagens principais num enredo carregado de personagens secundárias, opositoras e coadjuvantes: António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa, Luís Marques Mendes e António Lobo Xavier.
Uma história que sociais-democratas e democratas-cristãos quiseram ajudar a escrever, marcando um alvo nas costas de Mário Centeno: Pedro Passos Coelho e Assunção Cristas não estão dispostos a largar o ministro das Finanças, que acreditam ter mentido no Parlamento, quando garantiu não ter assumido um compromisso com António Domingues no sentido de isentar a administração da Caixa de entregar as declarações de rendimentos junto do Tribunal Constitucional.
Na segunda-feira, Mário Centeno, depois de reunir com Marcelo, com luz verde de Costa, fez uma espécie de mea culpa: negou qualquer acordo com Domingues, mas admitiu que possa ter havido “erros de perceção” da parte de António Domingues na interpretação das alterações legislativas.
Marcelo Rebelo de Sousa reagiria mais tarde, numa nota publicada no site da Presidência: Mário Centeno só não caiu por “estrito interesse nacional”, justificou o Presidente da República.
PSD e CDS não ficaram satisfeitos com as explicações do ministro das Finanças e exigem ter acesso às SMS trocadas entre Centeno e António Domingues. “[Tem de] ficar claro de uma vez por todas a extensão da mentira do doutor Mário Centeno e para percebermos também o envolvimento do primeiro-ministro em toda esta matéria”, disse o deputado social-democrata Hugo Soares. “Os erros de perceção fabricados, erros de perceção inventados, erros de perceção acrescentados, existiram única e exclusivamente para criar uma realidade alternativa”, acusou o democrata-cristão João Almeida.
Esta terça-feira, os coordenadores da comissão de inquérito da Caixa reúnem-se à porta fechada para decidir se a troca de correspondência que já chegou ao Parlamento pode ou não ser divulgada. Na quarta-feira, Mário Centeno volta ao Parlamento, para uma audição regimental na Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa. O tema não vai, por isso, ficar por aqui.
Se já está perdido, veja aqui como o filme dos acontecimentos torna tudo mais claro: