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Partido liderado por André Ventura vai a eleições em cinco distritais
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Partido liderado por André Ventura vai a eleições em cinco distritais

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Partido liderado por André Ventura vai a eleições em cinco distritais

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Chega vai a votos nas distritais de Lisboa e Porto. Oposição tenta regresso e Ventura tem núcleo duro dividido

André Ventura quis ficar fora da luta nas eleições distritais, pediu o mesmo aos seus mais próximos (que não iam a votos), mas muitos membros do núcleo duro têm mostrado que há preferências.

Arrumar a casa do Chega parece uma tarefa sem à vista fim para André Ventura. Depois de controlados os problemas internos para travar as intenções da oposição na última convenção, tudo parecia estar no bom caminho para o líder do Chega, mas a reunião magna que foi vista como um ponto de viragem acabou invalidada pelo Tribunal Constitucional. E antes da realização de uma nova, o Chega vai (tentar) resolver o imbróglio das eleições internas no próximo dia 10 de setembro — mas já se levantam dúvidas sobre a legalidade das convocatórias.

A ida às urnas nas distritais tem agitado o partido internamente, com Lisboa e Porto no topo das atenções — onde dois deputados tentam não perder a liderança. Pedro Pessanha e Rui Afonso, deputados eleitos pelo Chega por Lisboa e Porto, respetivamente, estão a recandidatar-se às distritais e têm concorrência — entre eles adversários que não só representam alas diferentes do partido como refletem divisões entre membros do núcleo duro de Ventura, desde elementos da direção a deputados. A luta mais acesa é no Porto, onde José Lourenço, que criticou duramente Ventura nos últimos anos, é protagonista ao lado de Israel Pontes e Aníbal Pinto, que debatia com o agora líder na CMTV.

As acusações de ingerência ao núcleo duro

Consciente de que esta é uma luta que mexe com a vida interna do partido e que agita as várias fações, no último Conselho Nacional, André Ventura fez questão de meter água na fervura e pediu para que a direção evitasse interferir nas eleições distritais — mas valeu de pouco. Se se estender o pedido ao núcleo duro (com deputados incluídos) teve ainda menos valor.

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Ora, é certo que André Ventura é um quase incontestável dentro do partido — à exceção da lista de Israel Pontes, em que há uma linha muita crítica da atual direção, nenhuma candidatura arrisca sequer um caminho próximo ao anti-Venturismo. Porém, no núcleo duro do líder do Chega há lutas pelo poder que se refletem nestas eleições. Há nomes que preferem manter-se no anonimato — mesmo que haja muitas chamadas e reuniões pelo país —, mas ao longo das últimas semanas houve figuras de peso a mostrar apoio aos candidatos.

Vários membros do Chega e protagonistas destas eleições internas contaram ao Observador que se criou uma “espécie de complô entre alguns deputados” e “movimentações”, particularmente com a existência de “núcleos que operam dentro do grupo parlamentar” que têm uma visão diferente sobre o futuro do partido.

Israel Pontes, um dos candidatos à distrital do Porto, não tem dúvidas de que há ingerência de Lisboa: “As candidaturas adversárias [de Rui Afonso e Luís Vasques] são exatamente iguais, dividiram-se mas a génese é a mesma e são orquestradas por Lisboa.” E vai mais longe para acusar Diogo Pacheco Amorim, membro da direção do Chega e deputado, de ser um dos rostos por detrás da lista de Vasques.

Mais do que acusações, nas redes sociais não sobram dúvidas sobre a presença de membros da direção e deputados próximos de candidaturas. Diogo Pacheco Amorim foi fotografado junto da lista de Luís Vasques, Bruno Nunes surge numa imagem com a equipa de Pessanha, enquanto Pedro Santos Frazão e Jorge Valsassina Galveias (que é presidente da mesa da convenção) apareceram ao lado de elementos da lista de Pedro Martins à distrital de Lisboa (alguns deles a tapar a cara da candidata a vice-presidente de Pedro Pessanha, Patrícia Almeida, que aparece na capa do jornal do Chega, Folha Nacional), bem como Patrícia Carvalho, vogal da direção, também aparece a colar cartazes ao lado do coordenador de Vila Franca de Xira.

Porto. A luta a três que conta um dos maiores adversários de Ventura

Mas a luta está mais acesa no Porto e faz-se a três: Rui Afonso, atual líder da distrital; Israel Pontes, um dos nomes mais críticos da corrente de Ventura e da liderança do deputado na Invicta; e Luís Vasques, um dos membros da equipa de Rui Afonso que se incompatibilizou com a atual liderança e que resolveu avançar para a ida às urnas.

Apesar de todos assegurarem agora que estão ao lado de André Ventura, nas listas estão alguns dos nomes mais críticos da corrente que lidera o partido e que nos últimos anos não só colocaram em causa do presidente do partido como também quem está ao seu lado. Israel Pontes, que encabeça uma das listas candidatas à distrital do Porto, e José Lourenço, ex-líder da distrital e candidato a vice-presidente na mesma equipa, destacam-se como dois desses militantes.

José Lourenço saiu do partido quando estava em andamento um processo que podia ter levado à sua expulsão e um vazio jurídico permitiu que regressasse sem problemas. Ao Observador, chegou a acusar Ventura de ser um “catavento, repetitivo, redundante, redutor”, um “ditador teocrático” e um “tirano” pela forma como gere o partido e como constrói o núcleo à sua volta.

“Estamos perante um partido pidesco, onde existe uma polícia de internet fortíssima, onde suspendem quem querem, como querem, à hora que querem e da maneira que querem”, afirmou numa publicação nas redes sociais naquela altura, argumentando que alguém que se alinhasse para ser “candidato a alguma coisa” era suspenso.

Ex-líder do Chega/Porto contra Ventura. “É um ditador teocrático e um tirano”

Esta linha de pensamento era também seguida pelo candidato a líder da distrital Israel Pontes, de tal forma que os dois candidatos chegaram a mostrar estar ao lado de Nuno Afonso quando o ex-vice-presidente do Chega se posicionou para uma corrida contra Ventura que acabou por nunca acontecer — o amigo de longa data do líder do Chega e número dois do partido acabou por se desfiliar em colisão com Ventura. O candidato a sucessor de Rui Afonso por diversas vezes apontou Nuno Afonso como “uma referência para o partido” e para si próprio e nunca o escondeu, surgindo por diversas vezes ao lado do ex-chefe de gabinete nas redes sociais.

Em plena campanha para as eleições internas, Israel Pontes assegura ao Observador que a candidatura está “perfeitamente alinhada com a direção” ainda que seja muitas vezes apontada como uma lista “anti-Ventura”. “Às vezes destrato o Sérgio Conceição, mas não deixo de amar o FC Porto”, reconhece, para justificar que não concorda sempre com “a forma como o partido está a ser gerido”, para apontar que “André Ventura é um homem como todos” e que os militantes têm o direito de falar quando consideram que “algo não está a ser bem feito”.

Rui Afonso é o maior alvo de todas as críticas dos adversários, desde logo porque a equipa que estava ao seu lado se . Luís Vasques recusou falar com o Observador e justificou-o com o facto de estas serem umas eleições internas, enquanto Israel Pontes não poupou nas palavras ao deputado: há uma “incapacidade” da distrital, foram “desastrosos” e Rui Afonso “abandonou o Porto quando foi para Lisboa” como deputado.

O candidato à liderança olha para esta ida às urnas como um travão para que Rui Afonso não “destrua” o trabalho que José Lourenço fez enquanto esteve na distrital — e acusa o deputado de ser um “espantalho” que ficou a gerir a distrital quando o ex-líder saiu e que não tem “capacidade” para continuar à frente da estrutura. “É uma pessoa isolada no grupo parlamentar, sem notoriedade. Foi um erro de casting, se calhar o pior erro de sempre. E não se faz representar na Assembleia Municipal do Porto, não aparece nem dá lugar a ninguém”, ataca.

Rui Afonso defende-se com a apresentação de um projeto que diz ser de “continuidade, crescimento e implementação do partido no distrito”, assegura ao Observador que a avaliação do trabalho feito é “muito positiva” e destaca o “aumento do número de militantes”, mas também a eleição de dois deputados e de “dezenas de autarcas”. Quer “elevar a candidatura” por acreditar que os adversários “apostam na calúnia”: “O que me preocupa são as mentiras, os perfeitos disparates que são ditos. Quem está na oposição tem de arranjar formas de criticar e às vezes são ditos disparates.”

O lugar de deputado é, na visão de Rui Afonso, uma mais-valia para alguém que pretende manter-se à frente da distrital por ser “mais fácil ser a voz do Porto” no Parlamento. É com “tranquilidade” que enfrenta o desafio, mas não deixa de atacar a lista de Israel Pontes ao dizer que “não tem credibilidade nenhuma” e a de Luís Vasques, ex-membro da sua equipa, por “criar guerras” consigo ou com a direção nacional. “Provocaram uma demissão em bloco após um Conselho Nacional, o que só criou mais ruído e não teve efeitos práticos porque tínhamos de ir a eleições — só enlameou o nome do partido.”

A polémica com Aníbal Pinto

Na lista de Israel Pontes, André Ventura tem um conhecido de outros tempos que já lhe causou problemas nestas eleições internas: Aníbal Pinto — ambos foram adversários no espaço de comentário da CMTV em representação de Benfica e FC Porto, respetivamente, e protagonizaram o episódio em que o agora líder do Chega atirou: “Vai chamar palhaço à tua tia.”

A vida levou-os a voltarem a cruzar-se no partido de André Ventura e no dia 18 de agosto, o advogado anunciou ao Jornal de Notícias que ia ser candidato à Câmara do Porto pelo Chega nas eleições autárquicas de 2025 — e que Ventura estava informado. Nesse momento, o Observador apurou junto de fonte da Direção Nacional do partido que é “simplesmente falso” que o nome do também comentador desportivo esteja escolhido. “Ninguém é ainda candidato a câmaras”, explicou a mesma fonte.

A candidatura de Israel Pontes viria mais tarde a explicar que tudo não passou de um erro de comunicação: Aníbal Pinto é candidato a vice-presidente da distrital do Porto e, se a lista vencer, será o nome indicado pela estrutura local para a autarquia. Porém, todos os nomes têm de passar pela direção nacional, pelo que a última palavra será sempre de André Ventura.

Lisboa: dois dirigentes locais vão a votos

Em Lisboa a luta é a dois, também está a criar um ambiente quente (ainda que não como no Porto — até porque não há críticas a Ventura na mesma dimensão) e também inclui um deputado: Pedro Pessanha. O adversário é Pedro Martins, atual coordenador da concelhia de Vila Franca de Xira — escolhido exatamente para esse cargo pelo líder da distrital de Lisboa, já depois de ser contratado para assessor do vereador do partido do Chega (através de um ajuste direto com data de 9 de setembro de 2022).

Com uma equipa eleita em 2019, o deputado por Lisboa considera que essa é a prova de que encabeça uma equipa “coesa, de união e trabalho”, indicadores que aponta como importantes para um novo voto de confiança, em que as autárquicas serão o “grande desafio”.

“Tudo o que fizemos foi para bem do partido e do distrito”, sublinha, reconhecendo que pode ter havido erros, nomeadamente na escolha das pessoas — a referência é para Pedro Martins: “Pessoas nomeadas por esta distrital estão na origem da lista contrária. Quando se é nomeado e na primeira oportunidade de faz o que fez… Achei estranho porque sempre esteve do nosso lado”, refere, deixando no ar um sentimento de deslealdade que com que não se identifica.

Pedro Pessanha conta com o apoio da esmagadora maioria dos coordenadores que estão atualmente à frente das concelhias lisboetas e considera que os adversários “não têm uma visão do distrito”. “Nós estamos no terreno e conhecemos profundamente todos os concelhos, os problemas de cada um e a outra lista não tem a visão periférica que nós temos, até agora só trataram dos seus concelhos”, esclarece o candidato ao Observador.

Pedro Martins critica o trabalho feito até agora, assegura que fez um “repto” à atual equipa para que alcançassem uma “lista mais abrangente e mais adequada ao crescimento do partido” e acabou por avançar para as eleições. Culpa a distrital de não ter sido capaz de apoiar os autarcas e os militantes, de ter havido “falta de articulação” e acredita ser necessária “mais proximidade”.

“Somos as pessoas que distribuem jornais, que colam cartazes, temos um contacto mais próximo com os militantes”, argumenta, frisando que enquanto as concelhias não são eleitas têm de ter estatutos próprios, uma das propostas com que avança para Lisboa. Ainda que não seja uma das bandeiras da lista em causa, a questão da não existência de eleições nas concelhias é uma das grandes críticas feitas à atual liderança de Ventura dentro do partido.

A lista de Pedro Martins desafiou Pedro Pessanha para um debate que acabou por não acontecer por recusa do atual presidente da distrital. Fonte oficial da campanha justifica a decisão através das “constantes ofensas e ataques pessoais feitos nas redes sociais, assim como a declaração em Conselho Nacional a ofender” o recandidato. Em causa está, sabe o Observador, uma referência ao facto de Pessanha ser um “político-dependente”. Pedro Martins não comenta a questão por se tratar de uma reunião privada, mas assegura que nunca se dirigiu diretamente a Pedro Pessanha.

As dúvidas sobre as convocatórias

Se há problemas com que o Chega tem tido que lidar são os jurídicos. O Tribunal Constitucional já chumbou estatutos, já impugnou uma convenção devido à ilegalidade da convocatória feita pelo Conselho Nacional e tem levado o Chega a um imbróglio. Apesar de André Ventura por várias vezes se atirar ao Palácio Ratton, há dúvidas que surgem até internamente.

É o caso das convocatórias para as eleições: no site do Chega há duas convocatórias para as distritais de Lisboa e Porto, duas assinadas pelo presidente da Mesa da Convenção Nacional e do Conselho Nacional, Jorge Valssassina Galveias, e duas assinadas pelos presidentes das mesas distritais, Vítor Cacito (Lisboa) e Luís Sousa (Porto). Em todos os outros casos de eleições distritais — Portalegre, Guarda e Santarém — existe apenas uma convocatória e assinada pelo presidente da mesa nacional.

Foi exatamente uma questão interna que levou à última decisão do Ratton. Em causa esteve uma convocatória para a reunião magna feita pelo Conselho Nacional que havia sido eleito em Viseu (com base nos estatutos ali aprovados e que nunca chegaram a ser ratificados pelo TC) e que tinha 70 elementos (e não os 30 dos estatutos iniciais). Com esta decisão, o Palácio Ratton deu razão a Fernanda Marques Lopes e, mesmo após o recurso do partido, obrigou o Chega a mais uma convenção — que o líder e recandidato já anunciou que irá mesmo acontecer.

Sobre este caso, a militante número três do partido diz que, por exemplo, “em Lisboa [a distrital a que pertence] não há duvidas de que a mesa esteve sempre em funções e fez o seu trabalho, portanto não se percebe o porquê de a instância nacional querer a superar a convocatória da mesa distrital”. “É um desnorte profundo e desorientação. Não sabem e não conhecem os procedimentos e vão por tentativa e erro”, afirma, sublinhando até o facto de as datas das convocatórias serem diferentes o que pode “lançar o caos jurídico“.

Chega tem distritais sem eleições há quase quatro anos e estatutos por cumprir. Concelhias vão continuar a ser nomeadas

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