A família real britânica é famosa por todo o mundo. Conhecemos alguns dos membros desde que são apresentados à saída da maternidade, tratamos outros pelo nome próprio e até assistimos a alguns dos casamentos. Por vezes há uma zanga familiar ou um deslize de protocolo que põem o público e os especialistas a escrutinar ainda mais a vida destas pessoas, a emitir opiniões e a escolher partidos. Por muito que tentem preservar a intimidade familiar, há uma sensação generalizada de que o facto de dedicarem a sua vida ao serviço público, faz da mesma um livro aberto e contado em imagens para todo o mundo.
Chris Jackson é fotógrafo da Getty Images e há 20 anos que acompanha a família real nos seus mais variados compromissos — cabe-lhe a ele a tarefa de captar os momentos em imagens que darão a volta ao mundo, quase como um comunicador da imagem do clã. “Acho que é um enorme privilégio ser “os olhos do mundo” nos compromissos e visitas reais. É uma grande responsabilidade contar a história, mas também uma entusiasmante posição para se estar.” Jackson dedicou o tempo em que esteve numa licenciatura em psicologia a aperfeiçoar a arte da fotografia na cave da casa de estudantes onde vivia, em Cardiff. Na época as suas fotografias e o seu nome apareciam na primeira página do jornal da faculdade, hoje aparecem na primeira página de jornais internacionais e em revistas por todo o mundo. Além de um site próprio é possível acompanhar o trabalho deste fotógrafo na sua conta de Instagram, onde não só publica as suas fotos como também interage com os seguidores. Para Jackson a realeza é um trabalho, mas pode-se dizer que é também um assunto de família, uma vez que é casado desde 2017 com Natasha Archer, a stylist e assistente pessoal da duquesa de Cambridge (Kate Middleton), e estão à espera do segundo filho.
Em outubro de 2021 lançou o seu segundo livro, Elizabeth II: A Queen for our time (da editora Rizzoli), uma viagem pelos últimos 20 anos da vida de Sua Majestade num folhear de mais de 250 páginas. Ao Observador conta que o confinamento lhe deu tempo para mergulhar no seu arquivo. O resultado é uma obra na qual o autor partilha fotografias e memórias da rainha e do ambiente que a rodeia, dividida em sete capítulos (como por exemplo Ícone global, Nunca fora de moda, Família primeiro, Cavalos e terras altas). Dos casamentos e banquetes de Estado aos cortes de fitas e discursos, passando já por mais de 100 países, a sua lente está sempre lá. Numa altura em que se aproxima o Jubileu de Platina, a celebração dos 70 anos de reinado de Isabel II, este livro serve também como balanço das décadas mais recentes, e do seu longo reinado, já no século XXI.
Como começou a sua carreira na fotografia?
Na verdade estudei num curso de ciências, na universidade. Contudo, sempre fui apaixonado por fotografia e tinha uma sala escura na minha casa de estudante, na cave. Passei muitas horas a trabalhar nas minhas fotografias, assim como a trabalhar no jornal dos estudantes. Foi a primeira vez que vi as minhas imagens impressas e isso gerou um entusiasmo que continua até hoje.
Como chegou a fotógrafo que segue os passos da Família Real?
O trabalho foi-se desenvolvendo organicamente ao longo dos anos, eu adorava viajar e fotografar pessoas de alto perfil. Ter um lugar na primeira fila em momentos históricos era emocionante e vi que essa era uma área fascinante para trabalhar, porque combinava tudo o que eu gostava em fotografia com as habilidades pessoais de que eu também tanto gostava.
Quais as regras não escritas quando se está a fotografar membros da realeza?
Claro que é importante ter um comportamento de acordo com a sensibilidade da situação e do ambiente em que se está. Nem sempre estar a tirar fotos, avaliar o ambiente e ter respeito. Vestir de forma correta também é importante quando se viaja pelo mundo com a Família Real.
Quais são os maiores desafios de um trabalho como este?
O maior desafio é a natureza de última-hora de muitas viagens. Viajar é ótimo, mas também é um desafio, assim como estar longe de casa e da família. Claro que recentemente tem sido um pouco menos frenético, mas estou ansioso por um ano mais agitado no próximo ano.
Há alguma comunicação entre si e os membros da família real para conseguir uma melhor foto ou faz parte do seu trabalho não ser notado?
Na maioria das vezes a abordagem é a de “mosca na parede”, estou lá para captar o que se está a passar, um estilo de reportagem para captar os momentos cândidos.
Há alguma fotografia que tenha perdido oportunidade de fazer e lamente?
Ótima pergunta! Eu perdi tantas fotografias, mas isso faz parte do trabalho, um elemento é, com certeza, a sorte, por isso é preciso trabalhar e potenciar as probabilidades de ter “a” fotografia ao estar no sítio certo, ter o melhor equipamento para o trabalho e melhorando as possibilidades de sucesso o mais possível. Algumas coisas estão fora do nosso controlo e eu já perdi fotografias porque o meu avião avariou ou porque fiquei preso no trânsito. Faz tudo parte dos desafios da profissão.
As fotografias contam história. Dê-nos exemplos de duas ou três fotografias de que se orgulhe especialmente.
A natureza histórica das fotografias da realeza é uma das coisas especiais deste género. Fiquei muito orgulhoso de fotografar o casamento dos duques de Cambridge, a fotografia de família no 70º aniversário do príncipe Carlos e os retratos oficiais da rainha para o governo canadiano.
Depois de ter lançado o livro Modern Monarchy em 2018, como surgiu a ideia deste livro sobre a rainha, agora?
A caminho do Jubileu de Platina, acho que agora é a altura certa para reunir o arquivo de imagens que tenho da rainha. Ela é uma figura incrível e icónica, respeitada em todo o mundo. Claro, com a Covid-19, eu também tive algum tempo extra para trabalhar no livro, em vez das viagens habituais à volta do mundo.
E porquê estes capítulos a organizar o livro?
Este é sempre um dos maiores desafios, mas eu pensei nos interesses e paixões da rainha, a família, o dever e os que têm sido os elementos de destaque da vida dela, como o respeito que acumula no palco global.
Contou com a aprovação da rainha ou teve algum feedback da sua parte?
Espero que ela goste!
Viaja pelo mundo nas royal tours. Há algum sítio do qual guarde especiais memórias?
Apreciei, especialmente, viajar às ilhas Galápagos; foi um grande privilégio e não o tipo habitual de destino de uma visita real. [Chris Jackson refere-se à viagem de dois dias que o príncipe Carlos e a duquesa da Cornualha fizeram às ilhas Galápagos em março de 2009, incluída numa tour de 10 dias pela América do Sul.]
Uma das grandes mudanças nos últimos 20 anos na vida em sociedade foi o surgimento das redes sociais. Qual a importância destas no seu trabalho?
As redes sociais são uma plataforma incrível, não apenas para mostrar as fotografias, mas para conectar com uma audiência de indivíduos com interesses semelhantes. A família real está muito envolvida nas redes sociais e é uma ferramenta incrível para eles se envolverem diretamente com o público. Isso torna-se uma parte muito importante da minha vida e eu adoro ter feedback e imagens, mas acima de tudo, gosto de partilhar o ambiente de bastidores das viagens reais.
Quando não está a fotografar a família real, o que é que gosta de fazer?
Eu adoro correr, ajuda-me a relaxar, mas sobretudo gosto do tempo que passo em família, com a minha mulher e o meu filho.
O que é que faz a fotografia perfeita?
Uma ótima fotografia é algo que gera emoção em quem está a ver. Pode ser alegria ou até tristeza, mas algo que suscite uma reação e não deixe o espetador indiferente. Sabe-se, instintivamente, quando se tira uma ótima fotografia e sente-se, quando se carrega no botão. Isso não acontece com muita frequência!
Os membros da família real são conhecidos em todo o mundo, mas poucas pessoas os viram ao vivo, por isso conhecemo-los através de fotografias. O que acha desse lado do seu trabalho de, literalmente, comunicar a imagem da rainha para o mundo?
Eu acho que é um enorme privilégio ser “os olhos do mundo” nos compromissos e visitas reais. É uma grande responsabilidade contar a história, mas também uma entusiasmante posição para se estar.
Nas últimas semanas vimos a rainha ser notícia por motivos da sua saúde e aproximam-se também as celebrações do jubileu de platina. Acha que o facto do seu livro ser lançado nesta altura permite fazer uma espécie de balanço e celebração do reinado de Isabel II?
A rainha tem estado em grande forma recentemente, muito sorridente, mas claro, aos 95 anos, quando a maioria das pessoas já se reformou, ela precisa garantir que tem tempo para descansar também. Eu acho que é ótimo que ela tenha o apoio do resto da família.
Como alguém que convive com as diferentes gerações da família real e também tem uma perceção de como o público e os media reagem a ela. Qual a sua opinião sobre o futuro e a continuidade da monarquia, depois de Isabel II?
Tendo passado muito tempo com o príncipe de Gales, que é incrivelmente apaixonado e comprometido com as suas causas, acho que a monarquia tem um futuro brilhante. Além disso, os duques de Cambridge e a família deles são ótimos embaixadores do país e geram um enorme interesse por todo o mundo, como acontece com a família real no geral.
Ao longo destes 20 anos, aprendeu alguma lição de vida com a rainha?
O compromisso dela com o seu papel, com o país e com o seu dever é incrível. Acho que toda a gente pode aprender com o profissionalismo e energia dela ao longo da vida e aplicá-los às suas próprias vidas.