O desenvolvimento industrial observado em Portugal no final do século XIX permitiu e estimulou o surgimento de inúmeras infraestruturas, aumentando assim a procura por uma matéria-prima essencial à sua construção: o cimento.

O cimento artificial, ou cimento Portland, patenteado em meados desse século, não se produzia em Portugal à época. Era, por isso, necessário importá-lo ou recorrer a alternativas, como a cal hidráulica ou o chamado cimento natural, também conhecido por cimento romano.

Foi um jovem empresário, António Teófilo de Araújo Rato, cuja empresa de família – Moreira Rato – já se dedicava à importação de cimento, que tomou a iniciativa de avançar para a produção de cimento Portland em território nacional.

O seu potencial era evidente: estava a tornar-se um material cada vez mais requisitado, pela sua qualidade e versatilidade nas aplicações, e era essencial reduzir a dependência de produtores estrangeiros, até porque o transporte por navio, de forma precária, prejudicava muitas vezes as condições em que chegava a território nacional.

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A requisição de um alvará régio para a produção em exclusivo de cimento Portland numa fábrica em Alhandra, nas imediações do rio Tejo e de ligações ferroviárias, foi bem-sucedida e esta começou a laborar em 1894.

Os primeiros tempos foram, no entanto, muito conturbados: a turbulência política e económica que marcou o fim da monarquia, a falta de experiência na matéria e a opção por fornos inadequados que tiveram de ser substituídos ao fim de apenas uma década levaram à insolvência da sociedade que explorava a fábrica.

Uma nova sociedade – Companhia Cimento Tejo — liderada pelo então Presidente da Câmara Municipal do Porto, o engenheiro Xavier Esteves, assumiu o controlo da fábrica a partir de 1912. Esta nova empresa assumiu as dívidas da anterior e modernizou o processo de fabrico. Em 1931, foi introduzido um primeiro forno rotativo, a que se seguiu um segundo, três anos mais tarde, o que permitiu aumentar a capacidade de produção.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a fábrica produziu e exportou ferro puro (gusa) para os países beligerantes. Fazia-o através do chamado processo Basset, em forno rotativo semelhante aos usados para o cimento. Isto obrigou à aquisição de mais fornos, que também produziam clínquer – um dos componentes do cimento.

Na década seguinte, outros dois fornos entraram em funcionamento. O inaugurado em 1960 era, à data, o maior forno do mundo, com uma capacidade de produção superior a meio milhão de toneladas por ano.

Já depois da constituição da CIMPOR, em 1976, fruto da nacionalização de sete cimenteiras portuguesas, iniciou-se a produção pelo processo de via seca – ou seja, sem adição de água antes da entrada em forno –, com a entrada em funcionamento do forno 6, em 1977. O forno 7 arrancaria oito anos depois, em 1985. Toda a produção é, ainda hoje, feita por esta via, nestas duas linhas de produção.

A Cimpor Portugal e Cabo Verde é, desde o início de 2024, detida a 100% pela TCC – Taiwan Cement Company.