Reportagem em Nova Iorque, EUA
Ainda a peça de teatro não ia a meio, María Diaz começou a sentir o corpo a aquecer como nunca. Estava sentada no auditório na escola privada onde dá aulas, em Brooklyn, quando percebeu que não estava bem e se levantou. Quando esta mulher de 31 anos chegou a casa, em Queens, mediu a temperatura: 40 graus.
Era 3 de março e a Covid-19 era uma realidade distante de Nova Iorque — ou pelo menos assim parecia. Por aquela altura, a cidade de Wuhan estava em confinamento e a região da Lombardia, no Norte de Itália, preparava-se para fazer o mesmo. María Diaz sentia que tudo aquilo lhe era muito distante — mas, mais tarde, viria a perceber que foi uma das primeiras nova-iorquinas a contrair esta doença, que lhe deixou várias sequelas.
Não é que não desconfiasse. A 12 de março, ainda com febre, foi ao médico e fez um teste que veio negativo. Dez dias mais tarde, acordou com falta de ar. “Sentia que me estava a afogar”, recorda. Apanhou um Uber e foi para o hospital — que, por já nesta altura ter uma forte afluência, não internava ninguém sem doenças crónicas ou com menos de 50 anos. Ali, foi vista por um cardiologista, que lhe diagnosticou uma miocardite, isto é, uma inflamação do músculo cardíaco.
Mas, depois, o médico disse-lhe: “Fique em quarentena”.
“Por um lado, diziam-me que não tinha Covid, mas depois diziam-me para ficar obrigatoriamente em quarentena”, recorda María Diaz. “Foi aí que percebi que os médicos estavam completamente perdidos e que o mais certo era eu ter Covid.” Só em abril, depois de vários testes, é que recebeu o diagnóstico positivo.
Do outro lado da cidade, em Staten Island, Mikhail Paikin, 56 anos, era um desses médicos. Na clínica privada de urgências onde trabalha, começaram a aparecer várias pessoas com os mesmos sintomas: tosse, dores de garganta, por vezes nariz entupido. Para este médico, aqueles doentes que lhe apareciam nos primeiros dias de março eram iguais aos dos 16 anos que leva como médico em Nova Iorque, desde que emigrou da Rússia.
Ainda assim, os pacientes pediam-lhe para fazer testes à Covid-19. Por aquela altura, a clínica tinha dez kits de teste, que foram encomendados por precaução. Em poucos dias, usou-os todos — mas nessa altura os resultados demoravam entre duas a três semanas a chegarem.
“Aquilo era tudo completamente novo, era impossível conhecermos o que se estava a passar”, conta Mikhail Paikin. Mas o choque chegou quando, daqueles dez testes, nove vieram com resultados positivos para Covid-19. Nesta altura, o médico começou a lembrar-se de como esteve com todos estes pacientes no seu consultório. “Alguns deles estavam a falar-me a esta distância da cara”, diz, com a mão a dois palmos de distância do nariz. Sem testes ao dispor, e perante todas as dúvidas que abalaram várias das certezas médicas que tinha até aí, Mikhail Paikin começou a pensar se não estaria infetado.
Na zona de Elmhurst, em Queens, Gabriel Hereda não só pensou nisso como entrou em pânico. Aos 39 anos, este mexicano conta já 20 desde que imigrou para os EUA. Entrou sem documentação e assim continua, formando parte daquilo que se crê ser a situação de 1 milhão de pessoas só em Nova Iorque. Gabriel Hereda não lê jornais e mal vê notícias, mas pelo telemóvel chegavam-lhe, naqueles primeiros dias de março, toda a espécie de mensagens que apontavam para a chegada de uma doença incontrolável — e letal.
Nos EUA, ter um emprego fixo e um seguro de saúde são normalmente sinónimos, já que muitas vezes os empregadores pagam, além do salário, um plano de saúde para os trabalhadores. Mas Gabriel Hereda e a mulher não têm uma coisa nem outra. Até 2018, ele ganhava a vida a distribuir comida de bicicleta até que foi atropelado por um carro que fugiu e o deixou com lesões no joelho esquerdo e no braço direito. Ela faz limpezas, mas não consegue trabalhar todos os dias — três vezes por semana tem de fazer hemodiálise, que faz numa clínica gratuita.
“Do que eu fui sabendo desta doença, cheguei à conclusão que se a apanhássemos o mais certo era morrermos”, diz Gabriel Hereda. Então, fechou-se em casa com a mulher, saindo apenas para ir com ela aos tratamentos na clínica de diálise. A cada saída de casa, o pânico instalava-se em Gabriel Hereda. E, a cada regresso da clínica, o pânico crescia ainda mais.
Por um lado, preocupava-se com a possibilidade de ele ou a mulher estarem doentes. Por outro, preocupava-se com a falta de rendimentos — a mulher não saía para trabalhar, ele não era chamado pelos restaurantes onde ia lavando loiça à jorna. “Não dormi durante cinco dias”, conta. Ao longo desse tempo, teve crises de falta de ar. À primeira e à segunda conseguiu controlar-se, mas à terceira a mulher teve de chamar uma ambulância. Foi a um hospital público, onde foi diagnosticado com uma crise de ansiedade. “Dantes nem conhecia essa palavra”, conta.
Nova Iorque sem segunda vaga, mas sempre à espera dela
Poucas cidades norte-americanas sofreram tanto com a pandemia quanto Nova Iorque.
Numa cidade que estima a sua população em 8,3 milhões, à data de 24 de outubro somam-se 251.938 casos, dos quais 19.311 foram fatais — um total que cresce para os 23.963 se se somarem as mortes tidas como “prováveis” para Covid-19 mas que não tiveram resultado laboratorial. Em comparação, Portugal tem 10,3 milhões de habitantes e conta com menos de metade dos casos (116.109) e menos de um décimo das vítimas mortais (2.297).
Os números são agora francamente melhores do que no pico da pandemia. A 6 de abril, a cidade registou um recorde de 6.353 casos e no dia seguinte chegou o pico das mortes, com um total de 599. Desde 31 de agosto que o número de mortes diárias está abaixo dos 10. Por atingir, está ainda a marca de um dia sem mortes — esse anúncio foi feito várias vezes, mas com base em número preliminares que mais tarde foram desmentidos por testes posteriores. Esse dia pode, porém, ter sido o 23 de outubro — dia em que não foi dada nenhuma morte por Covid-19 na cidade de Nova Iorque, seja confirmada ou provável.
Porém, nada disto quer dizer que Nova Iorque seja por esta altura uma cidade refeita da pandemia da Covid-19. Seis meses depois do pico de casos e mortes, dificilmente um estreante nesta megalópolis lhe reconheceria a alcunha de “cidade que nunca dorme”.
Outrora um ponto de atração para turistas, uma noite de sexta-feira na Times Square é agora sinónimo de alguns grupos de adolescentes que se juntam cada um no seu canto — uns para dançar, outros para falar, alguns ainda acabando por acabar à pancada. Em volta, os restaurantes de marcas conhecidas estão de portas fechadas, por vezes com papéis onde se explica apenas que a loja está fechada sem data prevista de reabertura.
Pelo resto da cidade, nas zonas residenciais, continua a haver portas abertas — mas com uma lista de cuidados a ter para quem nelas quiser entrar. Nas ruas, a maior parte das pessoas circula de máscara e alguns cafés e restaurantes avisam que “sem máscara não há serviço”. Nalgumas partes da cidade, identificadas pela câmara, as regras de confinamento apertam — com os restaurantes a serem impedidos de receberem clientes e os bares a fecharem, por exemplo.
No último debate entre os dois candidatos à presidência, Donald Trump referiu-se a Nova Iorque como uma “cidade fantasma”, firmando assim a sua oposição às atuais medidas de confinamento. “Olhem para Nova Iorque e vejam o que aconteceu à cidade incrível onde vivi tantos anos. Adorava aquilo, era vibrante. Agora está a morrer, toda a gente está a sair de Nova Iorque”, disse Donald Trump.
Yeah let’s talk about New York City:
-Massive FREE testing capacity
-Schools are open
-Driving down COVID ratesWe’re coming back strong. No thanks to you, President Trump.
— Mayor Eric Adams (@NYCMayor) October 23, 2020
Em resposta, o presidente da câmara de Nova Iorque, o democrata Bill de Blasio, respondeu que em Nova Iorque há agora uma “capacidade maciça de testes grátis”, além de referir que as escolas estão abertas e as taxas de infeção estão a baixar. “Estamos a voltar mais fortes”, escreveu Bill de Blasio. “Não graças a si, Presidente Trump.”
As sequelas da Covid-19: no corpo, na mente e na carteira
Ao todo, María Diaz esteve 63 dias com Covid-19. Depois dos testes iniciais terem dado negativo e de os médicos lhe dizerem que não era aquela a sua doença, novos e melhores testes fizeram mudar esse diagnóstico. Desde esse momento, passou a ser seguida por vários médicos que lhe ligavam para o telemóvel. “Nenhum deixava que eu fosse vista presencialmente”, recorda. Do outro lado do telefone, ouvia indicações contrárias — muitas vezes, do mesmo médico. A frase que ia ouvindo do outro lado era sempre a mesma: “A ciência mudou”. Uma frase que geralmente leva anos a mudar na medicina, com a Covid-19 mudava em poucas horas.
“Ainda hoje não se sabe ao certo o que é a Covid e o que faz às pessoas”, diz María Diaz, assumindo algum desespero. Até porque ela sabe exatamente o que a Covid-19 lhe fez até agora: de uma pessoa cujo único problema de saúde até aqui era ser celíaca, passou a ter problemas de fadiga, visão e acima de tudo cardíacos. Para um coração saudável, o número de batimentos por minuto deve situar-se entre os 60 e os 100 — níveis que María Diaz excede agora de longe, com 160 batimentos a cada minuto. Em 32 anos de vida, nunca tinha desmaiado — até que isso veio a acontecer duas vezes no último par de meses.
Por tudo isto, e mesmo depois de ter feito vários testes para a Covid-19 que deram negativo, além dos testes aos anticorpos para a doença que deram positivo, María Diaz toma várias precauções. Quando teve o primeiro teste negativo, em maio, levou dois meses até encontrar-se com outras pessoas. Até aí, só via família e amigos digitalmente, tal como acontecia com os alunos a quem nunca parou de dar aulas. “Provavelmente a minha saúde física ficou pior por não ter parado de trabalhar, mas tomei essa decisão para preservar a minha saúde mental”, disse.
Agora, em finais de outubro, só sai à rua para o mínimo indispensável. Quando recebe o Observador, prefere que em vez de na sua casa a entrevista seja no terraço do prédio, onde só fica sem máscara para tirar fotografias. Ao fundo, ouve-se ocasionalmente uma ambulância a passar. “Estas ambulâncias são a prova de uma subida nos casos, desde maio que não ouvia tantas”, diz-nos por SMS já depois da entrevista. “Depois daquilo por que passei, é impossível não ter medo”, afirma María Diaz.
Mikhail Paikin, por seu lado, acredita que o medo foi longe demais. Longe vão os tempos em que as clínicas onde trabalhava tinham só dez testes ao dispor — agora são muito mais e a frequência com que são usados é muito maior. Mas também é muito menor a quantidade de resultados positivos. “Todos os dias faço quatro ou cinco testes para a Covid. Desses testes, que são alguns 20 por semana, só um ou dois é que dá positivo”, diz. “A maior parte das pessoas nem sequer tem sintomas.”
A experiência de Mikhail Paikin diz-lhe que, nesta altura, os sintomas da Covid-19 são “muito mais ligeiros”. Por isso, pela queda dos números da doença na cidade que vai vendo no site Worldometers, e também por aquilo que vê de segunda a sexta-feira nos seus consultórios, Mikhail Paikin conclui: “Tudo isto é um exagero e nós estamos a perder a cidade por causa deste mayor estúpido”.
A Covid-19 não preocupa este médico — nem de forma geral nem para si mesmo. Depois de ter estado com todos aqueles doentes que vieram a testar positivo no início de março, acabou por nunca ficar infetado. E esse foi só o início.
“Ao longo deste tempo testei centenas de pessoas, se calhar até milhares, e muitos deles testaram positivo. Enquanto fazia isto, houve vezes em que eu não tinha máscara, outras vezes tinha o nariz de fora, outras vezes… sei lá, aconteceu tanta coisa. Tudo menos eu ficar infetado”, diz. Aconteceu tudo menos um diagnóstico positivo de Covid-19 dos vários testes que foi fazendo. “Se calhar até estou imune”, chega a aventar, referindo os estudos que apontam para a possibilidade de a vacina da BCG, comum na antiga União Soviética e ainda hoje generalizada na Rússia, poder servir de barreira também a esta doença.
Essa não é uma certeza que Mikhail Paikin tenha, mas uma coisa lhe parece certa: a de que está altura de abrir portas e de largar máscaras. “Não é que ache que os estádios possam estar como antes, mas qual é o mal de terem um terço dos espectadores?”, questiona. Sobre as máscaras, admite a sua eficácia, mas não compreende a necessidade de usá-la em todos os momentos, nomeadamente enquanto se anda na rua. “Quando vejo uma pessoa a andar ou a correr na rua com máscara só posso concluir que essa pessoa não tem cérebro”, diz. “Uma coisa é se se cruzarem com alguém ou falarem com alguém, mas quando não está ninguém na rua para que é que a máscara serve?”
Gabriel Hereda não tira a máscara. Sempre que sai de casa, tapa a cara e o nariz e não volta a tirá-los enquanto não volta a estar entre as suas quatro paredes. Desde que teve a crise de ansiedade que o levou ao hospital, foram-lhe receitados medicamentos que o ajudam — mas o medo mantém-se e dificilmente lhe sairá da cabeça. “Se eu ou a minha mulher apanhamos Covid-19, não temos nada garantido”, sublinha. “Terei todos os cuidados que eu puder ter.”
Quanto encontramos Gabriel Hereda ele está na fila do hospital público de Elmhurst, em Brooklyn, um de vários em Nova Iorque onde qualquer pessoa pode fazer testes gratuitos à Covid-19 — e que, por não exigir documentação, é utilizado por vários imigrantes ilegais que não têm seguro nem dinheiro para ir a uma clínica privada. Quem veio fazer o teste é a sua mulher, porque assim lhe foi pedido antes de fazer um exame médico — e por isso Gabriel Hereda abriu uma exceção para sair de casa e acompanhá-la. “Assim que ela voltar do teste vamos logo para casa”, disse. Enquanto não tiver o resultado, que levará entre 2 a 4 dias a ser-lhes enviado, Gabriel Hereda conta ficar em casa por precaução.
Aqui, também tem uma exceção: se souber de algum restaurante que precisa dos seus serviços de lavador de loiça. O setor da restauração é dos mais mal pagos em Nova Iorque — em vez dos 11,8 dólares por hora, quem trabalha naquele ramo fica-se pelos 7,85 dólares. A diferença surge porque na restauração se soma ainda o valor das gorjetas — mas se isso é assim com os empregados, no caso dos lavadores de loiça nada está garantido. Muito menos no caso de Gabriel Hereda, que está ilegal nos EUA e, por isso, à margem de qualquer regulação.
“Muitas vezes nem ganho o salário mínimo, a maioria das vezes é assim”, diz. O trabalho que vai arranjando é através de amigos e colegas que o avisam de uma vaga para um determinado dia. A última vez que trabalhou foi há duas semanas, num restaurante de Brooklyn. Foi a sua estreia naquele restaurante, que chegou a chamá-lo uma segunda vez — até que, quando já se preparava para sair de casa com máscara na cara, recebeu uma mensagem a dizer que a autarquia estava a encerrar os restaurantes da zona, que passariam a vender comida só para fora.
O apartamento onde vive com a mulher e onde se refugia da pandemia é arrendado. Com ele sem trabalho fixo e ela trabalhando pouco por causa da sua saúde, sobra-lhes pouco para conseguirem pagar a renda a cada mês. “A senhoria tem sido compreensiva e felizmente até aqui nunca falhei um mês”, diz. “Mas já me atrasei, isso já. Várias vezes. E se isto continuar assim não sei o que me guarda o futuro.”
Entre Trump e Biden, a quem confiar a gestão de uma pandemia?
Poucas são as dimensões da vida norte-americana em que a pandemia não entrou de rompante — mas em nenhuma ela parece ter alterado tantas realidades como aconteceu na política. Donald Trump foi de dizer a 10 de fevereiro que “muitas pessoas acham que a pandemia vai desaparecer em abril com o calor” para dizer, ainda no debate de 23 de outubro, que algumas projeções apontavam para um total de 2,2 milhões de mortes nos EUA — ou seja, praticamente dez vezes acima das mais de 230 mil mortes até aqui registadas.
O crescendo da pandemia levou à queda de popularidade de Donald Trump e, inversamente, ao aumento da popularidade do antigo vice-Presidente Joe Biden, seu adversário democrata nestas eleições. Numa sondagem nacional divulgada a 20 de outubro, do Siena College com o The New York Times, Joe Biden foi o candidato em quem os inquiridos depositavam mais confiança para gerir a pandemia: 52% para o democrata, contra 40% para Donald Trump.
María Diaz está entre os que acreditam que Joe Biden é a pessoa mais indicada, entre os dois, para fazer frente à crise provocada pela Covid-19. Quando lhe perguntamos porque é que Joe Biden faria um melhor trabalho, a resposta sai-lhe pronta: “Biden acredita na ciência, o que por si só ajuda”. Além disso, María Diaz apoia um decreto que torne obrigatório o uso da máscara em locais públicos, incluindo a rua — medida que Joe Biden já disse que não deve poder tomar como Presidente, a nível federal, mas que disse que trataria de convencer cada governado e autarca a aplicar. “Joe Biden pode não ser perfeito, mas estou certa de que ajudaria a melhorar significativamente a situação em que este Presidente nos deixou”, diz.
Mikhail Paikin só espera que Donald Trump tenha mais quatro anos pela frente na Casa Branca. É certo que reconhece alguma verborreia ao Presidente: “O problema dele é que está sempre a falar, não se cala, e quando se cala agarra-se ao telemóvel. Ele fala demasiado”. Mas, ao mesmo tempo, vê em Donald Trump uma opção “sempre melhor” do que a alternativa.
“O que eu não quero é os democratas ganhem. Se fosse há 30 anos, as diferenças entre republicanos e democratas eram pequenas, era uma questão de detalhes. Agora as diferenças são enormes. É a diferença entre vivermos neste país como ele é agora ou vivermos num país socialista”, diz Mikhail Paikin. “E não entendo como é que isso pode ajudar numa pandemia, quando o que eles fizeram foi politizar tudo.”
Sobre a gestão da pandemia, Mikhail Paikin guarda algumas reservas na altura de criticar as decisões da administração de Donald Trump. É o caso do uso da hidroxicloroquina, o fármaco criado para o combate à malária e que numa fase inicial foi utilizado no tratamento à Covid-19 em vários países, incluindo nos EUA e também em Portugal. A 18 de maio, Donald Trump chegou a dizer que estava a tomar hidroxicloroquina preventivamente. A 29 de julho, Anthony Fauci, o epidemiologista que aconselha a Casa Branca desde 1984, disse que a hidroxicloroquina “não é eficaz no tratamento da Covid-19”, sublinhando assim uma conclusão já anteriormente atingida pela Organização Mundial de Saúde.
Enquanto médico, Mikhail Paikin nunca chegou a receitar hidroxicloroquina para tratar de doentes com Covid-19. “Não havia certezas, ninguém sabia ao certo, portanto preferi não receitar”, diz. Porém, ao mesmo tempo, admite que “se Trump falava de hidroxicloroquina era porque na equipa dele havia médicos a dizerem-lhe que aquilo dava resultados”.
“Agora que olho para trás, posso dizer que talvez Trump tenha exagerado em relação à hidroxicloroquina”, reconhece. Mas logo refere que essa não era a pior das hipóteses. “Mas se ele tivesse dito que a hidroxicloroquina era um péssimo medicamento, tenho a certeza que os democratas iam logo tomar aquilo só para serem do contra”, diz. “A polarização neste país já nos levou a isto.”
Quanto a Gabriel, escusa-se a comentar quem preferia que vencesse as eleições. “Eu não posso votar, portanto de que me vale pensar nisso?”, atira. “Só quero é fugir a esta doença.”