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Começava a partir das 12h e pouco depois era "o fim": plano escrito do ataque tinha uma página e poucos detalhes sobre o que aconteceria

Jovem foi surpreendido pela PJ, mas colaborou. “Sabia que os corredores da universidade estariam cheios, estava no plano", diz fonte da PJ. Suspeito não queria qualquer vingança contra alguém concreto

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Era uma folha, usada apenas de um dos lados. O plano escrito do ataque à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa encontrado em casa do suspeito, um jovem de 18 anos, não tinha qualquer esquema, apenas uma pequena descrição com as horas a que a ação ia começar: seria entre as 12h e as 13h. Seguiam-se alguns outros passos e, de acordo com o planeado, pouco tempo depois seria “o fim”, apurou o Observador junto de fonte conhecedora da investigação.

O que aconteceria ao certo quando chegasse a hora do início do ataque não estava detalhado: “Tinha um planeamento a nível de horários, o que é que ia fazer [ao início do dia] e como é que ia preparar tudo. Começava de manhã e havia uma hora específica em que dizia que iria desencadear o ataque em si — ao final da manhã, por volta das 12h, 13h. E, na cabeça dele, seria uma coisa muito rápida”.

“Ele sabe que nesta altura os corredores da universidade [Faculdade de Ciências de Lisboa] estão cheios e isso estava no plano.”
Fonte da Polícia Judiciária

Além da besta, das pequenas botijas de gás e da gasolina, havia várias facas em casa do suspeito que seriam usadas no ataque, acredita a Polícia Judiciária. “Ele sabe que nesta altura os corredores da universidade [Faculdade de Ciências de Lisboa] estão cheios e isso estava no plano”, afirma a mesma fonte, lembrando que o suspeito pressupunha que da atuação resultassem mortos e/ou feridos.

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O plano de um ataque com explosões e uma investigação em tempo recorde. PJ encontrou suspeito em poucos dias, após alerta do FBI

A surpresa do suspeito ao ver a Judiciária entrar em casa

Quando a polícia lhe bateu à porta, o jovem estava longe de imaginar que à última hora o seu plano cairia por terra. É pelo menos isso que consideram os elementos policiais que montaram a operação relâmpago que culminou com a sua detenção. “Não tem esses alertas”, explica a mesma fonte, adiantando que “o perfil do suspeito nunca o levaria a supor que isto estivesse a ser investigado”. “Houve uma surpresa, embora depois da abordagem não se tenha mostrado surpreendido. A surpresa foi apenas pelo facto de a polícia saber”.

Depois desse primeiro momento, sabe o Observador, o estudante de 18 anos encarou o que estava a acontecer com alguma naturalidade — e chegou mesmo a colaborar com as autoridades. “São pessoas com características muito próprias, que sofreram de bullying, pouco passa de uma criança. É um indivíduo inteligentíssimo”, descreve fonte da PJ.

Uma das coisas que parece já certa é que o que estava em causa não seria uma vingança por ter sido vítima de bullying: “São obsessões, a ideia não era vingança, nunca exteriorizou essa ideia, apenas se fixou neste plano, neste gosto por ver alguma violência. É difícil explicar. Já tinha isto planeado há uns meses”.

“São obsessões, a ideia não era vingança, nunca exteriorizou essa ideia, apenas se fixou neste plano, neste gosto por ver alguma violência, é difícil explicar. Já tinha isto planeado há uns meses.”
Fonte da Polícia Judiciária

Além dos elementos transmitidos pelo FBI sobre este jovem, a conjugação de alguns estudos feitos sobre ataques nos EUA, na Austrália, no Brasil e na Nova Zelândia fazem a investigação estar certa de que o suspeito foi alvo de bullying e que isso poderá ter sido uma faísca para este comportamento.

O alerta do FBI, as armas em casa e os vídeos de ‘shooting’

Quando entraram na habitação, os investigadores da Polícia Judiciária encontraram diversas facas e uma besta, além de pequenas botijas de gás e gasolina, que seria o acelerante da combustão — que o jovem planeava iniciar com os maçaricos que também tinha em sua posse. E muito do material estaria já preparado para o que iria por em prática no dia seguinte, testemunhou a PJ.

“Havia facas, uma besta, pronta a disparar. O projeto dele era esse. Com o gás ele pretendia incendiar algumas coisas, não tendo ainda especificado o quê — são botijas pequenas, várias botijas. E tinha também maçaricos, que poderiam eventualmente proporcionar esses incêndios à volta da universidade”, revelou ao Observador a mesma fonte, dizendo que, na verdade, tudo poderia ser carregado “numa mochila”.

Dos Estados Unidos já vinha o alerta de que consumia literatura e sites relacionados com movimentos de "shooting e live shooting"

O cenário que as autoridades encontraram veio confirmar todas as convicções que a polícia já tinha, não só pelos dados enviados pelo FBI como pela informação recolhida nos poucos dias que a PJ teve para fazer a investigação.

Dos EUA já vinha o alerta de que o suspeito consumia literatura e sites relacionados com movimentos de “shooting e live shooting“. Mas não chegou muito mais informação dos Estados Unidos. Apenas era referido que havia “um indivíduo com um determinado perfil, muito curto, que andava a consumir essa literatura e que publicou algumas citações que lhes pareceram serem perigosas”, explica ao Observador fonte da PJ. Para o FBI, tratava-se de alguém que poderia estar “na iminência de cometer um ataque destes”. Foi depois a investigação desenvolvida pela PJ a descobrir o resto: “O cruzamento de vários elementos permitiu chegar à identidade de um jovem que encaixava neste tipo de perfil”. A investigação durou menos de uma semana.

Apesar da obsessão pela violência ou possíveis distúrbios, fonte próxima deste caso afasta qualquer cenário de inimputabilidade. “Para ser inimputável tem de haver um relatório prévio e ele de facto tinha consciência dos seus atos, como é óbvio”, diz ao Observador fonte próxima da investigação.

Das motivações ao plano. O que se sabe e o que falta saber sobre a tentativa de ataque à Faculdade de Ciências de Lisboa?

Ação terrorista ou crime comum?

Logo no comunicado enviado quinta-feira às redações, a Polícia Judiciária dava conta de que tinha travado uma “ação terrorista”. A designação, que foi questionada por alguns juristas em comentários feitos nos media, não oferece grandes dúvidas a quem participou na investigação. Uma fonte da PJ deixou claro ao Observador que seria desencadeado um ataque e que as características do plano são suficientes para o enquadramento dado. E que características são essas? “Seria indiscriminado, ele não tinha como objetivo matar ninguém em particular, era quem aparecesse em condições…”

“Seria indiscriminado, ele não tinha como objetivo matar ninguém em particular, era quem aparecesse em condições…”
Fonte da PJ

Ainda que mesmo assim haja quem tenha entendimentos diferentes, do lado da investigação não parece existe qualquer dúvida quanto ao que foi feito até aqui: “O que se pode dizer com toda a segurança é o seguinte: a nossa lei, a lei de combate ao terrorismo, não exige qualquer tipo de motivação ideológica. A motivação ideológica não faz parte do tipo legal de crime, portanto o que a lei exige é que haja a prática dos crimes que estão definidos no artigo 2.º e que sejam suscetíveis de afetar o Estado ou a população que visa intimidar, neste caso seria a população universitária”. O suspeito foi esta sexta-feira presente a uma juíza, a magistrada do Tribunal Central de Instrução Criminal Maria Antónia Andrade, que validou a indiciação por terrorismo e decretou a prisão preventiva do jovem.

Além das armas, os investigadores apreenderam “vasta documentação” e “um plano escrito com os detalhes da ação criminal a desencadear”.

Jovem que preparava ataque à FCUL pode ser condenado por terrorismo?

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