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Incêndio na Serra da Estrela em Folgosinho, Gouveia durante a madrugada de hoje. O incêndio deflagrou no sábado no concelho da Covilhã e alastrou para Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira. No combate ao incêndio da Serra da Estrela estão dezenas de bombeiros. 12 de agosto de 2022. NUNO ANDRÉ FERREIRA/LUSA.
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A secretária de Estado da Proteção Civil indicou que, até ao dia 19 de agosto, ardeu 70% do que se estimava até esse momento em Portugal

NUNO ANDRÉ FERREIRA/LUSA

A secretária de Estado da Proteção Civil indicou que, até ao dia 19 de agosto, ardeu 70% do que se estimava até esse momento em Portugal

NUNO ANDRÉ FERREIRA/LUSA

Como funciona o algoritmo que Patrícia Gaspar usou para dizer que só ardeu 70% do que se esperava

Contas da secretária de Estado estimam a área ardida com dados como vento ou quantidade das folhas. ICNF atualiza-as todos os dias com o IPMA. Relatório público é quinzenal e nova versão saiu hoje.

Os “dados, algoritmos e contas feitas” que permitiram à secretária de Estado da Proteção Civil afirmar que a área ardida em Portugal até agora foi inferior à esperada baseiam-se num valor que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) comunicou a Patrícia Gaspar, confirmou fonte oficial do Ministério da Administração Interna ao Observador.

É a “área ardida ponderada”, explicita o ICNF, e estabelece “a área ardida total que se obteria se todos os incêndios seguissem o comportamento médio histórico face à severidade meteorológica do dia e local em que ocorreram”.

Como estas condições mudam ao longo do tempo, o índice e a área ardida ponderada são atualizados diariamente. Os números chegam todos os dias à secretária de Patrícia Gaspar, mas os relatórios que vêm a público são quinzenais.

O valor da área ardida ponderada obtém-se a partir da média da área ardida de todos os incêndios entre 2012 e 2021 em cada classe de um indicador que reflete a “severidade meteorológica diária local”. Chama-se, precisamente, índice de Severidade Diário (DSR) e quanto maior for o seu valor, maiores serão os níveis de severidade meteorológica. Normalmente isso significa temperaturas mais elevadas, vento forte, ausência de precipitação e humidade relativa baixa, indicava o ICNF num relatório de 2010.

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Até 21 de agosto ardeu 67% do que se esperava até esse dia

Como estas condições mudam ao longo do tempo, o índice e a área ardida ponderada são atualizados diariamente. Os números chegam todos os dias à secretária de Patrícia Gaspar, mas os relatórios que vêm a público são quinzenais.

A 31 de julho, cerca de três semanas antes da entrevista da secretária de Estado, a área ardida ponderada era de 59.375 hectares. Mas a área ardida real foi de 40.102 hectares, o que correspondia a 68% da estimativa. “Significa que a área ardida no ano de 2022 é consideravelmente inferior à área ardida expectável tendo em conta a severidade meteorológica verificada”, analisou o ICNF no relatório provisório mais recente.

De acordo com o Sistema de Gestão de Informação de Incêndios Florestais, a média anual da área ardida até 31 de agosto entre 2011 e 2021 foi de pouco mais que 75 mil hectares. E os 92 mil hectares a que se referiu a secretária de Estado na semana passada já correspondiam à soma de toda a área ardida em 2020 (67.170 hectares, segundo a Pordata) e em 2021 (28.360 hectares, indica a mesma fonte).

Dezanove dias depois, Portugal registava cerca de 92 mil hectares de área ardida desde o início do ano. Em entrevista à SIC Notícias na passada sexta-feira, a secretária de Estado Patrícia Gaspar avançou que tinham ardido até ao momento cerca de 92 mil hectares em Portugal, o que correspondia a 70% da “área ardida ponderada” até àquele momento em 2022, segundo a atualização mais recente. Ou seja, pelo menos até ao dia 19 de agosto, tendo em conta as condições meteorológicas, o teor médio de humidade do combustível (como árvores, arbustos, mato ou folhas) no solo, a quantidade desse material que está disponível para arder e a intensidade do fogo, as autoridades atualizaram a área ardida ponderada nos 131.429 hectares.

Incêndios. Governo decide não prolongar situação de alerta no país

Patrícia Gaspar admitiu que esse valor era já “considerável, muito considerável, bastante acima da média que tínhamos na estatística dos anos anteriores”. Aliás, de acordo com o Sistema de Gestão de Informação de Incêndios Florestais, a média anual da área ardida até 31 de agosto entre 2011 e 2021 foi de pouco mais que 75 mil hectares. E os 92 mil hectares a que se referiu a secretária de Estado na semana passada já correspondiam à soma de toda a área ardida em 2020 (67.170 hectares, segundo a Pordata) e em 2021 (28.360 hectares, indica a mesma fonte).

“Ainda assim”, ressalvou Patrícia Gaspar, “se considerarmos aquilo que é a severidade meteorológica, os dados, os algoritmos e as contas feitas dizem que a área ardida que deveríamos ter devia ser 30% superior”: “Ou seja, ardeu 70% daquilo que era suposto arder face às condições de severidade meteorológica que temos”, apontou a secretária da Estado da Proteção Civil.

A 21 de agosto, de acordo com os dados diários (e provisórios) enviados ao Observador, as contas já eram outras. Após a atualização das contas, o valor total de área ardida ponderada foi revisto para 139.879 hectares. O valor de área ardida real, no entanto, foi de 93.904 hectares, ou seja, 67% da estimativa.

A 21 de agosto, de acordo com os dados diários (e provisórios) enviados ao Observador, as contas já eram outras. Após a atualização das contas, o valor total de área ardida ponderada até àquele dia, foi revisto para 139.879 hectares. O valor de área ardida real, no entanto, foi de 93.904 hectares, ou seja, 67% da estimativa.

Mas esta terça-feira já se ultrapassaram os 100 mil hectares. Os dados provisório obtidos com base no Sistema de Gestão de Informação de Incêndios Florestais registam que arderam 103.332 hectares — 51% em povoamentos florestais, 39% em matos e 10% em área de agricultura.

Incêndios. Área ardida este ano já ultrapassa os 100 mil hectares

O que entra nas contas? Da velocidade do vento ao peso da mais pequena folha seca

Mas como é que se alcançam estas estimativas? O índice DSR com que o ICNF estima a área ardida esperada para cada dia, e que está por trás das declarações de Patrícia Gaspar e destas atualizações regulares das autoridades, é calculado pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) com base num outro indicador — o Índice Meteorológico de Perigo de Incêndio do Sistema Canadiano, que é medido e atualizado ao longo do tempo a partir dos valores de temperatura e humidade relativa do ar a dois metros de altitude, a intensidade do vento a 10 metros de altitude, a precipitação acumulada em 24 horas e outros seis fatores:

  • O teor de humidade dos combustíveis finos (os que pesam 0,25kg por m2) mortos na camada superficial até dois centímetros de profundidade. De acordo com o IPMA, esta medida “reflete as condições meteorológicas nos últimos dois a três dias” e “é um indicador da facilidade de eliminação do combustível”. Consideram-se combustíveis os materiais que podem arder, como árvores, galhos, vegetação seca, flores e plantas.
  • O teor de humidade dos combustíveis médios mortos (5kg/m2) na camada entre cinco a 10 centímetros de profundidade. “É um indicador da facilidade de eliminação do combustível”, explicita o instituto de meteorologia.
  • O teor de humidade dos combustíveis grossos (25kg/m2) mortos entre 10 a 20 centímetros de profundidade, também chamado de “Código de Seca”. “É um Indicador da necessidade de rescaldo, de potencial reacendimento e de fogo subterrâneo”, prossegue o IPMA.
  • O Índice de Combustível Disponível “representa a carga de combustível disponível para a combustão”.
  • O Índice de Propagação Inicial “representa a velocidade inicial de progressão do fogo”.
  • O Índice Meteorológico de Incêndio representa a intensidade da frente de fogo, que é medida com base na “libertação de energia por unidade de comprimento da frente de chamas”.
Apesar de se terem registado menos 12% de incêndios rurais até 15 de agosto, a área ardida foi 30% maior do que a média anual da última década no mesmo período de tempo: 80.760 hectares. Este ano já é o terceiro maior em área ardida dos últimos 10 anos — ultrapassado por 2016 e 2017 —, apesar de ser apenas o sexto em número de incêndios.

Há contas específicas para calcular alguns destes parâmetros. Por exemplo, a intensidade da frente de fogo, ou intensidade de Byram, é uma multiplicação entre a velocidade de propagação das chamas (em metros por segundo), o combustível consumido (o peso seco em quilos do material que está a arder, armazenado por metro quadrado) e o conteúdo calorífico (ou seja, a quantidade de energia armazenada por quilo). E a velocidade de propagação da frente de chamas obtém-se pelo quociente do fluxo de calor recebido da frente de chamas e o calor que é necessário para o combustível entrar em ignição.

Incêndios de Covilhã e Murça responsáveis por 25% da área ardida até 15 de agosto

O último relatório provisório sobre incêndios rurais ocorridos entre 1 de janeiro e 15 de agosto deste ano foi publicado pelo ICNF esta terça-feira e inclui apenas a primeira semana de combate ativo ao incêndio na Serra da Estrela e o primeiro dia da reativação, precisamente no dia 15.

O documento revela que, apesar de se terem registado menos 12% de incêndios rurais, a área ardida foi 30% maior do que a média anual da última década no mesmo período de tempo: 80.760 hectares. Este ano já é o terceiro maior em área ardida dos últimos 10 anos — ultrapassado por 2016 e 2017 —, apesar de ser apenas o sexto em número de incêndios.

Incêndios. Governo e autarcas da serra da Estrela avaliam prejuízos e apoios

Só os incêndios da Covilhã e de Murça foram responsáveis por mais de um quarto (27%) da área ardida em Portugal até 15 de agosto. E os sete piores fogos em hectares atingidos dos 8.517 incêndios contabilizados (Covilhã, Murça, Pombal, Chaves, Carrazeda de Ansiães, Ourém e Leiria) até essa data bastam para totalizar mais de 50% da área ardida.

Qualquer fogo que consuma pelo menos 100 hectares é considerado pelo ICNF como um “grande incêndio”. E se até 31 de julho registaram-se 57 desses fogos, que resultaram em 47.355 hectares de área ardida — ou seja, cerca de 81% do total da área ardida desde o primeiro dia do ano —, até 15 de agosto já eram 66 e queimaram uma área de 67.658 hectares. É 84% de toda a área ardida.

Entre janeiro e 15 de agosto deste ano, registaram-se 8.517 incêndios rurais — até 31 de julho eram 4.890 — e arderam 80.760 hectares, 22.406 dos quais só nas últimas duas semanas. Isto traduziu-se numa média de 9,5 hectares de área ardida por incêndio — muito acima da média anual (entre 2012 e 2021) de 6,4 hectares e o maior valor desde os incêndios de 2017, cuja média foi de 16,3 hectares por incêndio rural.

Da mesma forma, e olhando para o mesmo período de tempo dos últimos 10 anos, o número de fogos que atingiram mais de 1000 hectares (16) é mais do dobro da média, sete. Há duas semanas, eram 12 os incêndios com esta dimensão, quatro vezes superior à média até 31 de julho.

Mas qualquer fogo que consuma pelo menos 100 hectares é considerado pelo ICNF como um “grande incêndio”. E se até 31 de julho registaram-se 57 desses fogos, que resultaram em 47.355 hectares de área ardida — ou seja, cerca de 81% do total da área ardida desde o primeiro dia do ano —, até 15 de agosto já eram 66 os fogos com pelo menos 100 hectares e só esses queimaram uma área de 67.658 hectares. É 84% de toda a área ardida verificada até à data.

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