Ainda os trabalhos do Congresso do PSD decorriam na manhã deste sábado, em Viana do Castelo, quando os apoiantes de Luís Montenegro começaram a sair para a Quinta da Presa, a pouco mais de três quilómetros do Centro Cultural de Viana do Castelo, onde este fim de semana estão reunidos os militantes social-democratas. Nos seus GPS estava o pin que foi enviado por WhatsApp para telemóveis dos delegados que representam os 47% de votos conseguidos por Montenegro nas eleições diretas contra Rui Rio. Foi um encontro semi-secreto, já que a localização não foi divulgada à imprensa — e por isso eram muito poucos os jornalistas no local. Fecharam-se persianas, bloqueou-se a entrada com duas mesas e os que não tinham sido convidados ficaram do lado de fora do vidro, a mais de 20 metros da sala. Um dos pratos servidos: críticas a Rio.
O parque da Quinta da Presa foi-se enchendo com carros de alta cilindrada e os delegados faziam fila para entrar. Os apoiantes de Montenegro, vindos de todos os pontos do país, insistiam que não estavam a conspirar contra a liderança. Mas estavam sedentos de uma coisa: ouvir Luís Montenegro. Ao Observador, o candidato derrotado na segunda volta das diretas falou sobre o objetivo do encontro. Mas não quis falar muito: “Temos de olhar para a nossa representatividade com sentido de responsabilidade. Não somos oposição interna, mas une-nos uma linha de pensamento”, disse. Lá dentro, diria mais.
O menu, apurou o Observador, não fugiu muito ao roteiro da carne assada, mas foi peixe: bacalhau à Gomes de Sá. O discurso, contudo, é que foi o prato principal, mesmo que nem todos soubessem ao certo os ingredientes. “Não sei se ele vai falar”, dizia um. “Talvez só fale o Paulo [Cunha]”, dizia outro. Durante o discurso à porta fechada, relatada ao Observador por vários dos presentes, Luís Montenegro justificou o porquê de o grupo se juntar na Quinta da Presa e, vestindo a pele de predador, desferiu uma dura crítica a Rio: “Estamos aqui porque representamos uma maneira de pensar diferente e ontem foram-nos dadas muitas razões para pensarmos diferente.” Era uma alusão ao discurso de Rio, que na sexta-feira disse que o PSD não é de direita. Foi ao dizer esta frase que Luís Montenegro teve o maior aplauso do discurso improvisado. E gritou-se: “PSD! PSD! PSD!”.
Luís Montenegro também quis evitar uma batida em retirada e disse aos militantes para se manterem unidos — apelou mesmo a que “mantenham o contacto”. Este toca a reunir tem um objetivo imediato de conseguir uma representatividade significativa nos órgãos nacionais daqueles que votaram em Luís Montenegro nas diretas. O almoço — que já tinha sido noticiado pelo Público antes de acontecer — não serviu para definir lugares da lista de apoiantes ao Conselho Nacional, uma vez que isso já estava tratado antes. “A lista já está feita e bem feita”, disse um dos membros do inner circle de Montenegro.
Estiveram presentes vários apoiantes de Luís Montenegro nas diretas: o antigo líder da concelhia de Lisboa, Rodrigo Gonçalves; antigos deputados como Luís Vales, Luís Pedro Pimentel, Pedro Pimpão, Paulo Cavaleiro ou Nuno Serra; a eurodeputada Cláudia Monteiro de Aguiar; o presidente da câmara municipal de Viseu, Almeida Henriques; o antigo diretor de campanha e líder da distrital de Viseu, Pedro Alves; e o antigo líder da distrital de Leiria, Rui Rocha, que se demitiu na sequência de divergências com Rui Rio. Paulo Colaço, candidato ao Conselho de Jurisdição Nacional, também aproveitou o almoço para falar aos delegados, a quem apelou ao voto.
À porta, a controlar as entradas, estavam dois empregados da Quinta: todos os participantes tinham de estar na lista e tinham de pagar, ali mesmo, 20 euros, em cash ou cartão. Logo na antecâmara da sala onde foi o almoço, eram recebidos por Luís Montenegro, Paulo Cunha — que confirmou ao Observador que irá encabeçar a lista ao Conselho Nacional — ou Hugo Soares, o apoiante de todas as horas do antigo líder parlamentar. Em declarações à RTP, Montenegro antecipou: “Esta lista [ao Conselho Nacional] terá o meu voto“.
Os organizadores do almoço — Carlos Morais Vieira, o líder distrital de Viana do Castelo, foi o anfitrião — não tinham mãos a medir. Foram ao almoço mais do que as 200 pessoas previstas. “Apareceu tanta gente que ainda estamos a tentar sala para todos se sentarem“, dizia um dos organizadores uma hora depois de as primeiras pessoas chegarem.
Resta saber se isto foi um pré-ataque da oposição que se irá estender para o Congresso ou se foi uma crítica à porta fechada que será mascarada com um pedido de unidade público. Até agora, os apoiantes dos adversários de Rio nas diretas têm sido mais conciliadores do que provocadores. Mas só este sábado é dia de os críticos subirem ao palco.