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Boston Celtics venceram Dallas Mavericks em cinco jogos na final e sagraram-se campeões 16 anos depois, superando o número de títulos dos Los Angeles Lakers
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Boston Celtics venceram Dallas Mavericks em cinco jogos na final e sagraram-se campeões 16 anos depois, superando o número de títulos dos Los Angeles Lakers

Boston Celtics venceram Dallas Mavericks em cinco jogos na final e sagraram-se campeões 16 anos depois, superando o número de títulos dos Los Angeles Lakers

Como os Boston Celtics montaram uma equipa para o título da NBA (e para estarem mais próximos de voltar a ganhar)

Brown e Tatum foram ouro saído do draft, Holiday e Porzingis as peças em falta e Boston Celtics de Neemias Queta voltaram a ser campeões 16 anos depois montando uma equipa vencedora com muito futuro.

Em toda a história da NBA só sete equipas conseguiram ser campeãs com pelo menos 80 vitórias e menos de 20 derrotas na época toda: os Celtics (em 1986), os Lakers (em 1972 e 1987), os Bulls (1996 e 1997) e os Golden State Warriors (em 2015 e 2017). É uma espécie de classe de super-vencedores, de turma de brilhantismo extra, e os Celtics de 2024 quase se juntaram a eles: quando venciam por 3-0 as Finals o seu recorde da temporada estava em 79-20 mas Dallas rebelou-se, ganhou o jogo 4, evitando a chamada vassourada, o que impediu os Celtics de entrar no mencionado clube. Não evitou que os de Boston vencessem a época de 2023/2024 da NBA e levantassem o troféu Larry O’Brien, o que aconteceu esta madrugada, graças à vitória por 106-88, entrando num clube ainda mais exclusivo: o de equipa com mais títulos na NBA, 18, ultrapassando os eternos rivais Lakers, que seguem com 17. E Neemias Queta, que já alcançara o feito de ser o primeiro português a jogar na NBA, tornou-se o primeiro português a vencer a NBA.

Três épocas, a primeira em Boston e o ponto mais alto da história: Neemias Queta é o primeiro português campeão da NBA

Os Celtics são o sexto vencedor consecutivo diferente da NBA, seguindo-se a Toronto Raptors (2019), Los Angeles Lakers (2020), Milwaukee Bucks (2021), Golden State (2022) e a Denver Nuggets (2023), no que constitui uma rara janela de alternância nas vitórias – não é comum, na NBA, haver um período tão alargado sem que nenhuma equipa volte a conquistar um título. A ausência de campeões repetidos simboliza o quão difícil é ser-se campeão da NBA hoje, mais ainda manter esse nível e criar uma dinastia.

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Dos seis campeões anteriores, três não alcançarão o troféu tão cedo. Raptors, Lakers e Golden State estão ou em processo de reconstrução ou a atravessar mudanças geracionais. Já Bucks, Nuggets e Celtics podem conseguir novo título mas talvez ninguém esteja tão bem posicionado para isso como os próprios Celtics: têm os jogadores e, acima de tudo, a quantidade de jogadores certos e na idade certa, o que significa que têm profundidade de plantel, facto que foi essencial na vitória deste ano.

Doncic leva tudo às costas mas não faz milagres: Celtics vencem jogo 2 frente aos Mavericks e Neemias Queta fica mais perto do título da NBA

É irónico que os Bucks tenham piorado depois da saída de Jrue Holiday, que trouxe o muito desejado Damian Lillard para o clube – só que Jrue acabou nos Celtics, compondo um 5 titular sem comparação na NBA. Jrue, Derrick White, Porzingis, Tatum e Jaylen Brown (que foi o MVP da final, apesar da exibição monumental de Tatum no último jogo), são todos jogadores com triplo, capazes de criar o seu próprio lançamento, capazes de entrar para o cesto e sem qualquer problema em defenderem seja quem for. Esta versatilidade conferiu-lhes sempre uma vantagem extra sobre os adversários: no ataque tinham espaço, porque cada um deles é uma ameaça e é quase impossível defender simultaneamente cinco jogadores com capacidade de lançar dos três pontos; na defesa não tinham de complicar, porque os dotes defensivos do seu cinco titular permitiram sempre anular senão as estrelas adversárias, pelo menos os jogadores de rotação oponentes.

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Neemias Queta foi dispensado pelos Sacramento Kings, assinou contrato two-way com os Celtics, passou depois para um vínculo standard e sagrou-se campeão

Getty Images

A vitória de Dallas surgiu num dos jogos em que Porzingis ficou de fora por lesão, acentuando a velha premissa de que uma boa campanha nos playoffs da NBA depende da sorte e do azar com as lesões – os Celtics só tiveram problemas com Porzingis, mantendo razoavelmente intacto o seu 5 inicial a maior parte do tempo. O mesmo não se pode dizer dos seus oponentes: os Heat, na primeira ronda, perderam Jimmy Butler e Tyler Herro; os Cavaliers apresentaram-se sem Jarrett Allen; os Pacers ficaram sem Tyrese Haliburton, a sua principal estrela. Estas ausências levaram a que alguns qualificassem as vitórias dos Celtics como feitos menores.

À entrada para a final havia uma certa desconfiança em relação aos Celtics – uma das narrativas mais proeminentes era de que ainda não haviam sido verdadeiramente testados, de que as suas vitórias nas eliminatórias precedentes haviam sido alcançadas face a adversários menores ou desprovidos das suas maiores estrelas. Mas os Celtics enfrentaram este tipo de desconfiança a época toda: apesar de ao longo da regular season terem, à medida que amealharam vitórias, liderado as bolsas de apostas, nos playoffs estiveram sempre atrás dos Nuggets, pelo menos até estes serem eliminados pelos Timberwolves, nas meias-finais da Conferência Oeste. E ainda há quem defenda que tanto os Nuggets como os Timberwolves estariam mais bem preparados para enfrentar os Celtics (o que é teoricamente verdade, mas impossível de aferir).

Porzingis e o conceito do “jogo espectáculo” para Pep Guardiola ver: Boston Celtics vencem Dallas Mavericks no jogo 1 da final da NBA

Tudo isto diminui o que tem sido o percurso dos Celtics desde que Jayson Tatum se juntou à equipa, através do draft: em 2018 chegaram às finais da conferência Este, perdendo 4-3 para os Cavaliers; no ano seguinte foram às meias-finais de conferência, perdendo 4-1 para os Bucks; em 2020 voltaram às finais de conferência, perdendo 4-2 para os Heat; em 2021 ficaram-se pela primeira ronda, numa derrota para os Nets por 4-1; em 2022 foram às NBA Finals, perdendo 4-2 para os Warriors, enquanto o ano passado perderam, surpreendentemente, para os Heat, por 4-3, na final da conferência. São muitos anos a andar ali por perto, a rondar, a estar a uns jogos de erguer o troféu.

epa11419222 Boston Celtics teammates embrace on the bench in the final minutes against the Dallas Mavericks in the NBA Finals game five in Boston, Massachusetts, USA, 17 June 2024. The Boston Celtics defeated the Dallas Mavericks to win the NBA Finals Championship.  EPA/AMANDA SABGA  SHUTTERSTOCK OUT

Boston Celtics conseguiram criar um cinco inicial onde todos os jogadores podiam vir fora lançar de três – e deixaram os adversários sem antídoto possível

AMANDA SABGA/EPA

A equipa tem sido construída em torno de Tatum e Jaylen Brown, tendo este último conquistado surpreendentemente o MVP das finais de conferência – Tatum tem sido sempre considerado o melhor dos dois e é a grande esperança americana para o título de MVP da fase regular, há anos na posse de europeus. À sua volta foram sendo adicionados jogadores capazes de criar no ataque e notórios pela sua resiliência na defesa: primeiro Derrick White, depois Jrue Holiday e Porzingis. A troca que envolveu a chegada de Jrue Holiday levou à saída do base Marcus Smart, que era considerado o líder do balneário e o melhor defensor da equipa – mas Holiday é um jogador superior e, talvez, o melhor defesa da NBA.

Olhando para a idade do cinco inicial dos Celtics, é possível que o feito se repita – só Jrue Holiday, com 34 anos, está numa fase avançada da carreira. Todos os outros estão ou no seu apogeu ou perto disso: Tatum tem apenas 26 anos, Brown 27, Porzingis 28 e White 29. Há um núcleo central que ainda tem bastantes anos pela frente, pese embora o sexto homem, Al Horford, esteja quase com 39, o que significa que os Celtics têm de continuar a trabalhar o plantel, até porque a equipa é mais fraca quando Porzingis se lesiona e Porzingis lesiona-se com regularidade.

Mas essa é a NBA atual, em que as multas são tão elevadas para os donos quando gastam muito em salários que a maior parte das equipas não consegue reter todo o talento que tem – depois basta uma lesão e a época vai à vida. Este foi o problema que os Nuggets enfrentaram esta época: não conseguiram segurar Bruce Brown devido às regras financeiras que regulam a folha salarial das equipas da NBA, a rotação tornou-se curta e, quando chegou o momento da verdade, faltou um terceiro homem que se pudesse juntar a Jokic e Jamal Murray na arte de colocar a bola no cesto (em anos anteriores as lesões de Murray também impediram os Nuggets de chegar mais longe).

Jaylen Brown foi a terceira escolha do draft de 2016, Jayson Tatum ocupou a mesma posição em 2018. Juntos, formaram a base dos Celtics para o título

Dylan Buell

É este o cenário que os Celtics querem evitar, mas mesmo mantendo toda a equipa não será fácil repetir a façanha: no ano que vem dificilmente veremos Giannis (dos Milwaukee Bucks) e Embiid (dos Philadelphia 76ers) lesionados em simultâneo durante os playoffs, sentados no banco, à civil, impotentes para travar a eliminação das respetivas equipas (o que, defendem muitos, facilitou o caminho dos Celtics na conferência Este).

Do outro lado, na Conferência Oeste, é de prever ainda maiores dificuldades: os Mavs estarão certamente mais fortes, tendo em conta que a equipa foi montada durante este ano, graças a trocas, e agora tem experiência de finais, os Nuggets estão a uma peça de serem candidatos, Oklahoma City Thunder e Minnesota Timberwolves só irão crescer.

A quantidade de jogadores de verde em idade ainda jovem diz-nos que é possível que os Celtics repitam o feito; a quantidade e qualidade dos oponentes faz pensar que é possível que a alternância que marcou os últimos seis anos se mantenha por mais uma época. Tudo isto é especulação mas o que se segue é um facto e um facto que já ninguém lhes tira: os Boston Celtics (e Neemias Queta) são os novos campeões da NBA.

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