Os hotéis algarvios estão a receber cada vez mais reservas de turistas portugueses e estrangeiros (sobretudo britânicos) para os meses de julho e agosto, apesar da incerteza que a pandemia da Covid-19 trouxe sobre o futuro, confirmou a Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA).
“É verdade que também tivemos e ainda temos muitos cancelamentos, mas também estamos a assistir a um incremento nos pedidos de marcações para o próximo verão”, descreveu o diretor da associação, Elidérico Viegas, ao Observador.
A procura tem sido tão significativa que os estabelecimentos hoteleiros na zona mais turística do país acreditam que conseguirão colmatar os efeitos negativos provocados pela pandemia ao longo dos meses de verão.
“No que diz respeito ao mercado interno, o mais importante nos meses de verão, quer em número de turistas, quer em número de dormidas, as nossas expectativas são para que possam esbater os efeitos negativos da diminuição da procura externa”, indica Elidérico Viegas.
Habituados a taxa de ocupação de 100%, os hotéis preparam-se para uma percentagem inferior de reservas, mas, ainda assim, “razoável, capaz de ajudar a esbater os efeitos negativos provocados por esta pandemia nas contas das empresas”.
O mesmo fenómeno está também a acontecer no alojamento local, ainda que com alguns indícios de preocupação por parte dos hóspedes. Segundo a plataforma Airbnb, são cada vez mais os que fazem reservas longas e muitos procuram espaços mais amplos, onde possam ficar com a família.
Preços dentro do habitual e medo de Espanha ajudam o Algarve
O preço médio de um quarto de hotel nos meses de julho e agosto é de 130,2 euros por dia, com os hotéis de três estrelas a pedirem 106,7 euros diários e os de cinco estrelas a cobrarem 221,7 euros, em média. De acordo com a AHETA , esses valores não deverão sofrer alterações em relação aos anos anteriores. Ainda assim, é possível que alguns hotéis façam ajustes porque “se a procura diminui, o preço baixa — e vice-versa”.
Além dos preços semelhantes ou até inferiores aos que têm sido praticados no passado, outros dois fatores podem estar a ajudar o turismo no Algarve, mesmo em tempos de incerteza: o medo de visitar Espanha e o encerramento mais prolongado de hotéis noutras regiões do país.
É isso que Elidérico Viegas aponta em conversa com o Observador. O diretor da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve explica que “o facto de o Algarve ser considerado um destino turístico Covid-Free pode potenciar o aumento da procura externa”. Isto porque outros países, normalmente concorrentes do turismo português, debatem-se com “problemas sérios nesta matéria”: “A começar pela vizinha Espanha, o nosso maior concorrente”, conclui.
Apesar das grandes aglomerações de pessoas típicas do verão algarvio, não parece haver uma dispersão para as regiões menos turísticas do país, indica a AHETA. A taxa de ocupação não chegará a 100%, é certo — não porque há menos turistas a preferirem o Algarve a outras regiões, mas porque haverá menos gente a sair de casa para passar férias:
“O Algarve está a ser muito mais procurado que os hotéis do resto do país. Prova disso é o facto de os hotéis no Algarve pensarem reabrir, na sua grande maioria, até finais de junho, enquanto no resto do país isso só acontecer lá para o mês de setembro”, justifica a AHETA.
Airbnb espera estadias mais longas este verão
Apesar do impacto que a pandemia da Covid-19 trouxe ao turismo, a plataforma de alojamento local Airbnb espera que, uma vez levantadas pelas autoridades as restrições de viagem e alojamento, “muitos hóspedes poderão considerar reservar estadias longas”, descreveu a empresa ao Observador. Aliás, durante as últimas duas semanas, houve um aumento de 20% em reservas com mais de um mês.
Em termos globais, há neste momento mais anúncios na plataforma do que há um ano, apesar de não ter havido alterações significativas na oferta de anúncios nas dez principais cidades europeias. “As pesquisas de estadias mais longas e em destinos próximos dos locais de residência habituais têm aumentado mais do dobro em todo o mundo nos últimos tempos”, indicou a plataforma.
Questionada sobre se tem havido uma preferência por algum tipo de alojamento, a Airbnb responde que, acima de tudo, “mais hóspedes procuraram alojamentos amplos onde podem estar com a família e, ao mesmo tempo, muitas pessoas procuram espaços onde possam estar sozinhas”.
Também a AHETA confirma que, pelo menos no Algarve, “todos os tipos de alojamento são muito procurados, quer hotéis, quer empreendimentos turísticos, quer alojamento local, quer ainda alojamento privado, como moradias e apartamentos”.
Como hotéis e alojamentos preparam o regresso dos clientes
À espera dos clientes de verão, a Airbnb acabou de aprovar um novo programa para promover a implementação de medidas de higiene e limpeza na plataforma. Desse programa faz parte uma ferramenta que permite aos anfitriões identificar um alojamento como “não disponível” durante 72 horas após a saída de um hóspede, permitindo pausas para tarefas de limpeza.
O Turismo de Portugal também já anunciou a criação de um selo de qualidade para as empresas do setor que cumpram os “requisitos de higiene e limpeza para prevenção e controlo da Covid-19 e de outras eventuais infeções”. Chama-se “Clean & Safe” — em português, “Limpo e Seguro” — e pode ser utilizado por todas as empresas do ramo turístico, de hotéis e alojamentos a agências de viagens.
“Este reconhecimento tem a validade de um ano, é gratuito e opcional, e exige a implementação nas empresas de um protocolo interno que, de acordo com as recomendações da Direção-Geral da Saúde, assegura a higienização necessária para evitar riscos de contágio e garante os procedimentos seguros para o funcionamento das atividades turísticas”, explicou o Turismo de Portugal em comunicado.
Turismo de Portugal vai atribuir selo “Clean & Safe” a estabelecimentos
Estas medidas juntam-se às indicações que a Direção-Geral da Saúde também já publicou para este tipo de estabelecimentos. Uma orientação publicada em meados de março na página da instituição inclui regras de limpeza, medidas de proteção dos trabalhadores, medidas para o manuseamento de objetos, regras de desinfeção e um protocolo sobre como se deve agir caso um dos clientes estejam infetados.
Um verão em suspenso ou banhistas de máscara?
Enquanto preparam um regresso gradual à normalidade (ou, pelo menos, à normalidade possível em tempos de pandemia), as autoridades de saúde também delineiam como se vai viver o verão em Portugal e no mundo. Mas as perspetivas sobre o que aí vem dependem de a quem pergunta: António Costa prefere manter os planos estivais em aberto, a Comissão Europeia está de pé atrás.
Em meados de abril, numa entrevista ao jornal alemão Bild, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, desaconselhou os cidadãos a fazerem reservas para o verão por causa da imprevisibilidade que a pandemia da Covid-19 desencadeou para o futuro: “Recomendo esperar antes de fazer planos. Neste momento, ninguém pode fazer previsões confiáveis para julho e agosto”.
Mas dois dias mais tarde, em entrevista ao Observador, o primeiro-ministro António Costa foi mais esperançoso e pediu aos portugueses para não deixarem de planear férias de verão, desde que sejam cá dentro. “Esperem mais umas semanas, mas não deixem de pensar nas férias de verão”, pediu Costa, lembrando que “para a economia portuguesa seria um dano imenso se o próximo verão fosse um verão onde o turismo não tivesse condições de funcionamento mínimo”.
António Costa disse acreditar que “até ao verão a situação estará suficientemente controlada para podermos ter as férias e para as podermos gozar o melhor possível”. “Para já, aos portugueses eu daria um conselho que é: planeiem as férias cá dentro porque estamos sempre mais seguros cá dentro nesta fase e menos sujeitos à incerteza”, concluiu o primeiro-ministro.
António Costa. “Não deixem de planear as férias de verão… cá dentro”
Entretanto, a coordenação nacional da Associação Bandeira Azul da Europa anunciou uma série de medidas que serão aplicadas nas praias durante o verão. As praias nacionais terão lotação máxima de banhistas durante a época balnear, os turistas vão ser obrigados a usar máscara quando nas casas de banho e restaurantes dos concessionários; e os materiais da praia — desde as espreguiçadeiras às gaivotas e aos passadiços — terão regras mais apertadas de desinfeção.
Todas as regras estarão prontas na primeira semana de maio e serão elencadas num “manual de procedimentos sobre o acesso às praias”. O objetivo final é só um: cumprir as recomendações da Direção-Geral da Saúde.
“As praias, sendo espaços públicos, também terão de ter os procedimentos e regras a serem implementados para segurança de todos e que têm a ver, obviamente, com o distanciamento social”, disse Catarina Gonçalves, responsável pelo programa em Portugal.
Praias vão ter limite máximo de banhistas para cumprir distanciamento social
Estas indicações estão em concordância com as declarações do primeiro-ministro ao jornal Expresso, que já havia confirmado restrições no acesso às praias durante o verão, uma vez que “o vírus não hiberna no verão”: “Há praias de grande extensão onde a aglomeração é facilmente evitável, há outras em que todos sabemos que a aglomeração é grande. A aglomeração não vai poder existir”.