A região da Serra da Estrela é conhecida para grande parte dos portugueses como o lar do ponto mais alto de Portugal continental. No inverno atrai milhares de visitantes que ali procuram aproveitar a pouca neve que ainda cai no nosso país, descendo as suas encostas pintadas de branco ou simplesmente admirando a vista, mas a verdade é que a Serra tem muito, mas mesmo muito mais para oferecer, em qualquer altura do ano.
Feche os olhos e imagine-se a percorrer a pé paisagens naturais no seu estado mais puro, a deliciar-se com algumas das melhores iguarias tradicionais portuguesas – aquelas que só de pensar já lhe abrem o apetite, a explorar ao vivo algumas das construções e locais mais marcantes da história portuguesa e a mergulhar em águas transparentes, rodeadas por um cenário natural incomparável. As suas próximas férias de verão podem ser precisamente assim.
Neste artigo damos-lhe 5 razões para incluir a Serra da Estrela e Beiras no seu plano de férias para este verão, uma por cada dia da semana que ali poderá passar. Num roteiro que atravessa os 15 municípios que pertencem à Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela, mostramos-lhe o melhor da oferta histórica, cultural, natural e gastronómica de uma das regiões mais genuínas de Portugal.
Dia 1 | De praias fluviais a cascatas escondidas na serra
Não poderíamos falar de férias de verão sem referir alguns dos melhores locais para mergulhos. Felizmente, o que não falta na Serra da Estrela são praias fluviais, barragens, lagos e cascatas perfeitas para fugas ao calor do verão.
Na sua passagem por Loriga encontrará a única praia portuguesa situada num vale glaciar. Alimentada por águas que brotam de uma nascente na serra, a Praia Fluvial de Loriga, localizada em Seia, é especialmente perfeita para refrescar o corpo após uma caminhada nos vários percursos locais.
Já em Gouveia o destaque vai para a praia fluvial mais alta de Portugal, a de Vale do Rossim, a mais de 1400 metros de altitude, banhada pelas águas de uma lagoa artificial originada pela ação da barragem. Tanto aqui como na Lagoa Comprida, em Seia, (o principal reservatório de água da Serra da Estrela) aproveite para admirar a beleza das paisagens naturais em cima de uma prancha.
Mais a norte, no concelho da Guarda, a Praia Fluvial de Aldeia Viçosa oferece a quem a visita banhos em águas transparentes, rodeadas pela ímpar beleza do Vale do Mondego. E se não resiste a uma cascata (quem resiste?), inclua no roteiro uma passagem pela cascata do Poço do Inferno, em Manteigas e a do Poço da Broca em Seia, dois refúgios perfeitos para os dias mais quentes de verão.
A lista de praias fluviais não se restringe, obviamente, às referidas acima. Aqui encontra mais algumas merecedoras de inclusão no seu roteiro de férias: a Praia Fluvial da Ratoeira em Celorico da Beira, Praia Fluvial do Paul na Covilhã, a Praia Fluvial de Vale da Éguas, no Sabugal, a Praia Fluvial da Ponte de Juncais em Fornos de Algodres e a Praia Fluvial da Lavandeira no Fundão.
Dia 2 | Entre prados verdejantes e cumes rochosos
As paisagens bucólicas das zonas mais altas da Serra dão lugar, à medida que a altitude vai diminuindo, a largas extensões de verde, interrompidas aqui e ali por lagos e formações de granito. O lobo, o coelho-bravo-europeu ou a raposa, são algumas das espécies de vida selvagem local que, a par de uma larga diversidade de flora, ajudaram a atribuir o estatuto de Reserva Biogenética à região da Serra da Estrela, igualmente classificada como área protegida e parque natural.
Num dia dedicado inteiramente ao património natural da região da Serra da Estrela não poderia faltar uma visita ao milenar Vale Glaciar do Zêzere em Manteigas, que se estende, ao longo de 13 km, por encostas íngremes, aldeias pitorescas e pastos verdejantes, tornando-o o maior da Europa. Caso seja um caminhante experiente, poderá até percorrer o trilho Rota Vale do Glaciar que lhe oferecerá a oportunidade de ver de perto alguns dos seus locais mais emblemáticos como o Covão d’Ametade e os Cântaros (Magro, Gordo e Raso).
Por falar em trilhos, terá muito por onde escolher na Serra, sendo a Grande Rota do Zêzere uma das mais emblemáticas. Ao todo são 370 km, divididos em 9 etapas, que podem ser percorridos a pé, de bicicleta ou de canoa. Já na lista dos percursos mais curtos, o trilho circular de São Gens, em Celorico da Beira, é ideal para quem prefira uma opção com um nível d e dificuldade mais reduzido.
Em Fornos de Algodres, o miradouro natural da Fraga da Pena, a 750 mt de altitude, oferece-lhe uma vista ininterrompida sobre as extraordinárias paisagens serranas, acompanhada por uma sensação única de liberdade. Mas a vista poderá também ser apreciada a partir do rio. Na aldeia de Barca d’Alva, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, onde o rio Águeda se junta ao Douro, um passeio de barco dar-lhe-á uma vista única sobre encostas decoradas com olivais, amendoais e vinhas.
A observação de pássaros faz parte da lista dos seus passatempos preferidos? O seu destino será então a Faia Brava, uma reserva natural com cerca de 1000 ha, localizada no Vale do Côa, entre os concelhos de Pinhel e Figueira de Castelo Rodrigo. De binóculos ou máquina fotográfica em riste, perderá a noção do tempo a observar e fotografar as dezenas de espécies que fazem da reserva o seu habitat, entre as quais a cegonha-preta, o milhafre-preto, a águia-real e o grifo.
Dia 3 | Uma viagem às origens
Falar das origens da História da região implica uma viagem até tempos pré-históricos, cujos testemunhos permanecem ainda sob a forma de estruturas e símbolos que resistiram ao passar do tempo, como a Anta da Pedra da Malhada Sorda em Almeida, a Anta da Matança em Fornos de Algodres, as gravuras rupestres do Parque Arqueológico do Vale do Côa e as gravuras gravadas em granito da Aldeia de Cidadelhe, em Pinhel, classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade.
A viagem no tempo continua na vila de Belmonte, onde as ruínas Centum Cellas testemunham a passagem dos romanos pela região, e onde a cultura hebraica se mantém forte desde o século XVI, altura em que muitos judeus aqui se refugiaram após ordem de conversão ao catolicismo ou expulsão do país. Uma visita ao Museu Judaico será essencial para compreender a importância local desta comunidade.
Aproveite a passagem por Belmonte para visitar ainda o interativo Museu dos Descobrimentos do Novo Mundo e siga em direção a Almeida, conhecida por “Estrela do Interior” pelas suas fascinantes muralhas em forma de estrela, para uma incursão na história das invasões francesas em Portugal. Visite o Museu de História Militar, instalado nas antigas Casamatas de Almeida, galerias subterrâneas datadas do século XVIII, a Casa do General Wellington e, caso se se encontre na região no final de agosto, não perca ainda a oportunidade de assistir à recriação histórica do Cerco de Almeida de 1810, um evento de 3 dias repletos de atividades para toda a família.
Na rota dos Castelos, há alguns que se destacam, como o de Pinhel – considerado uma obra de referência da arquitetura manuelina em Portugal, o do Sabugal, o de Linhares da Beira – classificado como Monumento Nacional e o de Trancoso, cujas muralhas ainda hoje envolvem a vila. Já em Mêda, destaca-se uma curiosa Torre do Relógio, que se ergue imponente no topo da colina no local onde em tempos existiu uma torre de vigia.
Dia 4 | Os melhores sabores da terra e do rio
O quarto dia é dedicado aos prazeres da mesa. Se há algo que a região faz exemplarmente é surpreender os seus visitantes com sabores que dificilmente saem da memória. Com o queijo da Serra da Estrela como cartão de visita, do menu fazem parte também os enchidos, o cabrito e o borrego.
No Fundão é impossível não provar as famosas cerejas que, em junho, têm direito a uma festa que dura o mês inteiro. Já em Trancoso as atenções viram-se para uma iguaria da doçaria conventual, as Sardinhas Doces, feitas de massa tenra recheada com ovos-moles feitos de gemas, açúcar e amêndoa. E numa passagem por Loriga, no concelho de Seia, procure o Bolo Negro, um elemento marcante da identidade loriguense, cujas origens se diz estarem alegadamente ligadas à colónia inglesa que ali se estabeleceu entre meados do século XIX e princípios do século XX.
Como acompanhamento de pratos como o Cabrito com Míscaros, a Morcela à moda de Gouveia, o Ensopado de Borrego ou o Arroz de Zimbro, regados com o aromático azeite local, a seleção cai sobre os premiados vinhos das três DOP: os vinhos do Dão, os vinhos da Beira Interior onde se destacam os frescos e aromáticos brancos, e os célebres vinhos do Douro.
Caso prefira o peixe à carne, uma visita a Manteigas revelará um menu repleto de pratos de truta, que se diz serem tantos quanto os que existem de bacalhau. Agende a sua visita para o mês de julho e aproveite para marcar presença no Festival da Truta de Manteigas, abastecido pelos viveiros de truta locais da Fonte Santa.
Dia 5 | Em busca da alma e essência da Serra
O queijo e os lanifícios são dois dos elementos que fazem parte indissociável da cultura da Serra da Estrela. Numa passagem pela região, dedique um dia a explorar as origens e as técnicas por trás destas artes seculares, assim como algumas das aldeias históricas portuguesas mais encantadoras, onde as tradições e costumes locais permanecem intocados.
Na Covilhã, uma visita ao Museu dos Lanifícios, instalado nas antigas tinturarias pombalinas da Real Fábrica de Panos, dar-lhe-á uma visão alargada sobre o património industrial têxtil local, enquanto no New Hand Lab, um centro criativo que reúne vários artistas da área da moda, fotografia, design e artesanato, instalado na antiga Fábrica António Estrela, a tradição se mistura com cores, designs e padrões mais atuais.
No Centro de Interpretação da Serra da Estrela, localizado em Seia, encontra o espaço ideal para descobrir tudo sobre o património natural e cultural da Serra da Estrela. A exposição permanente que ali se encontra, dedicada à geodiversidade, paisagens e tradições da região, o centro de documentação e os laboratórios de natureza dar-lhe-ão uma visão extremamente abrangente e completa sobre o destino.
O Centro em si está inserido no Parque Verde, uma área com cerca de dois hectares, onde poderá admirar uma centena de espécies variadas de arbustos e árvores autóctones e outras vindas da Ásia e América do Norte. Aproveite para fazer uma pequena pausa no parque de merendas local que lhe oferece uma vista extraordinária sobre a região do Mondego.
Já em Gouveia, o destaque cai sobre o Museu da Miniatura Automóvel, um museu único em Portugal, dedicado exclusivamente ao tema. Leve os mais pequenos consigo, temos a certeza que irão adorar também. E em Celorico da Beira, junto ao castelo, mergulhe no mundo do queijo no Solar do Queijo da Serra da Estrela, onde poderá não só aprender mais sobre as técnicas e origens desta deliciosa iguaria regional, como também degustá-la.
Dos museus em espaço fechado, passamos para as Aldeias Históricas, autênticos museus ao ar livre, onde é possível respirar a alma e essência da região. Anote, para depois juntar ao roteiro: Sortelha (Sabugal), Almeida, Belmonte, Castelo Rodrigo (Figueira de Castelo Rodrigo), Castelo Novo (Fundão), Castelo Mendo (Almeida), Linhares da Beira (Celorico da Beira), Trancoso e Marialva (Mêda).
Como vê, a Serra da Estrela tem tudo o que precisa para uma das melhores férias de verão da sua vida. Pronto para começar a planear?”