894kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

GettyImages-1254580630
i

dpa/picture alliance via Getty I

dpa/picture alliance via Getty I

Das escolas de Coimbra para o palco da Eurovisão: Mimicat e o sonho de Marisa Mena

Representou Portugal na Eurovisão, com "Ai Coração". Ficou em 23.º lugar, mas não precisava de ganhar para que o seu percurso ficasse inevitavelmente marcado. De onde vem e para onde vai Mimicat.

Foi com um coração de Viana em filigrana ao peito que Mimicat voltou a subir ao palco do Festival Eurovisão, na final do concurso que decorreu este sábado em Liverpool, no Reino Unido (e que foi vencida pela Suécia, com a interpretação de “Tattoo”, por Loreen). “Ai Coração”, o tema escolhido para representar Portugal nesta 67.ª edição do festival, voltou a ouvir-se, entre suspiros de portugalidade e um estilo burlesco que faz parte do mote criativo da cantora, que viveu, admitiu, um sonho de criança tornado realidade. O tema, que compôs há quase dez anos, na altura em que estava a lançar o primeiro álbum, For You, venceu a 57.ª edição do Festival da Canção, mas a verdade é que Mimicat já tinha participado no concurso aos 15 anos, no longínquo ano de 2001. A música fez sempre parte da sua vida, uma nova etapa de reconhecimento surgiu com o Festival da Canção. Resta saber qual o caminho a traçar depois desta Eurovisão.

Voltemos à história. Marisa Mena, conhecida por Mimicat, nasceu a 25 de outubro de 1985, em Coimbra, cidade onde viveu até aos seus 20 anos. Começou a cantar quando estudava na Escola EB1 de São Martinho do Bispo e foi na parte final do 1.º ciclo, quando tinha apenas nove anos, que lançou um disco com o nome de Isamena. Seguiu-se um percurso escolar escolas EB 2,3 Inês de Castro e Secundária D. Duarte, entre tentativas de editar outro disco, que nunca chegou a sair. A entrada no ensino superior deu-se através do curso de Engenharia do Ambiente na Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), numa altura em que tudo parecia encaminhado num sentido bastante diferente daquele que é hoje conhecido.

[a atuação de Mimicat em Liverpool, na final da Eurovisão:]

Depois dos dois primeiros anos de curso, e mesmo não se identificando “com a vivência académica” presente na cidade, o terceiro ano revelou um volte face. “Foi, nesse momento, que percebi que não queria nada daquilo para a minha vida e decidi mudar de curso”, disse a cantora à New in Coimbra. Ainda assim, não queria desistir do percurso académico, que continuou no curso de Som e Imagem da Escola Superior de Arte e Design no Instituto Politécnico de Leiria. Certo é que Coimbra ficou no passado. Mudou-se mais tarde para as Caldas da Rainha, ainda que não tenha esquecido a importância dessa ligação à cidade dos estudantes. “Foi nessa cidade que comecei a construir tudo aquilo que eu sou enquanto artista”, referiu na mesma entrevista.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O regresso à música e o nascimento de Mimicat

Já longe de “Isamena”, nome artístico que levou ao Festival da Canção, em 2001, Marisa Mena conheceu a sua primeira grande experiência no mundo da música quando se tornou vocalista e compositora da banda The Casino Royal. Ao longo de oito anos como voz principal do grupo e já a viver em Lisboa, foi também esse o impulso que a levou de novo à sua carreira a solo e, claro, ao nascimento de um novo alter-ego: Mimicat. O nome resulta das alcunhas dadas às madrinhas na família da cantora, como explicou à revista brasileira Glamurama: “Na minha família, as crianças chamam as madrinhas de Mimi, e eu já tenho uma afilhada com 11 anos, então bastou juntar ‘cat’ ao nome, et voilà! A combinação foi amor à primeira vista”, disse.

"Sou uma underdog. Venho de um registo em que não há público. Ninguém sabia quem era, e quando apresentei esta canção foi por todos nós. Por todos os underdogs que andam por aí a cantar para terem uma oportunidade, há séculos, e não conseguem”, disse após a final do Festival da Canção.

Estávamos em 2014. Nesse mesmo ano, a intérprete editou o seu primeiro álbum “For You”, editado pela Sony Music, com o tema “Tell Me Why” como primeiro single. O disco permitiu-lhe estrear-se internacionalmente com concertos no Brasil, mantendo como referências Ella Fitzgerald, Ray Charles ou Jill Scott e apresentando melodias que misturavam a soul, a pop e o jazz. Foi um período de grande entusiasmo. Em junho de 2015, a Folha de São Paulo anunciava em título o êxito de uma portuguesa: “Mimicat conquista o público no Parque Ibirapuera”. Era a estreia da cantora nos palcos internacionais e logo num dos maiores eventos de São Paulo, a Virada Cultural. Ao longo da mini turné chamaram-lhe “Amy Winehouse do Tejo”, escreveu-se que fazia lembrar “Shirley Bassey e Adele”. A Vogue Brasil sublinhou a “sonoridade com perfume vintage”, a aposta num visual retro.

Mimicat, a “underdog”, vence o Festival da Canção com uma música composta há dez anos

Em Portugal, por sua vez, a carreira musical continuava igualmente em grandes palcos. Participa na Festa do Avante, Sol da Caparica, EDP Cool jazz, Meo Marés Vivas e atua ainda na Culturgest. Volta aos discos em 2017, com Back in Town, mas desta vez de forma independente. Foi também o início da sua própria travessia no deserto, que iria recordar aquando da sua vitória, já este ano, no Festival da Canção: “Sou uma underdog. Venho de um registo em que não há público. Ninguém sabia quem era, e quando apresentei esta canção foi por todos nós. Por todos os underdogs que andam por aí a cantar para terem uma oportunidade, há séculos, e não conseguem”.

GettyImages-1254580391

Marisa Mena no desfile de todos os concorrentes em Liverpool, seguindo a tradição de abertura das finais da Eurovisão

PA Images via Getty Images

Nos anos que levou até chegar à Eurovisão foi mãe, dedicou-se aos dois filhos, um com quatro anos e outro com dez meses, e diz-se pessoa que gosta de tardes passadas em família e do arroz de pato da mãe. Ainda voltou às composições em 2021, com “Mundo ao contrário”, mas a verdade é que por várias ocasiões pensou desistir da música. “Investi muito. E quando o retorno não acontece, é frustrante”, reconhece. “[A certa altura] fiquei amarga e tive vontade de desistir. Sentia-me rejeitada”, disse em entrevista ao Expresso. Ao longo dos anos e como forma de garantir sustento, dedicou-se ao ramo do imobiliário. “Foi o que me pagou as contas estes anos todos”, realçou durante o programa da SIC Mulher “What’s Up! TV”.

Da rejeição ao maior palco da Europa

A dada altura, entre a decisão de continuar ou não a compor música, deu-se um clique que a motivou a tentar a sorte novamente no Festival da Canção. Segundo palavras da intérprete ao Expresso, foi ao escutar o discurso de uma atriz de 45 anos que, nos Globos de Ouro em 2016, ao receber o prémio de Melhor Atriz numa Série Dramática, que mudou a sua própria perceção: “Estive 20 anos à espera disto”. “Então pensei: ‘pára de te queixar e continua a trabalhar’”, concluiu a artista conimbricense.

“Tentei desistir da música, mas o seu chamamento foi mais forte. Investi dinheiro que não tinha, fiz sacrifícios familiares e as coisas começaram a acontecer agora”, disse à imprensa.

Fez-se à estrada e sem grandes expetativas abriu a gaveta para recuperar a velha canção que, inicialmente, pretendia propor a outros artistas para a interpretarem. “Houve uma altura em que convidei a Luísa Sobral, a Ana Bacalhau e ia falar com a Capicua. Mas para isso precisava de ter uma demo da música. Só que como não gostava da que tinha, não lhes mandei nada, disse que já não ia fazer a canção, ‘esqueçam’ [risos]. Ia guardar para outro projeto qualquer.” Decidiu submeter a canção a concurso sem esperança, de tal maneira que se esqueceu de que havia enviado. “Não disse nada a ninguém! Nem ao produtor, ninguém. Nem o meu marido sabia. E agora acabei-a quando me disseram que ia para o festival. Tive um mês para acabar a canção e mudámos ali os arranjos”, contou em entrevista à NiT.

Na noite de 11 de março, e após uma disputa renhida com o tema de Edmundo Inácio, a cantora e compositora arrancou a vitória. A artista de 38 anos reuniu 24 pontos do público, depois de, entre o júri, “A Festa” de Edmundo Inácio e “Ai Coração” terem reunido 12 pontos. O tema do antigo concorrente do The Voice Portugal ficou em segundo lugar na geral, com 22 pontos. A vitória no Festival da Canção foi um momento de sonho, sobretudo pela importância que este concurso manteve na sua vida, como relembrou em entrevista à NiT. “Cresci com o festival, com grandes nomes como a Dulce Pontes, a Sara Tavares, a Anabela… Sempre foi um marco importante até à altura em que o festival ‘morreu’, devia ter eu uns 13 ou 14 anos e aí deixou de ter importância. Agora, com a história do Salvador e esta equipa que está com o festival, eles reavivaram-no.”

Marisa Mena, aka Mimicat, wons the Portugal´s Song Festival with the song " Ai coracao", todays, in Lisbon, Portugal, 12 March 2023. Mimicat will represent Portugal in the next May Eurovision Song festival in Liverpool, UK. PEDRO PINA/ RTP/ LUSA

Mimicat depois de ter vencido a final do Festival da Canção, em Portugal, que a levou até Liverpool

PEDRO PINA/RTP

No discurso de vitória, Mimicat lembrou os tempos difíceis para singrar como artista: “Tentei desistir da música, mas o seu chamamento foi mais forte. Investi dinheiro que não tinha, fiz sacrifícios familiares e as coisas começaram a acontecer agora”, disse à imprensa. Já esta passada terça-feira, na primeira semifinal da Eurovisão, o tema e a sua prestação não passaram despercebidos, sobretudo pelo visual pensado e criado por Dino Alves. Passou à final, que aconteceu este sábado, 13 de maio, e recebeu comentários elogiosos vindos das mais diversas partes do mundo. “Ai Coração” foi a segunda canção apresentada, na primeira parte da cerimónia. Ao saber do apuramento, a cantora mostrou-se emocionada: “Foi incrível. Foi maravilhoso. Fartei-me de chorar”, disse.

Por agora, sabe-se que num futuro próximo irá lançar um novo disco e que quer dar concertos. “Já estou a ‘panicar’ porque tenho de montar o espetáculo e depois tenho o álbum para lançar, lá para outubro. O primeiro concerto será no Junta-te ao Jazz, que acontece entre 19 e 21 de maio no Palácio Baldaya, em Benfica. Vou fazer uma cena de piano e voz, só”, disse em entrevista à MAGG. Vê-se como veterana e resistente – os fãs mais entusiastas da Eurovisão apelidam-na de ‘mother’ – e sente-se a realizar um sonho adiado, mesmo sem a vitória na Eurovisão.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.