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João Cotrim Figueiredo a jogar vólei na "Tarde Liberal", em Matosinhos
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João Cotrim Figueiredo a jogar vólei na "Tarde Liberal", em Matosinhos

LUSA

João Cotrim Figueiredo a jogar vólei na "Tarde Liberal", em Matosinhos

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Depois do susto, não há espaço para experimentalismos. Iniciativa Liberal investe tudo na marca "Cotrim"

Campanha minimalista dos liberais tem girado à volta da figura do antigo líder. Marca "Cotrim" poder valer mais do que a do próprio partido e as fichas jogam-se aí. Não há margem para novo deslize.

A pequena comitiva não se dá conta, mas partiu-se a meio. À direita, ao sol, João Cotrim Figueiredo caminha rodeado por uns quantos apoiantes, enquanto distribui alguns panfletos a quem com ele se vai cruzando. À esquerda, pela sombra, Rui Rocha faz o mesmo, sozinho, enquanto troca algumas palavras de circunstância com quem o recebe. A separá-los, quase simbolicamente, um dos muitos tapetes de flores que engalanaram o centro de Caminha para assinalar o Corpo de Deus. Rui Rocha apercebe-se, acelera discretamente o passo, muda de passeio e junta-se a Cotrim. Ninguém parece reparar que tinha ficado para trás e Rocha não protesta. Numa campanha propositadamente pensada para ser sobre a marca “Cotrim”, não há espaço para assomos de vaidade.

“Gosto muito de campanhas eleitorais, não perco uma. Mas é um pouco mais confortável [estar neste lugar de apoio]. De facto, trata-se de estar mais a acompanhar do que propriamente a ter intervenção, Mas faço com um enorme gosto e com total solidariedade e convicção relativamente a esta proposta da Iniciativa Liberal e ao nosso cabeça de lista, João Cotrim de Figueiredo”, assumiria mais tarde Rui Rocha aos jornalistas, já depois do pequeno passeio pelo centro da vila raiana. Tem sido sempre assim. O líder do partido tem aparecido várias vezes na campanha, mas nunca para roubar os holofotes — a IL apostou todas as fichas na figura de Cotrim.

E isso vê-se nos grandes e pequenos pormenores. Num partido que faz gala de ser avesso ao culto da personalidade, que já teve quatro líderes em sete anos de existência, os outdoors pensados para esta campanha às europeias têm como slogan em letras garrafais “Com Cotrim sim” e a cara do candidato em grande destaque. A referência à Europa passa quase despercebida. Não sendo uma absoluta novidade — Tiago Mayan Gonçalves, por exemplo, personificava os cartazes presidenciais, em 2021 –, é um sinal evidente (e assumido por quem pensou a campanha) de que o partido quer vender Cotrim aos eleitores. Em cada oportunidade. Em Caminha, por exemplo, ao quarto dia oficial de campanha, os elementos da comitiva apareceram com bonés com o mesmo lema: “Com Cotrim sim”.

Até para os padrões de campanha de um partido de menor dimensão como a Iniciativa Liberal, a campanha dos liberais está a ser minimalista. Poucas ações por dia, poucos comícios, pouco folclore, ritmo lento, de passeio, quase blasé. A marca Cotrim parece vender-se a si própria, sem grandes adornos. Resta saber se será suficiente

Liberais jogam muito mais do que uma eleição

Ora, se há aspeto em que o partido se especializou foi na comunicação, seja em outdoors, seja em grandes frases feitas para criar impacto. A escolha de um slogan relativamente simples, uma aliteração que termina em rima, foi objetivamente pensada. Mais do que vender grandes ideias sobre a Europa, importa nestas eleições vender a imagem e o capital político conquistado por Cotrim. Ninguém o assume assim, abertamente, mas é essa a convicção que existe: neste momento, o cabeça de lista da IL valerá eleitoralmente mais do que o próprio partido.

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A natureza da eleição também influenciou a decisão. Em grande medida, as europeias tendem a ser mais personalizadas — e estas não são seguramente exceção. Em parte, todos os partidos procuraram privilegiar o cabeça de lista em detrimento das ideias sobre uma Europa que é, em muitos casos, um conceito distante para os eleitores. Foi assim com Sebastião Bugalho, na AD, ou com Marta Temido, no PS, por exemplo. No caso da Iniciativa Liberal, ainda assim, não deixa de representar uma inversão na estratégia seguida até aqui.

Nas últimas europeias, as primeiras do partido, lançaram Ricardo Arroja, um independente que nunca se filiou. Em legislativas, já testaram três candidatos — Carlos Guimarães Pinto, Cotrim e Rui Rocha, por esta ordem. Mayan, entretanto desavindo com atual direção, fez as vezes nas presidenciais. Depois dele, Miguel Quintas foi o escolhido para ir por Lisboa, antes de desistir e ser substituído por Bruno Horta Soares, um perfeito desconhecido mesmo para os padrões de um partido emergente. Houve sempre e assumidamente uma preocupação em apresentar novos protagonistas ao ponto de uma das frases batidas entre liberais é que eram diferentes porque serem um partido de ideias e não de rostos. Desta vez, no entanto, a receita foi diferente.

Estas europeias são um marco importante na Iniciativa Liberal. Joga-se muito mais, aliás, do que a eleição de um ou mais deputados. O partido, que vinha em crescendo desde que se apresentou aos eleitores, sofreu um abalo nas últimas eleições legislativas. Apesar de ter mantido o grupo parlamentar de oito deputados, a verdade é que os liberais praticamente não cresceram em relação às últimas legislativas. Pior: viram o Chega, com menos dois anos de existência, a disparar para os 50 deputados. Um bom resultado nestas europeias servirá para inverter os diagnósticos mais pessimistas e alavancar o partido.

Além disso, um bom resultado da IL, conjugado com um mau resultado de PS e de Chega, seriam incentivos para que os dois partidos não precipitassem o país numa nova crise política, algo que não está definitivamente nos planos dos liberais. É preciso alguma estabilidade para que possam evitar qualquer risco de erosão eleitoral, e, em segundo lugar, para que possam começar a influenciar a governação de Luís Montenegro — e a serem reconhecidos por isso.

Na rua, a marca Cotrim tem funcionado, mesmo que isso depois não se traduza necessariamente em votos. Seja em Lisboa, Matosinhos ou Caminha, o problema de falta de notoriedade — que tantas vezes se colocou a Rui Rocha nas últimas legislativas — não existe para o cabeça de lista da IL às europeias. “Está ali aquele que foi à TVI, à Cristina. O Cotrim. Não viste? Ofereceu-lhe um vestido que comprou na feira”, ouviu o Observador enquanto se cruzava com um casal que espreitava a ação de campanha do partido na praia de Matosinhos, numa referência à participação do candidato no programa “Dois às 10”. Mesmo numa campanha que tem decorrido sem grandes mobilizações, Cotrim é facilmente reconhecido e bem recebido por onde passa. E isso vale ouro neste momento.

Na retina de alguns dirigentes liberais está ainda o processo traumático das últimas eleições legislativas. Não necessariamente por responsabilidade de Rui Rocha, mas porque a estrutura não estava preparada para o desafio. O partido começou a preparar a saída de João Cotrim Figueiredo e a transição de poder imaginando um ciclo longo de quase cinco anos de maioria absoluta de António Costa. Em tese, Rui Rocha, o sucessor, teria tempo para se dar a conhecer e ganhar dimensão. Mas a queda do socialista precipitou todos os calendários e atirou o novo líder para o centro do combate político e mediático. A IL sobreviveu, não caiu, mas não deslumbrou. E os alarmes soaram.

Antes da queda de António Costa, os liberais já tinham tido de lidar com um grande desafio de relações públicas: a cisão interna protagonizada por Carla Castro, que por uma unha negra não derrotou a linha oficial do partido. As desfiliações que se seguiram — incluindo a de Carla Castro — minaram a credibilidade do partido e foram desgastando uma imagem até aí sem grande mácula. Quando devia estar a falar para fora, a IL estava a falar para dentro. E isso, apesar de ter tido o mérito de penereirar quem não estava inteiramente alinhado com os ideais do partido, teve reflexos na perceção que os eleitores têm do partido, assume-se.

Agora, atendendo à importância destas eleições para o projeto de afirmação política da Iniciativa Liberal, não há espaço para grandes experimentalismos. João Cotrim Figueiredo foi o escolhido por ser o trunfo mais forte que o partido tem para encarar estas eleições e a campanha dos liberais, mesmo sendo o cabeça de lista particularmente avesso à personalização da política, girará em torno dele. E terá de se adaptar a ele.

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Uma corrida à imagem e semelhança de Cotrim

Grande parte da campanha da Iniciativa Liberal tem existido nas redes sociais, com conteúdos protagonizados pelo candidato. De resto, parte da campanha, aquela que não é comunicada aos jornalistas que acompanha a caravana, tem sido dedicada a isso mesmo: produção de vídeos em que o candidato aparece a falar várias línguas — Cotrim Figueiredo fala cinco línguas –, a cozinhar ou a alertar para importância do voto antecipado. Mas, por muito importante que isso seja para os liberais, é apenas uma ínfima parte da comunicação da campanha.

A maratona de debates, essa sim, acabou por desempenhar um papel determinante na afirmação do candidato. Os dirigentes do partido acreditavam que Cotrim Figueiredo seria capaz de ter boas prestações nos duelos televisivos e estão convictos de que assim foi. O objetivo foi demonstrar preparação, respeitabilidade, credibilidade e serenidade, mesmo que para isso tenha sido preciso sacrificar alguma combatividade e rasgo.

Apesar de tudo, parece ser essa a estratégia deliberada de Cotrim nesta corrida. Depois de três dias a comprar alguns embates com os adversários mediados pela comunicação social — com André Ventura e com Catarina Martins, sobretudo –, ao quarto dia, o liberal decretou o fim das hostilidades. “Não vou voltar a falar de picardias. Isso distrai daquilo que são as mensagens principais da Iniciativa Liberal para reformar a Europa”, jurou solenemente em Caminha.

Voltaria a dizer o mesmo horas depois, em Matosinhos, quando desafiado a comentar algumas críticas de João Oliveira, da CDU. E mesmo que não goste que se fale em pacto de não agressão em relação a Sebastião Bugalho, a regra é essa: não hostilizar abertamente um adversário com quem partilha eleitorado. Deve-se em parte ao registo pessoal do candidato, que não gosta de aliemntar bate-bocas, mas tem igualmente um lado tático: não é com vinagre que se apanham moscas.

Para alguns dirigentes da Iniciativa Liberal, mesmo estando na linha da frente do combate político há relativamente pouco tempo, Cotrim Figueiredo adquiriu o estatuto de senador político e esse é o seu grande valor de mercado. Daí que, até para os padrões de campanha de um partido de menor dimensão como a Iniciativa Liberal, esta esteja a ser minimalista. Poucas ações por dia, poucos comícios, pouco folclore, ritmo lento, de passeio, quase blasé.

É verdade que há noites de cerveja e tardes na praia em que o candidato se permite a aparecer e a conviver com quem o procura (aparentemente com genuinidade e objetivamente com talento). Cumprimenta, beija, joga vólei de praia, conversa com mais velhos e mais novos, posa com crianças para a fotografia a pedido dos pais, faz festinhas a cães com autorização dos donos. Tudo isso isso tem existido, tudo isso feito também a pensar no boneco para as televisões. Mas a definição de uma mensagem política ou a escolha de tema pensado para tentar marcar o dia não têm a sido prioridades. A marca Cotrim parece vender-se a si própria, sem grandes adornos. Resta saber se será suficiente.

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