“Milagre! Milagre! Milagre! Milagre!”. Ao final da tarde desta sexta-feira, ouviam-se os primeiros sinais de satisfação por parte das equipas de resgate que, há mais de cinco semanas, procuravam quatro crianças desaparecidas na floresta amazónica colombiana depois de a aeronave em que seguiam se ter despenhado. Numa altura de fortes tempestades, as crianças terão sobrevivido graças aos kits lançados pelo exército colombiano para a floresta na esperança que pudessem ser encontrados pelos irmãos.
Embora desnutridas, as crianças, da comunidade indígena de Uitoto, não se encontravam em mau estado geral de saúde e estavam enroladas em cobertores térmicos quando foram encontradas. Ainda assim, foram retirados da floresta de helicóptero e seguiram para a cidade de San Jose de Guaviare para serem examinadas. Depois, viajaram de avião para a capital Bogotá, tendo sido transportadas em ambulâncias para um hospital local.
Apesar de ainda não serem conhecidos muitos detalhes sobre a forma como os menores sobreviveram na floresta durante estes 40 dias, acredita-se que as crianças se terão alimentado dos kits lançados pelo exército colombiano para a floresta durante as buscas. Estes pacotes de sobrevivência do exército foram largados pela zona para que pudessem ser encontrados pelas crianças e continham água, biscoitos, farinha de mandioca e um isqueiro. Também tinham mantas térmicas, que foram usadas pelos irmãos. Segundo o Guardian, os ensinamentos que receberam no seio da sua comunidade de Uitoto, no sentido de aprenderem a sobreviver na floresta em condições adversas, também podem ter sido vitais, segundo um líder indígena.
Foram encontradas por um grupo de 10 soldados e oito voluntários indígenas. Os menores, todos irmãos, com 13, nove, quatro e doze meses (o seu primeiro aniversário foi a 26 de maio, quando estava desaparecida), estavam numa clareira numa zona remota da Amazónia colombiana. Sobreviveram a fortes tempestades que assolaram esta zona do país — que oferece também outros perigos, como animais venenosos e predadores — e que é patrulhada por grupos armados .
#AEstaHora | El helicóptero #Ángel de la @FuerzaAereaCol evacuó desde la selva a los menores de edad que se encontraban perdidos desde hace 40 días.
Son trasladados a San José del Guaviare, en donde serán atendidos por médicos. ????????https://t.co/EtkhOTplTi pic.twitter.com/ZgW1wnd90j
— RTVC Noticias (@RTVCnoticias) June 10, 2023
O caso dos quatro irmãos, desaparecidos depois de uma aeronave em que seguiam se ter despenhado, levou a uma mobilização de esforços na Colômbia, com o destacamento para o local do exército e a participação de muitos voluntários neste último mês.
Operação de busca mobilizou dezenas de soldados
A 1 de maio, os quatro irmãos seguiam a bordo de um Cessna 206 que tinha partido de Araracuara, no estado do Amazonas colombiano, com destino a San Jose de Guaviare, quando se despenhou numa zona remota do país, depois de o piloto que comandava a aeronave ter emitido um pedido de ajuda devido a uma falha de um motor.
Só duas semanas depois a aeronave foi encontrada, numa zona de floresta densa, na província de Caquetá, 175 km ao sul de San Jose de Guaviare. O acidente ocorreu a 1 de maio, tendo sido encontrados sem vida três adultos que seguiam a bordo. Uma das vítimas mortais era a mãe das crianças, que, à chegada das equipas de socorro, não se encontravam a bordo. No entanto, as buscas no local foram dando sinais de poderiam estar vivas e escondidas na densa floresta, pelo que as buscas seguiram.
Foi nessa altura que a Colômbia deu início a uma operação de busca para tentar encontrar os menores. Foram destacados 50 soldados, auxiliados por 10 cães pastores belga, a que se juntaram cerca 200 voluntários de comunidades indígenas locais. A tarefa não se afigurava fácil: o território a cobrir era muito extenso (mais de 320 quilómetros quadrados) e de floresta densa.
Durante este dias de buscas, os socorristas foram recuperando alguns objetos deixados para trás pelas crianças, incluindo uma garrafa de bebida, uma tesoura e um elástico para um cabelo. Encontraram também um abrigo de paus improvisado.
Perante a falta de resultados da operação de busca, as equipas de resgate decidiram transmitir uma mensagem, gravada na língua Uitoto e pela avó das crianças, e difundida a partir de um altifalante transportado por helicóptero, que pedia às crianças para pararem de se mover na floresta, o que facilitaria as operações.
No entanto, as buscas continuavam a não ser bem sucedidas e a operação Esperança, assim denominada, poderia mesmo acabar sem o resgaste das crianças com vida. Na última quarta-feira, um responsável militar que coordenava as buscas disse acreditar que ainda seria possível encontrar os menores vivos, embora tenha lembrado a dificuldade das operações, uma vez que, acreditavam as autoridades, as crianças continuavam em movimento. “Isso não é uma agulha num palheiro, é uma pequena pulga num tapete”, disse.
As crianças acabaram por ser encontradas e o presidente da Colômbia deu conta disso mesmo de imediato, na sua conta oficial no Twitter. Foi “uma alegria para todo o país”, escreveu Gustavo Petro no Twitter. O chefe de Estado disse que as crianças são um “exemplo de sobrevivência” e previu que sua saga “ficará para a história”.