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FESTIVAL DO AVANTE 2022: Terceiro e último dia do festival do Avante. Contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP (Partido Comunista Português), que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. 4 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
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PCP espalhou desenhos de pombas da paz e cartazes a atacar EUA, NATO e UE pelo recinto

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

PCP espalhou desenhos de pombas da paz e cartazes a atacar EUA, NATO e UE pelo recinto

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

"É uma posição clara, para quem a quer entender". Como o PCP explicou o que pensa sobre o "problema" na Ucrânia

Comunistas marcaram vários debates sobre "paz" e "fim do militarismo" no Avante!. Dizem que Rússia está cercada e EUA e NATO querem guerra. PCP tenta "furar" e passar a sua mensagem.

Ainda não era hora de almoço quando, este sábado, um pequeno canto da Quinta da Atalaia onde se juntavam algumas dezenas de pessoas irrompeu em aplausos efusivos. Não se tratava de nenhum concerto nem era hora de ouvir Jerónimo de Sousa discursar; as palmas eram uma reação a uma simples referência da dirigente Ilda Figueiredo ao artigo 7º da Constituição — o artigo, que o partido imprimiu integralmente no programa do evento, que aponta para o objetivo de assegurar a “paz entre os povos” — e um reflexo do que o PCP queria, afinal, transmitir nesta Festa do Avante!: que está do lado da “paz”, que não apoia a guerra na Ucrânia e que a sua posição sobre a mesma está, afinal, a ser deturpada.

Mas a conclusão de três dias de festa não foi apenas essa e passou, e muito, por estabelecer quem são, afinal, os culpados pela invasão russa da Ucrânia. Nos debates sobre o assunto a que o Observador assistiu, a lógica foi comum: a Federação Russa é que está a ser alvo de um “cerco” e de uma “guerra por procuração”; quem quer continuar a guerra são os “interesses económicos do imperialismo”; e a guerra na Ucrânia funciona apenas como um pretexto para quem quer verdadeiramente “implementar uma política de guerra e de sanções” — Estados Unidos, NATO e a “seguidista” União Europeia.

No meio desta narrativa, em que o PCP se encontra, a nível nacional, isolado, onde fica o partido? Dirigentes e militantes sabem a resposta — em dificuldades. E, por isso, passaram também estes dias de “Avante!” a estabelecer o guião para lidar com essas dificuldades, ou, pelas palavras dos comunistas, a “furar o cerco” e a “ofensiva ideológica”, “desmontar mitos, bloqueios e versões oficiais”, e a tentar passar a sua mensagem. O lema, repetido por vários dirigentes, é claro: “Pelo PCP fala o PCP”. Não há margem para outras interpretações.

“Eles querem lutar até à morte do último ucraniano”

Quando ouviu os aplausos da audiência, Ilda Figueiredo estava a recorrer ao artigo 7º, o mesmo que prevê a “dissolução dos blocos político-militares”, durante um debate “pela paz e pela solidariedade” que decorreu no sábado de manhã, no espaço internacional da Festa do Avante!. E, embora estivesse no papel de moderadora, expressou incompreensão sobre os motivos para não se ter chegado a essa paz na Ucrânia: “Os problemas resolvem-se com negociações e diplomacia. Neste problema da Ucrânia e da Rússia foi assim que eles conseguiram resolver os problemas dos cereais! Não era possível resolver o problema todo?”.

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Foi assim, falando do “problema da Ucrânia”, que a comunista, vereadora no Porto e membro do Comité Central, se foi referindo à guerra no país, concluindo que se esta continua será porque isso é do interesse dos “grandes interesses económicos do imperialismo, como é óbvio”.

Ao seu lado no painel estava sentado Rui Garcia, vice-presidente do Conselho Português para a Paz e Cooperação, que se mostrou em sintonia com a posição comunista — e carregou nas críticas a Estados Unidos e NATO, que acusou de “cercar a Federação russa” e apostar em “provocações e agressividade”.

FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Mais: se já se “ouve falar no envio de mais armas para a Ucrânia”, é porque “eles” — EUA e NATO — “querem lutar até à morte do último ucraniano”, secundados pela UE, que mostra uma “vassalagem por vezes abjeta aos ditames norte-americanos”.

O discurso foi, de resto, alinhado com o do PCP, ao considerar que a guerra não começou no dia 24 de fevereiro — apenas se “agravou”, como diz o partido, em referência ao conflito na região de Donbass que se arrasta desde 2014 — e que o Conselho já condenou o que tinha a condenar, apesar da difícil “barreira mediática” que quem “pensa diferente e olha para os factos” enfrenta.

“É uma posição clara, para quem a quer entender”, arrumou. Enquanto falava, era distribuído pela audiência um panfleto do Conselho, batizado de “Notícias da paz”, com grandes letras negras na capa onde se podia ler um lema: “Paz sim! Guerra não!”.

No folheto de oito páginas dedicado aos “amantes da paz”, dava-se nota de vários desfiles e manifestações contra a corrida aos armamentos e mencionava-se a guerra na Ucrânia apenas uma vez, por entre uma referência global a vários conflitos (“Palestina, Sara Ocidental, Ucrânia, Iémen, Síria, Líbia e Iraque”) que devem parar.

Enquanto isso, um membro da audiência classificava o governo ucraniano como fascista e atirava uma pergunta que ficou no ar, sem resposta: perante isso, não será a invasão russa “suficientemente razoável?”.

FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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A difícil missão de convencer os mais novos

Pouco mais tarde, os jovens da JCP encontravam-se no espaço da Cidade da Juventude, servidos de pratos vegetarianos e imperiais, para discutir sensivelmente o mesmo tema. O estilo foi diferente, as conclusões parecidas: o debate foi sobretudo protagonizado por Francisco Araújo, da Comissão Política da JCP, que envergava uma t-shirt sugestiva (“Karl&Friedrich&Vladimir”, em letras vermelhas), e que criticou a cimeira da NATO em Madrid, “para discutir mais guerra, mais armas, mais destruição”.

O problema, defendeu o jovem como vários outros dirigentes durante os dias na Atalaia, é que a “aposta no fascismo e na guerra da NATO e da UE” surge para “contrariar o declínio” destas instituições, provando o poder do “monstro decadente, mas feroz, do imperialismo norte-americano”. E sugeriu: “Talvez seja útil estudar como a palavra paz foi eliminada, como é que se passou a achar que é impossível”.

A audiência concordava; um dos jovens dizia que seria preciso ter conversas mais demoradas sobre o assunto para compreender a influência da queda da URSS no quadro geopolítico atual; outro, mais sucinto, agarrava o microfone para anunciar que “o Zelensky é um ‘granda’ palhaço”.

Em todo o caso, reconheceu Francisco Araújo, a mensagem não é fácil de passar. “Quantas vezes o inimigo tem outras armas que não temos. Não é um processo imediato convencer os jovens”. E lamentou a “torrente de ofensiva ideológica” a que, assegurou, os jovens estão sujeitos — resistindo por isso a alinhar com o discurso do PCP, na guerra e não só.

FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR FESTIVAL DO AVANTE 2022: o segundo dia de festival do Avante, contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP, que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. Já para o final do dia, Jerónimo de Sousa, líder do PCP (Partido Comunista Português), responde a algumas perguntas à comunicação-social. 3 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Palavra de ordem: “Pelo PCP fala o PCP”

A convicção de que o partido está cercado e sob ataque cerrado é, de resto, parte da narrativa oficial do PCP há muito tempo, mas intensificada particularmente no final dos tempos da geringonça e durante a pandemia, contextos em que o PCP diz ter visto a sua mensagem particularmente deturpada e manipulada.

Durante a guerra, diz o partido, esses ataques ganharam força redobrada — e uma campanha “odiosa”, como chegou a classificar Jerónimo de Sousa, ditou que o PCP ficasse a falar sozinho sobre a guerra na Ucrânia e que a Festa deste ano se visse contagiada pela polémica.

Foi, de resto, a essas questões que o partido dedicou um painel inteiro, que visava, este domingo, distinguir entre “informação e manipulação”. Carina Castro, do Comité Central, passou largos minutos a criticar as “notícias preconceituosas” que lê e vê sobre o PCP, parte de um contexto de uma “ofensiva avassaladora”, e a avisar os militantes para não se deixarem convencer por elas.

Os alertas, que soavam a preocupação, foram claros: “Só estamos preparados para a batalha conhecendo as posições do partido. Pelo PCP fala o PCP. Temos de estar preparados ideologicamente para compreendermos este quadro em que nos movemos”.

Carlos Gonçalves, antigo dirigente responsável pela comunicação, ainda chegou a aflorar o assunto da guerra nesse contexto, mas não se alongou: “Há pseudo-acontecimentos que depois não se confirmam, são criados às paletes pelos Estados Unidos. Mas sobre a Rússia preferia não desenvolver”. De qualquer forma, a conclusão estava lá: as notícias que caracterizam as posições do PCP, incluindo sobre a guerra, são provas de “anticomunismo e pensamento único” — mas serão “derrotadas pela verdade e luta organizada”.

FESTIVAL DO AVANTE 2022: Terceiro e último dia do festival do Avante. Contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP (Partido Comunista Português), que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. 4 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR FESTIVAL DO AVANTE 2022: Terceiro e último dia do festival do Avante. Contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP (Partido Comunista Português), que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. 4 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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A Bielorrússia no Avante: “Pedimos armas nucleares”

O último dia foi ainda marcado por novo painel dedicado a dizer que “não ao militarismo e à guerra”, contando, para isso, com a presença de várias delegações de partidos comunistas internacionais. Começou pela mensagem que o PCP vai reforçando, com o dirigente Ângelo Alves a classificar a guerra na Ucrânia, mais uma vez, como uma “guerra por procuração” que resulta de um “cerco à Federação Russa” (metendo pelo meio críticas à comunicação social e garantindo que na cobertura das eleições da Angola a televisão portuguesa “mais parecia a televisão da UNITA”).

Passou então a palavra a um representante do partido comunista da Bielorrússia, que deixaria algumas das críticas mais corrosivas ao Ocidente e de apoio claro à Rússia. “Pedimos à Rússia para voltarmos a ter no nosso país armas nucleares que tínhamos no tempo da URSS. No mês passado surgiram vários aviões capazes de as transportar”, disse, de acordo com a tradução disponibilizada pelo partido.

E, se isto parecia contraditório com o tema do painel, justificou-se: “Não é por querermos guerra, mas por querermos detê-la, para tentar impedir ingerências da NATO”.

A restante intervenção foi pautada, sem surpresas, por fortes críticas aos EUA, “que ocupam a Ucrânia desde 2014” (uma referência às supostas influências norte-americanas no regime de Kiev), e que levaram não só à sua “militarização e fascização” como também ao “apagar da memória histórica dos ucranianos: “Foi destruído tudo o que tinha a ver com Rússia e URSS e juventude é educada com ódio a tudo isso. Os jovens são levados a destruir monumentos que homenageiam os seus antepassados”, atirou.

O remate seria forte: “Quando a história é muito cruel e nos esquecemos dela, ela faz-se sempre lembrar. Neste momento, fez-se lembrar ao infeliz povo da Ucrânia. Obter a vitória nesta guerra só é possível se nos unirmos, como o povo soviética conseguiu, na vitória sobre o fascismo”. Aplausos convictos. “A nossa causa é justa e a vitória é nossa”. Mesmo que os comunistas ainda estejam a tentar perceber como é que essa narrativa encaixa na opinião pública e no espaço político português.

FESTIVAL DO AVANTE 2022: Terceiro e último dia do festival do Avante. Contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP (Partido Comunista Português), que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. 4 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR FESTIVAL DO AVANTE 2022: Terceiro e último dia do festival do Avante. Contou com vários debates, tanto da joventude comunista, como de militantes e apoiantes do PCP (Partido Comunista Português), que se deslocaram mais um ano até à Quinta da Atalaia, no Seixal. A guerra na Ucrânia é um assunto incontornavel nestes debates, expecialmente por haver opiniões diferentes face à resposta do partido a toda esta situação. 4 de Setembro de 2022 Quinta da Atalaia, Seixal TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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