Vencedores
Isabel Díaz Ayuso e Pablo Casado
Nas autonómicas de maio de 2019, o Partido Popular (PP) foi segundo nas eleições, mas graças a uma geringonça de direita, em coligação com o Ciudadanos e com o apoio do Vox, conseguiu ficar no poder. Dois anos depois, Isabel Díaz Ayuso não só conseguiu duplicar a votação, como levou os populares a conseguir mais votos do que toda a esquerda junta. É verdade que os conservadores ainda vão precisar da abstenção do Vox para governar, porque ficaram a quatro mandatos da maioria absoluta, mas o partido sai reforçado das urnas, com uma vitória clara e arrasadora.
Desde que convocou eleições antecipadas, punindo o Ciudadanos por se aproximar do PSOE em Múrcia, Isabel Díaz Ayuso marcou o tom da campanha, criando o slogan “comunismo ou liberdade”, polarizando a política madrilena e atacando diretamente Pedro Sánchez e Pablo Iglesias. A mensagem convenceu os madrilenos e criou bases para, no futuro, a levar a ambicionar disputar a liderança do PP a nível nacional.
Enquanto isso não acontece, Pablo Casado pode também congratular-se com o resultado que o partido que lidera conseguiu na capital espanhola. Tal como Ayuso, no discurso de vitória, decretou o início do fim do “sanchismo” e ganhou gás para endurecer o discurso contra Pedro Sánchez e subir o tom contra o governo do PSOE e do Unidas Podemos para o resto da legislatura.
Íñigo Errejón e Mónica García
Quando Pablo Iglesias anunciou a saída do governo para concorrer em Madrid, apresentou-se como o candidato capaz de liderar a esquerda madrilena e convidou o Más Madrid para se juntar a uma coligação por si liderada. Mónica García, cabeça de lista do Más Madrid, respondeu que as mulheres estão fartas de fazer o “trabalho sujo” dos homens e de se verem obrigadas a afastar-se nos momentos decisivos. O tempo veio dar-lhe razão, e nestas eleições não só elegeu mais do dobro dos deputados do Unidas Podemos, como conseguiu mesmo ultrapassar o PSOE em número de votos, apesar de ter elegido os mesmos 24 deputados que os socialistas. Com este resultado, o Más Madrid afirma-se como o principal partido da oposição em Madrid.
Conforme disse a porta-voz municipal do partido, verificou-se o “efeito Mónica García”, com a candidata do Más Madrid a conseguir mobilizar, sobretudo, o eleitorado mais jovem, criando boas perspetivas para o futuro, com consequências que poderão revelar-se também a nível nacional, numa eventual reconfiguração da esquerda. Numa altura em que o Unidas Podemos está em queda e o PSOE tenta curar as feridas do mau resultado madrileno, o dissidente Íñigo Errejón, que saiu do Podemos em conflito com Iglesias, tem motivos para sorrir. E bem que pode agradecer a essa campanha excecional de Mónica García.
Vencidos
Pedro Sánchez e Ángel Gabilondo
Se é verdade que a direita governa a capital espanhola há 26 anos, o que por si só já fazia antever uma batalha muito difícil aos adversários, também não deixa de ser um facto que o PSOE ficou muito aquém das expectativas nas autonómicas madrilenas, registando o seu pior resultado de sempre na região e perdendo 13 deputados comparativamente a maio de 2019. O cabeça de lista dos socialistas, Ángel Gabilondo, não se conseguiu impor durante a campanha eleitoral, assistindo sem capacidade de resposta enquanto a sua adversária, Isabel Díaz Ayuso, tornava Pedro Sánchez no adversário principal. O discurso mais moderado não foi eficaz numa campanha eleitoral com uma polarização sem precedentes. Como se não bastasse a diferença abismal para o PP, o PSOE acabou por cair para o terceiro lugar, sendo ultrapassado pelo Más Madrid, o que deixa os socialistas madrilenos a necessitarem de uma rápida reflexão.
Pedro Sánchez, que nas primeiras semanas de campanha fez questão de ir para o terreno para mostrar todo o seu apoio, acabou, sem querer, por ter o efeito contrário. Ofuscou Ángel Gabilondo e expôs-se ainda mais às críticas duras de Isabel Ayuso. Nos últimos dias mudou de estratégia e tentou resguardar-se, mas já era tarde, e a ideia de que os resultados de Madrid não podem ser extrapolados para o panorama nacional são insuficientes. Com o PP moralizado com o resultado esmagador em Madrid, Pedro Sánchez e o seu governo vão estar muito mais pressionados.
Pablo Iglesias
O líder do Unidas Podemos decidiu chegar-se à frente e apresentou-se como o salvador do partido e como o único político capaz de impedir que a extrema-direita chegasse ao poder. Pablo Iglesias, que nunca teve boas relações com Pedro Sánchez, o que resultou num desgaste óbvio na coligação de governo nacional, abandonou assim a vice-presidência para concorrer a Madrid. A intenção era também dar uma nova vida ao partido, que estava em queda livre: surgia abaixo dos 5% nas intenções de voto, o que faria com que ficasse sem qualquer representação parlamentar em caso de novas eleições antecipadas.
A entrada em cena de Pablo Iglesias pode de facto ter ajudado o Unidas Podemos a evitar um resultado humilhante. Contudo, os dez deputados que conseguiu eleger acabam por ser “poucochinho”, tendo em conta a expectativa criada em torno da candidatura do líder do partido. Iglesias, tal como Ayuso, contribiu muito para a polarização do debate, e contrapôs o slogan “fascismo ou democracia” contra o “comunismo ou liberdade” da cabeça de lista do PP. Apesar da forte mobilização eleitoral não conseguiu convencer os madrilenos, e acabou apenas por ser a terceira força política à esquerda (e o quinto partido mais votado), quando se chegou a apresentar como candidato a liderar toda a esquerda. Perante o péssimo resultado, Iglesias anunciou a sua saída completa da vida política e confiou a Yolanda Díaz o futuro do partido que liderou desde a fundação.
Inés Arrimadas e Edmundo Bal
De terceira força política e de membro do executivo regional a partido sem qualquer representação parlamentar. O Ciudadanos atravessa uma crise existencial e os resultados em Madrid foram um desastre para o partido de Inés Arrimadas. O candidato do Ciudadanos, Edmundo Bal, conseguiu pouco mais de 3% dos votos, bem abaixo dos 5% necessários para eleger qualquer deputado, e viu-se totalmente afastado da política madrilena.
A derrota estrondosa em Madrid acontece pouco mais de dois meses depois de uma outra pesada derrota na Catalunha. Mas, se na Catalunha o Ciudadanos viu os seus eleitores fugirem sobretudo para o PSOE, na capital espanhola assistiu-se a uma debandada para o PP. A estratégia de Inés Arrimadas em apresentar o partido ao centro, capaz de dialogar com conservadores e socialistas, ainda não deu frutos e o Ciudadanos está a sofrer as consequências de ter fracassado na sua tentativa de ultrapassar o PP, na ambição de se tornar na força hegemónica na direita espanhola, quando Alberto Rivera ainda era o líder do partido. O Ciudadanos, que já foi a terceira força política em Espanha, terá de entrar em reflexão profunda pois corre o sério risco de desaparecer.
O “nim”
Rocío Monasterio e Santiago Abascal
Durante a campanha eleitoral, com a maioria absoluta a parecer muito difícil para o PP, parecia inevitável que para Isabel Díaz Ayuso governar teria de dar a mão ao Vox. Por um lado, é verdade que este cenário se veio a confirmar, uma vez que o PP ficou a quatro deputados dessa maioria absoluta. Mas, por outro lado, Ayuso conseguiu um feito importante ao alcançar mais votos do que toda a esquerda junta, remetendo o partido de Santiago Abascal para um papel secundário, uma vez que os conservadores passam a necessitar apenas da abstenção da extrema-direita para governar.
Assim, ainda não foi desta que o partido de Abascal passou a integrar um governo (em Múrcia e na Andaluzia tem um acordo parlamentar com o PP). No entanto, Abascal e Rocío Monasterio, cabeça de lista do Vox em Madrid, já confirmaram que vão votar favoravelmente a investidura de Isabel Ayuso, continuando a ter uma palavra a dizer no futuro da política da comunidade de Madrid, embora em posição mais complicada para fazer exigências aos conservadores. Acresce que o partido conseguiu eleger 13 deputados, mais um do que há dois anos. Ou seja, não cresce muito, mas, acima de tudo, não perde, e mantém-se como uma força política importante na região, além de se ver cada vez mais normalizado pelos restantes partidos de direita. O “cordão democrático”, que na realidade já não existia totalmente, deixou mesmo de se aplicar ao partido de Abascal.