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D.R. Sporting CP

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Entrevista a Francisco Salgado Zenha: "Mesmo sem Champions, o Sporting tem de gerar lucro"

Vice e administrador da SAD explica impacto da campanha europeia, mostra confiança no obrigacionista, admite extensão da moratória com os bancos e aborda Amorim, Nuno Mendes, VMOC e Fora de Jogo.

O Sporting está em plena operação de emissão de um empréstimo obrigacionista. Francisco Salgado Zenha, vice do clube e administrador financeiro da SAD, garante em entrevista ao Observador que acredita que a operação será bem sucedida, mas assegura também que não precisa do dinheiro – está a emitir cerca de 30 milhões de euros – para reembolsar o empréstimo que terminava esta sexta-feira (dia em que foi feita a entrevista e que o mesmo foi reembolsado). “Já foi, já tenho o dinheiro na conta”, confidenciou.

Quanto aos VMOC (Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis) acredita, também, que chegará a acordo com os bancos para que a partir de 31 de dezembro deste ano não haja qualquer incumprimento, altura em que termina a moratória conseguida para depositar numa conta reserva dinheiro que se destina a recomprar os títulos. Aliás, o Sporting assume que continua com o objetivo em mente de recomprar os VMOC. Depois disso, ficando com cerca de 90% da SAD, o clube até pode vender uma posição minoritária, mas Salgado Zenha diz que essa será sempre uma decisão que será depositada nas mãos dos sócios.

Não tem ainda o dinheiro para comprar os VMOC, mas está a ser negociado. Para já o encaixe com a Champions deu uma almofada importante financeira, num momento em que a SAD garante estar a caminhar para estabilizar os resultados em níveis positivos. E isso é importante para que o Sporting não dependa, no futuro, das receitas da Liga dos Campeões, como destaca numa entrevista de mais de uma hora onde falou ainda de temas como Nuno Mendes, Rúben Amorim ou a Operação Fora de Jogo.

O Sporting acaba de ganhar ao B. Dortmund, conseguindo provavelmente a melhor receita de bilheteira da época até ao momento, e 12,3 milhões de euros a mais, da vitória e do apuramento para os oitavos de final da Liga dos Campeões. Este valor já estava orçamentado? Já tem destino para ele?
Foi de facto uma grande vitória. Estamos muito satisfeitos. Não tínhamos, naturalmente, orçamentado esta passagem. Não que não confiássemos mas normalmente a área financeira é um bocadinho mais conservadora do que a área desportiva. Sempre tivemos a confiança que poderíamos passar, o que acabou por se confirmar, sendo excelente para aquilo que são os nossos objetivos desportivos, mas também financeiros.

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Naqueles últimos minutos, antes até do 3-1 do B. Dortmund, não lhe passou pela cabeça para onde é que iria este dinheiro?
Nós aplicamos sempre o dinheiro muito bem, Não é por termos uma receita extraordinária que vamos desviar-nos da nossa estratégia base. Passa por aplicar naquilo que são as nossas necessidades, em primeiro lugar. São verbas sempre importantes para financiar a nossa atividade corrente mas também não negamos que [servem] para o investimento, que é isso que temos vindo a fazer nos últimos anos e queremos manter. Não lhe vou dizer já, até porque isso naturalmente ainda passa por uma avaliação do Conselho de Administração, mas naturalmente é um valor que é bem vindo e que será muito bem aplicado.

Pode ouvir aqui a entrevista.

“O Rúben Amorim está tudo sanado” e “pago”

Não vai destinar nada à conta reserva para a recompra das VMOC (Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis)? Não é obrigado a destinar parte para essa conta reserva?
Não. Há uma situação, aliás como está referido no prospeto da emissão obrigacionista, de negociação com bancos, em que estes têm a possibilidade ou de vender a posição deles ou de renegociar.

Já vamos mais em concreto às VMOC, mas parte do encaixe com a Champions não tem de ir obrigatoriamente para a conta reserva?
Não. Desta passagem, não tem de ir obrigatoriamente [nenhum dinheiro] para a conta reserva.

Tendo um orçamento de cerca de 60 milhões de euros, 75% desse orçamento já está coberto só com receitas de Liga dos Campeões, e depois ainda virá o market pool e eventualmente uma passagem aos quartos-de-final. Este era o ano que o Sporting precisava para começar a estabilizar as contas financeiramente, e a partir daí começar, por um lado, a apresentar sempre resultados positivos e, por outro, ter alguma almofada para fazer alguns investimentos ou pagar algumas coisas que vão ficando para trás?
Na verdade o ano para isso era o de 2020/21. Em 2019/20 tivemos um ano excelente do ponto de vista de resultados. Aliás, até um bocadinho contra-corrente porque muitos clubes europeus sofreram logo aí com o princípio do Covid-19. O Sporting também sofreu mas, ainda assim, teve lucro no exercício de 19/20. O que não foi possível foi em 20/21, com a pandemia, dar continuidade a esse caminho. E portanto na verdade o que aconteceu é que houve um adiamento dessa sequência positiva que começou em 19/20. Agora estamos a voltar a esse caminho de resultados positivos. E o que é que foi feito? Numa primeira instância foi feita uma redução de custos, um ajustamento da estrutura de custos dos grupo Sporting.

Festejo do golo (1-0) de Pedro Gonçalves durante o jogo entre o Sporting Clube de Portugal e o Borussia Dortmund no estádio de Alvalade, a contar para a 5ª jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões 2021/22. Lisboa, 24 de Novembro de 2021. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR Festejo do golo (2-0) de Pedro Gonçalves durante o jogo entre o Sporting Clube de Portugal e o Borussia Dortmund no estádio de Alvalade, a contar para a 5ª jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões 2021/22. Lisboa, 24 de Novembro de 2021. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR Festejo do golo de Pedro Porro durante o jogo entre o Sporting Clube de Portugal e o Borussia Dortmund no estádio de Alvalade, a contar para a 5ª jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões 2021/22. Lisboa, 24 de Novembro de 2021. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR Festejo de Pedro Gonçalves com Pedro Porro, Sebastián Coates e Nuno Santos durante o jogo entre o Sporting Clube de Portugal e o Borussia Dortmund no estádio de Alvalade, a contar para a 5ª jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões 2021/22. Lisboa, 24 de Novembro de 2021. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Vitória do Sporting frente ao B. Dortmund, com dois golos de Pote e um de Porro, valeu ao Sporting a segunda qualificação da história para os oitavos da Champions

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Que é à volta de 60 milhões, olhando para o Orçamento deste ano…
A massa salarial é à volta de 60 milhões de euros. Mas o Sporting, e o próprio clube, também reduziu a massa salarial na mesma proporção, cortou entre os 20 e 25% nos últimos dois anos. Desde que entrámos, em setembro de 2018, temos feito esse percurso. Isso não significa que vamos manter a cadência de redução de custos. Pelo contrário. Significa, numa primeira instância, que tínhamos de fazer esse ajustamento, porque considerávamos que só assim podíamos trazer o necessário equilíbrio às finanças do Sporting, mas neste momento estamos sobretudo focados com as receitas. E é isso que tem vindo a acontecer na parte desportiva, que nos tem ajudado, agora com esta passagem na Liga dos Campeões, mas também nas outras áreas de negócio, com o que tem vindo a ser feito do ponto de vista de marketing e que é visível e que se tem refletido também, com os resultados desportivos positivos, nas outras áreas de negócio como o merchadising, em que tivemos um aumento de 20% neste primeiro trimestre, comparado com um ano normal de 2019.

Portanto já não estão a sentir qualquer efeito da pandemia nesta época?
Estamos a sentir efeitos da pandemia, mas mesmo assim nalgumas linhas de negócio estamos a conseguir exceder. Por exemplo o merchadising aumentámos 20% quando comparado com o primeiro trimestre de 2019/2020 em que ainda não havia pandemia. Isto quer dizer que, em termos relativos, este aumento deveria ser ainda maior. Não nos podemos esquecer que no primeiro trimestre deste ano tivemos apenas 50% do estádio aberto. Os 100% do estádio aberto só começou no segundo trimestre, que ainda não tem reflexo. E grande parte da receita do merchadising do Sporting vem do dia de jogo. Isto significa que este aumento poderia ter sido ainda maior e que ainda podemos potenciar mais as receitas. Estamos a tomar medidas para isso, sabemos que é por aí que podemos crescer e algumas das medidas que ainda vamos anunciar vão ajudar a melhorar a performance das receitas.

Que medidas?
Ainda vamos anunciar.

Também do lado dos custos?
Não, do lado das receitas. O que procuramos é melhorar cada vez mais a experiência do sócio e do adepto e otimizar as receitas do negócio que não está diretamente ligado com o que chamamos de futebol, que é a venda dos jogadores e o que se passa dentro de campo. Nós temos duas áreas essenciais de negócio: uma área ligada ao futebol, que passa pela venda de jogadores, e é o modelo que está implementado em Portugal e num país como Portugal; e depois temos o outro lado que é o negócio extra-futebol que está indiretamente associado à performance desportiva e ao futebol que são as outras linhas de negócio comercial, merchadising, a própria bilhética.

"Estamos preparados para estar em ambas as competições, querendo estar sempre na Liga dos Campeões. Se, por acaso, não estivermos, temos hoje uma estrutura flexível e preparada para não estar e ajustar caso não estejamos. Esse para mim é o modelo certo e é o modelo que mais se ajusta àquilo que é o futebol português."

O Sporting não teve sempre um gap demasiado grande em relação ao Benfica e ao Porto ao nível das receitas? Estes clubes conseguem gerar volumes de receitas superiores a 200 milhões e o Sporting sempre teve dificuldade na parte da receita, a não ser os encaixes pela venda de ativos…
Eu não quero estar a comparar demasiado com A e B, mas se olharmos para as contas dos três grandes, a maior diferença – nos últimos anos e nos anos em que uns clubes estavam na Champions League e o Sporting não – passa por aí, pelas receitas das competições europeias. O caso do FC Porto é paradigmático. Mas eu também acho que o modelo de negócio dos clubes portugueses e do Sporting não pode estar assente na participação na Liga dos Campeões. Nós temos de ter capacidade em função de estarmos ou não estarmos na Champions. E foi isso que fizemos. Hoje, ao nível de custos, estamos preparados para estar em ambas as competições, querendo estar sempre na Liga dos Campeões. Se, por acaso, não estivermos, temos hoje uma estrutura flexível e preparada para não estar e ajustar caso não estejamos. Esse para mim é o modelo certo e é o modelo que mais se ajusta àquilo que é o futebol português, porque na Liga dos Campeões como estamos no sexto lugar do ranking temos acesso a dois lugares diretos.

Garante que este ano desportivo e fiscal vai ter resultados positivos e o que está a dizer é que acredita que para a frente também terão mesmo sem Champions?
Acredito que mesmo sem Champions League o Sporting tem de ser capaz de gerar lucro. Mas isso não significa que se perca competitividade.

Com a venda de jogadores?
Provámos isto nos últimos anos. Fizemos ajustamentos na estrutura de custos, concretamente reduzimos massa salarial e não deixámos de ser competitivos por isso. Aliás, tivemos um ano excelente no ano passado não só a nível de futebol, mas também a nível de modalidades. Sabemos que aquele ajuste não ia afetar a competitividade desportiva das modalidades e do futebol, porque não é necessariamente por termos mais atletas a ganhar mais que a equipa vai ser mais competitiva. Temos é de conseguir arranjar o equilíbrio. Este ano de novo, neste caso a nível europeu, estamos a provar que conseguimos ser competitivos com o orçamento que temos.

"Não é necessariamente por termos mais atletas a ganhar mais que a equipa vai ser mais competitiva."

Conseguiu aproveitar a formação na equipa principal. Temos o caso do Nuno Mendes, que já rendeu sete milhões de euros pelo empréstimo. Os 40 milhões são uma obrigação contratual ou são uma convicção da parte do Sporting que o Paris Saint Germain no final da época vai bater a cláusula, o que será mais um jackpot para reforçar a nível de receitas o clube.
Aquilo que há é uma opção por parte do PSG.

Não é obrigatório?
Tem a opção de exercer ou não essa cláusula. Agora, em primeiro lugar o negócio do Nuno Mendes é sempre um negócio interessante para nós, porque emprestar um jogador por sete milhões/ano não é necessariamente um mau negócio para o Sporting. Mas queria voltar um pouco atrás no modelo de negócio da venda de jogadores. Portugal posiciona-se como mercado plataforma e temos de perceber que aquilo que nos permite ser competitivos a nível europeu é sermos esse tipo de mercado. Temos outra forma de nos manter lá em cima, e é isso que estamos a tentar, inclusivamente com a centralização dos direitos televisivos. É tornar o produto português, a Liga portuguesa mais forte, cada vez mais interessante e gerar esse próprio interesse aqui dentro. Mas não é fácil. E isso é um caminho que ainda vai demorar e não nos dá garantias que por si só nos permita ser competitivos. O nosso modelo tem de continuar a passar por aí.

Por vender jogadores?
Vender jogadores… Não há dúvida nenhuma.

De preferência da formação?
Temos uma coisa que estamos a fazer cada vez mais e o Sporting está a conseguir cada vez mais, que é mitigar a dependência da venda de jogadores. Reduzindo cada vez mais o défice operacional sem venda de jogadores. Arrisco-me dizer que, com esta participação na Liga dos Campeões, provavelmente acabamos este ano com um lucro operacional sem venda de jogadores. Esse é o caminho que temos de trilhar, sabendo que a venda de jogadores permite-nos sempre, curiosamente, ser mais competitivos. Porque nós podemos vender um ou dois jogadores, mas somos capaz de gerar jogadores com potencial tão grande como aqueles que vendemos, e além disso fazemos retorno financeiro. E voltando aos jogadores de formação, para dar um número que é auto-explicativo, nos últimos dez anos o Sporting fez 50% das vendas em jogadores de formação. Obviamente que temos consciência que os jogadores de formação são aquilo que nós mais capacidade temos de criar valor e para nós isso é óbvio são os jogadores da formação que nos permitem mantermos a nossa identidade.

"Nos últimos dez anos o Sporting fez 50% das vendas em jogadores de formação. Obviamente que temos consciência que os jogadores de formação são aquilo que temos com mais capacidade para criar valor e são os jogadores da formação que nos permitem manter a nossa identidade."

Há também um movimento novo que já explicou que teve impacto nulo nas contas que é a transação do Rodrigo Fernandes para o Porto e da chegada do Marco Cruz. Cada um custou 11 milhões de euros. Na verdade o Marco Cruz fica como a terceira maior compra de sempre da SAD. Tem impacto nulo nas contas do Sporting, mas também tem impacto nulo nas contas do FC Porto – por norma poder-se-á fazer um movimento onde aquilo que se compra é diluído pelos anos de contrato e aquilo que se recebe entra num só exercício? O Sporting já percebi que não fez isso, ao dizer que teve impacto zero, é possível os outros clubes também fazerem isso? E o que é que acha sobre isso?
Terá de perguntar ao FC Porto…

Não é um caminho perigoso de estar a empurrar problemas para a frente?
A nossa gestão e a nossa forma de trabalhar é tentar fazer aquilo que consideramos o mais acertado do ponto de vista financeiro e contabilístico, porque aquilo que tem sido, e vai continuar a ser, a nossa bandeira é transparência, credibilidade e que o report financeiro seja o mais preciso e realista possível. É assim que trabalhamos. Nós reportámos as contas trimestrais, que não são auditadas, mas fizemos questão de rever as contas com o nosso auditor e os temas que possam ser mais sensíveis ou suscetíveis de haver interpretações diferentes. E estamos completamente confortáveis, inclusivamente para efeitos do empréstimo obrigacionista fizemos uma revisão limitada com o auditor. E o que fizemos no caso do Marco Cruz e do Rodrigo Fernandes é o mais prudente possível, porque o impacto nos resultados foi literalmente zero.

Mas fala só da parte do Sporting.
Eu não sei da parte [do FC Porto], até porque julgo que ainda não apresentaram contas [primeiro trimestre de 2021/22]. Não sei o que foi o reconhecimento ou o registo em termos contabilísticos da parte do FC Porto. Da parte do Sporting foi este e estamos confortáveis com o que fizemos.

Se o Jovane Cabral tivesse sido vendido no último dia do mercado esta operação fazia-se na mesma?
Uma coisa não tem a ver com outra. Eu digo convictamente que se faria na mesma. Esta acabou por ser uma decisão essencialmente desportiva. Houve uma decisão técnico-desportiva.

O negócio foi apresentado ou o Sporting é que foi à procura?
A mim foi-me apresentado pela estrutura de futebol e, portanto, como é habitual, em termos de procedimentos internos, acabámos por validar essa operação que fazia sentido com o suporte na informação que tínhamos e no parecer que tínhamos da estrutura de futebol. Ainda hoje acreditamos que o ativo que recebemos é mais interessante para nós do que aquele que cedemos. E isso é que foi crítico nesta decisão. Acabámos por ter um jogador mais novo, capitão de equipa dos escalões de formação do FC Porto, e que tinha um perfil que se enquadrava melhor naquilo que procurávamos, do que o jogador que saiu e que já não estava a conseguir adaptar-se àquilo que procurava o treinador, provavelmente. A decisão acabou por ser essa. Obviamente nós não damos um jogador como o Rodrigo Fernandes, e portanto temos de o avaliar, e aqui entra obviamente a necessidade de fazer uma avaliação do ativo e com isso trabalhamos comparáveis, em históricos, em opções do passado, inclusivamente em avaliações que já tínhamos feito anteriormente do jogador. O que temos de garantir é que quando fazemos uma avaliação temos substância para avaliar e tentamos avaliar aquilo que consideramos razoável. Sendo que esta avaliação, como disse, não tem impacto nenhum do ponto de vista de resultados, portanto até nesse caso é inócua.

epa09192611 Sporting Lisbon's head coach Ruben Amorim celebrates the Portuguese First League title after defeating Boavista FC in their match held at Alvalade Stadium, Lisbon, Portugal 11 May 2021.  EPA/ANTONIO COTRIM

Rúben Amorim ganhou a Taça da Liga, o Campeonato (quebrando o maior jejum do clube) e apurou equipa para os oitavos da Champions

ANTONIO COTRIM/EPA

Em relação a Rúben Amorim, depois dos atrasos que existiram no pagamento, está tudo sanado. Porque quanto é que afinal ficou Rúben Amorim ao Sporting?
O Rúben Amorim está tudo sanado. Não vou entrar em detalhes de valores porque isso é informação que tem de ficar entre o Sporting e o Sp. Braga…

Não tem de ser publico esse valor, dado que é significativo?
O que tem de ser publico é o que está nas contas. E portanto aquilo que não quero é estar a remexer no tema, porque já ouvi disparates completos.

Por isso pode dizer…
Acho que é uma informação que é entre o Sporting e o Sp. Braga, e acho que deve ficar dessa maneira. Foi uma operação feita por dez milhões de euros, como é conhecido, e depois houve uma negociação com o Sp. Braga que implicou um pagamento de juros na altura muito razoável, que acabou por ser interessante também para nós, em que pagámos juros até inferiores àquilo que teríamos no mercado financeiro e portanto foi uma operação que nos permitiu num momento muitíssimo difícil suspender o pagamento, porque entrámos num choque económico e numa pandemia em que estávamos completamente no escuro. O Sporting ficou sem receitas nenhumas, até os direitos de televisão foram suspensos naquela altura.

O Sporting e todos os outros clubes, incluindo o Sp. Braga…
E os outros todos. Foi comum no mercado europeu começar a haver suspensão de pagamentos. Nós também tivemos clubes que nos deixaram de pagar, porque ficou tudo agarrado às almofadas de liquidez que tinha até perceber o que ia acontecer. Portanto, houve uma alteração de circunstâncias brutal e foi a decisão na altura, mas houve sempre conversas regulares com o Sp. Braga, não houve propriamente ausência de comunicação, pelo contrário, e foi sempre no sentido de sanar esse tema. Foi sanado e resolvido. E está hoje totalmente pago.

"Amorim? Também tivemos clubes que nos deixaram de pagar, porque ficou tudo agarrado às almofadas de liquidez que tinha até perceber o que ia acontecer. Portanto, houve uma alteração de circunstâncias brutal e foi a decisão na altura, mas houve sempre conversas regulares com o Sp. Braga, não houve propriamente ausência de comunicação, pelo contrário, e foi sempre no sentido de sanar esse tema. Foi sanado e resolvido. E está hoje totalmente pago."

Esta semana a imprensa italiana dava conta de que a Sampdoria terá vencido o processo apresentado na FIFA pela questão do Bruno Fernandes. O Sporting já foi notificado de alguma coisa, nomeadamente dos 5,5 milhões que já é falado a pagar em quatro prestações?
Isso é uma coisa que já vem de trás, é um tema que ainda está a ser discutido.

Ainda não há uma decisão final sobre isso?
Está a ser discutido. Há apenas uma decisão parcial, nem sequer é total. É um tema que está a ser discutido, de qualquer maneira independentemente do resultado que venha a sair daí, isso está totalmente provisional, tem impacto zero nas contas.

Em relação ao contrato com a Betano, quanto é que o Sporting recebeu adicionalmente deste contrato de patrocínio.
Isso é informação confidencial, não vou partilhar. Mas posso dizer que o contrato com a Betano vem por via da Nos. No fundo houve uma substituição de um patrocínio por outro.

Não é um valor material que tenham de revelar?
Não. E é um acordo que é feito com a Nos.

O Sporting teve um ligeiro acréscimo em termos de dívidas a fornecedores. É estruturalmente um mau pagador ou conjunturalmente um mau pagador?
Eu não considero o Sporting um mau pagador. Acho que o Sporting passou por um momento difícil em 2018, que é do conhecimento público, e desde aí tem feito um esforço muito significativo e hoje apresenta-se numa situação saudável. Tem cumprido com todos os pagamentos com os clubes, tem renegociado pagamentos e trabalhado bem com os fornecedores, tem naturalmente picos em função daquilo que foi a pandemia e num período em que o Sporting perdeu 30 milhões de euros. Portanto o que nós trabalhámos durante este período foi a renegociação de pagamentos, mas diria que o aumento [da dívida] aos fornecedores foi muito ligeiro. O que é que isso significa? Significa que, durante os próximos anos, incluindo este, a tendência será garantidamente haver reduções no passivo com os fornecedores, dado que estamos a normalizar o nível do lado das receitas.

Há um tema que está a marcar a semana que é a operação Fora de Jogo. O Sporting está fora deste âmbito, que já apanhou quase metade dos clubes da primeira Liga. É uma questão que está a preocupar o Sporting até pelo impacto que poderá ter no campeonato? E acha normal isto estar a acontecer nesta altura e sobretudo estar a mexer-se tanto nos circuitos de dinheiro até mais do que o dinheiro que o futebol vem movimentando?
Acho que é importante salientar que o Sporting está fora desse jogo…

Garantidamente pode assegurar que está fora?
Do nosso lado estou completamente confortável para dizer que estamos fora desse jogo. Aliás uma das coisas que temos incentivado, e eu não estou aqui a acusar ninguém, pelo contrário, é que não haja impunidade no futebol. O pior é haver uma sensação de que o setor do futebol é diferente, à parte, e reputacionalmente diferente, para pior, de outros setores. Isso não pode ser. Aquilo que temos de garantir é que as pessoas olham para o setor do futebol como um outro setor qualquer, importante para a economia portuguesa, importante para a cultura portuguesa, para todos os efeitos o desporto é fundamental para a sociedade portuguesa, e portanto não queremos que o futebol seja visto pelo lado negativo, mas pelo lado positivo. Se for necessário, que haja este tipo de intervenções e que se garanta que com isto haja uma limpeza, que até pode significar que nada aconteça a ninguém, ou a nenhum clube. Temos de garantir é que colaboramos todos com a justiça, e que o futebol colabora com a justiça e que o futebol está aberto a receber a justiça e a fazer o melhor para limpar a imagem do futebol. Isto já foi feito noutras jurisdições, noutros países, noutras organizações como a FIFA e a UEFA e portanto Portugal não é diferente, está a fazer o seu caminho e o que queremos é que daqui para a frente seja cada vez melhor, e aquilo que pedimos é que a justiça seja célere.

"Do nosso lado estou completamente confortável para dizer que estamos fora desse jogo [Operação Fora de Jogo]. Aliás uma das coisas que temos incentivado, e eu não estou aqui a acusar ninguém, pelo contrário, é que não haja impunidade no futebol".

Também tem impacto na capacidade de atrair novos investimentos? Sente isso quando fala com os parceiros, que acaba por poder minar a confiança que existe em possíveis sponsors para o futebol?
Não. Obviamente que estas notícias não são positivas, no imediato, mas quem tem visão e preocupação em estar no futebol no médio e longo prazo vê que estas situações acabam por ser positivas, porque acabam justamente por garantir que não há impunidade no setor e neste caso no mercado português e que depois deste tipo de operações há maior transparência e credibilidade no futebol português. É isso que se tem de procurar. Acho que verdadeiramente importante aqui é que a justiça seja célere, que faça as intervenções que tem de fazer mas que seja célere que é para depois darmos o passo seguinte e entrarmos num período de estabilidade do setor, que é fundamental para nós e é fundamental até na credibilidade dos nossos parceiros nomeadamente internacionais relativamente ao nosso mercado.

Desde 2018, apenas e só, as autoridades foram uma vez fazer buscas a Alvalade, relacionado com o caso da Holdimo. O Sporting chegou a ser ouvido de alguma forma nessa investigação? Constituiu-se assistente no processo?
Não. O Sporting não foi ouvido, e que eu tenha conhecimento não houve mais evolução desde aí. De qualquer maneira o Sporting não é arguido nem tem nada que ver com esse processo. O que aconteceu, daquilo que sabemos, é relacionado com tudo o que se passa à volta do Grupo Espírito Santo e o envolvimento com uma série de empresas em todos os setores de atividade. O Sporting também colaborou com a justiça na informação que foi pedida pelas autoridades e nada mais do que isso. Portanto, estamos confortáveis que colaborámos em tudo, e prestámos toda a informação e até agora não tivemos mais nenhuma.

A Holdimo é um acionista interventivo?
Não. Não é um acionista intervertido. O Sporting Clube de Portugal tem a maioria do capital da SAD e portanto acaba por tomar todas as decisões. Aliás, a Comissão Executiva é composta totalmente por membros do Conselho Diretivo do clube, e portanto a resposta direta é não.

Em relação aos VMOC (Veículos Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis), como é que estão as negociações com os bancos?
As negociações continuam a decorrer, não há ainda nenhuma conclusão. Aquilo que para nós é fundamental é que o grupo Sporting tem a possibilidade de recomprar os VMOC até dezembro de 2026, e isso para nós é muito importante e é o foco deste Conselho Diretivo é garantir que isso acontece dentro desse prazo.

"Aquilo que para nós é fundamental é que o grupo Sporting tem a possibilidade de recomprar os VMOC até dezembro de 2026, e isso para nós é muito importante. O foco deste Conselho Diretivo é garantir que isso acontece dentro desse prazo."

Mas a conta reserva não está a ser depositada nos valores acordados. Como é que vão resolver o caso a partir de 31 de dezembro de 2021?
A conta reserva não foi depositada durante o período de Covid.

Tiveram uma moratória até 31 de dezembro de 2021. Estão a negociar uma nova moratória com os bancos, ou a compra dos VMOC?
Neste momento não posso entrar em detalhe sobre o que está a ser negociado, até porque ainda não está minimamente concluído. Com uma moratória a acabar a 31 de dezembro tem de se tomar uma decisão em conjunto com os bancos do que se vai fazer no momento subsequente. O conforto que temos, e isso temos transmitido, é que temos uma excelente relação com os bancos, tem sido muitíssimo construtiva sempre, inclusivamente os bancos, ambos – o BCP e o Novo Banco, através do Banco Best – têm estado a participar na colocação obrigacionista e portanto isso é um sinal de que a nossa colaboração continua e que há vontade.

O Novo Banco não é colocador da emissão.
Através do Banco Best.

Mas o Banco Best tem gestão autónoma. Não é o Novo Banco que é o colocador.
Não estou a dizer que é.

Portanto, as coisas estão mais difíceis com o Novo Banco do que com o BCP?
Não necessariamente. Julgo que a decisão do Novo Banco tem a ver com o facto de também não ter participado nas outras emissões dos outros clubes, é uma decisão apenas estratégica. Aliás, temos dez bancos a colocar este empréstimo obrigacionista. As moratórias foram muito comuns num período difícil como foi este. O Sporting tem feito, desde a reestruturação de 2014, um esforço muito grande e amortizou uma parte significativa da dívida. Aquilo que posso dizer, e estou confortável para o dizer, é que a reestruturação de 2014 foi bem sucedida. Mas é um acordo que já está bastante desatualizado, e está assente em mecanismos que já não fazem especial sentido. Por exemplo, o tal excesso de venda de passes, [estabelecido] num momento em que o futebol e o volume de transferências do futebol tinha valores completamente diferentes daqueles que tem hoje, porque houve uma inflação brutal no mundo do futebol, sobretudo em 2017, com a venda do Neymar, em que houve um crescimento do volume de transferências  a nível mundial de sensivelmente 40% e portanto é óbvio que esse acordo, em alguns mecanismos, está desatualizado. Fizemos uma atualização em 2019. Ainda assim, aquilo que vamos procurando, é sempre ir fazendo mais ajustamentos para ir corrigindo alguns mecanismos que estão mais desajustados. Estamos numa situação em que pedimos uma moratória e estamos a negociar com os bancos, mas, em termos essenciais, as conversas com os bancos – posso dizer que desde 2014, embora nós só tenhamos entrado em 2018 – foram sendo construtivas ao longo destes anos e sempre no sentido de ir ao encontro do que era bom para ambas as partes. E acho sinceramente que tem acontecido.

Francisco Salgado Zenha admite que, após recompra dos VMOC, Sporting possa negociar participação minoritária da SAD caso seja o desejo dos sócios

PEDRO_ROCHA

Era importante recomprar as VMOC até final do mandato, em termos de projeto de mandato. Em março/abril vai haver eleições, era uma bandeira importante, ou não é um assunto necessariamente vital?
Nós não nos movemos por razões políticas, movemo-nos para tentar fazer o melhor para o Sporting. E o melhor é comprar os VMOC, e quanto mais depressa melhor. Temos consciência disso. Nós clube queremos ter uma maior participação no capital da SAD, o mais depressa possível. Agora, temos de fazê-lo dentro das nossas possibilidades e sem pôr em causa tudo o resto. Temos de ter cuidado para não pôr em causa o projeto e a estratégia que estamos a definir para o grupo Sporting, a nível financeiro e competitividade desportiva, que por sua vez vai permitir melhores resultados financeiros. E temos de ter essa capacidade. Para ter essa capacidade temos de criar condições para a ter. Obviamente durante a pandemia não nos foi possível comprar os VMOC.

Como é que vão conseguir o dinheiro para comprar os VMOC? E os 30 cêntimos que estão acordados podem baixar?
Tudo pode baixar se for negociado.

Mas é esse o ponto da negociação? Tentar baixar os 30 cêntimos?
Não vou entrar em detalhes de negociações até porque não é o momento para isso. Tanto nas negociações passadas como nas conversas que vamos mantendo, a ideia é sempre arranjar uma forma que seja interessante para ambas as partes. Que os bancos tenham o reembolso o mais depressa possível e o máximo possível e o Sporting tenha as condições para continuar a desenvolver a sua atividade com maior capacidade possível. Não quero ser demasiado ambíguo ou vago nesta resposta, mas é um tema em que não posso entrar em mais detalhe, aliás já comunicamos isso no prospeto. Terá de acontecer alguma coisa naturalmente até dezembro, procuraremos resolver isso até dezembro, já aconteceu no passado não se resolver, se for o caso poderemos ter extensões de moratórias.

Está mesmo convencido que consegue extensão da moratória e que não vai entrar em nenhum tipo de incumprimento?
Obviamente estou convencido que não vai haver [nenhum incumprimento]. Mas tenho de ter cuidado, não posso nesta fase estar a entrar em mais detalhe, os riscos estão explicados no prospeto. A moratória acaba a 31 de dezembro, e se não tivéssemos a convicção de que tudo se resolveria até lá provavelmente não estaríamos a emitir o empréstimo obrigacionista, é óbvio que temos essa convicção, estamos convencidos que podemos conseguir nos prazos previstos. No cenário de, por alguma razão, demorar um bocadinho mais, penso que há sensibilidade, como houve no passado, por parte dos bancos numa lógica construtiva de dar mais tempo para se chegar a um entendimento.

Já foi noticiada a possibilidade de haver um acordo de financiamento com a Apollo. O que está a ser negociado com a Apollo? A Apollo pode ser um financiador do Sporting para comprar os VMOC?
Nós temos uma titularização feita em 2019 e a nossa ideia é que os parceiros com quem nós trabalhamos, nomeadamente os financeiros, sejam dinâmicos, não parceiros fechados. Os bancos já manifestaram que querem sair do setor do futebol, o BCP até já o disse publicamente, e por isso não procuramos ter um credor que está fechado à possibilidade de continuar a trabalhar com a empresa, neste caso com o Sporting. Preferimos trabalhar com uma instituição de crédito, neste caso um investidor, que fez a titularização em 2019, do que com alguém que depois não quer dar seguimento. Há a possibilidade de podermos utilizar um parceiro que já trabalha connosco, sempre numa lógica de ser financiador e não mais do que isso. É sempre numa lógica de crédito.

"Temos uma titularização feita em 2019 e a nossa ideia é que os parceiros com quem nós trabalhamos, nomeadamente os financeiros, sejam dinâmicos, não parceiros fechados. Os bancos já manifestaram que querem sair do setor do futebol, o BCP até já o disse publicamente, e por isso não procuramos ter um credor que está fechado à possibilidade de continuar a trabalhar com a empresa. Preferimos trabalhar com uma instituição de crédito, neste caso um investidor, que fez a titularização em 2019, do que com alguém que depois não quer dar seguimento."

E em que montantes é que a Apollo podia entrar agora?
Isso depende de muitas coisas. Isso depende das nossas necessidades e não está definido.

Tinha acabado de chegar, ainda não era vice-presidente, não tinha ainda havido eleições, e falava numa entrevista de estar completamente posto de parte por uma questão clubística do Sporting deixar de ter a maioria da SAD. Ou seja, as pessoas não estavam preparadas para perder a maioria. Depois de quase um mandato, do ponto de vista financeiro e mais institucional, sente que estão criadas as condições para se pensar de outra maneira em relação a algum dia poder haver um acionista maioritário que não o Sporting?
Acho que o crítico e é nisso que estamos focados é comprar os VMOC. Nem nós, Conselho Diretivo, nem os sócios estariam à espera de outra coisa. A partir do momento em que o clube compre os VMOC fica com uma participação muito grande, próxima de 90%, no capital da SAD e aí terá de tomar decisões. Não está nenhuma decisão tomada. É uma coisa que tem de ser falada com os sócios. O nosso entendimento é que manterá sempre a maioria do capital da SAD, mas pode haver a possibilidade, caso faça sentido e caso os sócios queiram, isso será sempre uma decisão dos sócios, de poder vender uma parte minoritária, caso isso permita e se traduza em maior capacidade de investimento por parte do clube e que gere valor para o clube.

Admite vender quase até 40%, ficando com os 50 mais um, que é algo que não muda.
Não será o Conselho Diretivo, muito menos eu, que vai decidir aquilo que os sócios querem. Os sócios é que tomarão a decisão. A convicção que temos é que os sócios podem estar dispostos, como estiveram no passado, a vender uma minoria do capital da SAD se isso, e caso contrário nem este Conselho Diretivo fará qualquer proposta, permitir maior capacidade de investimento e se tiver um propósito de criação de valor para o clube.

"A partir do momento em que o clube compre os VMOC fica com uma participação muito grande, próxima de 90%, no capital da SAD e aí terá de tomar decisões. O nosso entendimento é que manterá sempre a maioria do capital da SAD, mas pode haver a possibilidade, caso faça sentido e caso os sócios queiram, e isso será sempre uma decisão dos sócios, de poder vender uma parte minoritária

Podem comprar os VMOC de apenas um dos bancos?
É um tema que é possível comprar parte dos VMOC, portanto diria que sim. Os VMOC podem ser comprados de forma gradual, parcial, essa hipótese obviamente existe.

Está já a falar muito de um médio prazo. Imagino que não vá confirmar aqui uma recandidatura à presidência, ainda não foi feito por ninguém, mas existe esse projeto? Olhando para o curto prazo esta emissão obrigacionista como está a correr e se pensa que poderá chegar aos 50 milhões que foi aprovado em Assembleia Geral da SAD?
Só dar uma nota. A convicção é que vai correr bem.

Pensava que ia dar a nota sobre a recandidatura…
Essa vou saltar por razões óbvias. Em relação à OPS (Oferta Pública de Subscrição, ou emissão de obrigações) que estamos a comercializar, a nossa convicção é que vai correr bem, acho que é a convicção dos também dos bancos porque senão não emitiriam. Quem emitiu há três anos nas condições que emitimos e levantámos 26 milhões de euros…

Mas não conseguiram os 30 milhões que então eram pretendidos.
Emitimos quase 26 milhões de euros num contexto… No dia em que começámos a comercializar o ex-presidente foi constituído arguido, depois do cenário que tinha acontecido naquele verão. O contexto da altura comparado com o contexto de hoje é completamente oposto. E por isso a nossa convicção é que este corre muito melhor. Agora, os 50 milhões foi apenas uma deliberação numa assembleia-geral que dá flexibilidade ao conselho de administração de emitir nesse valor num ou mais empréstimo obrigacionistas durante o exercício inteiro. Esse é sempre um valor que procuramos para nos dar alguma almofada para o fazer. A probabilidade de o fazermos é muito baixa, não porque não achamos que não vai correr bem –porque achamos que vai correr bem – e possivelmente até podemos vir a conseguir esse valor, mas porque à partida não necessitamos de fazer esse valor. Mais do que necessitar, não queremos fazer esse valor porque queremos manter-nos no mercado obrigacionista, mas não queremos estar excessivamente [expostos] ao mercado obrigacionista. Queremos ter apenas uma emissão viva, não pretendemos fazer mais do que uma, e não queremos fazer emissões demasiado grandes.

Se o contexto era diferente, a taxa de juro não podia ter baixado um bocadinho?
Não escondo que foi uma possibilidade baixar a taxa de juro até olhando para os comparáveis. E tivemos outros clubes a emitirem com taxas mais baixas. Não o fizemos porque tivemos a preocupação de dar a confiança ao mercado. Depois do adiamento de 2015 quisemos dar credibilidade ao mercado. Fizemos em condições difíceis em 2018 e reembolsámos o anterior, e agora quisemos passar essa mensagem de que vamos reembolsar o anterior sem estarmos dependentes desse dinheiro.

Que é cerca de 26 milhões.
Já foi reembolsado. Já tenho o dinheiro na conta. Portanto, não estamos dependentes do dinheiro do empréstimo, e quisemos manter a taxa para dar força e incentivar o investidor.

Isso não dá a ideia de que há ainda um risco Sporting?
Julgo que não. Acho que o investidor deve fazer duas coisas: um ver o risco do emitente, e temos um prospeto que acho que está muitíssimo detalhado, relativamente a isso, e recomendo sempre que o façam, e deve olhar também para aquilo que é a situação financeira da Sporting SAD e fazer a comparação com os nossos concorrentes. O Sporting está numa situação em relação a alguns dos concorrentes muitíssimo boa. E portanto acho que a taxa de juro, olhando para aquilo que está a ser praticado no mercado, é um prémio muito interessante. Mais depressa acho que a taxa devia estar mais baixa do que mais alta, disso tenho poucas dúvidas, mas quisemos dar a taxa que nos dá conforto de que as pessoas e o investidor terá mais interesse e gere mais interesse. Aquilo que nós queremos muito é que este empréstimo obrigacionista seja um sucesso, seja um sucesso enorme, em que haja muita procura e que nos permita mostrar a força daquilo que é o Sporting hoje, sobretudo em comparação com aquilo que foi há três anos.

Mas não indo aos 50 milhões pode ir um pouco acima dos 30 milhões, isso seria um sucesso enorme ou está só a falar da procura?
Estou sobretudo a falar da procura. Depois em função da procura podemos emitir mais ou menos. Menos não vamos emitir, mas podemos emitir mais.

Só se correr mal.
Só se corresse mal, mas estou confiante que vai correr bem. A minha convicção é a de que haverá mais procura do que há três anos. Se isso acontecer, e acontecendo, temos de tomar a decisão se aumentamos ou não, e em função da procura iremos aumentar ou não. Não iremos aumentar porque sim. Aquilo que procuramos é aumentar em função da procura. Garantir os 30 milhões e aumentar em função da procura.

Salgado Zenha, aqui com o presidente Frederico Varandas e o também vice João Sampaio, conseguiu apenas ver aprovado o Relatório e Contas e o Orçamento do clube à terceira tentativa

Carlos Costa

Passando uma vista de olhos pelas contas do clube, não havendo orçamento na época passada, imagino que tenha estado a ser gerido em duodécimos, no clube também sente essa solidez que começa a sentir na SAD, em termos de contas, ou seja poderá continuar a aposta nas modalidades que tem vindo a ser feita?
Sim. O que fizemos no clube nos últimos três anos, e muito na linha do que fizemos com a SAD, foi corrigir alguns desequilíbrios que existiam, porque, apesar do clube ter sucessivamente resultados positivos, até porque isso é estatutário, tinha um défice de cash flow operacional regular, desde 2016, sobretudo por causa do investimento muito grande que houve nas modalidades. Não queremos ter só equilíbrio contabilístico, queremos também ter equilíbrio de caixa, de cash flow, e foi essa a grande preocupação neste últimos anos. No primeiro ano não tivemos, infelizmente, hipótese nenhuma de intervir, porque grande parte dos gastos do clube vem do pessoal, dos salários dos atletas, e tinha havido um investimento brutal ainda durante 2018 para a época 18/19. Quando chegámos deparámo-nos com uma estrutura de custos enorme, brutal, e tentámos reduzir os custos procurando aumentar as receitas. Agora estamos a fazê-lo. Estamos a seguir o modelo, e que foi seguido também pelo João Rocha, de por o foco muito nas inscrições das modalidades, que é uma das linhas de receitas que mais tem no clube.

Natação e ginástica sobretudo.
Batemos recorde nas quotas no ano passado em termos de cash flow, cerca de nove milhões de euros, e estamos hoje com o recorde de sócios pagantes, acima dos 86 mil. Nas quotas já estamos a bater recordes, não quer dizer que não consigamos crescer mais; e nos patrocínios e publicidade estamos em valores muito interessantes mas temos noção do que o futebol atrai mais patrocinadores do que as modalidades. Estamos a trabalhar nesse sentido, há algum potencial que ainda estamos a desenvolver, mas depois há sobretudo as inscrições nas modalidades. Um clube da dimensão do Sporting tem de ambicionar crescer mais do que ter receitas nessa linha superior a 1,5 milhões que tem no ano sem Covid. E é muito aí que estamos a focar.

Mas depois têm infraestruturas para isso?
Estamos a criar infraestruturas. Fizemos um investimento importante no Multidesportivo. Estamos a criar espaços fora do estádio para poder ter mais oferta e achamos que com o aumento dessa linha vamos poder cobrir este gap que tínhamos de cash flow operacional. Eu diria que, no próximo ano, no máximo em dois anos, conseguimos entrar no break even para o lucro operacional, do ponto de vista de caixa também, não só de resultados contabilísticos.

Antes da última Assembleia Geral foi feito um comunicado que explicava que uma das razões pelas quais os sócios deviam ir votar no Orçamento e no Relatório e Contas tinha a ver também com problemas que o Sporting ia encontrando junto das entidades por não ver esses relatórios e contas aprovados, e foram chumbados duas vezes. Que tipo de problemas existiram, tendo em conta que o relatório e contas, chumbado ou aprovado, é sempre o mesmo, ao contrário do orçamento que pode ser alterado? Que tipo de problemas é que o Sporting foi encontrando por ter esses relatórios chumbados?
Vou dar um exemplo. No acordo com os bancos está previsto que o Sporting apresente Relatórios e Contas consolidados. Não conseguimos apresentá-lo se há umas contas individuais que não estão aprovadas.

Mas pelos vistos conseguiram na mesma os waivers [moratória], portanto não houve um problema nesse caso.
Tudo bem, mas não estou a dizer que neste caso não tenha conseguido o waiver e que não haja flexibilidade. Não podemos olhar para o Sporting como um partido político. O Sporting trabalha num setor cujos concorrentes são maioritariamente privados. Há poucos clubes europeus que têm formatos de associação como tem o Sporting. E para nós termos sucesso no formato que queremos e temos, temos de adaptarmo-nos a este mercado, e adaptarmo-nos não pode ser estar a votar contra um report financeiro auditado porque não gostamos politicamente da Direção. Temos de perceber que este tipo de decisões, que são decisões dos sócios, dos associados, têm de ser decisões responsáveis. Porque nós sócios, e eu também sou sócio, somos os donos  do clube e portanto devemos tomar decisões responsáveis relativamente a temas que são de enorme importância. E um parceiro lá fora, que pode não ter conhecimento de como funciona do ponto de vista de governance o clube, pode não gostar de ver umas contas chumbadas e não percebe porquê e vai questionar, porque normalmente quando umas contas são chumbadas é porque há irregularidades. Aquilo que temos de evitar é criar este ruído que é negativo para o clube. Tenho noção do que é ser dirigente de um clube de futebol e até da componente mediática e política que tem, mas há momentos para o ser e momentos para o não ser. E no de report de umas contas, que é uma fotografia do que já se passou, que é auditada, que não tem irregularidades, não é responsável votar contra. Independentemente de aceitar que a decisão do sócio tem de ser respeitada e há democracia, e nós respeitamos. Agora, não posso concordar com voto contra a um report auditado pela EY que não tem qualquer irregularidade e mais tem redução de custos com sucesso desportivo. O que é que se pode conseguir mais? Portanto, sinceramente não posso concordar e foi isso que quisemos transmitir. Não podemos deixar que haja uma minoria, ou quem quer que seja, que vote contra uma coisa que não tem razão fundamental de votar contra.

"Não podemos olhar para o Sporting como um partido político. O Sporting trabalha num setor cujos concorrentes são maioritariamente privados. Há poucos clubes europeus que têm formatos de associação e para nós termos sucesso no formato que queremos e temos, temos de adaptarmo-nos a este mercado. Adaptarmo-nos não pode ser estar a votar contra um report financeiro auditado porque não gostamos politicamente da direção."

Essas declarações não são uma espécie de chantagem para os sócios: aprovem senão há consequências sobre isto?
Não são chantagens nenhumas. É a realidade. Temos de dizer a realidade. Nós temos de fazer o nosso trabalho e temos de partilhar as nossas preocupações com os sócios que são quem nos elege e que são o dono e o proprietário do clube. As nossas preocupações é que isto não é positivo porque não há razão nenhuma, porque não há irregularidade. Apesar de estar convencido que o voto também é um voto político, no caso orçamento é de facto uma fotografia do que aí vem e isso é mais objetivo – pode-se estar contra ou a favor. Embora ache que o Orçamento que apresentámos era totalmente realista, saudável e na linha daquilo que tinha sido o sucesso do ano anterior e que ainda por cima não tinha uma coisa que muitas vezes é impopular que é a redução de custos, pelo contrário, até tinha uma estabilização dos custos. Ainda não encontrei justificação, nem sequer da Assembleia Geral, para se ter votado contra o Orçamento, mas aí é de facto uma proposta de futuro e esse futuro pode ser discutido, mais para a esquerda mais para a direita, agora o report do passado, auditado, que não tem irregularidades? Acho que não fez absolutamente sentido nenhum votar contra aquelas contas, nem contra o orçamento. mas as contas então não vejo justificação nenhuma.

É uma situação que acha que vai deixar de existir nas próximas Assembleias Gerais?
Espero que sim, nós vamos continuar a trabalhar nesse sentido, naquilo que podemos, para que haja cada vez mais participação, uma participação cada vez mais construtiva. Tenho de ser sincero, muitas das Assembleias Gerais do clube, quem lá está, muitas das coisas e a forma como se discute, até muitas vezes a abordagem que há de alguns sócios com o Conselho Diretivo e com os Órgãos Sociais são completamente absurdas. Temos de ser cada vez mais construtivos, temos de procurar ser mais construtivos também na comunicação. temos de fazer sempre um esforço para sermos cada vez mais construtivos, passar sempre mais informação, temos feito esse esforço do ponto de vista financeiro e temos de tornar estes momentos cada vez mais construtivos e sermos cada vez mais unidos e é isso que nós vamos procurar. Sabemos que há ideias e momentos diferentes mas queremos trabalhar no sentido de ter cada vez mais união e vamos fazer por isso.

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