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AFP/Getty Images

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Entrevista com o astronauta que imitou Bowie no espaço: Manobrar a Soyuz "é como pilotar um meteorito de volta a casa"

O regresso à Terra foi como "se um gorila enorme estivesse a saltar em cima de mim e a abanar-me e depois agarrasse em mim e me atirasse de um penhasco". Entrevistámos o astronauta Chris Hadfield.

O canadiano Chris Hadfield decidiu que queria ser astronauta numa altura em que o Canadá ainda não tinha agência espacial e a NASA (agência espacial norte-americana) só recrutava astronautas americanos. Mas isso não o fez desistir, nem em adulto, nem quando tomou essa decisão, aos nove anos.

A 20 de julho de 1969, ele e os irmãos foram para casa dos vizinhos — porque não tinham televisão — para assistir a um acontecimento que mudaria para sempre a história da humanidade. “Lenta e metodicamente, um homem desceu pela perna de uma nave espacial e pisou cuidadosamente a superfície da Lua”, conta Chris Hadfield no livro Guia de um Astronauta para Viver Bem na Terra, editado em Portugal pela Pergaminho.

“Naquele momento, soube o que queria fazer com a minha vida. (...) Soube com clareza absoluta que queria ser astronauta.”

Em 1983, o governo canadiano selecionou os seis primeiros astronautas no país. “O meu sonho pareceu finalmente mais possível.” Mas só em 1991 a Agência Espacial Canadiana pôs o anúncio no jornal: “Procura-se astronautas”. Das 5.329 candidaturas, Chris Hadfield ficou entre as primeiras quinhentas e, passo a passo, foi vencendo todas as etapas da candidatura até ser selecionado. Mas o percurso estava apenas a começar: era preciso aprender, aprender, aprender, treinar, treinar, treinar.

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O primeiro lançamento foi no vaivém espacial Atlantis, a 12 de novembro de 1995. Seis anos depois, em abril de 2001, Chris Hadfield voltou ao espaço na missão STS-100 do vaivém Endeavour. A terceira, última e mais longa missão do astronauta canadiano teve início a 19 de dezembro de 2012 — quase seis meses na Estação Espacial Internacional (EEI).

Astronauta durante 21 anos, Chris Hadfield lembra que a maior parte do trabalho se faz em Terra. “Sinto sempre que estou a desiludir as pessoas quando lhes digo a verdade: passamos a maior parte da nossa vida profissional na Terra a treinar.” O Observador entrevistou este astronauta que se tornou conhecido — também — por tocar “Space Oddity”, de David Bowie, quando estava na Estação Espacial Internacional.

Decidiu ser astronauta quando tinha nove anos. Que conselho daria a uma criança dessa idade que queira ser astronauta?
A alguém que tivesse nove anos, eu diria para ter alguns sonhos quase impossíveis na vida. O conselho que dou a uma criança de nove anos – que pode querer ser muitas coisas além de astronauta – é ir a uma biblioteca (ou livraria) e perceber quais são as secções mais interessantes. Quando falo com crianças de nove anos digo-lhes: percebe de que secções mais gostas, porque isso provavelmente dá-te uma pista sobre onde está o teu coração, os teus interesses, e depois começa a sonhar quem poderás ser em todas essas áreas.

Especificamente para uma criança de nove anos que queira ser astronauta: precisas de ter um corpo saudável, mantém o teu corpo em forma, tem cuidado com o comes e faz algum exercício – usa as escadas, leva a tua mochila, não comas comida estúpida. [Depois,] terás de saber como fazer as coisas complicadas funcionarem, terás de provar que consegues aprender coisas complexas, por isso aprende coisas difíceis na escola e planeia ir para a universidade. E em terceiro lugar, aprende a tomar decisões e a manter-te preso a elas. Por exemplo, vou ler 50 páginas de um livro todos os dias, ou vou fazer 25 flexões todos os dias, ou vou aprender cinco palavras de japonês todos os dias, não importa. Mas decide algo e mantém por um mês ou dois meses, não importa. Porque as tomadas de decisão são uma competência, que se aprende.

Acho que estas três coisas são realmente importantes: manter o corpo em forma, estudar e planear, estudar alguma coisa na universidade e tomar decisões e manter-se fiel a elas. Acho que com nove anos é provavelmente suficiente.

“Nunca senti que seria um fracasso na vida se não chegasse a ir ao espaço. Uma vez que as minhas probabilidades de me tornar astronauta eram inexistentes, sabia que seria uma grande tolice deixar a minha auto-estima dependesse disso.”

Também o Chris se manteve firme nas decisões e esperou muito tempo até se tornar astronauta. Que conselho daria às pessoas para não perderem a esperança?
A chave é perceber que nada acontece conforme o planeado. A vida corre sempre mal, nunca corre numa linha reta – pelo menos, não por muito tempo. O mais difícil é ter um objetivo de longo prazo, que nos ajude a escolher o que fazer a seguir. Mas a outra parte é não deixar o nosso objetivo de longo prazo tornar-se a nossa única medida de sucesso.

Não estabeleçam que daqui a um ano ou daqui a cinco vão ter sucesso. Definam um objetivo de longo prazo e permitam-se ter sucesso todos os dias. Não se estabeleçam uma meta tão alta que sintam que nunca vão conseguir ser bem-sucedidos. Deem-se uma meta mais baixa, uma vitória, porque a única pessoa que realmente se importa, a única pessoa que quer saber ou que te avalia, és tu próprio. Todos os outros estão demasiado ocupados a conduzir a sua própria vida.

Não deixem que outras pessoas vos digam quando foram um falhanço ou um sucesso, é só a opinião deles. A única pessoa a quem realmente interessa a avaliação de como estás a sair-te és tu. Tentar viver uma vida com esperança é muito mais fácil se se derem uns quantos objetivos loucos de longo prazo, se se mudarem sempre um bocadinho de forma a conseguir atingir esses objetivos e se se permitirem ser bem-sucedidos e sentir-se vitoriosos todos os dias. Essa combinação é, para mim, a forma mais útil de levar a vida.

Como a Estação Espacial Internacional está em órbita à volta Terra, numa espécie de queda livre, a sensação para os ocupantes é de que não existe gravidade. E, em gravidade zero (ou microgravidade) as coisas não caem e a água da toalha torcida não cai no chão (aliás, onde é que fica o chão?).

Um dia também se tornou vitorioso e foi, finalmente, para o espaço. Pode descrever a sensação de ser lançado para o espaço?
Posso, mas… Eu tenho saído vitorioso todos os dias [risos]. Claro, que há vitórias que as outras pessoas veem com mais clareza. O lançamento é um dia incrivelmente difícil, é extremamente perigoso: os foguetões são máquinas perigosas, que requerem muito trabalho para serem pilotadas com sucesso. Por isso, muitos dos sentimentos no dia em que vamos para o espaço são extremamente técnicos, somos uma parte da máquina e estamos tão focados, quanto um ser humano pode estar, em ajudar a nossa nave a ser bem-sucedida: reconhecer as coisas que estão a falhar, fazer as coisas certas, pôr todo o treino em prática. É o teste derradeiro.

A maior parte de nós próprios está envolvida nisso, mas sobra o suficiente para ter a perceção de quão magnífico é. É-se esmagado na cadeira e a aceleração é muito forte, o veículo é incrivelmente poderoso – 80 milhões de cavalo-vapor [medida de potência; cerca de 60 milhões de kilowatt] – e estamos muito cientes desse poder e das forças físicas no nosso corpo. Mas oito ou nove minutos depois disso, o motor desliga-se e, instantaneamente, sentimo-nos como se não tivéssemos gravidade e vemos o mundo todo a passar-nos na janela. E tudo acontece tão depressa que as emoções são um bocado deixadas para segundo plano. Mal conseguimos acompanhar o que está a acontecer – a sensação de deslumbramento e de singularidade, privilégio e deleite, é realmente esmagadora.

Na segunda missão espacial, Chris Hadfield teve de fazer uma caminhada no espaço (AEV, atividade extraveicular) para montar o braço robótico que haveria de construir a Estação Espacial Internacional. “Ao fim de cinco horas, dei conta das gotículas de água que flutuavam dentro do meu capacete. E repente, começo a sentir picadas no olho esquerdo. Levanto a mão para o esfregar – e a mão bate na viseira do capacete”, conta o astronauta [adaptado do livro]. Mas sem gravidade as lágrimas não caem. Pestanejar e abanar a cabeça também não resultou. “Treinámos para muitas eventualidades durante uma AEV, mas a cegueira parcial não era uma delas.” Tudo se resolveu e a experiência de Chris Hadfield ensinou-os a prevenir a situação: limpar bem as viseiras e não deixar resíduos do produto desembaciador.

Nunca teve medo de ir para o espaço?
Bem, ter medo é basicamente uma reação do corpo quando não sabe o que fazer. Há muitas coisas que fazemos nesta altura da vida que nos podem ter assustado quando éramos crianças, como conduzir um carro, andar de bicicleta ou dar uma palestra. Havia coisas que nos provocavam medo, mas que aprendemos a fazê-las e agora não nos provocam qualquer receio, porque são coisas que agora sabemos fazer. Ser astronauta é ter uma vida de preparação para fazer coisas que nos podem assustar se não estivermos preparados. E não queremos descolar com medo. Nenhum astronauta é lançado no espaço a fazer figas [sorriso], não é assim que nos preparamos para um voo espacial. Acho que a maior parte das pessoas sentiria medo se fosse colocada dentro de uma nave espacial, mas se treinamos para isso uma vida inteira e nos preparamos para isso, deixamos de estar assustados.

A NASA criou a figura de acompanhante familiar, que é como um “cônjuge substituto: alguém que está disponível para ajudar na Terra, não só durante o lançamento, mas mais tarde, quando a vida volta ao normal, mas a missão ainda está a decorrer”.

Mas e a sua família, eles não foram treinados para serem astronautas. Tiveram medo por si?
Bem, sim. Não o ignorámos simplesmente. Juntámo-nos, enquanto família, falámos sobre os perigos e de como os enfrentaríamos, mas também das recompensas que vêm de enfrentarmos os perigos. Falámos sobre “se isto acontecer o que é que vão fazer”: temos seguros, como vai ser, conseguem lidar com isso.

Há mais medo em terra do que na nave espacial. É um sentimento de impotência. Quando estou a vigiar outros astronautas também me sinto impotente, o que me faz sentir algum receio, porque não posso fazer nada, mas só temos de confiar na qualidade do veículo e na incrível capacidade das pessoas a bordo. De vez em quando corre mal, mas isso é verdade para qualquer coisa que se faça na vida. A maior parte das vezes corre espetacularmente bem.

Chris Hadfield aproveitava alguns momentos para responder a perguntas enviadas da Terra.

Falou da aceleração da gravidade quando são lançados para o espaço. Quando pilotou caças também foi sujeito a estas forças. Qual é a sensação?
Quando estamos num caça estamos sentados com a cabeça para cima, portanto a força da gravidade puxa-nos de cima para baixo e o nosso coração tem dificuldade em levar o sangue até à cabeça. Esse tipo de força da gravidade drena-nos o sangue da cabeça, mas numa nave espacial estamos deitados de costas, portanto a força da gravidade assemelha-se mais a estar deitado na praia e alguém começar a deitar areia em cima de nós – fica cada vez mais pesado até ser difícil respirar. Mas num foguetão, o problema não é apenas a aceleração, são também as vibrações. O veículo abana de forma muito violenta – chocalha, bate e sacode-te de forma louca. Então temos essa combinação de aceleração selvagem, forças fortes e vibrações enormes. É como se tivesses três pessoas em cima de ti a dar-te chapadas na cara.

Depois vem a sensação de ausência de gravidade, que é totalmente diferente. Como é que se sente esta mudança?
Quando acontece é instantâneo. Um é tão forte e esmagador e o outro é tão pacífico e diferente. Lembro-me de pensar, na altura, que era como se um gorila enorme estivesse a saltar em cima de mim e a abanar-me e depois, de repente, agarrasse em mim e me atirasse de um penhasco. É mais ou menos isso: a diferença entre estar a ser maltratado e, de repente, ser lançado no ar. É este o momento em que o motor se desliga e instantaneamente deixamos de sentir o nosso peso. Onde havia barulho, agora há paz. Onde havia forças e vibração, agora não há esforço e há serenidade. É como uma recompensa no final do perigo.

“Estava na EEI há cerca de três semanas quando reparei que precisava de cortar as unhas. Foi então que tive uma ideia excelente: ia cortar as unhas por cima do filtro da entrada de ar de uma das condutas. E funcionou! No entanto, não pensei em todas as implicações. [Quando o] responsável pela limpeza daquela parte da estação, desapertou os parafusos para poder limpar atrás do painel de filtro, ficou coberto de pedaços das minhas unhas”, contou o astronauta [adaptado do livro].

Como foi voltar à Terra depois de passar seis meses na Estação Espacial Internacional?
A Estação Espacial Internacional é um sítio muito interessante para se viver, mas é extremamente exigente. Temos um horário eletrónico todos os dias que nos diz o que fazer a cada cinco minutos, durante seis meses. A única altura em que temos tempo livre é quando devíamos estar a dormir. Por isso roubava uma hora ou duas todas as noites, quando devia estar a dormir, e era aí que tocava guitarra, fazia vídeos, escrevia coisas ou falava com todos.

Mas no fim de tudo voltamos para casa. A pequena nave com que voltamos para casa não navega sozinha, é uma tarefa muito exigente fisicamente e existem uma série de coisas que podem correr mal, portanto trabalhamos arduamente para pilotar convenientemente a nossa nave de volta a casa. E, no meu terceiro voo, fui piloto da Soyuz russa. Não só estava a pilotar uma nave de volta a casa, como estava a pilotar uma nave numa outra língua – em russo. Estudei russo durante 20 anos para poder pilotar a Soyuz.

É como pilotar um meteorito de volta a casa: é muito físico, esmaga-te contra a cadeira, é quente, quando o paraquedas abre é incrivelmente violento e então chocas contra o mundo, como num acidente de viação. Depois rebolas até parar, por isso sentes-te zonzo e desorientado, cansado e enjoado. É como se estivesses doente e tivesses tido um acidente de carro: estás todo a tremer e nada parece bem.

Depois chega a equipa de salvamento: abrem a nave, arrastam-te para fora e põem-te numa cadeira. E, de repente, há a luz e os cheiros e as pessoas e o ruído. Se calhar é como um bebé acabado de nascer, não sei. Demora algum tempo para nos readaptarmos, o nosso corpo tem de se habituar outra vez [a estar na Terra]: demora alguns dias a sentirmo-nos normais, várias semanas para estarmos normais e, de facto, uns quantos anos para a densidade dos nossos ossos voltar ao normal e estarmos verdadeiramente normais outra vez. É um processo longo, mas vale cada segundo. A experiência é tão rica, tão interessante, tão desafiante e tão útil para todos nós, que o que acontece ao teu corpo é só uma parte da experiência.

Depois de tanto tempo longe, como é que é voltar ao trabalho e a casa?
É normal. É como uma viagem muito longa, como um soldado ou um marinheiro. Faz parte da vida haver uma separação e depois voltarmos. Mas quando estamos na Estação Espacial Internacional nunca estamos completamente isolados – posso telefonar às pessoas, ocasionalmente fazer uma chamada de vídeo, trocar emails. Portanto é como estar numa viagem de negócios num local muito diferente. E é bom voltar a casa.

O astronauta canadiano já esteve várias vezes em Portugal e confessou ao Observador adorar o país. “Adoro ficar sentado à beira rio no Porto.” Da EEI tirou uma fotografia à capital: “Tirei uma fotografia fantástica de Lisboa quando estava no espaço – podíamos ver a relação entre o porto, o oceano e a cidade”.

Ficou bem conhecido na Terra por causa dos vídeos que fez na Estação Espacial Internacional. Como é que deu início a isso?
Acho que tudo começou quando assisti à chegada à Lua em 1969 e vi quando Neil Armstrong e Buzz Aldrin caminharam na Lua – tinha eu quase 10 anos. A NASA fez a transmissão de tudo em direto – não tinham de o fazer, os soviéticos não o faziam –, mas a NASA considerou que isto era demasiado importante para deixar de ser partilhado. Foi aí que me apercebi que, se ia fazer alguma coisa diferente, magnífica e rara, devia partilhá-la, não devia ser egoísta, não devia guardá-la só para mim.

Fui astronauta durante 21 anos e partilhei tanto quanto pude o tempo todo: falei em milhares de escolas, dei incontáveis entrevistas, viajei por todo o mundo e tirei fotografias em todas as minhas viagens espaciais. Mas só na terceira viagem é que a tecnologia já tinha avançado o suficiente: podíamos fazer partilhas nas redes sociais, tínhamos máquinas digitais que nos permitiam partilhar as fotografias quase imediatamente – enquanto antes podíamos ter de esperar meses ou anos. Com este avanço na tecnologia, podia fazer um vídeo, enviá-lo para a Terra e as pessoas podiam vê-lo quase de imediato – usei a tecnologia da melhor forma que consegui para o partilhar. É por isso que escrevo livros, que componho músicas, que falo e trabalho, que dou aulas na universidade, porque parte do trabalho de ser astronauta é partilhar tão bem quanto possível.

Chris Hadfield tem vários vídeos mostrando como pequenas atividades do dia a dia têm de acontecer na EEI.

Uma vez astronauta, sempre astronauta, ou está reformado neste momento?
Não é um trabalho, é uma definição. Serei um astronauta para o resto da eternidade – é uma das coisas que me define. Já não voo no espaço regularmente e mesmo quando era astronauta – e fui durante 21 anos – só estive no espaço seis meses, portanto fui um astronauta em Terra durante 20 anos e meio. E isso é o que sou hoje em dia. Acho que não vou voltar a voar para o espaço, mas isso não muda, nem diminui, a experiência em si mesma.

Vê-se no futuro a ingressar numa carreira musical ou é apenas um hobbie?
Não sei se percebo o que quer dizer com “carreira”, mas fui agricultor, instrutor de esqui (downhill), tenho sido músico durante toda a minha vida, fui engenheiro, pilotei caças e fui piloto de testes, fui astronauta, sou autor, ensino na universidade, faço todas essas coisas e acho que isso não vai mudar. E a música é, para mim, uma faceta de celebrar e entender a vida.

Além das versões de músicas de cantores conhecidos, Chris Hadfield também compõe e tem músicas originais.

Se tivesse a oportunidade de ir a Marte, aproveitava?
Bem, não há naves a irem para Marte e os astronautas não viajam “por desporto”. Ajudamos a criar, a desenhar e a construir voos e naves espaciais. Se alguém me convidasse para trabalhar num voo espacial para a Lua ou para Marte eu teria todo o gosto. A parte mais interessante é resolver os desafios e fazer acontecer algo que roça o impossível. E isso é o que tenho feito a maior parte da minha vida. E ainda estou envolvido: trabalho com a Agência Espacial Canadiana, com os astronautas canadianos, estou no Conselho Consultivo para o Espaço no Canadá, estive num painel de discussão na NASA há umas semanas. A vida não pára só porque terminámos o terceiro voo espacial.

“Em gravidade zero, não é preciso um colchão ou almofada; já sentimos que estamos deitados numa nuvem, perfeitamente suportados, por isso temos de dar voltas para encontrar uma posição confortável.”

Por fim, e tendo em conta o que aconteceu recentemente: Juno finalmente chegou a Júpiter e ficou a orbitar o planeta. Gostava que me dissesse o que pensa desta missão.
Para poder entender as estrelas e os planetas, temos de vencer um grande buraco no nosso conhecimento, que são os planetas gigantes gasosos, como Júpiter. De facto não percebemos Júpiter de todo. Porque é que tem um campo magnético tão forte? Haverá um núcleo rochoso no centro de Júpiter ou será tudo gás e líquido? Conduzir Juno durante milhares de milhões de quilómetros é extremamente complexo e conseguir que se fixasse, de forma segura, na órbita de Júpiter, dentro do campo magnético, é incrível.

Nunca o tínhamos conseguido fazer em toda a história da humanidade. Ontem era impossível e hoje é possível – é tremendamente otimista. Vamos aprender mais sobre Júpiter em poucas semanas do que alguma vez aprendemos sobre este planeta no último milhão de anos. É um momento muito interessante. E o que eu gosto é que isto é o resultado da criatividade humana, de nos organizarmos, da invenção, da colaboração – é um projeto mundial. Há uma quantidade imensa de coisas a acontecerem todos os dias. Juno chegar a Júpiter é só uma dessas coisas, mas é realmente magnífico e todos o devíamos celebrar. É uma vitória.

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