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ALEX PLAVEVSKI/EPA

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Eventos cancelados e smartphones adiados. Como o novo coronavírus está a afetar a indústria tecnológica

Oito perguntas e respostas para entender como o surto da nova estirpe do coronavírus está a impactar as grandes empresas tecnológicas, cujos produtos dependem da produção feita em fábricas chinesas.

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Em atualização

Quantos eventos tecnológicos já foram cancelados?

Até agora, 13, e o número não pára de aumentar. O cancelamento do Mobile World Congress (MWC), o maior evento de smartphones do mundo — que deveria decorrer entre 24 e 27 de fevereiro em Barcelona — pode ter sido o mais badalado da indústria tecnológica, mas não foi caso único.

Em fevereiro, o Facebook cancelou o Global Marketing Summit, um evento dedicado às novidades do produto que mais dinheiro dá à empresa criada por Mark Zuckerberg: a publicidade. E, na mesma semana, a rede social cancelou o seu maior evento anual, o F8 (dedicado à comunidade de programadores), que deveria ocorrer em maio de 2020, em São José.

Em comunicado, a empresa explicou que “à luz das crescentes preocupações em torno do Covid-19, tomámos a difícil decisão de cancelar a componente presencial do F8 este ano, priorizando a saúde e a segurança dos nossos parceiros programadores, funcionários e todos os que ajudam a organizar o F8. Planeamos substituir o evento por outros eventos locais, vídeos e conteúdos transmitidos ao vivo”.

O South By Southwest (SXSW), um ciclo de conferências sobre tecnologia, entretenimento, música e cinema que se realiza anualmente em Austin, no Texas, estava com data marcada para 13 a 22 de março. Num comunicado no site oficial, os responsáveis do evento afirmam que estão a trabalhar diariamente com “agências locais, estaduais e federais”. Contudo, e de empresas como o Facebook, o Twitter e o Tik Tok terem cancelado a presença no evento, este foi cancelado.

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É a primeira vez em 36 anos  que o SXSW é cancelado. Todos os anos, este evento leva cerca de 500 mil pessoas à cidade do Texas. Numa petição assinada por mais de 30 mil pessoas, Shayla Lee, que a criou, afirmava que manter esta edição do SXSW era “irresponsável”. “Por favor, pensem nas crianças, nos imunocomprometidos, nos idosos, nos diabéticos, nos asmáticos, (etc.)”, escreveu. “As pessoas podem morrer por causa disto, diz ainda. Em 2019, o festival gerou 355,9 milhões de dólares para a economia local.

A 2 de março, a Google cancelou todos os eventos físicos do Cloud Next ’20, o seu evento anual dedicado a serviços da empresa na nuvem (em servidores externos). No entanto, mantém todas as conferências planeadas. Como é que se pode ver? Na nuvem, em streaming pela Internet.

“[O Cloud Next ’20] Ainda vai realizar-se entre 6 e de 8 abril de 2020”, diz a Google no site oficial. Contudo, seguindo “as regras das OMS” e a pensar “na saúde e segurança dos clientes, parceiros, funcionários e da comunidade”, a empresa cancelou todas as sessões físicas deste evento que ia realizar-se em São Francisco.

A Google adianta também que vai reembolsar todas as pessoas que tinham comprado bilhete para o evento. Quem quiser acompanhar este evento pela internet pode inscrever-se no site oficial.

Um dia a seguir, a Google cancelou o Google I/O, a conferência anual para programadores que é o maior evento anual da empresa norte-americana também devido ao surto do coronavírus. O evento ia decorrer de 12 a 14 de maio. “Devido a preocupações com o coronavírus (COVID-19) e de acordo com as orientações de saúde do CDC [o equivalente dos EUA à Direção Geral da Saúde], da OMS [Organização Mundial da Saúde] e de outras autoridades de saúde, decidimos cancelar o evento físico do Google I/O no Shoreline Amphitheatre”, disse a empresa.

Este costuma ser o evento no qual a empresa divulga novidades para o sistema operativo móvel Android e para outros serviços que gere, como o Google Maps ou o Google Assistant. Num aviso no site oficial do evento, a tecnológica norte-americana afirma que vai reembolsar totalmente todas as pessoas que já tinham comprado bilhetes. Além disso, quem já tinha adquirido uma entrada para o evento deste ano vai poder comprar uma entrada para o evento em 2021 (normalmente há um sorteio devido à procura).

Em janeiro, a Huawei também adiou para o final de março a sua conferência para programadores, que tinha data marcada para o início de fevereiro. No entanto, a empresa chinesa manteve os seus eventos em Barcelona — sim, mesmo com o MWC cancelado — e tinha prometido que o lançamento dos novos smartphones P40 ia acontecer em Paris, a 26 de março. A 10 de março, devido ao receio em relação à nova estirpe do coronavírus, a marca divulgou que este último evento vai continuar a decorrer, mas será transmitido apenas pela interne, como revelou o CNET.

O Game Developers Conference (GDC), um evento anual dedicado a quem faz videojogos e que foi fundado por Chris Crawford em abril de 1988, foi adiado no final de fevereiro, estava marcado para 16 a 20 de março, em São Francisco. Contudo, depois de várias empresas cancelaram a presença no evento por causa do coronavírus, como o Facebook, a Sony, a Electronic Arts e a Kojima Productions, a organização tomou a decisão. Até 27 de fevereiro, os responsáveis do GDC afirmavam que estavam a monitorizar a situação e “acreditavam” que seriam capazes de realizar “um evento seguro”, tendo em conta as medidas que o governo dos EUA tem implementado. Em comunicado, a organização disse que quer realizar o evento “no final do verão”.

O Black Hat Asia 2020, um evento sobre cibersegurança que devia ocorrer no início de abril em Singapura, também foi cancelado devido ao Covid-19, assim como o Cisco Live Melbourne, uma conferência da Cisco que tinha data marcada para 3 de março na Austrália. A empresa sul-coreana Blizzard, uma produtora de videojogos, também cancelou um evento de eSports, a Overwatch League, um dos jogos online mais jogados. Este torneio devia ocorrer na Coreia do Sul no final de fevereiro e até ao final de março.

A conferência irmã da Web Summit no Canadá, o Collision, vai decorrer apenas online, tendo sido cancelados todos os eventos físicos da empresa. Ao Observador, fonte oficial da Web Summit explicou que a organização da conferência está a trabalhar com as autoridades canadianas e que ainda não tem pormenores sobre como vai decorrer o Collision For Home. Sobre a Web Summit, que decorre em novembro em Lisboa, fonte oficial diz que “temos confiança que vai acontecer com presença física na mesma, faltam oito meses e temos esperança [que a situação melhore]. O plano é manter a Web Summit, à partida, nada indica o contrário”.

Quem já comprou bilhete vai poder usufruir da experiência online do “Collision From Home” e terá direito a um bilhete para a edição do evento em 2021. Quem quiser pedir o reembolso já, também poderá fazê-lo, informou fonte oficial da Web Summit ao Observador.

A 13 de março, foi a vez da Apple. Na sexta-feira, a tecnológica liderada por Tim Cook anunciou que a sua Conferência Mundial de Programadores (Worldwide Developers Conference) vai contar apenas com transmissão online, devido à pandemia da nova estirpe do coronavírus. Normalmente é neste evento que a Apple comunica as novidades em relação ao software dos produtos da marca.

“A situação de saúde atual requer que tenhamos num novo formato para o WWDC 2020 que seja capaz de entregar um programa online completo com sessões e oradores, que ofereça uma grande experiência de aprendizagem a toda a nossa comunidade de programadores no mundo todo”, disse em comunicado Phil Schiller, vice-presidente de Marketing da Apple, assegurando que vão ser anunciados mais detalhes nas próximas semanas.

O que está a acontecer nos eventos que não são cancelados?

Apesar de haver conferências canceladas ou adiadas, há marcas como a Samsung que têm mantido os seus eventos de lançamentos. Em São Francisco, a 11 de fevereiro, a marca sul coreana anunciou novos smartphones com cuidados redobrados (para evitar contágios), mas mantendo tudo o que tinha sido planeado. Que cuidados teve? Instalou câmaras térmicas, disponibilizou máscaras e muito desinfetante de mãos.

Como o evento mundial da Samsung se preparou contra o coronavírus

Outros eventos, como o Google I/O, o Cloud Next ’20, a apresentação dos novos Huawei, ou a conferência irmã da Web Summit no Canadá, o Collision, optaram por decorrer apenas online. A empresa fundada e liderada por Paddy Cosgrave decidiu cancelar a experiência física do evento, optando pela transmissão dos debates por vídeo. O Collision continua com data marcada para entre 22 e 25 de junho. Em comunicado, a empresa dise que tem 50 engenheiros a trabalhar naquilo que será um “Collision From Home”.

Vamos sentir saudades de receber participantes de todo o mundo na cidade mágica de Toronto, mas vamos regressar à cidade em modo offline entre 21 e 24 de junho de 2021”, lê-se no comunicado.

Paddy Cosgrave diz que seria “irresponsável” manter a experiência offline do evento devido aos receios com a nova estirpe do coronavírus. “Toronto ainda não sofreu um surto significativo de Covid-19 e no Collision queremos assegura que a situação permanece assim”, escreveu o fundador. Por outras palavras, os eventos decorrem, mas, como também foi a oração do Papa deste domingo por causa do coronavírus, são transmitidos pela internet.

[A organização de um evento de aviação em Singapura propôs aos visitantes “adotarem medidas alternativas para cumprimentos”, numa “política de não contacto”]

As empresas chinesas estão a funcionar a 100%?

Não, não estão a funcionar a 100%. Com milhões de pessoas em quarentena é difícil manter fábricas a trabalhar de forma eficiente. Como refere o South China Morning Post, “sem acesso a fornecedores, trabalhadores e redes de logística, a base industrial da China está a enfrentar um número infinito de desafios sem precedentes, já que os esforços de contenção de coronavírus dificultam os esforços das fábricas para reabrir”.

O Covid-19 não impediu a Samsung de lançar os novos smartphones, num evento em São Francisco, no início do mês de fevereiro

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Mas, se as fábricas estão na China, isso afeta-me como?

A título de exemplo: a Tesla, a Apple, a Dell, a Acer, a Google, a Motorola ou a Microsoft são apenas algumas das empresas tecnológicas que dependem de fábricas chinesas para produzirem os seus produtos. A Tesla, por exemplo, já afirmou que vai adiar o lançamento do novo carro, o Model 3. Com as fábricas a funcionarem a meio gás, as empresas não conseguem cumprir as metas que estabeleceram para cada trimestre.

Um dos principais impactos a curto prazo é o facto de haver menos produtos, o que pode levar a subidas de preço nas lojas. Contudo, para já, ainda não se podem prever todas as consequências. Como refere a publicação The Economist, no final de março, as fábricas na China já devem estar de volta a 100% da sua capacidade. As empresas tecnológicas, principalmente as americanas não deverão ter muitas dificuldades, porque, como diz o mesmo meio, o coronavírus também vai fazer com que as pessoas comprem menos este tipo de produtos durante o período de guerra económica entre o EUA e a China, explica o mesmo meio. Isto em parte também preparou as empresas para as eventuais quebras de produção.

A Fujitsu, por exemplo, já anunciou que a situação na China está a afetar a fábrica que tem em Espanha, em Málaga, podendo levar ao despedimento de vários colaboradores, explica o El Mundo.

Quais têm sido as principais consequências do surto no mundo tecnológico e o que pode ainda acontecer?

Já referimos o adiamento e o cancelamento de eventos um pouco por todo o mundo. Por causa disso, várias marcas estão a adiar também o anúncio de novos equipamentos. A Oppo e a Nokia são duas empresas de smartphones que tinham eventos marcados para lançarem novos produtos e adiaram-nos sem haver ainda nova data para conhecermos as novidades. Empresas como a japonesa Sony estão a dar a volta ao assunto criando eventos que são transmitidos pela internet, reduzindo custos. No entanto, mesmo assim, como noticia o The Verge, já se prevê que a venda de smartphones caia em 12%. Uma das empresas afetadas é a marca Asus, que já anunciou que vai ter de adiar um dos seus próximos produtos, o smartphone ROG Phone II.

[A marca escreveu uma carta aos fãs a agradecer a paciência por terem de esperar mais um pouco pelo smartphone ROG Phone II]

Além disso, a implementação do 5G na China também pode sofrer um pequeno travão. Como alguns dos principais componentes para estas redes são fabricados em Wuhan (tem 25% da produção mundial de cabos de fibra ótica), o país não pode contar com eles devido aos efeitos da quarentena na região.

Por fim, um mal geral para toda indústria tecnológica. Como refere a CNBC, por causa destas consequências, as ações das empresas tecnológicas podem cair até 20%.

Isso quer dizer que o lançamento da Apple, de março, pode mesmo ser adiado?

A resposta é “nim”, ou sim e não. Na semana passada, a Apple revelou numa nota enviada aos investidores que ia falhar as metas de receitas operacionais para o trimestre que termina em março. Em causa estava o facto de as suas fábricas na China estarem a trabalhar a meio gás. Ou seja, a marca liderada por Tim Cook vai fazer menos smartphones iPhone, mas também espera que os consumidores chineses comprem menos.

Coronavírus faz a Apple tremer: desvalorizou 31,5 mil milhões num dia e admite falhar meta de produção

Desde 2018 que tem havido um rumor que indica que a Apple vai lançar um smartphone mais barato. Desde que a marca lançou o iPhone X que se espera que esta versão low-cost seja lançada, mas tal ainda não aconteceu. Apesar dos rumores, não se pode adiar o que ainda não foi sequer anunciado: a Apple ainda não confirmou se ia organizar um evento em março — no ano passado, houve um, mas isso nem sempre tem acontecido.

O que já se sabe sobre o iPhone “low-cost” (ou mais barato do que os atuais)

O surto de infetados e o regime de quarentena tem levado a quebras de produção nas fábricas chinesas

Getty Images

Mas não há nada de bom para a tecnologia?

Não é bem estarmos com o copo meio cheio, mas o Digitimes refere que, na China, a venda de tablets está a subir. Devido ao medo de sair de casa e a necessidade de algumas empresas estarem a pedir trabalho à distância, os consumidores chineses estão a comprar mais tablets. Além disso, com muitos casos de quarentena, há também o aborrecimento que, diz o mesmo meio, está a incentivar os consumidores a comprar estes produtos para aproveitarem o tempo a fazer cursos online.

Além disso, há uma reportagem da CNN que refere que este vírus “está a testar a tecnologia chinesa”. Na China, é permitido utilizar esta tecnologia em câmaras para controlo da população. Com mais pessoas a utilizar máscara, estes sistemas estão a ficar mais apurados (atenção: para quem se preocupa com a privacidade, este pode não ser um ponto positivo).

Tecnologia também é internet e internet também são fake news. As redes sociais e os motores de busca estão a mudar?

Desde o início do surto de coronavírus que se têm multiplicado as informações falsas sobre a infeção — desde a promessa de cura a notícias erradas sobre as formas que existem para prevenir e combater a doença. Para combater a desinformação sobre o coronavírus, alguns dos maiores serviços de internet estão a adotar medidas para encaminhar os utilizadores para as fontes mais credíveis de informação.

No Google, por exemplo, se pesquisar em Portugal pelo nome da doença, os dois primeiros resultados da pesquisa são, invariavelmente, as páginas dedicadas à infeção nos sites da Organização Mundial de Saúde e do Serviço Nacional de Saúde.

Já no Facebook, quando se pesquisa por “coronavírus”, a rede social indica, antes dos resultados da pesquisa, a ligação para o site da Organização Mundial de Saúde. A rede social já tinha informado que iria remover todas as publicações falsas relacionadas com a infeção, nomeadamente as respeitantes a curas e vacinas.

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