No “Unpacked 2020”, o evento mundial da Samsung, estiveram implementadas várias medidas com os visitantes de todo o mundo que passaram pelo Palácio das Belas Artes em São Francisco esta terça-feira. Antes de se chegar ao ponto de revista de segurança, já comum nestes eventos (para garantir que ninguém entra com dispositivos que podem ser uma ameaça à segurança dos participantes), estava uma máquina diferente das outras e que tinha um propósito de saúde também diferente: ver como se encontravam os participantes termicamente para garantir que não estão se encontravam doentes devido ao coronavírus.

A 31 de janeiro, o secretário para serviços humanos e saúde dos Estados Unidos da América declarou uma emergência de saúde. A Samsung é responsável por cuidar da saúde pública de todos os participantes e do staff. É imperativo que cada pessoa seja rastreada durante um encontro com muita gente pela nossa equipa médica”, lia-se num pequeno cartaz à entrada do evento.

O aviso na íntegra à entrada do evento a alertar que os visitantes iam ser rastreados termicamente

A sensivelmente duas semanas da maior feira de smarphones do mundo arrancar — o Mobile World Congress (MWC), que está em risco de não acontecer por causa de todas as tecnológicas que cancelaram a sua participação — o evento “Unpacked 2020” decorreu com medidas de saúde extra, que foram além das implementadas em anos anteriores.

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No convite que enviou para os participantes de todo o mundo, a Samsung alertou que estava a acompanhar, junto das autoridades norte-americanas, o desenvolvimento do surto da nova estirpe, que teve origem na província de Huabei, na China, e que já matou mais de mil pessoas. “Vão estar disponíveis máscaras a pedido e no local do evento vamos disponibilizar desinfetante das mãos”, avisou. Apesar de haver quem usasse estas máscaras (que estavam espalhadas pelo local), não houve histeria, espirros ou pânico num evento que acabou com os participantes a mexerem nas novidades da marca.

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Sendo um evento de uma marca sul-coreana, ver pessoas com máscaras sanitárias não é uma coisa nova. “Vejo que está a usar uma máscara, é por causa do coronavírus?”, perguntou o Observador a um convidado. Rindo-se, este respondeu: “Não, sou sul-coreano” — em alguns países asiáticos já é comum por motivos de higiene e de saúde –, apontando para a máscara preta que usava, claramente já trazida de casa (era bastante sofisticada).

Apesar de esta ter sido uma das reações, houve quem usasse as máscaras brancas que estavam disponíveis no local como prevenção do coronavírus. Ao passarmos por um dos vários dispensadores de desinfetante das mãos que estavam disponíveis, foi raro ver quem não os aproveitasse como medida de higiene extra.

Ao pé dos dispensadores de desinfetante das mãos, a organização do Unpacked deixou também os avisos da OMS

Os avisos da OMS (organização mundial da saúde) relativos ao coronavírus também estiveram visíveis em todo o evento, com precaução. No final do “Unpacked”, as caixas que tinham máscaras brancas ficaram vazias, mas não foi por isso que deixou de haver encontrões e bastante contacto humano para experimentar as novidades da marca, os novos S20 e o smartphone dobrável Galaxy Z Flip.

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Mesmo com precauções, o evento decorreu com normalidade porque, como lembrou a marca no convite, seria complicado alguém infetado entrar neste. Os viajantes que estiveram na China, nas últimas semanas, estão proibidos de entrar no país e estão a ser reencaminhados para centros de contenção para garantir que não estão infetados.

“Não me importo com o que as pessoas pensam. Adoro a minha saúde. Quero garantir que volto para a minha mulher e para a minha filha bem”

Apesar de o ambiente ter decorrido com bastante normalidade, também houve quem estivesse com cuidados redobrados no pavilhão, como foi o caso de Frankie Lopez, um jornalista de Porto Rico, da publicação “Yo soy un Gamer”. Ao Observador, Lopez, sempre de máscara branca posta, contou que esta tinha sido a primeira vez em que tinha decidido usar uma máscara. “No final do dia, não me importo com o que as pessoas pensam. Adoro a minha saúde, quero garantir que volto para a minha mulher e para a minha filha bem”, justificou sobre a decisão.

Na fila para o rastreio de segurança, à entrada, uma câmara térmica esteve apontada para quem ia chegando para garantir que ninguém estava doente

“Para dizer a verdade, estamos [o público norte-americano] muito conscientes do que está a acontecer. Quando saí de Porto Rico já tinha a minha máscara posta e uso-a a andar pelo país. Usei-a para ir do aeroporto para São Francisco, porque tive de fazer uma escala em Charlotte. Se vou a locais com muitas pessoas, prefiro usar a máscara, apenas para me proteger caso possa acontecer alguma coisa. Também ando com um desinfetante de mãos”, disse, tirando um pacote pequeno de Purell, um desinfetante bastante comum nos EUA.

O jornalista assumiu que a cautela também existe, porque “não sabemos que se está a passar” e, por causa disso, prefere sentir-se protegido. “Pense, estivemos a experimentar novos smartphones, o que é que toda a gente esteve a fazer? A tocar-lhes. Em todo o lado”, enfatiza. Mesmo com o receio, assume que não foi por isso que deixou de fazer o seu trabalho e de ver as novidades da Samsung, mexendo nelas. Ao despedir-se não houve apertos de mãos.

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O evento da Samsung mostrou um pouco o que poderá acontecer no MWC, Barcelona, daqui a duas semanas. Neste evento, que conta sempre com uma presença forte de marcas e participantes chineses — a empresa chinesa Huawei, por exemplo, é um dos maiores parceiros — as medidas anunciadas são semelhantes às que vimos no “Unpacked”, que decorreu nos Estados Unidos.

A GSMA, responsável pela organização, já prometeu que não vai ter no evento ninguém precedente da região chinesa de Hubai e que vai ter um programa e material de desinfeção que será transversal a todas as áreas, contando com mais apoio médico, campanhas de sensibilização e uma linha de telefone de apoio médico disponível durante 24 horas por dia, entre outras medidas adicionais.

Uma das mesas com caixas brancas, já vazias, no evento Unpacked 2020

À semelhança do que a Samsung fez, a GSMA vai ter implementado um sistema de triagem de temperatura dos participantes. Além disso, tem incentivado os participantes a implementarem “protocolos apropriados, conforme sugerido pela OMS e outras autoridades de saúde, para conter e mitigar qualquer propagação adicional do vírus”.

A nova estirpe do coronavírus já matou 1.115 pessoas, superando o número de vítimas causadas pela Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla em inglês). Ao início desta quarta-feira, o número total de casos confirmados era de 42.638 (a maioria na China), dos quais 2.478 foram confirmados nas últimas 24 horas em território continental chinês. Fora da China continental só há duas vítimas mortais: na região chinesa de Hong Kong e outra nas Filipinas.

*O Observador viajou até São Francisco para acompanhar o evento Unpacked a convite da Samsung.