Durante dois dias, os militares do campo militar de Santa Margarida estiveram a fazer exercícios com fogo real, usando peças de artilharia que projetam fogo a longa distância. A fase final do exercício aconteceu esta quinta-feira à tarde, mas não chegou a ser concluída. As munições que não explodiram foram colocadas num buraco, para neutralização, e uma retroescavadora com cerca de 15 toneladas estava encarregada de tapar esse buraco com terra. A meio do processo, pelas 16h40, quando já existia alguma camada de pó castanho em cima das munições, deu-se uma explosão. E o sopro de terra foi suficiente para derrubar a máquina que pesa toneladas, adiantou fonte que esteve no local ao Observador.
A conduzir estava um dos militares que ficou ferido e que foi transportado de imediato para o Hospital de Abrantes. Mas do lado de fora, perto do buraco onde foram colocadas as munições, estavam mais sete pessoas. Uma delas era um sargento ajudante, de 47 anos. Este sargento era também a pessoa mais próxima do local onde estava a ser colocado o material e que acabou por morrer na sequência desta explosão.
Ministério Público abre inquérito sobre explosão no campo militar de Santa Margarida
O comando militar tem responsabilidade? O que desencadeou a explosão?
Para já, existem, sobretudo, dúvidas e poucas explicações para responder à pergunta: o que correu mal? A Polícia Judiciária Militar está a investigar o caso, como explicou o Exército em comunicado, e dará mais detalhes “assim que for oportuno”. Mas conhecem-se alguns dados que podem explicar por que razão estavam os militares tão perto dos explosivos: uma vez que estavam ainda a finalizar o último passo deste exercício, os oito homens ainda não se tinham afastado a uma distância de 800 metros — recomendada na realização destes exercícios.
Apenas duas pessoas escaparam sem ferimentos e foram assistidas no local. Os restantes cinco feridos foram todos levados de ambulância e de helicóptero para os hospitais de Coimbra e de Abrantes, sendo dois deles considerados graves. Já ao final da tarde, ficou a saber-se que todos os militares transportados para unidades hospitalares estavam estáveis.
Sobre os dois feridos transportados para Coimbra, o diretor do serviço de urgência do Hospital de Coimbra avançou que estavam já “estabilizados, sem sinais de maior gravidade e a colaborar com as equipas médicos”. “Sem sequelas” a nível oftalmológico, estes militares apresentavam “lesões pelo impacto que terão sofrido quando foram projetados e queimaduras da explosão”. Sofreram ferimentos nas pernas, mas “sem impacto na função dos membros”, acrescentou.
Fica, no entanto, sem se saber o que poderia ter feito o comando militar e quais as suas responsabilidades neste processo e o que desencadeou a explosão. Até agora, nenhuma fonte oficial indicou que tipo de munições estavam a ser colocadas no buraco, quais é que provocaram a explosão e qual a razão pela qual explodiram antes de os militares se afastarem. E também não se sabe se estavam presentes mais militares nas imediações, além daqueles que faziam parte do exercício.
O major-general Isidro Morais Pereira, em declarações à Rádio Observador, deixou várias pistas: na destruição de uma mina, “poderá haver outra, num local relativamente próximo, que poderá ter rebentado por simpatia, por exemplo”. Ou pode “ter existido algo que despoletou um explosivo que não estaria previsto”. “Agora, naturalmente, tem de se fazer uma investigação de segurança, os peritos têm de ir à área para saber o que se passou”, acrescentou.
Além do comunicado enviado pelo Exército, que dava conta da abertura de “um processo de averiguações” e de que se tratava de uma “equipa de inativação de engenhos explosivos do Regimento de Engenharia N.º 1 para a destruição, no local, de munições, explosivos e artifícios de fogo”, nada mais foi acrescentado e, à porta do campo militar de Santa Margarida também não foi dado nenhum esclarecimento aos jornalistas — nem autorizada a sua presença junta da porta do campo. Foi, aliás, Marcelo Rebelo de Sousa quem adiantou que este acidente tinha contornos “graves”, depois de dizer que estava “solidariamente as vítimas desse acidente e seus familiares”.
Depois do Presidente da República, também o Governo falou sobre o acidente — sem detalhes. Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República, lamentou o que aconteceu e prestou “solidariedade às respetivas famílias e ao exército português”. Na mesma linha, também o primeiro-ministro, António Costa, e a ministra da Defesa, Helena Carreiras, lamentar a morte de um militar. “Naturalmente estamos a apurar as circunstâncias, mas sobretudo temos a lamentar as vitimas”, disse o primeiro-ministro. E a ministra responsável pela pasta da Defesa desejou ainda uma “rápida recuperação” aos cinco feridos e deixou “uma palavra de solidariedade” aos militares envolvidos neste incidente.
Acidente com arma de fogo provoca morte a militar em Santa Margarida
“É a primeira vez que existe um incidente durante esta operação”
O acidente aconteceu a cerca de seis quilómetros da entrada principal do campo militar de Santa Margarida — mais ou menos no centro do campo — e, apesar da dimensão de dezenas de quilómetros que compõem este espaço, os habitantes de Santa Margarida, aqueles que vivem mais próximos do campo, já estão habituados a ouvir as frequentes explosões que resultam dos exercícios militares.
Aliás, nos dois cafés que estão situados já na Estrada Militar, cujo último destino é o campo, as trabalhadoras dizem que o barulho destas atividades já faz parte das suas rotinas. No entanto, ao contrário daquilo que é normal, esta quinta-feira não ouviram o barulho da explosão que provocou a morte a um sargento.
E, apesar de ser frequente, Marco Gomes, comandante dos Bombeiros de Constância, explicou ao Observador que esta “é a primeira vez que existe um incidente durante esta operação”. “Já tivemos outros acidentes, nomeadamente uma projeção de um disparo de um carro de combate, que caiu muito perto dos homens que estavam a fazer a vigilância, por uma falha de coordenada”, contou o comandante. E acrescentou mais um episódio: “Já tivemos numa operação de granadas, em que fizeram rebentamentos e provocaram alguns danos ao instrutor, que protegeu os instruendos.”
Sobre o que aconteceu esta quinta-feira, o comandante da corporação que esteve a dar apoio dentro do campo militar avançou que esta é “uma equipa altamente especializada. “Estão muito bem treinados para fazer isto. Portanto, aquilo que aconteceu foi que algo não correu dentro daquilo que era expectável, por motivo que há de ser apurado.”