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A nova E-XF, totalmente elétrica, recupera "os traços gerais" da aparência da XF-17, um ícone de uma geração em Portugal. FOTO: Edgar Caetano/OBSERVADOR
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A nova E-XF, totalmente elétrica, recupera "os traços gerais" da aparência da XF-17, um ícone de uma geração em Portugal. FOTO: Edgar Caetano/OBSERVADOR

A nova E-XF, totalmente elétrica, recupera "os traços gerais" da aparência da XF-17, um ícone de uma geração em Portugal. FOTO: Edgar Caetano/OBSERVADOR

FAMEL procura investidores para fazer renascer uma mota que "está no coração dos portugueses"

“Refundador” da FAMEL, que em 2014 comprou a marca histórica falida na viragem do século, garante que as primeiras entregas da E-XF (aos cerca de 100 que já reservaram) vão acontecer na primavera.

Uma mota que “está no coração dos portugueses” vai voltar às estradas já a partir da próxima primavera (2025), promete Joel Sousa, o engenheiro automóvel de Guimarães que há exatamente uma década comprou a FAMEL, a histórica marca falida na viragem do século. O novo modelo – a que se chamou E-XF – “recupera os traços gerais” da icónica XF-17, criada em 1975. É, porém, totalmente elétrica e, por isso, bem mais silenciosa.

O renascimento desta marca portuguesa, originalmente fundada em 1949, quer aproveitar a onda dos veículos elétricos e apostar na “tendência incontornável da mobilidade urbana sustentável”. As FAMEL (originais) foram um símbolo muito associado às aldeias e vilas de um país que nos anos 80/90 viveu uma “era dourada” de industrialização, mas Joel Sousa garante que, agora, a estratégia vai passar também pela mobilidade dentro das cidades – primeiro as portuguesas e, numa fase posterior, outras cidades europeias.

É, em parte, para “acelerar o crescimento e essa internacionalização” que a empresa decidiu abrir o capital a novos investidores – incluindo pequenos investidores que acreditem no projeto e que queiram aplicar um mínimo de 10 mil euros na ideia. E como vão poder fazê-lo? Através da compra de unidades de participação num fundo gerido pela sociedade de capital de risco (a Magnify Capital Partners) que é o maior acionista da “nova” FAMEL.

O Banco de Fomento já entrou nesse fundo e tem, neste momento, uma participação de 63%.

“Fomos percebendo que o capital necessário era bastante superior ao que prevíamos no início”, reconheceu Joel Sousa, o “refundador” da FAMEL que nesta terça-feira apresentou a E-XF a um conjunto de jornalistas num hotel no centro de Lisboa. Daí que, depois de o projeto atrair “grande interesse” quando foi apresentado na Exponor, Joel Sousa tenha ido “à procura de mais investidores” para acelerar a produção.

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Até ao momento, já foram investidos quase 2,5 milhões de euros no projeto, revelou Pedro Ortigão Correia, sócio da Magnify Capital Partners que partilhou a apresentação com Joel Sousa. A curto prazo o investimento deverá aumentar um pouco, até aos três milhões de euros, acrescentou o responsável, salientando o “escrutínio” que está associado ao facto de o Banco de Fomento ter uma participação maioritária neste fundo que a Magnify Capital Partners criou – o NOVUS – para investir em empresas com potencial de crescimento.

Joel Sousa e Pedro Ortigão Correia, sócio da Magnify Capital Partners, vão abrir o capital da empresa à entrada de pequenos investidores. FOTO: DR

O investimento já realizado permitiu desenvolver a mota e começar a produzir as primeiras unidades que, a partir da primavera, irão ser entregues às “cerca de 100” pessoas que, adiantando 600 euros à FAMEL, reservaram o direito de serem dos primeiros a receber a nova XF elétrica. A maioria dessas reservas foi feita por pessoas que vivem em Portugal mas a mota também suscita interesse no estrangeiro, sobretudo em países com fortes comunidades de emigrantes portugueses (como Alemanha, França e Luxemburgo).

Há um cliente, que vive no estrangeiro, que comprou duas motas e outro, até, que quer uma mota para a ter exposta na sala, revelou Joel Sousa.

A FAMEL é uma marca que está no coração dos portugueses, um ícone que é protagonista de inúmeras histórias que as pessoas contam da sua juventude, da sua infância. E foi esse histórico que me fez apaixonar pela marca”, diz Joel Sousa.

Preço? 6.200 euros. FAMEL não quer valer-se apenas da nostalgia

O objetivo, porém, não é produzir artigos vocacionados para a decoração de interiores. Os veículos elétricos são feitos para serem usados, preferencialmente, todos (ou quase todos) os dias, já que é isso que beneficia a longevidade de um dos principais componentes: a bateria.

E a FAMEL não quer valer-se apenas do sentimento de nostalgia: Joel Sousa garante que a qualidade da construção e dos componentes irá ser “tecnicamente superior” à das (poucas) marcas que existem neste segmento de mercado. O preço é um pouco superior ao de algumas marcas alternativas, na ordem dos 6.200 euros.

Está em negociação um acordo com um intermediário de crédito para financiar a compra da mota em condições especiais, afirma Joel Sousa, que indica que a prioridade neste momento é a venda direta de motas a clientes individuais. Não se exclui, porém, num horizonte de três a cinco anos, a produção de motas a pensar num modelo de partilha, em que as FAMEL podem ser usadas por várias pessoas.

Ligada a uma tomada convencional, a bateria carrega em menos de 5 horas. FOTO: DR

A E-XF tem um motor de 5 kW e duas baterias de 1,8kWh cada uma, que são removíveis e podem, por isso, ser carregadas diariamente por quem vive em apartamentos. A velocidade máxima ronda os 100 km/h, na versão 125cc, com uma autonomia (em condução citadina) que pode chegar aos 120 quilómetros.

Numa utilização mais realista, em que não se utiliza a totalidade da carga da bateria (não é aconselhável descarregar as baterias, muitas vezes, até menos de 10%/20% da sua capacidade), a E-XF servirá a quem faz viagens diárias (como a deslocação para o trabalho e, ao final do dia, para casa) na ordem dos 70/80 quilómetros.

Existe, também, uma versão de 50cc mas a generalidade das encomendas, até ao momento, são para a versão equivalente a 125cc, que pode ser conduzida com carta A1 ou B (carta comum de carro, com mais de 25 anos de idade) e pode circular nas auto-estradas. No futuro poderá estar, também, a criação de um modelo “scooter” (que Joel Sousa não diz se será inspirado na “lambreta” elétrica Electron, que a FAMEL lançou em 1993, em parceria com a Efacec).

Componentes vêm, sobretudo, de Portugal e de outros países europeus

As instalações originais da FAMEL, em Mourisca do Vouga (Águeda), não são, hoje, mais do que uma ruína arqueológica. Por isso, nesta fase a produção está a ser feita em Anadia, nas instalações de uma fábrica de bicicletas que é parceira da FAMEL.

Ícone de (mais do que) uma geração que caiu em desgraça

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A FAMEL foi fundada em Águeda (distrito de Aveiro) em 1949 e começou a produzir em 1950. Era uma fábrica de aros metálicos mas, na viragem para a década de 60, fez uma parceria com a alemã Zundapp, que fabricava motores.

Em 1975 foi lançada a XF-17, que se tornou a motorizada mais vendida, de longe, no País. Tornou-se um ícone de uma geração, ao longo de quase 20 anos – a procura perdurou até meados dos anos 1990.

Quando Portugal entra na então Comunidade Económica Europeia, em 1986, a procura começou a reduzir-se. Os automóveis começaram a ser cada vez mais vendidos e, nas motas, a concorrência de marcas internacionais complicaram o negócio e deitaram a FAMEL numa trajetória descendente que a levou a declarar falência, finalmente, em 2002.

Só em 2014 foi anunciado que iria haver um projeto de revitalização da marca, encabeçado pelo engenheiro automóvel Joel Sousa, que comprou os direitos da marca. A moto elétrica E-XF foi apresentada em 2022 e, neste ano de 2024, arranca a etapa do fabrico dos dois modelos (a Clássica, com dois lugares, e a mais desportiva Café Racer, para uma pessoa).

A maior parte dos componentes utilizados, aqueles que não são produzidos pela própria FAMEL, são comprados maioritariamente a fornecedores europeus – incluindo o motor e a bateria –, já que a FAMEL garante ter o objetivo de evitar ao máximo a compra de componentes vindos da China (que Joel Sousa diz ainda hoje serem associados, em muitos casos, a uma qualidade inferior).

É essa a origem dos componentes de uma das marcas que mais vendem em Portugal, neste segmento das 50cc/125cc elétricas, a Super Soco. Joel Sousa garante que a qualidade dos componentes usados é superior a essas marcas, dando como exemplo a correia de transmissão que, no caso da E-XF, é feita de kevlar, o material que é utilizado nos coletes à prova de bala.

Esse é um material de melhor qualidade – muito mais durável – do que aquele que é utilizado nas correias de transmissão de outras marcas, que podem precisar de ser trocadas após poucas dezenas de milhares de quilómetros percorridos. Componentes como estes, mais robustos, vão ajudar a que estas motas não precisem de muita manutenção regular, afirma o engenheiro que, quando comprou a marca FAMEL trabalhava na Salvador Caetano, na área dos autocarros elétricos.

A ideia é ter 50% dos componentes fabricados em Portugal e 80% de fabrico europeu, indicou Joel Sousa.

Joel Sousa revelou ao Observador, à margem da apresentação, que para as (reduzidas) necessidades de manutenção destas motas o que está a ser pensado é que as intervenções sejam feitas por um técnico especializado que, com marcação, se desloca até à casa do cliente numa carrinha equipada com as ferramentas necessárias. Isto para que, sendo esta uma mota elétrica, com autonomia limitada, a distância dos clientes em relação ao centro de distribuição não seja um constrangimento.

Esse cuidado no “pós-venda” é outro fator, diz Joel Sousa, que será “distintivo”, na comparação com outras marcas concorrentes, “onde o serviço pós-venda, muitas vezes, deixa algo a desejar”. Outra aposta da empresa será na personalização das motas, com recurso à impressão 3D, algo que “é muito importante para as novas gerações, poderem ter a sua FAMEL”. O negócio irá passar, também, pela aposta na criação de comunidades digitais de pessoas que partilham o gosto pela marca.

O objetivo é chegar a 2029 com uma produção anual de 2.000 motas, revelou Joel Sousa. Pedro Ortigão Correia acrescentou que “este projeto para arrancar não precisa de mais capital – mas todo o capital que existir será aplicado”, designadamente fazendo um “projeto de internacionalização mais rápido”.

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