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Autoridades de saúde continuam a rastrear todos os contactos de quem esteve na festa, a 7 de junho
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Autoridades de saúde continuam a rastrear todos os contactos de quem esteve na festa, a 7 de junho

Vanessa Cruz/Observador

Autoridades de saúde continuam a rastrear todos os contactos de quem esteve na festa, a 7 de junho

Vanessa Cruz/Observador

Festa ilegal com quase 100 pessoas. Quatro horas bastaram para criar novo surto no Algarve

Grupo que alugou o salão prometeu que seriam apenas 20, mas podem ter sido quase 100. E depois da intervenção da GNR, a festa continuou noutro local. Até ao momento há 16 infetados, dois internados.

A promessa era de que seriam, no máximo, 20 pessoas — o limite permitido para ajuntamentos por causa da pandemia do novo coronavírus. Mas apareceram “umas boas dezenas, perto de uma centena”, ao que sabe até ao momento o presidente da Câmara Municipal de Lagos. O salão do Clube Desportivo de Odiáxere, no concelho, foi alugado para uma festa que nada tinha a ver com desporto. Um aniversário, foi a garantia dada à presidente do clube, que chegou mesmo a ver o bolo. As velas, porém, ficaram por soprar.

A GNR acabou com a celebração quatro horas depois de ter começado, na sequência de uma denúncia. Mas foi o suficiente para que o encontro originasse um novo foco de infeção: 16 infetados até agora, entre eles duas crianças. Entre os que ficaram doentes, dois adultos estão internados. Já foram testadas dezenas de pessoas, entre o grupo que se juntou na festa e familiares ou contactos mais próximos dessas pessoas. Mas há ainda resultados pendentes e os números podem continuar a subir, à medida que são feitos os rastreios.

Covid-19. Sobe para 16 número de infetados com ligação a festa ilegal em Lagos

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No aniversário, celebrado a 7 de junho, estiveram pessoas de várias localidades do país, como Lisboa e Coimbra. Naquele local terá sido a primeira vez, mas este tipo de festas privadas estarão a acontecer noutros pontos do Algarve e não só. PSP e GNR estão atentas, mas só conseguem agir em caso de denúncia, por não serem encontros publicitados. As autoridades de saúde estão preocupadas e vão renovando os apelos.

Não há dados sobre quantos novos casos têm surgido deste tipo de encontros, mas teme-se que o verão e as férias os possam fazer multiplicar.

Já há duas semanas, em entrevista à TVI,  o primeiro-ministro dizia que “um dos maiores riscos, neste momento, são as raves, as covid parties e as festas particulares”. E a propósito dos santos populares, a ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, questionada sobre a existência de “festas privadas” e de “arraiais disfarçados”, tinha alertado para as regras impostas a “esse tipo de festas”, que “têm sido pontos problemáticos nas últimas semanas”. Isto numa altura em que bares e discotecas continuam encerrados e sem data para reabrir.

Não há dados sobre quantos novos casos têm surgido deste tipo de encontros, mas teme-se que o verão e as férias os possam fazer multiplicar. Pelo menos em Lagos, o patrulhamento policial já foi reforçado.

Uma festa organizada à distância

O primeiro contacto com o Clube Desportivo de Odiáxere foi feito por telefone. Um homem — morador em Coimbra, mas visita frequente do Algarve — queria juntar algumas pessoas para uma festa de aniversário, a 7 de junho, no salão que o clube disponibiliza para eventos. O negócio acabaria por ficar fechado no final de maio, quando ainda se mantinham várias medidas de restrição por causa da pandemia. Nessa altura faltavam duas semanas para a festa e, já presencialmente, todos os detalhes foram acertados entre o organizador e a presidente do Desportivo de Odiáxere.

“Ainda ponderámos, ficámos resistentes, mas dissemos que não era permitido mais do que 20 pessoas e [o organizador] disse que assim seria”, conta Sofia Santos.

Eram 14h30 do dia marcado quando as pessoas começaram a aparecer, “uma a uma”. E, logo no início, não houve qualquer problema — tanto que, por volta das 16h00, uma patrulha da GNR confirmou que estava tudo bem. “A GNR ainda passou na estrada, aqui na rua, e estava tudo pacífico”, recorda a responsável pelo espaço.

Uma moradora na mesma rua recorda que, para além da música, se apercebeu de um “entra e sai” constante para o salão. “Entravam e saíam, estavam muitos carros aqui.”

O cenário, porém, foi mudando de figura. Os convidados continuaram a chegar e acabaram por ultrapassar o limite máximo definido — não só pela lei, como pelo compromisso que, garante Sofia Santos, tinha sido assumido. À Rádio Observador, a presidente do clube conta que, quatro horas depois do início da festa, apercebeu-se de que o acordo estava a ser quebrado e decidiu recorrer à GNR. Fomos nós que chamámos as autoridades“, explica.

“Quando o número permitido de pessoas foi excedido, fomos nós que chamámos a GNR”

Nessa altura, estariam dentro do espaço “mais de 20” ou “talvez 30” pessoas, diz Sofia Santos, que prefere “não entrar em números”. Mas no total, durante aquelas quatro horas, terão passado pela festa muitas mais.

Uma moradora na mesma rua, Alcina Nunes, explica que, para além da música, se apercebeu de um “entra e sai” constante para o salão. “Entravam e saíam, estavam muitos carros aqui.” Ainda viu “duas pessoas na rua a discutir”, mas não se apercebeu de desacatos de maior. Conseguiu contabilizar umas duas dezenas de pessoas, mas não entrou no espaço, só espreitou.

E esse entra e sai explicará que, à medida que o tempo passa, a contabilização de convidados vá aumentado. O presidente da Câmara de Lagos fala em “umas boas dezenas” de pessoas.“A informação chega-nos a todo o momento, mas sim, perto de uma centena”, diz Hugo Pereira ao Observador.

A festa aconteceu no Clube Desportivo de Odiáxere, em Lagos

Vanessa Cruz/Observador

O salão — alugado para “casamentos, batizados, aniversários, reuniões e outras festas”, segundo uma faixa colocada na fachada do edifício — tem metros quadrados suficientes para juntar várias dezenas de pessoas e não faltam ingredientes para uma festa: há balões, um bar, máquinas para tirar cerveja ou vinho à pressão e papéis nas paredes a anunciar os preços das bebidas. Só não poderia ter sido usado, nesta altura, como foi.

Convidados vieram do Algarve e de outras zonas do país

O grupo, “sempre pacífico”, garante a presidente do clube, foi alertado para todos os cuidados a ter numa festa privada. “Não medimos a temperatura, alertámos para a colocação de máscaras”, diz, garantindo que “a maioria tinha máscaras”. Se as tinham, não as usavam na rua, conta a vizinha que falou com o Observador.

Certo é que os convidados não seriam todos do Algarve. “Disseram-me que algumas pessoas não eram daqui, havia algumas de Lisboa, outras de Quarteira e Portimão”, conta Sofia Santos — a somar ao organizador, que será de Coimbra, mas que se desloca habitualmente à região.

Só esse homem foi identificado e “notificado” pela GNR, disse ao Observador fonte oficial do comando de Faro. Não houve, porém, qualquer multa. A notificação “serve de prova” no caso de reincidir no mesmo comportamento. A mesma fonte confirma que a GNR foi chamada pela própria direção do clube desportivo. À chegada, os militares terão encontrado cerca de 30 pessoas e “todas cumpriram” a ordem para abandonar o local.

O salão pode ser alugado para festas privadas ou eventos como casamentos e batizados

Vanessa Cruz/Observador

Isto apesar de a presidente do clube dizer que ainda foram precisas cerca de três horas para esvaziar totalmente o espaço. “Foram saindo todas e a GNR ainda voltou cá. Às 21h40 já não estava ninguém”, conta Sofia Santos.

A festa, porém, não ficou por ali.

“Festa continuou noutro lado”. Pessoas com sintomas começaram a fazer testes e as autoridades montaram o puzzle

Embora os festejos tenham sido interrompidos no Clube Desportivo de Odiáxere, ainda havia velas por soprar. “Eles levaram o bolo”, conta a responsável pelo espaço. E levaram-no para outro lado.

Isso mesmo terão revelado os próprios convidados, dias depois, quando as consequências do encontro começaram a aparecer. “Apareceram no local onde temos estado a fazer os testes no concelho [um posto móvel de colheitas] um conjunto de pessoas que diziam ter estado na festa — e que eram uma boas dezenas — e que a festa acabou por ser transferida para outro concelho”, conta o presidente da câmara de Lagos, Hugo Pereira, em declarações à Rádio Observador, sem que se saiba o local exato para onde a festa foi levada.

O alerta gerado pelos sintomas que alguns já manifestavam, a que se somou depois a confirmação de três casos positivos, no último fim de semana, levou as autoridades de saúde a agir. A partir daí foi desencadeado um processo para testar não só os que tinham estado no aniversário, mas também os seus familiares e colegas de trabalho.

Duas pessoas estão internadas, uma com 27 e outra com 39 anos. Entre os infetados há duas crianças, de 7 e 11 anos.

Até agora, já foram testadas dezenas de pessoas. Segundo o balanço feito em conferência de imprensa pela delegada regional de Saúde do Algarve, Ana Cristina Guerreiro, há ainda dez casos suspeitos a aguardar resultados e pelo menos outros dez à espera de fazer teste.

A Câmara de Lagos está preocupada com a atualização constante do número de pessoas que passaram pela festa e, em consequência, do número de pessoas com quem, depois, estiveram em contacto, em casa ou no trabalho. O primeiro caso foi confirmado a 10 de junho e, passada quase uma semana, a autarquia ainda está longe de poder dar a situação como controlada.

Só durante esta terça-feira, os testes positivos subiram de seis para nove e, em poucas horas, quase duplicaram, para 16. Duas pessoas estão internadas, uma com 27 e outra com 39 anos. Entre os infetados há duas crianças, de 7 e 11 anos.

E no verão, como vai ser?

Apesar dos apelos, as autoridades sabem que, com a chegada do período de férias e do bom tempo, este tipo de eventos pode começar a multiplicar-se. E é por isso que, também em Lagos, o apelo à contenção vem agora acompanhado do exemplo deste caso e do perigo que representou para a saúde pública.

Percebemos que este tipo de festa deste ou de festas parecidas com jovens são frequentes um pouco pontualmente pela região e fora dela. Neste local ao certo, ao que sabemos, foi pontual. É importante que esta tenha sido a última festa que se fez não cumprindo as normas e comprometendo a saúde pública da região e o esforço que tem sido feito no Algarve e em todo o país”, alerta o presidente da Câmara de Lagos.

Autarca de Lagos: “Este tipo de festas são habituais na região”

O autarca garante que o patrulhamento da GNR e da PSP foi reforçado — “a GNR com cavalos e o corpo de intervenção da unidade especial da polícia” — e apela à “atenção redobrada” localmente para possíveis encontros, em sítios fechados ou abertos, “para evitar este tipo de ajuntamento, que não traz nada de positivo”.

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