Em poucas horas, subiu de 9 para 16 o número de casos confirmados de coronavírus relacionados com a festa ilegal que ocorreu no Clube Desportivo de Odiáxere, Lagos. A delegada regional de Saúde do Algarve, Ana Cristina Guerreiro, revelou o novo balanço esta tarde, em conferência de imprensa.

Há dez pessoas a aguardar resultados e outras dez ainda à espera de fazer teste. Duas pessoas estão internadas, uma com 27 e outra com 39 anos. Entre os infetados há duas crianças, de 7 e 11 anos. O primeiro caso foi registado a 10 de junho (a festa realizou-se no fim-de-semana anterior).

O evento, realizado num espaço alugado numa vila do concelho, no último domingo, terá reunido “umas quantas dezenas de pessoas”, algumas delas de localidades de fora da região do Algarve, possivelmente de “Lisboa e Coimbra”, adiantou à Rádio Observador o autarca, Hugo Pereira. O “foco de contágio ativo”, resultado da “organização de um evento festivo ilegal” de Covid-19, está a preocupar a Câmara Municipal, que deu conta do surto num comunicado emitido esta segunda-feira.

Segundo a nota, “apesar de ainda não constarem no relatório diário da Direção-Geral da Saúde, existem já alguns casos positivos confirmados” no concelho. As “entidades competentes” estão a “realizar testes, a determinar medidas de isolamento e a identificar as possíveis cadeias de contágio”, para que o foco “fique o mais depressa possível circunscrito”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Festa ilegal em Lagos juntou dezenas de pessoas: “Temos 6 ou 7 casos positivos, já fizemos mais 60 testes”

Espaço foi alugado para festa de aniversário, mas evento reuniu várias dezenas, incluindo de outras regiões

À Rádio Observador, Hugo Pereira esclareceu que a autarquia soube pela autoridade de saúde “que havia suspeitas de casos positivos” em Lagos e que todos tinham em comum “a participação numa festa numa vila” do concelho durante a tarde de sábado, 13 de junho. O evento foi organizado num clube recreativo de Odiáxere, a cerca de 15 minutos de Lagos, alugado com a justificação de que seria usado para uma festa de aniversário com dez, 15 pessoas.

“Foi com base nisso que o clube autorizou a cedência do espaço, [que] depois foi utilizado para outro fim”, disse o presidente da Câmara, acrescentando que terão participado “umas quantas dezenas”. O número exato, que poderá incluir participantes de outras regiões do país, como “Lisboa e Coimbra”, ainda não foi apurado pelas autoridades responsáveis. A festa decorreu entre as 18h e as 20h, até que foi interrompida pela GNR, chamada ao local na sequência de várias queixas.

A presidente do Clube Desportivo de Odiáxere, Sofia Santos, explicou ao Observador que a indicação que teve por parte do organizador da festa é que teria no máximo o número permitido atualmente por causa da pandemia. Porém, cerca de quatro horas depois do início, a direção apercebeu-se de que o número tinha sido excedido para cerca de 30 pessoas e, por isso, foi a própria direção do espaço a chamar a GNR.

“Quando o número permitido de pessoas foi excedido, fomos nós que chamámos a GNR”

Sofia Santos ressalva que o grupo era pacífico e que foi abandonando o espaço depois da chegada das autoridades, tendo levado o bolo com as velas ainda por soprar. A responsável tem indicação de que o grupo foi depois festejar para outro local.

Organizador da festa notificado

Fonte oficial da GNR de Faro confirma que foi chamada pelo próprio clube e que seriam cerca de 30 as pessoas no espaço. Foi dada ordem de dispersão, todas cumpriram sem terem sido identificadas uma a uma.

O organizador da festa “foi notificado”, mas não multado. A notificação “serve de prova” no caso de reincidir no mesmo comportamento.

Reconhecendo a existência um foco de infeção em Lagos — concelho onde, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde, havia cinco casos —, fonte da Administração Regional de Saúde do Algarve revelou à Lusa que o trabalho de identificação das pessoas envolvidas está ser feito com outras “estruturas da comunidade”, nomeadamente, com a PSP.

Maioria dos testados são familiares ou colegas de trabalho de pessoas que estiveram na festa

A autarquia está a trabalhar no sentido de conseguir que sejam feitos “o maior número de testes possíveis” a pessoas que estiveram na festa ou que estiveram contacto com quem esteve, “por via profissional ou familiar”. Durante a noite desta segunda-feira, o autarca deu conta à Rádio Observador da realização de “60 e poucos testes”, dos quais “seis ou sete” já tinham dado positivo. Aguardavam-se os restantes resultados.

Alguns dos testes tiveram de ser assegurados pelo município de Portimão por Lagos não ter capacidade para realizar mais do que 5o testes. A divulgação da informação de que a Câmara Municipal estava a tentar identificar pessoas que tivessem estado na festa ou que tivessem tido contacto com quem esteve fez com que mais de cerca de dez pessoas se prontificassem para serem testadas. A maioria dos testados não esteve no evento, tratando-se de familiares ou colegas de trabalho de participantes, esclareceu Hugo Pereira.

Moradora conta que ouviu música e um “entra e sai” do salão de festas

O salão localizado dentro do centro desportivo é um espaço onde cabem várias dezenas de pessoas, tem bar, decoração de festa e papéis nas paredes a anunciar os preços das bebidas.

As funcionárias do café recusaram-se a prestar informações, mas confirmaram a realização da festa, uma moradora da rua contou ao Observador que uma das pessoas da festa lhe disse na rua que se tratava de uma comemoração de aniversário, com música, e sem proteção individual. “Entravam e saíam, estavam muitos carros aqui”. Pode ouvir o testemunho neste noticiário:

Novo ministro das Finanças garante que não vai haver aumento de impostos

A moradora conta ainda que viu duas pessoas na rua do centro a discutir, mas não se apercebeu de desacatos de maior.

Artigo atualizado às 16h30 com o aumento do número de casos confirmados de 9 para 16