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LUSA/José Sena Goulão

LUSA/José Sena Goulão

Filipa já tinha o seu ouro: a final de Paris. Ainda lhe juntou um lugar no top20 e o melhor registo de sempre na ginástica em Portugal

Ultrapassou lesões, lançou um movimento de dificuldade superlativa e cunhou o seu nome num movimento totalmente novo. Despede-se dos seus terceiros Jogos como a melhor de sempre na ginástica nacional.

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Fez história ao alcançar a final de all around nos Jogos de Paris. Fez história quando subiu ao 37.º lugar no Rio, em 2016. Já tinha feito história como a mais medalhada ginasta portuguesa de sempre. Também foi histórico o momento em que deu a conhecer ao mundo o “Martins”, o movimento que batizou com o seu apelido e com o qual escreveu mais uma linha (um parágrafo? Um romance inteiro!) no grande livro da ginástica mundial. Desse o que desse, desse por onde desse, Filipa Martins já era um nome de destaque na modalidade quando subiu ao palco maior do desporto mundial para competir com Biles, Andrade e companhia.

Se os números é que contam, para a história destes Olímpicos fica o 20.º lugar na final de all around. Filipa acabou por sair prejudicada por alguns erros cometidos durante os vários exercícios e foi passando do 20.º para o 21.º lugar, a seguir 23.º lugar, acabando por recuperar posições na geral e concluir a prova com 51.232 pontos. Só para efeitos de contexto, a medalha de ouro, Simone Biles, terminou a prova com 59.131 pontos.

O arranque de Filipa Martins, com o exercício na trave, até foi promissor, com 12.700 pontos, ligeiramente acima da pontuação que tinha obtido no primeiro dia de competição. Depois, no solo que cumpriu na segunda rotação, ficou fragilizada por algumas falhas de execução. Seguiram-se a mesa — com nova falha no momento da saída e uma penalização — e, finalmente, as barras paralelas assimétricas com 13.566 pontos.

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Mas a história estava feita. Filipa já tinha a sua medalha de ouro: ir à final. Mais que isso, a ginasta portuguesa regressa à Maia com outro feito de registo no seu palmarés: top 20 nuns Jogos Olímpicos, algo nunca antes conseguido na história da ginástica em Portugal.

O que Filipa andou para ali chegar

Tinha quatro anos quando começou a aventurar-se pela ginástica. Nada sério, claro, numa idade em que o desporto se faz mais para incutir hábitos e, enfim, perceber se o bichinho morde mais por alguma área em particular do que propriamente a pensar em competições.

“Comecei a ginástica com quatro anos, por iniciativa dos meus pais e no infantário também praticávamos um bocadinho de todas as modalidades. Na altura, a mãe de uma amiga minha que trabalhava, e ainda trabalha, na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Tinha lá um clube e perguntou se não queria ir lá experimentar”, contou ao portal Sapo em maio deste ano.

Filipa quis experimentar — o tal clube era o Sport Clube do Porto, onde a ginasta acabou por se manter até 2019. Nesse ano, ainda não havia uma ida aos Jogos Olímpicos a anunciar-se claramente no horizonte. A ambição já pairava na mente da ginasta, mas longe do patamar que alcançou na capital francesa.

"Tenho cinco cirurgias nos tornozelos. Há dias melhores, há dias piores, e tento sempre prevenir ter mais lesões, mas acabo sempre por não saber bem o dia de amanhã"
Filipa Martins, ginasta portuguesa nos Jogos de Paris

“Nunca imaginei chegar onde cheguei”, contou na mesma entrevista. “Acho que foi um processo, mas sempre tentei lutar pelos meus objetivos que na altura, se calhar, [passavam] só ser campeã nacional. Sempre tentei superar-me diariamente e tornar-me melhor do que era no dia anterior. Apenas aos 15/16 anos, quando comecei a ter competições internacionais, é que comecei a sonhar com os Jogos Olímpicos. Aos 4, 5, 6 anos era para me divertir no recreio ao final do dia”, recordava em maio.

Em 2016 já não era só diversão. Chegou ao Rio, viu e saiu desses Jogos com o 37.º lugar. Inédito. Em Tóquio correu menos bem: ganhou experiência olímpica, mas não conseguiu (ler a expressão com muitas aspas) ir além de um 43.º lugar. Pelo caminho, foi aperfeiçoando o seu movimento (já lá vamos) e aprendendo a lidar com as marcas que se vão naturalmente instalando no corpo de quem já tem uma carreira de mais de 20 anos na ginástica.

“Tenho cinco cirurgias nos tornozelos. Há dias melhores, há dias piores, e tento sempre prevenir ter mais lesões, mas acabo sempre por não saber bem o dia de amanhã. Se vou acordar com mais dores, se vou acordar com menos dores. Isso é o que me deixa mais frustrada, porque quero treinar e às vezes não consigo, e vou ter de não treinar direito naquele dia”, contava em entrevista à Renascença já em julho deste ano. É essa, na maior parte das vezes, a grande limitação para ir mais longe. “São sempre as lesões que me impedem de treinar como eu quero e como eu gosto, para atingir aquilo que eu quero.”

A guerreira que mudou a história para fazer a sua história: Filipa Martins arriscou e conseguiu chegar à final do all-around dos Jogos

“Estes últimos anos não foram muito fáceis para mim, nem para as minhas lesões”, admitia recentemente. “O Campeonato da Europa deste ano, o Campeonato da Europa no ano passado e a minha falha no Campeonato do Mundo do ano passado acabaram por me deitar um bocadinho abaixo. Então, este Campeonato do Mundo [de 2024] foi uma lufada de ar fresco, não só por me ter apurado para os Jogos, mas por ter conseguido fazer, outra vez, uma prova em que me sentisse bem, sem dores. Estava no meu mundo a fazer a prova e isso é o mais importante: divertirmo-nos e realmente gostarmos daquilo que estamos a fazer em competição.”

Mas houve momentos em que as dores e as lesões se fizeram sentir além dos treinos. Aquele feito em 2016, no Brasil, foi alcançado com uma lesão grave que já se arrastava há meses. ​”Fiz os Jogos Olímpicos praticamente com um pé partido. Era uma lesão que tinha desde abril, por isso, conseguir lá estar e acabar a minha prova foi quase como ganhar uma medalha de ouro, porque depois do primeiro aparelho não conseguia sequer andar. Foi mesmo preciso gerir o estado psicológico e físico com a minha treinadora”, recordava numa conversa com o site de desporto Mais Futebol.

Um movimento gerado na pandemia

2014-2021. Sete anos. Quase um terço da sua carreira. Foi esse o tempo que Filipa Martins passou a treinar, a ensaiar, a aperfeiçoar um movimento novo que só poria à prova precisamente em Paris, nas qualificações para a final de all around que lhe valeram a conquista de mais um marco histórico.

LUSA/José Sena Goulão

“O nome técnico é Yurchenko com dupla pirueta. É uma rodada com flic por cima da mesa e mortal com duas piruetas”, contava esta semana a ginasta ao Público. “Estou a tentar aquele salto desde 2014, mas é tão arriscado que temos medo de o meter em competição. Aos 28 anos, pô-lo em competição. Não temos palavras. Estávamos com medo. É difícil e arriscado”, assumiu Filipa Martins. O prémio compensou o risco.

Mas esta não é sequer a primeira vez que a ginasta da Maia surpreende. De surpresa foi, aliás, a reação das colegas quando a viram nas paralelas assimétricas, no Campeonato Europeu de Ginástica Artística de abril de 2021, na Suíça — pouquíssimo tempo antes de Filipa rumar a Tóquio. Tinha decidido mostrar o seu “Martins” ao mundo.

“Não foi algo pensado, de todo”, garantia recentemente ao portal Sapo. O país estava novamente em quarentena, o mundo estava fechado dentro de casa por culpa da pandemia provocada pela Covid-19. “Voltámos ao treinos, ali no final de maio, não tínhamos nenhumas competições nesse ano, porque tinham sido todas canceladas. E começámos a experimentar coisas diferentes e a testar novos elementos para depois meter nos esquemas. Foi assim que começou a surgir o ‘Martins’”, contava na mesma entrevista.

"Quero ser treinadora. Vou tentar passar um bocadinho desse exemplo às minhas atletas."
Filipa Martins, ginasta portuguesa nos Jogos de Paris

No fundo, tudo começou com uma experiência, longe de imaginar — Filipa e os seus treinadores — que estavam prestes a criar qualquer coisa de novo, a inscrever o nome da ginasta na história do desporto olímpico. “Quando fomos ao código de pontuação para saber quanto é que valia, para meter no esquema, só aí percebemos, passados dois ou três meses, que o elemento não existia.” Esse movimento — pelo elevado grau de dificuldade de execução — vale seis décimas num esquema. “O ‘Martins’ foi o que nos motivou um bocadinho a lutar, não havendo competições e sem ter objetivos assim mais específicos”, recordava a ginasta.

O day after da ginástica

Aos 27 anos, era das mais velhas ginastas em competição nos Jogos de Paris (na final, era mesmo a sénior do grupo). Pensar no day after, no caminho que quer seguir no dia em que decidir virar a página da competição, é inevitável. Nada que a preocupe, até porque essa segunda etapa já começou a ser preparada.

Para já, está a tirar o mestrado em treino de alto rendimento. Tudo a pensar no passo seguinte.

“Quero ser treinadora”, atira sem hesitações. “Vou tentar passar um bocadinho desse exemplo às minhas atletas. Sei que em alguns momentos da minha adolescência também não tive os melhores exemplos e, se calhar, não fui o melhor exemplo [risos], mas é assim que se cresce e que se aprende, também”, contava à Renascença na fase final de preparação para os Olímpicos de Paris.

 
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