“Quando saírem, vou calçar as sapatilhas. Não acredita?”, a pergunta de Fontainhas Fernandes, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), é quase retórica, mas acenamos que sim com a cabeça. Aos 56 anos, ainda mantém a postura de quem passou anos a jogar raguêbi e é a pé que gosta de se movimentar pela cidade, deixando no escritório os sapatos e a gravata de reitor. Também não gosta da grande secretária que tem no escritório, mas, quando tomou posse, já lá estava. “Gosto de falar com as pessoas fora destes espaços, ou então aqui”, diz, apontando para uma pequena mesa redonda onde conversamos durante uma manhã. “Há mais proximidade”, sublinha o reitor, que acredita que os tempos modernos nos trouxeram a ditadura do email. “Nós até podemos saber o correio eletrónico um do outro, mas isso não chega. É preciso falar com as pessoas, olhá-las.”
Não é na capital que passa os seus dias, já que a maior parte do seu tempo é passado nos 120 hectares do campus da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), onde é reitor desde 2013 e onde fica o maior jardim botânico da Península Ibérica. Uma universidade que ambiciona ser carbono zero e onde cada edifício se esconde por trás de um jardim, para minimizar a presença do betão.
Mas a conversa não foi sobre a UTAD. Foi no rescaldo da Convenção Nacional do Ensino Superior, organizada pelo CRUP e que ficou marcada pela defesa do fim das propinas quer pelo Governo quer pelo Presidente da República. Uma decisão que Fontainhas Fernandes não rejeita, desde que o Governo assegure que esses valores vão continuar a ser injetados nas universidades por outros meios. O que não pode acontecer, defende, é esperar-se que as universidades arranjem novas formas de financiamento do dia para a noite, quando já sofrem de um subfinanciamento crónico.
Se, para a imprensa, os títulos que saíram sobre a convenção foram essencialmente sobre propinas, o grande objetivo deste e dos próximos encontros é criar uma agenda para o ensino superior para a próxima década. E, numa altura em que se inicia um novo ciclo eleitoral, nacional e europeu, os reitores querem conseguir compromissos que os partidos políticos inscrevam nos seus programas eleitorais.
Forte defensor da ação social, que diz ser desejável que cresça através de fundos comunitários, vê na captação de estudantes estrangeiros uma grande aposta para o país e que poderia devolver a Portugal “o papel que teve na era dos Descobrimentos”.
Não rejeita uma mudança de regras no acesso ao ensino superior, muito pedida pelos diretores de escolas secundárias, e acredita que esse é um grande debate que tem de se fazer na sociedade, porque a nota de um exame nacional pode fazer perder todo o investimento que a família fez na educação de um filho. “Temos de olhar para os danos que o sistema causa ao jovem porque o exame nacional foi atípico.”
Das universidades, espera que sejam espaços democráticos, exemplos de ética e de responsabilidade social e, acima de tudo, amigas das pessoas. “Os estudantes têm de estar no epicentro da academia e, para isso, temos de ir ter com eles e ouvi-los. Esse contacto de proximidade é que é uma universidade amiga.”
A discussão à volta do fim das propinas marcou a convenção, com o ministro do Ensino Superior e o Presidente da República a apontarem esta solução. Como encara esta hipótese?
O que ouvi do ministro Manuel Heitor foi que, desejavelmente na próxima década, Portugal devia caminhar para a diminuição progressiva de propinas para diminuir o peso das famílias, até porque somos um dos países onde as famílias fazem maior esforço para ter estudantes no ensino superior. As propinas contribuem para isso, tal como o alojamento.
São duas coisas que pesam muito no orçamento das famílias que têm filhos nas universidades.
É um peso muito grande. Penso que a questão do financiamento do ensino deveria ir para lá do pré-primário, do básico e do secundário, e deveria chegar também à universidade. Seria uma aposta. Sobre o financiamento do alojamento, foi dito que não haveria reforço do Orçamento do Estado para construção de alojamento, mas que essa seria uma prioridade e que iriam ser encontrados outros mecanismos.
Mas o fim das propinas preocupa-o?
O Presidente da República disse, no final da convenção, que, desejavelmente, a diminuição das propinas deveria ser um dos caminhos a seguir. O que nós, reitores, dizemos é que essa é uma decisão política e terá de ter ser o futuro arco de governação a decidir. Mas, se se apontar nesse sentido, e atendendo ao peso que as propinas têm nas receitas próprias das instituições, o Governo terá de garantir que esse valor está claramente inscrito em sede de Orçamento do Estado (OE). O valor total das propinas é superior a 200 milhões de euros. Se algum grupo político achar que esse é o futuro do país, tem de garantir que esse valor estará no OE, até porque o grau de dependência das universidades das receitas próprias é bastante elevado. Não podemos pedir às universidades que vão agora encontrar novos financiamentos para suportar a perda das propinas. Não podemos ser nós a encontrar alternativas.
O grosso das receitas próprias vem exatamente das propinas?
É uma fatia muito, muito significativa. Temos um subfinanciamento crónico no ensino superior e, de 2008 para 2018, o aumento foi ténue: o que houve no Orçamento do Estado foi todo praticamente destinado às valorizações salariais. Houve um conjunto de decisões políticas, como o descongelamento de carreiras, nós cumprimos essas decisões e houve transferências. Mas o aumento foi muito reduzido, não foi para atenuar o subfinanciamento, mas sim para cumprir uma alteração legislativa. O mesmo se passa com outro assunto que está em cima da mesa e que é a precariedade: o que sugerimos ao Governo é resolver os casos em que ele considera que há precariedade — há uma comissão que avalia os diferentes requerimentos. Mas terá de ser o Governo, que implementou a medida, a suportar a diferença entre aquilo que pagamos neste momento e aquilo que passaremos a pagar com os novos contratos que forem celebrados. Penso que a questão é clara. Não há aqui nenhuma resistência da nossa parte, há apenas a necessidade de garantir a sustentabilidade das instituições de ensino superior.
Ou seja, os reitores não veriam problemas no fim das propinas, desde que os 200 milhões de euros chegassem às instituições por outra via.
Se, no limite, for para terminar com as propinas na sua totalidade, o governo terá de garantir esses 200 milhões de euros, evidentemente.
Este é o tipo de decisão que tem de ser ponderada, ou seja, não pode ser tomada no âmbito de uma legislatura, para na seguinte se reverter a medida?
O que ouvi por parte do governo foi a palavra “desejavelmente” e “gradual”. Não poderia ser de um dia para o outro que se acabava com as propinas.
O que lhe falo é da alternância política habitual em Portugal. Amanhã o governo muda de cor política e as propinas voltam a aumentar. Isso não é desejável?
Exatamente. Também vi, do lado do PSD, a ideia de que possam existir contratos de financiamento plurianual, o que também é uma boa medida. Todos os anos, em agosto, recebemos indicação do plafond que temos. Se nos for dito que para uma legislatura o financiamento que temos é x, penso que nos dará mais estabilidade. Foi nesse sentido que defendemos o contrato que firmamos com o governo. O governo propôs fazermos um contrato durante quatro anos em que suportará os encargos com qualquer alteração financeira ou legislativa que tenha impacto financeiro. Por outro lado, isso evitaria as cativações. Governar uma instituição e em determinado mês ser confrontado com uma cativação financeira é de uma enorme instabilidade. A mudança de arquitetura legislativa constante causa sempre problemas. A convenção acabou por centrar-se muito nas declarações do senhor ministro e do senhor Presidente da República, mas houve outros temas muito interessantes.
Como por exemplo?
O Partido Comunista defendeu que é preciso corrigir o subfinanciamento crónico e que tem de ser o Orçamento de Estado a fazê-lo, o PSD defendeu questões como o financiamento plurianual, como já disse. Agora era importante que mais do que serem posições ditas na convenção se tornassem propostas inscritas em compromissos eleitorais.
Esse é aliás um dos objetivos da Convenção, conseguir compromissos, numa altura em que entramos num novo ciclo eleitoral.
Continuamos a centrar-nos muito no orçamento e nas políticas de ação social. Sobre estas, é importante ver que têm uma forte dependência de fundos comunitários. É importante perceber se há um compromisso de quem vai assumir a liderança do país de que tem de conseguir da Europa o reforço e a continuidade deste montante financeiro. Idealmente tem de reforçá-lo. Caso essa não seja política europeia, o Estado tem de assumir esse compromisso da ação social. Voltando atrás na nossa conversa, nos últimos dez anos não houve reforço do ensino superior e as instituições mantiveram sempre equilíbrio financeiro. E porquê? Porque Portugal aumentou o desempenho na atração de fundos europeus e consegue ir buscar mais fundos do que a quota para esta área. Mas é preciso melhorar esse desempenho, é preciso defender que o próximo quadro comunitário tenha esta aposta na ciência e na inovação, mas também que existam fundos para quebrar as assimetrias regionais.
Não ficamos demasiado dependentes dos fundos comunitários?
Nas receitas próprias há uma forte dependência de fundos comunitários, sem sombra de dúvida, e isso tem de acontecer para compensar o subfinanciamento crónico.
Quando o Presidente da República falou do fim das propinas, ficou subentendido que as vê como fator de desigualdade social. Vê as propinas como fator de exclusão? Acabar com elas levaria todos os alunos ao ensino superior?
Posso dizer-lhe que, no caso da UTAD, a ação social tem um papel determinante. Chegou-se à conclusão que mais de 20% dos estudantes portugueses dependem da ação social. Mas há uma enorme variabilidade entre instituições. Falamos em 23% como média nacional, mas na UTAD são 40%. A maioria dos nossos estudantes são deslocados e de regiões com agregados familiares com maiores dificuldades económicas. Por isso, na nossa política estratégica há uma grande vertente de ação social.
Mas são só as propinas que afastam os estudantes das universidades?
Quando dizemos que ainda há um número muito elevado de jovens que não vai para o ensino superior, é preciso perceber porquê. As propinas não são a única questão. Os estudos mostram que um jovem que tem um curso superior tem mais facilidade de penetração no mercado de trabalho. Se for além do primeiro ciclo e tiver uma formação especializada, uma pós-graduação, tem ainda maior retorno económico. O investimento tem retorno. Então o que é falta transmitir aos jovens para motivá-los a entrar no ensino superior? Pensou-se na questão do insucesso escolar, no que é que se está a passar nos outros níveis de ensino e vê-se que é importante haver uma maior articulação entre o superior e o secundário. Também é preciso perceber diferentes dinâmicas e contextos. Na Área Metropolitana de Lisboa, o entrave pode ser o valor do passe, por exemplo, se o aluno viver em Sintra ou na Margem Sul. Mas também temos de perguntar porque é que o jovem não vai para o Interior, se ainda por cima tem bolsas adicionais, o chamado Mais Superior. Os jovens que habitam no Litoral podem ter uma bolsa para estudar no Interior, como estímulo. Porque é que não o fazem?
Ou seja, há motivos que estão para lá das dificuldades financeiras?
Por exemplo, quando falamos na questão do alojamento em Lisboa estamos a falar do jovem que não é da cidade, o deslocado. Mas porque é que o jovem que já está em Lisboa não vai para o superior? Temos de perceber estes motivos.
E conseguiram chegar a alguma conclusão? Para além das dificuldades económicas, porque é que 60% dos jovens não seguem para o ensino superior?
Sabemos que é importante comunicar melhor com os jovens e, na era digital, as formas de comunicar não são as mesmas de há uns anos. Precisamos de ver que programas podemos implementar para mostrar aos jovens aquilo que nós os dois já sabemos: que um curso superior tem retorno. Como é que isto chega ao jovem? Depois, precisamos de olhar para lá do primeiro ciclo de estudos, para a faixa etária dos 20 aos 35 anos. Como é que um jovem pode entrar no mercado de trabalho e voltar aos bancos da universidade? É necessário um formato diferente de formação? Horários pós-laborais? Ao fim de semana? Opta-se pelo ensino à distância? Também temos de pensar em formatos diferentes do plano de estudo muito formatado e rígido. Tem de existir uma maior flexibilização curricular e isto também vai ter de alterar algumas das iniciativas legislativas em curso. As últimas grandes reformas foram o regime jurídico, em 1997, lançado por Mariano Gago, e a própria reforma de Bolonha vem da década de 1990. A partir daí não revisitamos Bolonha, reformataram-se cursos, e não passamos para a matéria seguinte que é a própria inovação pedagógica.
Houve um período de estagnação?
Julgo que sim. Associamos a estagnação a um corte financeiro, em 2013 houve uma diminuição de financiamento de 20% e foi um choque nas instituições. E esse choque fez com que as instituições deixassem de contratar novas pessoas, houve uma estagnação também de evolução e de modernização. Com a perda de financiamento, as instituições não renovaram academias, mas também não modernizaram os seus espaços. E tem de haver aposta na modernização pedagógica. Se introduzimos no sistema mais jovens, eles vão trazer uma lufada de ar fresco. Se reparar, foi na década de 80 e 90, quando Portugal mais apostou na entrada de novos valores no sistema universitário, que levou a esta modernização, que conduziu não só à expansão do sistema, mas ao salto qualitativo que tivemos nos indicadores. Era esse choque que era necessário introduzir no sistema.
Acha que os jovens não estão convencidos do valor que tem um curso superior? Que estão muito agarrados à ideia do licenciado que é caixa de supermercado?
Há várias questões em jogo. Dantes, muitos de nós trabalhavam enquanto tiravam o curso. Não na lógica de ser caixa de supermercado porque não haviam tantos na altura… Eu próprio trabalhei, todos os meus familiares trabalharam, até porque éramos bolseiros e isto acontecia muito na parte final dos cursos, que eram de 5 anos. Mas quando se fala na parte do retorno económico do curso, há uma grande variabilidade consoante a área. Na saúde, na proteção social, nas tecnologias, o mercado tem falta de mão de obra qualificada. E há outra agravante: os licenciados portugueses com formação consolidada começam a optar pelo mercado global e saem do país. O tipo de emigração que começa a existir em Portugal é muito mais qualificada porque, após o Erasmus, os jovens acabam por ficar nos outros países porque a remuneração é muito mais elevada. Há uma fuga de talentos que é preocupante.
Um duplo problema: não conseguimos formar todos e os que formamos não ficam cá.
E esse é um problema que temos de comunicar, tal como temos de comunicar melhor com as empresas. E é preciso comunicar melhor com o ensino secundário, temos de encontrar novos formatos para os jovens verem o que é uma realidade universitária e de que forma podem entrar no mercado do trabalho. Também perceber a importância da investigação e da ciência para dar valor acrescentado. Ficou claro na convenção que o país deveria aumentar o investimento público em ensino superior, mas também o investimento privado. Como é que vamos comunicar melhor com as empresas? É preciso fazê-las perceber que se tiverem jovens mais qualificados, a empresa tem retorno económico com essa introdução de capital mais qualificado. As instituições podem fazer alguns formatos educativos em contexto de empresa e esse é um dos temas que iremos trabalhar nas próximas sessões da convenção.
Isso poderia ser interessante para uma empresa, patrocinar de alguma forma os estudos dos seus trabalhadores porque, inevitavelmente, irão ter um retorno?
Claramente, é o exemplo dos cursos doutorais. Se a empresa não investe no pagamento da propina ou se não dá alguma liberdade de horários aos trabalhadores para fazerem um curso doutoral, e se o curso for num formato muito rígido como os do primeiro ciclo, o trabalhador não vai fazê-lo. Aqui, também nos cabe fazer o nosso trabalho. Se temos jovens que já são quadros de empresas e querem fazer o seu doutoramento em contexto de empresa, a própria oferta das universidades terá de estar de acordo com os interesses da empresa.
Isso pode ser um problema. Se uma pessoa já está no mercado de trabalho e tem uma família, até pode querer estudar, mas onde vai arranjar tempo? Cabe às universidades encontrar novos modelos?
Exatamente. A inovação pedagógica não é só associar o ensino às ferramentas do online, do ensino à distância, parte disso passará por ter um ensino pós-gradual menos presencial, menos em sala de aula, mais em contexto de empresa, como já é muito feito ao nível da tese, da dissertação.
A inovação pedagógica passa também pela flexibilização pedagógica, uma das ideias defendidas na convenção pela secretária de Estado adjunta do primeiro-ministro, Mariana Vieira da Silva?
Uma das questões que ficou expressa na convenção foi a da flexibilização curricular, passando a existir formatos menos rígidos na oferta educativa, principalmente entre os cursos avançados. Haver mais flexibilidade na construção dos planos curriculares e fomentar a multidisciplinaridade mesmo entre diferentes áreas científicas. É um assunto que tem de estar em cima da mesa.
Ou seja, o estudante desenha o seu próprio percurso?
Tendencialmente, sim, o estudante desenha o seu próprio percurso académico. Quanto mais avançar na sua carreira, mais será ele próprio a escolhê-lo. É muito natural que faça o primeiro ciclo, faça a sua experiência laboral, e só depois opte pela especialização e decida voltar aos bancos da universidade. Aí, pode fazê-lo de acordo com a própria empresa onde está inserido, e estará mais apto a perceber o que quer fazer. Hoje em dia, um jovem já pode ter uma determinada área no primeiro ciclo e optar por uma formação no segundo ciclo completamente diferente.
As tecnologias vão estar obrigatoriamente presentes nesses percursos?
É preciso perceber que o mundo está em mudança e existem estudos internacionais, nos EUA, que mostram que a percentagem de formações onde vai aumentar a carga tecnológica é muito elevada. O caminho passa por introduzir as tecnologias nos programas curriculares. Cada vez mais, as diferentes profissões vão recorrer às tecnologias e isso vai exigir modernização às instituições. Veja este exemplo: quando falamos da dicotomia Litoral/ Interior falamos sempre do ponto de vista demográfico, mas uma das assimetrias que é preciso corrigir é a virtual. Existe défice de infraestruturas digitais: uma banda larga nalgumas regiões do país é dez vezes inferior à dos grandes centros urbanos. A sua profissão, de jornalista, pode perfeitamente ser feita à distância, desde que tenha a banda larga. É preciso quebrar estas assimetrias.
E isso acontece hoje? Nota-se a diferença no acesso à internet nas universidades do Litoral para o Interior?
Eu diria que o acesso à internet é das principais diferenças entre regiões. Estou a falar de graves assimetrias do ponto de vista da conectividade. Isto não é um caderno reivindicativo dos reitores porque estamos a falar de uma quantia mínima, facilmente financiada. Penso que o Governo quererá acabar a legislatura com isso assegurado. Muitas vezes as assimetrias são de um caráter muito mais simples do que pensamos, mas têm outras implicações. Até para o turismo: se quisermos chamar turistas para o interior, uma das questões mais importantes é ter acesso à rede em qualquer lado. Hoje está lá tudo: os nossos dados de saúde, bancários, já não é só a informação noticiosa, é a nossa informação pessoal e queremos ter acesso a ela.
Alunos estrangeiros: “O ensino superior pode voltar a dar a Portugal o papel que teve nos Descobrimentos”
Um dos temas que se previa discutir na convenção é o acesso ao ensino superior. Os diretores de agrupamento há muito que pedem um debate sobre este tema e que apontam o secundário como um ciclo perdido, que só serve os exames nacionais.
Na convenção não se discutiu muito o tema, mas penso que ele merece maior reflexão. Sabemos que uma fatia de jovens não entra no sistema por causa das questões financeiras, mas, em relação ao acesso, temos de ver se quem não entra pode entrar. A discussão acabou por ser muito focada no politécnicos e nas formações curtas. Mas há um debate que tem de ser mais fino: como pode haver maior articulação entre conteúdos dos dois sistemas de ensino, mas também como é que os alunos no final do secundário podem já ter acesso à universidade. E depois, qual o melhor mecanismo de os avaliar. Isto vai levar a muitas lógicas. Deve ser a própria universidade a escolher o estudante e a definir os seus requisitos? Isto exige um debate na sociedade.
Não seria bom? A universidade também poder escolher os seus estudantes, através de entrevistas, como já se faz no estrangeiro, e não depender apenas do valor de uma nota?
O que se discute é o elevado peso que pode ter apenas um exame na vida do estudante. Há um investimento muito elevado que a família faz num jovem e que no dia do exame, ou porque foi anómalo ou atípico, pode fazer perder esse investimento. É preciso ver não só a questão financeira, mas até a psicológica, motivacional. Não sabemos até que ponto estamos a afastar o jovem do sistema. Temos de olhar para os danos que o sistema causa ao jovem porque o exame nacional foi atípico e até que ponto isso o afasta do superior. Essa situação está em cima da mesa, mas tem de existir maior debate.
Mas há vontade dos reitores de repensar a forma de acesso às universidades?
Nós demos um sinal claro quando convidámos também elementos do Ministério da Educação. Quando convidámos o secretário de Estado do Orçamento foi também para ele perceber que o investimento que o país possa fazer em ensino superior tem retorno económico e isso ficou claro na questão da internacionalização.
Refere-se à captação de alunos estrangeiros?
Falo da internacionalização como forma das instituições conseguirem estudantes para compensar o esvaziamento demográfico. Mas tem de ser vista de outro sentido: o ensino superior é uma grande fonte de exportação. Falou-se do caso da Austrália, porque lá isto é um negócio para o país. Não é só a propina que o estudante deixa na universidade: é o que deixa no local, o alojamento, os custos diários, o da família que o vai visitar, e vai gerar negócios futuros, mais difíceis de quantificar — o chamado spill over.
Portugal pode ganhar com a exportação do ensino superior?
Portugal, apesar de estar na periferia da Europa, poderia ganhar uma maior centralidade em termos geoestratégicos. Se o programa PRIMA [Parceria para a Investigação e Inovação na Região Mediterrânica] for alargado ao norte de África, Portugal ganha maior centralidade. A Europa fica menos periférica. Se associarmos à lusofonia o espaço ibero-americano — que é o que estamos a trabalhar na agenda ibérica — a Europa poderia ganhar um canal com dois grandes continentes, África e América. Na África do Sul ou no Canadá, onde a comunidade portuguesa é forte, ela tem gosto em ver os seus descendentes a estudar em Portugal para manter a ligação ao país. É um país confiável, amigo, o mais seguro da Europa, é mais barato, e o clima é friendly. Na própria China, há um triângulo — Shenzhen, Macau e Hong Kong — que tem uma grande proximidade a Portugal. As famosas rotas da globalização portuguesa dos Descobrimentos podem reaparecer através da aproximação do Ensino Superior. Pode ser um fator determinante.
Pode ser uma grande aposta portuguesa?
A internacionalização merecia um maior investimento por parte do governo. É uma forma de aproximar os países, enquanto que as questões comerciais têm os contornos que se sabe. O ensino superior pode ser o meio de Portugal voltar a ter o papel que teve na era dos Descobrimentos. Portugal e Espanha podem voltar a ter a centralidade que tiveram nessa época.
Poderíamos voltar a dividir o mundo ao meio, reinventando Tordesilhas?
Diria que, pelo menos, ganharíamos essa centralidade, bem como a própria Europa. Um americano, um chinês ou um indiano quando abrem o livro de geografia não abrem da mesma forma que nós. Esta Europa pode ter maior relevância através de Portugal e de Espanha. Daí, o conselho de reitores portugueses e o conselho de reitores espanhóis estarem a trabalhar numa agenda ibérica para defender posições comuns na Europa.
Que será um ganho para os dois países?
Esperamos que assim seja. O entendimento entre universidades portuguesas e espanholas é muito elevado. A agenda ibérica passa por reconhecimento de graus, mais mobilidade, partilha de infraestruturas e de grandes equipamentos na área das ciências, um posicionamento comum na agenda da inovação e ciência e até no PRIMA.
Quando houve a redução de vagas em Lisboa e no Porto, o ministro Manuel Heitor disse exatamente que os grandes centros urbanos tinham de apostar na captação de estrangeiros.
De facto, o ministro disse que na área de Lisboa e do Porto há ainda potencialidades do ponto de vista de internacionalização muito grandes e pouco exploradas. E o mesmo se passa ao nível das pós-graduação. A verdade é que alguma coisa tem de ser feita. Temos 120 mil jovens com 18 anos, daqui a 10, 15 anos teremos 85 mil… já tivemos 450 mil em 1995. Ou empurramos com a barriga para o próximo governo resolver, e as instituições vão diminuindo e a centralidade do país vai ser maior, ou fazemos algo. Mas temos de fazer em conjunto.
Esta mexida nas vagas foi benéfico? Os politécnicos, na altura, também pediram para se mexer nas vagas do Litoral.
Os politécnicos achavam que não devia haver aumento nas instituições do Litoral. No caso do conselho de reitores não houve uma posição unânime. O que achamos é que algo não está bem, é preciso fazer alguma coisa, mas a diminuição de vagas não pode funcionar apenas como uma medida avulsa. Positiva? Foi só um ano. Na minha instituição foi o ano em que entraram mais alunos nos últimos dez, por isso poderia dizer que teve efeito positivo. Mas fizemos trabalho interno. Quando recebemos as vagas, tivemos de ter estratégia, ver onde está a nossa marca e onde há procura.
Com a quebra demográfica, corremos o risco de ver fechar as universidades fora dos grandes centros urbanos?
Se nada for feito, essa vai ser a tendência natural: ver fechar as universidades fora dos grandes centros.
Quebra de alunos no superior: “As universidades não podem estar à espera que nos resolvam os problemas todos”
Mas isso vai ser um problema para o resto do país?
Vai ser do ponto de vista social e ambiental. As instituições estão a viver numa lógica de sobrevivência, houve desinvestimento no ensino superior, para as famílias a componente económica é determinante, a lógica de procura é muito regional. Mas esse trabalho também tem de ser feito por nós. As universidades não podem estar à espera que nos resolvam os problemas todos. Temos de ter um contributo para o país e ser pró-ativos. Não podemos estar à espera que alguém nos garanta que vamos ter sempre aqueles alunos. Temos de percorrer o nosso caminho e eu defendo que é o da especialização. Porque é que um jovem escolhe a UTAD? Porque tem uma boa ação social, tem mecenato, o campus está a ser transformado em carbono zero, é uma universidade amiga, onde eu encontro o professor. Tem desporto, acompanhamento na saúde, tudo isto dá-lhe mais eficiência pedagógica. Tudo é mais próximo, há maior contacto professor e aluno, o sucesso escolar é melhor. As universidades têm de ter a sua marca. Transformar-se numa marca numa determinada área.
A sociedade ainda vê muito a universidade como um sítio onde os alunos vão tirar um curso superior e esquecem-se que há outro trabalho a ser feito, com as empresas, de investigação?
Daí ter falado em interação com a sociedade. Existem unidades especializadas dentro das instituições de ensino superior que prestam serviços especializados, no sentido em que requerem ID, e que não devem ser concorrenciais com empresas que já prestam esses serviços. As instituições começam a ter uma carteira de serviços que prestam à comunidade e daí vão buscar receitas próprias.
Com um retorno interessante?
É aí que vamos buscar receitas. Vem das propinas, vem do aumento do desempenho de Portugal a nível dos fundos comunitários — onde ainda seria desejável crescermos –, os programas operacionais nacionais também têm um peso elevado e ainda há a prestação de serviços especializados.
E nessa prestação de serviços há espaço para crescer?
Sim, há espaço para crescer. Exige algum investimento na modernização. No ensino secundário tivemos a Parque Escolar e nas universidades nunca aconteceu essa capacitação, uma modernização das instalações e dos próprios equipamentos científicos. Para prestar serviços especializados temos de ter equipamento especializado.
Muitas vezes são os próprios investigadores que quando ganham bolsas investem em equipamento que depois toda a comunidade usa.
Aí era importante pensar de uma forma integrada, para não irmos todos comprar os mesmos equipamentos. Se, no caso da UTAD, formos comprar equipamento veterinário, faz sentido que seja o que não existe no setor privado, que pudesse não só melhorar o desempenho da investigação da ciência, mas que pudesse prestar serviço e ter maior compensação económica. E, claro, espírito de partilha dos grandes equipamentos. Até no âmbito da agenda ibérica estamos a ver, nas grandes áreas de investigação, até que ponto podemos partilhar equipamentos. Posso usar um equipamento da universidade de Barcelona em vez de duplicar equipamento e de ter esse encargo. Hoje em dia, sair de Lisboa para o Porto ou de Lisboa para Madrid não é muito diferente. É preciso fazer um roteiro nacional de equipamentos e cada instituição deve ver qual deve ser a sua área de especialização, uma especialização inteligente, onde nos podemos diferenciar.
No caso da UTAD será no agroalimentar?
Sim. Hoje a agricultura não significa restringir a instituição só àquela área formativa. Temos sempre de ter uma faculdade de ciências e tecnologias e também ciências humanas e sociais. Hoje em dia, ninguém tem uma empresa sem ter uma boa comunicação, a economia, a gestão, a cultura estão presentes. No investimento de enoturismo, tem de ter um programa de turismo. Tem de haver um roteiro e só se consegue vender o vinho se ele estiver associado a uma determinada gastronomia, a uma narrativa cultural sobre a quinta. O saber é cada vez mais multidisciplinar. Há uns anos era ridículo dizer que um historiador podia ser contratado para uma empresa agrícola. Hoje não vejo porque não: pode ser ele a criar a identidade da quinta, toda a narrativa. As humanidades têm de estar cada vez mais ligadas às ciências.
Não pode haver especialização sem um forte conhecimento básico, clássico?
Cada vez o saber é mais multidisciplinar. Quem for responsável de uma área de engenharia de uma grande empresa se não tiver conhecimento nas áreas sociais e humanas, não consegue por a empresa a funcionar.
Modernização dos espaços: “Não podemos sentar jovens nativos digitais num banco de madeira do nosso tempo”
Sobre a UTAD, disse há pouco que a universidade quer ser uma instituição carbono zero e defende muito a ligação do campus à cidade.
Dou-lhe um exemplo: não estou a ver numa cidade, uma autarquia delinear um programa de mobilidade na cidade sem a universidade. Ela é sempre um foco onde existe muita gente. A própria universidade não pode funcionar como uma ilha. Se na minha universidade todos entrarem às 8h00, todo o plano de circulação automóvel deve ser pensado com esta situação. Na UTAD, já criamos postos de carregamento elétrico dentro da universidade. As próprias universidades têm de dar o exemplo, fizemos um plano energético que passa por uma requalificação de todos os edifícios que vai exigir a mudança de iluminação para um sistema inteligente com sensores para descarbonizar. Em 2 anos esperamos reduzir a pegada ecológica da universidade 70% só na área da energia. E vamos inibir o uso do automóvel dentro do próprio campus. Estamos a dar o exemplo.
Porquê um campus carbono zero?
Estamos a formar os futuros decisores políticos e das organizações. E eles devem viver num ecossistema que esteja preocupado — o plano estratégico da universidade já foi enquadrado com a agenda da ONU de desenvolvimento sustentável, o 2030, que tem 17 objetivos. Há uns mais fáceis, como a igualdade de género, que é uma coisa para a qual não é preciso dinheiro. Estamos a pensar iniciar também uma campanha da guerra ao plástico e restringir a circulação de papel. Vamos colocar dispensadores de água em todos os refeitórios para as pessoas carregarem as suas garrafas. Há um conjunto de medidas que podem ser tomadas para darmos o exemplo.
Está a bater muito nessa tecla, dar o exemplo.
A universidade é o local que forma pessoas. Para além de bons técnicos têm de ser pessoas socialmente responsáveis. Este é o caminho pelo qual também tem de passar a modernização. Os programas de modernização administrativa são um exemplo: na tramitação de papel há universidades que estão praticamente no carbono zero, as pautas são eletrónicas, os sumários, tudo é digital. E até nas assinaturas. Se tiver de assinar documentos com um conjunto de universidades europeias basta a minha assinatura digital — está aqui comigo, trago o carregador –, mas se for um programa europeu da FCT temos 15 reitores a assinar 15 dossiers em papel e a rubricar 30 páginas por dossier. Aqui o Estado também tem de dar o exemplo.
Tudo isso que aponta está para lado do conhecimento clássico. O exemplo das universidades tem também de ser na ética, na moral e nos valores?
A universidade tem de ser um ponto de referência. É um sítio democrático por natureza onde tem de haver grande discussão, mas tem de ser um lugar de exemplo dos valores e da ética. Uma das questões que estamos a incentivar na universidade é o uso de programas de software que permitem percorrer um determinado trabalho, uma tese, e verificar se há plágio. A universidade tem de ser um referencial de ética e educa-se pelo exemplo, do ponto de vista social, mas também ambiental.
Outro ponto dos futuros encontros da convenção vai ser o ensino superior em 2030.
É, no fundo, tudo o que temos estado a dizer. Que país queremos ser? Os espaços estão pensados à luz do futuro? Esse é que é o assunto. Não podemos sentar jovens nativos digitais num banco de madeira do nosso tempo. Temos de pensar que universidade queremos ser, sem nunca perder de vista a responsabilidade social e ambiental. A ética vai ter um papel cada vez mais importante na universidade do futuro, até pela própria interação entre o homem e a máquina. Há aqui uma fronteira para a qual temos de consciencializar as pessoas.
E essa fronteira está muito próxima.
Muita mais próxima do que nós pensamos. Temos todos consciência de que no princípio de agosto os recursos naturais do planeta estão esgotados, necessitamos de um planeta e meio. A Europa tem de ser uma referência. Sabemos que, no futuro, a Índia e a China terão 18 a 19% da população cada um, mas a Europa deve ser a referência. E na Europa, as instituições do ensino superior têm de funcionar como exemplo. Na UTAD, já estamos a combater o desperdício alimentar com medidas tão simples como isto: comprar produtos na região, puder comprar à peça e não a refeição inteira no refeitório. No meu tempo, havia o prato de carne e de peixe. Agora temos de ter o vegetariano e o vegan. Há outras coisas: no exercício indoor temos 3.700 jovens e funcionários inscritos, numa população estudantil de 7.000. A meta é 50 mil, com funcionários. Estamos também a testar um programa para quem passa o dia a trabalhar em frente ao computador que se desliga automaticamente e obriga a fazer uma pausa. Temos de nos modernizar, mas uma organização é feita de pessoas. Sabermos o email um do outro não chega. Não podemos chegar ao limite de falarmos por email quando estamos no gabinete ao lado.
Mas é o que acontece.
Estamos a tentar quebrar isso. A utilização do correio eletrónico começa a ser um mau meio, é rápido, mas não comunicamos da forma mais eficaz. Depende da própria disposição com que estamos a ler o email. Estes programas que obrigam as pessoas a circular no campus também levam ao convívio. A ideia que queria transmitir é que temos de ser exemplo de modernização e dar resposta aos novos desafios da sociedade digital, mas não transformar a instituição num espaço de máquinas e de correspondência eletrónica. A universidade tem de ser amiga das pessoas. Não é apenas o jantar de natal. A virtualização não pode ser levada ao limite e as pessoas têm de ter novos espaços de encontro.
A virtualização também tem coisas boas. Permite-nos aprender de uma forma diferente.
É preciso encontrar o equilíbrio. Dentro do próprio campus posso assistir a uma comunicação feita via streaming. Nunca nos podemos esquecer que o campus tem de ser amigo das pessoas, devemos libertar o ser humano de muitas coisas, mas é importante o contacto físico entre as pessoas. Se criarmos estas opções, diminuímos o nível de conflitualidade que aumenta com o excesso da máquina.
As organizações esquecem-se muito dessa necessidade de bem estar?
Esquecem-se das pessoas. Quando queremos apostar na tecnologia é para o bom uso e facilitar a vida do ser humano e não para o substituir. Para dar conforto às pessoas.
Mas nem sempre acontece.
Eu acho, por exemplo, que começamos a ter um uso abusivo do correio eletrónico. Há uma ditadura do email que nos obriga a estar sempre ligados. E o direito ao shutdown? Onde é que fica a família? Quantas vezes vamos para casa a pensar que quando chegarmos ainda vamos ver os emails? Já está a derrotar a família com esta decisão. Melhorámos muito as coisas — lembro-me quando tinha de assinar pilhas de papéis — e hoje em dia isso é diminuto. Mas temos a ditadura do email. Tenho de pensar quantos emails tenho de ver todos os dias. É uma disciplina.
Onde é que gostava de ver as universidades daqui a 10 anos?
Gostava que para além de manterem este percurso de maior visibilidade internacional do ponto de vista dos indicadores, que fossem instituições com mais reconhecimento internacional, inseridas em redes, mas que também fossem um agente de mudança, que formassem jovens para serem procurados a nível internacional pelas maiores empresas de todo o mundo. Ter investigadores vistos como os grandes a nível mundial, além de haver maior interação com o tecido produtivo, que as instituições também marcassem a diferença como exemplos de mudança de mentalidades. Têm de ser amigas das pessoas, para termos uma sociedade mais amiga das pessoas, mais justa e solidária, temos de ser o exemplo. Não podemos gastar um planeta e meio por ano e essa mudança passa também pelos jovens. Sem perder o espírito democrático, ser um local de reflexão, de pensamento crítico, que fosse um exemplo de mudança do ponto de vista da responsabilidade social, com ética e transparência.
O que é a universidade amiga das pessoas de que tanto fala?
É aberta à sociedade, é um sítio onde as pessoas se sentem bem para ir, por exemplo, assistir a um ciclo de conferências, um espaço aberto, que não esteja fechado na academia. Quando caminhamos para um mundo cada vez mais digital era bom que as pessoas não funcionassem como um endereço de email, mas que fossem pessoas que falem umas com as outras. Enquanto reitor privilegio muito as reuniões fora da reitoria. Se há um evento, uma exposição, eu vou lá. Somos seres humanos. Não somos reitores. O reitor é um período transitório, é uma missão de serviço por x anos. Não somos figuras que vivem dentro de uma campânula, isso torna-se abstrato. Os estudantes têm de estar no epicentro da academia e para isso temos de ir ter com eles e ouvi-los. Esse contacto de proximidade é que é uma universidade amiga.