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Aos 27 anos, Francisca Mendo dá cartas no mundo da dança lá fora e tem a ambição de regressar a Portugal e abrir a sua própria escola ou companhia
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Aos 27 anos, Francisca Mendo dá cartas no mundo da dança lá fora e tem a ambição de regressar a Portugal e abrir a sua própria escola ou companhia

Rui Oliveira/Observador

Aos 27 anos, Francisca Mendo dá cartas no mundo da dança lá fora e tem a ambição de regressar a Portugal e abrir a sua própria escola ou companhia

Rui Oliveira/Observador

Francisca, a bailarina radicada em Londres que a pandemia obrigou a voltar para casa: “Temos de pensar na dança como um trabalho normal"

Já foi o Pato Donald na Disneyland Paris e pisou o palco da Royal Opera House, em Londres, mas a pandemia obrigou-a a voltar a Portugal. Francisca Mendo é bailarina profissional e quer reinventar-se.

Com apenas três anos aprendeu a dançar ballet no Centro de Dança do Porto e a partir daí nunca mais parou. Perdeu saídas à noite com os amigos, aniversários e eventos familiares, mas Francisca Mendo tinha descoberto o que mais gostava de fazer: dançar. Quando termina a escolaridade obrigatória, ambiciona ir estudar dança para fora do país, mas os custos associados e a instabilidade da profissão fizeram-na optar por algo mais certo e seguro: a enfermagem. Não aguentou muito tempo, pois preferia fazer espetáculos, dar aulas de dança e trabalhar como assistente de sala na Casa da Música do que colocar soro nos doentes. “Considero que foi um clique, percebi que abdicar da dança estava completamente fora de questão.”

Ao desistir da licenciatura, responde a um anúncio através do Facebook para ser bailarina na Disneyland Paris e durante dois verões veste, literalmente, a pele de algumas das personagens que fizeram parte da sua infância. À boleia do Rato Mickey, do Pato Donald ou do Pinóquio, assinava assim o seu primeiro contrato de trabalho. Não havia dúvidas, o seu futuro tinha mesmo que passar pela dança. Em 2015, vai estudar para Barcelona e descobre outros estilos, como o jazz, o sapateado ou a dança mais comercial, mas é em Londres, em 2018, que encontra as oportunidades de subir a um palco e mostrar a sua arte.

Começa por integrar o espetáculo “Branca de Neve”, pela Holly Noble Dance Company, onde explora o ballet moderno, numa apresentação adaptada à comunidade surda. Graças a este trabalho, faz uma tour de três meses por Inglaterra e realiza o sonho de atuar na Royal Opera House. Continuou em Londres a tentar a sua sorte, fazendo audições, dando aulas de dança e trabalhando em museus para conseguir pagar as contas. Pelo caminho, aprendeu a lidar com a competição, com a rejeição e com a incerteza de uma vida de freelancer. As filas de quatro horas ou a oportunidade perdida de integrar o “Fantasma da Ópera” não desmotivaram Francisca, que, garante, nunca pensou em desistir.

Estava em digressão com “O Lago dos Cisnes”, pela companhia Theatre Orchard & Living Spit, quando a família e os amigos começaram a alertá-la para a existência de um vírus perigoso e altamente contagioso, mas em Londres “nada se passava”. Perante a insistência dos outros, a bailarina marcou um voo “contrariada” e fez uma mala para ficar “no máximo um mês”. Está em Portugal há mais de um ano e toda a sua vida mudou repentinamente.

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Reaprendeu a dançar em casa, mesmo batendo em móveis e em candeeiros, deu aulas online e apostou nas suas redes sociais. Sente que está “na melhor idade para dançar” e ficar parada pode ser “frustrante”, mas Francisca parece não se resignar. Lamenta que a dança não seja “um trabalho normal” em Portugal e que a cultura no país seja cada vez mais desvalorizada. “Em Londres, em cada esquina há um teatro com milhares de pessoas à porta para comprar um bilhete, adorava que isso um dia acontecesse em Portugal.”

No futuro, aquele que ainda pode planear, pretende estudar técnicas coreográficas e um dia regressar ao Porto, a sua cidade, para abrir uma escola de dança ou a sua própria companhia. “Todos podemos sair para uma vida melhor, mas também devemos regressar para ajudar o nosso país a evoluir culturalmente.”

De regresso forçado ao Porto, Francisca Mendo tem aproveitado para dar aulas online, através do Instagram

Rui Oliveira/Observador

Como começou a dançar?
Comecei a dançar ballet com três anos, em casa dançava muito, mal ouvia uma música era automático, então a minha mãe achou que me devia inscrever no ballet. Desde os três anos que nunca mais parei, não me lembro de viver sem dançar, faz mesmo parte da minha vida. Não me lembro de ir para uma aula de ballet contrariada, nunca deixei de ir a uma aula, a dança sempre foi uma prioridade para mim, aliás deixava de fazer algumas coisas por causa dela.

Recorda-se de alguma em especial?
Várias. Como tinha aulas ballet ao sábado de manhã, os meus amigos já sabiam que não podia ir sair à noite sexta-feira. Já perdi festas com amigos, aniversários, eventos de família, mas não me arrependo de nada, a dança ensina-nos que temos de ser persistentes, consistentes e trabalhar muito para conseguir alcançar os nossos objetivos. Sempre foi uma prioridade para mim e sei que se não tivesse feito estes sacrifícios, que não vejo como sacrifícios, não tinha chegado onde cheguei.

O ballet clássico é o estilo que mais se identifica?
Sim, iniciei-me em ballet no Centro de Dança do Porto, a minha escola sempre foi mais clássica, depois comecei a ter vontade de experimentar outros estilos, então implementei mais o jazz e durante o verão fiz cursos de contemporâneo, flamenco e hip hop. Aos 18 anos pensei que devia alargar o meu vocabulário na dança e comecei a pesquisar cursos, foi aí que descobri uma licenciatura em Barcelona que era bastante abrangente, tinha desde a dança comercial ao sapateado.

Quando é que percebeu que era mesmo isto que queria fazer para o resto da vida?
Quando terminei o 12.º ano, queria muito ir para fora do país estudar dança, mas sabia que isso tinha um custo muito grande, então acabei por me inscrever em enfermagem, porque sempre gostei de lidar com pessoas e achei que poderia ser uma boa possibilidade. Estive lá um ano e meio e desisti. Houve um dia, uma sexta-feira, em que tinha um espetáculo de dança à noite e um ensaio geral que me obrigava a sair de uma aula prática mais cedo. Era uma aula muito importante onde iríamos aprender a colocar soro nos doentes. No início da sessão, disse ao professor que tinha de sair mais cedo da sala para ir a um ensaio e ele ficou muito chateado, respondeu que se saísse mais cedo chumbava à cadeira. Foi nesse momento que pensei: “quero lá saber como se coloca o soro, quero é ir ensaiar”. Considero que foi um clique, percebi que abdicar da dança estava completamente fora de questão.

Antes de ir estudar para Barcelona, fez um contrato com a Dinseyland Paris?
Sim, quando desisti do curso de enfermagem comecei a dar aulas de ballet e a trabalhar como assistente de sala na Casa da Música, mas um dia uma amiga enviou-me um anúncio pelo Facebook que pedia bailarinos para a Disney, disse que era a minha cara e arrisquei. Fui a Lisboa com o meu pai fazer uma audição e fiquei. Lembro-me que me mediram, porque para trabalhar lá é necessário ter um tamanho específico para interpretar as personagens, depois aprendi uma coreografia jazz, fiz uma improvisação e uma entrevista em francês. Deram-me um contrato e passei lá dois verões, em 2014 e depois em 2015.

Como foi essa experiência?
Gostei muito, ficava sempre muito emocionada quando via famílias portuguesas. A Disney tem muitos turistas, mas maioritariamente franceses e ingleses, então quando ouvia uma família falar português, e como tinha saudades de casa, era especial. Lembro-me que uma vez uma menina veio ter comigo, na altura eu estava a interpretar o Pato Donald, e ela deu-me o caderno para assinar. Ouvi os pais a dizerem que ela fazia anos e então escrevi: “Happy Birthday”. Eles olharam para mim com um ar como se eu tivesse feito magia, senti que consegui criar felicidade a uma família portuguesa e foi um momento mesmo bom.

"O meu objetivo sempre foi estar lá fora para um dia voltar e divulgar a dança. Todos podemos sair para uma vida melhor, mas também devemos regressar para ajudar o nosso país a evoluir culturalmente, por isso, a minha intenção a longo prazo será voltar."

Começou a dar aulas muito nova, porquê?
Há dias em que estou menos inspirada e tenho menos motivação e consigo sempre arranjar alento nos meus alunos. Passar o conhecimento aos outros, e vê-los a ser bem sucedidos porque têm um bocadinho de mim, é muito gratificante e motiva-me imenso. Cada vez gosto mais de dar aulas, quero que eles sintam a paixão que eu sinto pela dança mostrar que a arte pode mesmo mudar as nossas vidas. Acho que se toda a gente dançasse um bocadinho, ou praticasse outra arte como pintura ou música, todos seríamos mais felizes.

Esteve três anos em Barcelona, há diferenças na forma de trabalhar e ver a dança?
A dança em Portugal está a evoluir cada vez mais, mas ainda está longe de ser um epicentro cultural como é Londres ou até mesmo Barcelona. Em Espanha tive professores de todo o mundo, com experiências em várias companhias, e conseguiram preencher o vazio que eu sentia em querer aprender mais. Sempre quis regressar ao meu país com uma formação superior aquela que as pessoas tinham cá. Precisamos de pensar na dança como um trabalho normal e em Portugal a dança ainda não é um trabalho normal. No Porto, por exemplo, não consigo ser bailarina, tenho trabalho como professora, mas como bailarina é um mercado que simplesmente não existe. Fiz esta licenciatura para mostrar que a dança é um percurso que tem que ser mais normalizado e valorizado. Hoje em dia muita gente abre escolas de dança sem ter a formação que considero necessária e suficiente. Em Barcelona, percebi que a minha carreira deu um grande passo e subiu a um outro patamar, abriu-me horizontes e se não tivesse ido para fora sei que não tinha conseguido chegar onde cheguei.

Como vai parar a Londres em 2018?
Acabei a licenciatura em junho, fui a Nova Iorque fazer um curso porque ganhei um bolsa e nesse mesmo verão fui a uma audição a Londres e fiquei por lá. Fui selecionada pela Holly Noble Dance Company para fazer um espetáculo de ballet moderno, chamava-se “Snow”, teve a duração de três meses, contou com uma turné por Inglaterra e uma reposição na Royal Opera House. A história era uma adaptação da “Branca de Neve”, mas numa apresentação adaptada à comunidade surda, tínhamos um interprete de língua gestual a contar as cenas enquanto dançávamos. Foi muito interessante, estávamos perante um público muito carinhoso e com algum tipo de deficiência, que normalmente não tem oportunidade de ir ao teatro. Em Portugal não há este tipo de espetáculos, por isso foi uma oportunidade única para mim. Depois desse trabalho continuei por Londres e tive outros espetáculos, fui dançar duas vezes ao palácio presidencial de Abu Dhabi e fiz outro contrato de três meses e uma turné em Inglaterra com “O Lago dos Cisnes”, pela companhia Theatre Orchard & Living Spit.

Já atuou em Paris, Londres e Abu Dhabi, mas a bailarina pretende formar-se como coreógrafa e abrir um dia sua própria escola ou companhia

Rui Oliveira/Observador

Que imagem têm os bailarinos portugueses lá fora?
Em todos os meus contratos sempre fui a única portuguesa e foi uma agradável surpresa. Olham para nós como um povo muito trabalhador, apesar de haver muito poucos bailarino portugueses, os que existem são realmente muito lutadores e esforçados, somos poucos, mas somos bons. Claro que não veem Portugal como um país onde um dia possam vir trabalhar, o nossos mercado é quase inexistente. Em Lisboa ainda há algumas companhias, mas no Porto isso não existe. Nunca senti qualquer tipo de preconceito, acho que os portugueses que estão lá fora representam muito bem o nosso país e deviam ser mais valorizados por isso. Nós só vamos lá para fora porque Portugal não nos dá a oportunidade de fazer uma carreira na dança e isso é triste.

Como se gere a instabilidade desta profissão?
No início o mais difícil foi perceber como iria ser a minha dinâmica de vida, mudei-me para Londres já com um trabalho e durante três meses estava tudo bem, lá até somos pagos à semana, os salários são muito bons e pagam sempre a horas, mas quando o contrato acaba, voltamos à estaca zero. No fim de cada trabalho sentimos que evoluímos, mas continuamos a ser um num milhão naquelas salas, há sempre uma procura constante por novos trabalhos. Quando não temos espetáculos é preciso uma grande disciplina para nos mantermos em forma e continuarmos prontos para qualquer audição que possa surgir. Enquanto isso não acontecia, dava aulas e colaborava com uma agência, a Boo Productions, que permitia a artistas trabalharem em museus com uma flexibilidade grande de horários. Fazia atendimento ao público e era assistente de sala no National Gallery.

A competição ajuda ou atrapalha?
Há sempre uma certa rivalidade, existem pessoas carinhosas e outras mais competitivas, mas Londres é uma cidade muito internacional que acolhe bailarinos de todo o mundo e isso torna tudo mais fácil. Começamos a conhecer pessoas nas audições, reconhecemos as caras, as filas de espera são tantas, a mais longa estive quatro horas, que acabamos por meter conversa e criar amizades.

Como se lida com a rejeição depois de quatro horas numa fila para uma audição?
Não lido sempre bem, aprendi a fazê-lo. No início foi complicado porque muitos nãos repetidamente é  desmotivador, mas aprendi que não é uma coisa pessoal. Muitas vezes eles nem olham para nós, pode ser só uma questão de altura, de aspeto. Uma vez fiz uma audição para o “Fantasma da Ópera”, o meu musical preferido, fui até à quarta fase, cheguei a casa super esperançosa e depois recebi e-mail a dizer que não continuava. Nesse dia fiquei triste, mas passado um mês recebi a notícia que iria fazer uma turné de três meses por Inglaterra.

Nunca pensou em desistir?
Não, isso nunca foi uma opção. Gosto mesmo daquilo que faço e acho que vou sempre lutar pela dança, pela cultura e pelas artes, aqui, em Portugal, ou em qualquer outra parte do mundo.

É mais difícil a carreira na dança para uma mulher do que para um homem?
Sim, porque há muito mais mulheres do que homens, é tão simples quanto isso. Por vezes, para um papel masculino estão 40 candidatos e para o papel feminino estão 400. Em termos de oportunidades de trabalho é realmente muito diferente, a nível de esforço e capacidade de trabalho penso que é exatamente igual.

"Em Londres, em cada esquina há um teatro com milhares de pessoas à porta para comprar um bilhete, adorava que isto um dia acontecesse em Portugal, tenho essa esperança."

Esta pandemia obrigou-a a voltar para casa?
Sim, foi um turbilhão, a minha vida mudou completamente. Tive o meu último espetáculo a 9 de fevereiro, tinha acabado a minha turné de “O Lago dos Cisnes” e vim a Portugal de férias, porque não tinha passado cá o Natal. Voltei para Londres uns dias depois, retomei as minhas aulas e o meu trabalho no museu. Comecei a ver as pessoas em Portugal a ficarem bastante preocupadas, mas em Londres nada se passava, nem se falava do vírus. Entretanto, há um dia em que o meu namorado, cujos pais são os dois médicos, me liga e diz: “Francisca tens de vir e vem como se nunca mais voltasses para Londres”. Na altura, chateadíssima, não compreendia aquela atitude, mas lá marquei um voo, um pouco contrariada. Fiz a mala para ficar um mês no máximo e quando regressei, a 14 de março, decretaram pouco tempo depois o estado de emergência e fechou tudo. Aí pensei: “ainda bem que vim”. Já cá estou há um ano, tenho a maioria das minhas coisas em Inglaterra e paguei casa até dezembro, porque estava sempre na expectativa de voltar.

Como foi essa adaptação?
Foi toda uma reinvenção da minha pessoa enquanto bailarina, enquanto professora e enquanto artista. No primeiro mês, ainda estava convicta que iria voltar rapidamente, mas depois percebi que era necessárias algumas mudanças na minha vida para conseguir arranjar trabalho e manter-me ativa. Comecei a dar aulas online no Instagram, desta forma consegui manter o contacto com os meus alunos e conhecer outras pessoas, e estou também a dar aulas em plataformas de dança que entretanto foram criadas, tanto portuguesas como inglesas. Faço tudo o que fazia, mas em casa. O espaço é limitado, há dias em que me sinto muito frustrada porque dou um passo ou um salto e bato num candeeiro ou num móvel, mas tento ao máximo ter uma rotina. Por mais esforço que faça, não é o mesmo do que estar num estúdio, dar aulas online não é o mesmo que dar as aulas presenciais. O mundo da dança é muito do toque, do contacto e do movimento.

O que foi mais difícil de gerir psicologicamente?
Emocionalmente é muito duro, se já é difícil numa situação normal ser uma bailarina freelancer, durante uma pandemia ainda mais difícil se torna. Todas as companhias com as quais trabalho estão inativas, neste momento o meu único rendimento são mesmo as aulas online. Depois deste meu último contrato pensei que fosse sempre crescer, o facto de estar em Portugal já há um ano preocupa-me, pode ser um tempo perdido no sentido em que estava preparada para chegar mais longe. Sei que estou na melhor idade para dançar, sei que vou dançar toda a vida, mas chegará uma altura em que a minha vida será gerir uma escola ou coreografar e não tanto estar em palco. Já ter passado um ano assusta-me, não quero que isto seja um atraso. Por outro lado, acho que aproveitei a pandemia para apostar nas minhas redes sociais, ganhei visibilidade e várias escolas contrataram-me para dar aulas online, tanto cá como em Inglaterra.

Francisca Mendo lamenta que Portugal não apoie mais a arte e a cultura, defende que a dança devia ser integrada nas escolas

Rui Oliveira/Observador

Consegue planear o futuro?
Agora que já percebi que isto vai demorar a passar, candidatei-me a um mestrado em Barcelona em técnicas coreográficas e ensino, vou investir em mim. Irá começar em setembro e durará um ano, mas espero que no próximo ano se abram mais portas e consiga ter outros contratos de trabalho. Já tive indicações que a companhia com quem fiz “O Lago dos Cisnes” está em negociações para retomar o espetáculo no próximo Natal, em Bristol, vamos ver.

Voltar a Portugal não é uma opção?
Este é um tema que me entristece bastante. Acho que as pessoas se esquecem que não conseguem viver sem cultura, foi a cultura que ajudou Portugal a ultrapassar esta fase. Se as pessoas não tivessem filmes, séries, música ou aulas online de dança, acredito que teriam tido uma quarentena muito mais infeliz. O nosso país tem de perceber que a cultura faz parte da nós e a arte é o caminho para a frente. A dança devia ser mais incutida nas escolas, na disciplina de educação física, e deviam existir mais apoios para pequenas companhias, que possibilitem mais espetáculos e contribuam para que as pessoas possam ir ao teatro mais regularmente. Este devia ser um trabalho coletivo e isso, infelizmente, não é feito. Em Londres, em cada esquina há um teatro com milhares de pessoas à porta para comprar um bilhete, adorava que isto um dia acontecesse em Portugal, tenho essa esperança. Estamos melhor do que estávamos antigamente, a pandemia veio agravar tudo, mas acredito que aos poucos vamos chegar lá.

O que mais ambiciona a nível profissional?
Tenho algumas companhias onde gostava de trabalhar, uma delas é a Matthew Bourne’s New Adventures, em Inglaterra. Depois adorava regressar a Portugal e abrir a minha escola de dança ou a minha própria companhia, algo que desse trabalho a mais professores, a mais bailarinos e a mais artistas. O meu objetivo sempre foi estar lá fora para um dia voltar e divulgar a dança. Todos podemos sair para uma vida melhor, mas também devemos regressar para ajudar o nosso país a evoluir culturalmente, por isso, a minha intenção a longo prazo será voltar.

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