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Quem conhece Fernando Araújo sabe que o médico portuense teria de ter uma palavra a dizer na escolha de nomes da equipa que o vai apoiar como diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS). E quem conhece o ministro Manuel Pizarro também sabe que ele não deixaria passar nomes que o deixassem incomodado. Mas Fernando Araújo e Manuel Pizarro conhecem-se bem. São amigos desde os tempos da Escola Secundária Rodrigues de Freitas, no Porto, ligação que se manteve na faculdade e na vida partidária, mesmo que Araújo nunca tenha sido militante do PS e que Pizarro tenha tido uma passagem pelo PCP.
Oficialmente, a versão que corre é a de que os nomes foram escolhidos “em estreita articulação” entre o ministro da Saúde e o novo diretor geral do SNS, que tomou posse esta segunda-feira. Em seguida, veio a luz verde do organismo que garante a transparência da seleção de candidatos a gestores públicos. Com o parecer favorável da Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (CReSAP), os cinco nomes apresentados — dois médicos, uma enfermeira, um jurista e uma gestora — podem tomar posse.
Mas basta olhar para os currículos para perceber que, com maior ou menor proximidade, os caminhos profissionais dos cinco membros da nova equipa de gestão do SNS já se cruzaram no passado.
Francisco Goiana
Médico, 33 anos
Trabalharam juntos no Ministério da Saúde
A primeira vez que a imprensa de grande tiragem dedicou linhas a Francisco Goiana da Silva, a sua idade era importante para a notícia: “Médico de 24 anos é o único português escolhido para ir a Davos.” Recém-formado na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, conseguiu, em 2014, através da sua apresentação, ser escolhido para participar num encontro de 50 jovens médicos da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Nessa altura, já fazia parte da Global Shapers — uma comunidade de jovens, todos com menos de 30 anos, e com perfil idêntico. Jovens talentos com potencial, que conseguem alcançar os objetivos a que se propõem e contribuir para a comunidade. António de Vasconcelos Tavares, presidente da Associação de Antigos Alunos da Universidade de Lisboa, deixou no seu perfil de Linkedin elogios ao mais jovem membro da direção executiva do SNS: “O Francisco é leal, dedicado e muito trabalhador. Desempenha na perfeição as tarefas que lhe são entregues. Dotado de grande inteligência, excelente educação e bom senso, é apaziguador, bondoso e muito simpático. As suas características humanas e competência fizeram dele um líder estudantil na Universidade de Lisboa.”
Este ano, a OMS, de que se tornou consultor, publicou o Manual de Combate à Desinformação em Saúde, do qual é co-autor. A ideia de combater fake news já vinha de trás. Em 2020, quando se discutia o papel dos influencers na pandemia, e se deviam ou não ser responsabilizados por difundirem desinformação, o então professor na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior defendia que sim. O estudo “Desinformação e Saúde: Uma Perspetiva Bioética” valeu-lhe nesse ano, assim como ao outro coautor, o Prémio em Bioética João Lobo Antunes.
Mas foi antes da pandemia, entre 2015 e 2018, que trabalhou muito próximo de Fernando Araújo, quando este estava no Governo. Nessa época, Francisco Goiana da Silva era técnico especialista do gabinete do então secretário de Estado Adjunto e da Saúde.
Francisco Goiana Godinho da Silva, 33 anos, nasceu a 15 de Abril de 1989, em Santo Tirso e é doutorado em Políticas de Saúde pelo Institute of Global Health Innovation, Imperial College of London, Reino Unido.
Filomena Cardoso
Enfermeira, 63 anos
Trabalharam juntos no São João
Quando Fernando Araújo chegou à administração do São João, Filomena Cardoso já conhecia bem os cantos ao hospital do Porto, onde chegou no século passado, em 1990. Por lá fez carreira, depois de ter dado os primeiros passos como enfermeira no serviço de Neonatologia, na Maternidade Júlio Dinis, em 1980, há 42 anos.
Mas foi mais recentemente, de 2019 para a frente, que, nas reuniões do conselho de administração do São João, o novo CEO do SNS e a enfermeira se tornaram mais próximos. Fernando Araújo era presidente do conselho de administração e Filomena Cardoso era enfermeira diretora no Centro Hospitalar, desde fevereiro de 2016.
Juntos atravessaram o período da pandemia, com a construção do hospital de campanha no Porto a ser uma das marcas desse tempo. A antecipação do presidente do São João foi fundamental na resposta à Covid-19, chegou a dizer a enfermeira ao Observador, referindo-se à decisão de construir aquela infraestrutura quando poucos a defendiam.
Ao Observador, recordando as mudanças que Fernando Araújo fez no São João, Filomena Cardoso elogiou-lhe a atenção aos detalhes e o faro para as grandes mudanças, que considera serem os segredos de gestão do médico portuense.
Nascida a 20 de agosto de 1959, no Porto, a enfermeira de 63 anos é doutora (2021) em Ciências de Enfermagem pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto.
O doutoramento chegou a estar na origem de uma discussão com a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, que acusou Filomena Cardoso de tentar agredi-la. Numa carta ao então ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, Ana Rita Cavaco pedia a demissão da enfermeira diretora pela alegada agressão e por prejudicar as suas funções no hospital por causa de um doutoramento que a levaria a “várias e longas ausências ao serviço”. O caso foi arquivado.
Rita Moreira
Gestora, 42 anos
Trabalharam juntos na ARS Norte
As capacidades de gestão de Rita Moreira tornaram-se visíveis desde cedo e quem trabalhou ao seu lado aponta-lhe a lealdade e a visão estratégica como pontos fortes.
Com passagem por outras áreas, foi na saúde que largou âncora, apostando em formações sucessivas na gestão de saúde. Desde abril de 2011, quando integrou o Conselho Diretivo da Administração Regional de Saúde do Norte, não deixou mais o setor. Foi exatamente no ano em que Rita Moreira chegou à ARS Norte que Fernando Araújo saiu daquele organismo, depois de ter sido presidente entre 2005-2011. Trabalharam juntos durante alguns meses.
Anos mais tarde, voltam a cruzar-se à tangente. Em fevereiro de 2019, quando Fernando Araújo chegava ao São João, a gestora deixava o cargo de vice-presidente da Administração Regional de Saúde do Norte (organismo onde regressara), e juntava-se à nova equipa do centro hospitalar vizinho. Até à recente nomeação, foi vogal executiva com o pelouro financeiro do Centro Hospitalar Universitário do Porto, sob proposta do ministro das Finanças e da então ministra da Saúde, Marta Temido.
Rita Gonçalves Moreira nasceu a 11 de março de 1980. Licenciou-se em Administração e Gestão de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa (2004) e tem diversas formações na área da gestão. É professora convidada na Área de Gestão em Saúde no ICBAS e foi autorizada a continuar a dar aulas depois de assumir as novas funções na direção executiva do SNS.
Jaime Alves
Jurista, 50 anos
Trabalharam juntos no Ministério da Saúde
Estudou para ser advogado, tornou-se quadro do Ministério das Finanças e os últimos anos foram passados entre números, inclusive os que compõem o Orçamento do Estado. Apesar de ser às Finanças que está vinculado, como técnico superior especialista em orçamento e finanças públicas, a carreira de Jaime Alves tem-no levado para a área da Saúde.
Foi numa dessas incursões que conheceu Fernando Araújo, acabando por tornar-se seu chefe de gabinete na Secretaria de Estado da Saúde, cargo que desempenhou durante três anos. Entrou no gabinete oito dias depois do então governante — altura em que também trabalhou com Francisco Goiana — e abandonou-o a 14 de outubro de 2018, na véspera de o então secretário de Estado ter entregado a pasta. Era, nessa época, um dos homens de confiança de Fernando Araújo.
Antes da nomeação, era, desde 2019, vogal executivo no Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central. Passou pela Secretaria de Estado do Orçamento, onde foi chefe de gabinete entre 2013 e 2015 (governo de Pedro Passos Coelho) e pela Direcção-Geral do Orçamento.
Vítor Jaime Pereira Alves nasceu a 6 de fevereiro de 1972, natural de Alijó, Vila Real. É licenciado em Direito pela Universidade Lusíada de Lisboa.
Fátima Fonseca
Médica, 50 anos
Trabalharam juntos na ARS Norte
Médica de família, Fátima Fonseca deixa para trás a área dos cuidados de saúde primários, pasta que era da sua responsabilidade no Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Alto Minho.
Passou por várias estruturas tanto da ARS do Norte como do Centro, altura em que se cruzou com Fernando Araújo. De julho de 2007 a março de 2013, foi colocada por cedência de interesse público na ARS Norte, exercendo funções no ACeS de Espinho Gaia.
Fátima Cristina Mira da Fonseca nasceu a 5 de março de 1972, em Aveiro. É licenciada em Medicina pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (1990/1996) e é especialista em Medicina Geral e Familiar desde fevereiro de 2002.