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Double-lung Transplant Surgery
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Este ano, até maio, já se realizaram 17 transplantes pulmonares em Santa Marta. O ano passado foram 33 e, em 2019 bateu-se o recorde nacional, quando 39 doentes receberem 70 órgãos

Toronto Star via Getty Images

Este ano, até maio, já se realizaram 17 transplantes pulmonares em Santa Marta. O ano passado foram 33 e, em 2019 bateu-se o recorde nacional, quando 39 doentes receberem 70 órgãos

Toronto Star via Getty Images

Hospital de Santa Marta fez o primeiro transplante de pulmão num doente Covid em Portugal

Doente passou 6 meses internado e chegou a pensar-se que já não poderia receber o transplante. Já há um segundo doente em Portugal em observação para o mesmo procedimento. Outros dois foram recusados.

José Fragata, cirurgião, chegou a ter algumas dúvidas. Devia ou não aquele homem, com cerca de 60 anos, receber pulmões novos? Antes de ser infetado pelo vírus da Covid-19 nada na sua história clínica fazia querer que um dia precisasse de um transplante. Mas, no início deste ano, no pico da pandemia no país, o SARS-CoV-2 destruiu-lhe os pulmões. Com cerca de seis meses de internamento no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, passou por um ventilador e depois ficou ligado a um ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorporal), uma técnica que funciona como um pulmão fora do corpo, durante quatro meses.

“Não costumamos fazer transplantes a quem esteve em ECMO durante muito tempo. Mas este doente, e eu tive algumas dúvidas, estava em boas condições, com boa cabeça, em forma ambulatória, e decidimos seguir em frente.” Forma ambulatória quer dizer que o doente não estava acamado e “andava com a maquineta atrás”, explica o diretor do serviço de cirurgia cardiotorácica do Hospital de Santa Marta — a única unidade do país que faz transplantes de pulmão.

Esse pormenor foi decisivo para José Fragata decidir avançar com a cirurgia.

Foi assim que Portugal fez história, com um transplante bipulmonar de um doente Covid, já curado dessa infeção. Em todo o mundo, segundo Paulo Calvinho, o cirurgião cardiotorácico que fez o transplante, não terão sido feitos mais do que 15 ou 20 transplantes em doentes Covid. Em Lisboa, há uma outra doente a ser avaliada pela equipa de Santa Marta para se decidir se pode, ou não, receber novos pulmões.

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O transplante dos dois pulmões foi feito há cerca de um mês no Hospital de Santa Marta, em Lisboa

Toronto Star via Getty Images

Pelo caminho, José Fragata já teve de negar esse pedido a duas pessoas. “Recusei dois doentes em ECMO, com Covid aguda, porque não reuniam condições”, conta. Decidir se um paciente recebe um transplante, ou não, é um exercício de reflexão ética e moral, argumenta o médico, já que usar mal um órgão, entregando-o a quem tem poucas possibilidades de o receber com sucesso, pode significar condenar um outro doente à morte.

Em Portugal, a lista de espera para transplante de pulmões tem atualmente 65 pessoas. As estatísticas, salienta José Fragata, dizem que 20% dos doentes morrem antes de chegar a receber um órgão.

“O que esta situação tem de sui generis é que é o primeiro doente transplantado depois de uma infeção Covid. Não vai ser tão original daqui para a frente. Estou convencido que nos próximos tempos nos vão apresentar mais doentes destes”, diz o cirurgião, frisando que este foi também um excelente exemplo de cooperação inter-hospitalar.

“O que esta situação tem de sui generis é que é o primeiro doente transplantado depois de uma infeção Covid. Não vai ser tão original daqui para a frente. Estou convencido que nos próximos tempos nos vão apresentar mais doentes destes.”
José Fragata, diretor do serviço de cirurgia cardiotorácica do Hospital de Santa Marta

Um sucesso, mas com consequências

Foi durante a noite, como acontece na maioria das vezes, que Paulo Calvinho e a colega Luísa Semedo souberam que tinha chegado uma doação de pulmões a Santa Marta. Pela madrugada fora, como estão habituados, certificaram-se de que aquele órgão podia salvar a vida a alguém — o que nem sempre acontece. Em 60% das vezes, conta o médico, os pulmões que lhe passam pelas mãos não estão em condições de ser transplantados.

Este estava: havia compatibilidade sanguínea com o doente de Santa Maria e a morfometria — o tamanho do dador e do recetor — batiam certo. Antes daquele momento, os dois médicos já tinham visitado o futuro transplantado para avaliar o seu caso clínico. Houve um momento em que chegaram a pensar que não podia receber o transplante, mas a recuperação inesperada reescreveu a sua história.

Um sucesso, mas que traz consequências.

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A ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorporal) é uma técnica que funciona como um pulmão fora do corpo, durante quatro meses.

AFP via Getty Images

“Este doente passa a ter uma vida de transplantado, com medicação crónica, drogas imunossupressoras e pode vir a rejeitar o pulmão”, detalha Paulo Calvinho, explicando que este cenário tem uma taxa de sobrevida de 60% em 5 anos, ou seja, 60 em cada 100 doentes estão vivos 5 anos depois. “Substituímos uma doença por outra doença”, diz o coordenador da unidade de Cirurgia Cardiotorácica de Santa Marta.

A espera pelos pulmões foi, “felizmente”, rápida: cerca de duas semanas, conta o médico que não pode entrar em mais detalhes para não quebrar o sigilo médico.

Este ano, até maio, já se realizaram 17 transplantes pulmonares em Santa Marta. O ano passado foram 33 e, em 2019, bateu-se o recorde nacional quando 39 doentes receberem 70 órgãos. 

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