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Entrevista a Pedro Moreira, reconhecido saxofonista, compositor, maestro e professor, que recentemente foi eleito novo presidente da direção do Hot Club. O Observador, além da entrevista, também teve a oportunidade de assistir a um ensáio para o concerto de comemoração dos 75 anos de Hot Club. 16 de Março de 2023 Edifício da Metropolitana, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
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A Orquestra do Hot Clube — formação tradicional de "big band" com 18 músicos, dirigida por Pedro Moreira — apresenta no domingo, 19 de março, um concerto com peças de compositores como Duke Ellington, Woody Herman e Dizzy Gillespie

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A Orquestra do Hot Clube — formação tradicional de "big band" com 18 músicos, dirigida por Pedro Moreira — apresenta no domingo, 19 de março, um concerto com peças de compositores como Duke Ellington, Woody Herman e Dizzy Gillespie

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Hot Clube celebra 75 anos sem casa e com futuro incerto. Como renascerá desta vez?

Com a sua luz baixa e incomparável programação, criou gerações de devotos ao jazz. Este fim-de-semana celebra 75 anos, encerrado por ordem camarária, mas com uma nova direção empenhada no futuro.

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Nem um incêndio nem um fecho forçado conseguem calar o jazz do Hot Clube de Portugal que, em vésperas de celebrar o 75.º aniversário, está sem casa e futuro à vista. A Câmara Municipal de Lisboa fechou as portas ao clube de jazz na Praça da Alegria, obrigando a um aniversário apressado antes de uma inevitável reflexão profunda sobre o futuro do Hot.

Para já, o Teatro da Comuna e o Fórum Lisboa emprestam o palco a três dias de festa, desta sexta-feira a domingo. Os espaços cedidos pela EGEAC, a empresa de cultura da CML, vão receber sete concertos e uma mesa redonda. A 17 e 18, o bar do Teatro da Comuna (espaço atualmente cedido ao grupo A Comuna – Teatro de Pesquisa) é palco de concertos do trio Lokomotiv (Carlos Barretto, Mário Delgado e José Salgueiro), da dupla composta por Zé Eduardo e João Paulo Esteves da Silva, e de Nelson Cascais, com o seu Mingus Project, de tributo ao contrabaixista e compositor Charles Mingus. Cada uma das noites termina com a habitual jam session. No domingo, 19, o Fórum Lisboa recebe um concerto com as duas principais formações residentes do clube, a Orquestra e o Sexteto do HCP, no qual participam ainda, como convidados, Jeffery Davis, Maria João, Mário Laginha, Ricardo Toscano e Rita Maria, que vão interpretar um repertório dedicado ao ano da fundação da instituição, 1948. A Orquestra, dirigida por Pedro Moreira, “apresentará peças de compositores como Duke Ellington, Woody Herman e Dizzy Gillespie, três figuras marcantes e inovadoras do jazz orquestral dessa década”.

O Festival de Jazz inclui também uma mesa redonda no dia 18, no Teatro da Comuna, com Zé Eduardo, fundador da escola do Hot, Gonçalo Marques, o atual diretor pedagógico, e ainda com os músicos Bruno Santos e Pedro Moreira (o recém eleito presidente do Conselho Diretivo do Hot Clube de Portugal), “que se juntam para uma reflexão sobre ‘O ensino do jazz em Portugal”‘. Os bilhetes diários do festival, com um custo de 10 euros, estão à venda nos locais dos concertos no próprio dia.

O clima quer-se de festa naquele que é um momento conturbado para o clube e epicentro do jazz português. O festival “é uma prova de vida, força e alegria nesta altura complicada na história do Hot”, diz Pedro Moreira, 54 anos, oriundo de uma família cuja história se confunde com as origens do jazz em Portugal. O filho de Bernardo Moreira (“Binau”, figura histórica do jazz, que morreu em novembro) entrou em funções como presidente do HCP em fevereiro, sucedendo a Inês Cunha, e já depois de a Câmara de Lisboa ter decretado que o clube não reunia as condições de segurança mínimas para se manter aberto.

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Entrevista a Pedro Moreira, reconhecido saxofonista, compositor, maestro e professor, que recentemente foi eleito novo presidente da direção do Hot Club. O Observador, além da entrevista, também teve a oportunidade de assistir a um ensáio para o concerto de comemoração dos 75 anos de Hot Club. 16 de Março de 2023 Edifício da Metropolitana, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR Entrevista a Pedro Moreira, reconhecido saxofonista, compositor, maestro e professor, que recentemente foi eleito novo presidente da direção do Hot Club. O Observador, além da entrevista, também teve a oportunidade de assistir a um ensáio para o concerto de comemoração dos 75 anos de Hot Club. 16 de Março de 2023 Edifício da Metropolitana, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Pedro Moreira: "Nem todos serão músicos de jazz, mas serão pessoas que vão ter uma ligação ao jazz. Estamos a criar públicos, estamos a criar amadores deste género de música"

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Encerradas as festividades, Moreira arranca o mandato de três anos concentrando esforços nas conversações com a CML para encontrar uma “solução global” para o Hot, que defende que deve manter-se no “centro da cidade”. Voltar para a mesma morada configura-se improvável. “A questão das obras parece-me estar um pouco posta de lado porque em termos de encargos é basicamente para demolir e reconstruir”, admite ao Observador. “Já que estamos confrontados com a necessidade de encontrar um espaço para o clube, até que ponto é que não é preferível fazer algo mais estrutural, mais de raiz e mais definitivo?”, lança. “Não estamos só a estudar a questão do Hot na Praça da Alegria, estamos a estudar o Hot Clube enquanto uma instituição global”.

Clube de jazz, escola de jazz, orquestra e futuro museu. Pedro Moreira espera conseguir concentrar todas estas valências num só lugar. “Inevitavelmente, seja qual for a solução alcançada, vai sempre demorar tempo”, admite, deixando claro que “este empurrão em termos de situação de instalações tem de ser feito com uma ajuda pública e possivelmente também uma ajuda privada”.

Se “nas primeiras décadas [o Hot] foi uma prova de sobrevivência com a habilidade do Luiz Villas-Boas porque em ditadura não era evidente manter um clube com estas características”, hoje em dia os desafios são diferentes. “Há uma vertente economicista e uma pressão gigantesca que faz com que nem sempre seja fácil ter uma atividade ligada ao jazz a funcionar com estas características. Para nós é uma situação muito má estar fechado, como é óbvio”, diz sobre o clube que vive “praticamente só de receitas próprias”. “No ano passado só com os concertos do Hot Clube pagámos a dezenas ou centenas de músicos mais de 100 mil euros de honorários. Se calhar para outras instituições não é muito dinheiro, mas para a nossa escala e para a escala do jazz é muito relevante. Músicos, mais jovens ou menos jovens, perdem ali a oportunidade de trabalhar e de viver a fazer jazz”. Afetos ao edifício na Praça da Alegria havia dois funcionários (o bar funciona em regime de concessão) que estão agora reorientados para uma atividade interna do clube e associação. “O Hot está a assumir o encargo de continuar com eles”, afirma.

Às várias perguntas do Observador sobre o Hot, a Câmara remete uma única resposta: “O que está/continua a ser feito, e de forma empenhada, é uma articulação muito próxima com os seus responsáveis procurando conseguir a melhor solução, para cada momento, com as condicionantes que são conhecidas”.

Nas conversações preliminares com a Câmara de Lisboa, Pedro Moreira garante que “não se falou de nenhum espaço em concreto”, mas a predileção da direção recém-eleita, lista única, é que o futuro se desenhe “naquela freguesia, na zona Parque Mayer”. “Sabemos que é uma zona com uma pressão gigantesca, não é fácil, mas isso para nós é onde faz sentido ser o Hot. Claro que há outras zonas de vida noturna interessantes em Lisboa, mas estão associadas a outro tipo de atividade. Para nós o ideal era aquela zona”. “O Hot Clube tem de estar no centro da cidade se não perde metade do seu público. Além dos habitués, dos sócios, dos amigos e dos músicos, que esses continuam a ser presentes, e da escola como é evidente, temos uma percentagem que ao longo do ano passado varia 30, 40, 50%, às vezes mais de 50%, de público que está na sala como visitante, turista ou em trabalho. A localização é um aspeto crucial do clube”, remata.

Às várias perguntas do Observador sobre o HCP, a CML, através do departamento de marca e comunicação, remete uma única resposta: “O que está/continua a ser feito, e de forma empenhada, é uma articulação muito próxima com os seus responsáveis procurando conseguir a melhor solução, para cada momento, com as condicionantes que são conhecidas”.

“Não se pode separar a história do jazz em Portugal com a história do Hot Clube”

A ideia de criar um clube de jazz na capital começou a cozinhar-se em 1945, quando “se reuniam em casa dos irmãos Sangareau alguns entusiastas do Jazz, ou da música HOT em contraposição à música clássica”, lê-se na página oficial do Hot Clube de Portugal. “Luiz Villas-Boas, os irmãos Ivo e Augusto Mayer, Gérard de Castelo Lopes e a própria Helena Villas-Boas reuniam-se para trocar discos, escutar as novidades e tocar. O grupo foi-se alargando e organizando, de forma mais ou menos informal, sessões de jazz com músicos portugueses e estrangeiros que, estando de passagem por Lisboa, eram convidados a juntar-se.”

Luiz Villas-Boas arrancava a sua cruzada pelo jazz assinando artigos especializados na “Rádio Mundial”, uma publicação de “O Século”, e, aos microfones da Emissora Nacional, com o programa “Hot Clube”, apontado como o primeiro programa de rádio divulgador de jazz em Portugal. Numa dessas emissões, Villas-Boas terá até lançado o isco aos ouvintes para a criação de uma estrutura que agregasse entusiastas do género musical. A militância deste melómano não tardaria a dar frutos, concretizando-se na fundação do clube três anos depois, a 19 de março de 1948, data em que “o pai do jazz português”, como ficou para sempre conhecido, preencheu a ficha de sócio número um, que ainda hoje é património da instituição. Dois anos depois, a 16 de março de 1950, são formalizados os estatutos do Hot Clube de Portugal sob o slogan “Divulgação da Música de Jazz”.

Hot Clube Hot Clube

À esquerda: Carlos Paredes e o contrabaixista americano Charlie Haden; à direita: Luiz Villas-Boas, no centro de um concerto na cave do Hot Clube

Fotos: arquivo Hot Clube

A partir daí, “organizaram-se Festivais de Música Moderna, concertos com músicos famosos de Sidney Bechet a Count Basie, gravação de discos e muitas Jam Sessions”, consta também no site do Hot, onde se recorda como “o Ford Prefect de Luiz Villas-Boas parava nas docas de Lisboa e enchia-se de músicos dos barcos de cruzeiro que aí estavam atracados, que iam tocar para o HCP, regressando ao barco já de madrugada”.

A instalação do clube na Praça da Alegria deu-se no princípio dos anos 50, primeiro no nº66 e, em 1954, no 39, a famosa cave por onde passaram alguns dos maiores nomes do jazz mundial, como Count Basie, Dexter Gordon, Dizzy Gillespie, Pat Metheny ou Sarah Vaughn. Foi lá também que conviveram várias gerações de músicos portugueses, como Bernardo Moreira, Bernardo Sassetti, Maria João, José Eduardo, Filipe Melo, Júlio Resende ou Paula Oliveira.

Só em 2009 aconteceu o primeiro entrave à atividade ininterrupta de 60 anos. A três dias do Natal, durante a madrugada, um incêndio tomou conta de parte do prédio que albergava o clube. A mítica cave da Praça da Alegria não ardeu, mas ficou alagada pela água usada pelos bombeiros para apagar as chamas, que começaram no último piso do edifício, que estava devoluto. A degradação do prédio, há muito conhecida e denunciada junto da Câmara de Lisboa, teria precipitado a origem do incêndio, acusava na época o então presidente da Junta de Freguesia de São José, Vasco Morgado (PSD), ao jornal Público. Ao mesmo jornal, a autarquia, através do gabinete da então vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto (PS), negava essa relação de causalidade. Certo é que o espaço alfacinha dedicado ao jazz, com 50 metros quadrados, ficou destruído, e o clube perdeu, por tempo indeterminado, a sua sala de espectáculos. Durante dois anos, mesmo sem um espaço físico fixo, as atividades e concertos promovidos pelo Hot Clube continuariam e, em 2011, o Hot renasceria umas portas abaixo da antiga morada, fixando-se nos números 47 e 49, num espaço ligeiramente maior cedido pela Câmara Municipal de Lisboa. Na altura, a CML investiu 200 mil euros que deram ao clube “capacidade para se reorganizar e recomeçar a sua atividade”, dizia a então presidente Inês Homem Cunha à agência Lusa. Os membros investiram cerca de 40 mil euros.

Criada em 1979 pelo contrabaixista Zé Eduardo, a escola funciona na Junqueira, em Alcântara, no edifício municipal da Orquestra Metropolitana de Lisboa. Tem cerca de 350 alunos inscritos. “Não temos mais porque não cabem, não temos espaço, não conseguimos, e temos pedidos nesse sentido”, revela Pedro Moreira.

Muito se bateu o pé ao ritmo de Miles e Coltrane, e só a pandemia voltou a fechar as portas do Hot, que se reinventou online, como tantos outros espaços de espectáculos que lutavam por sobreviver. Assim que as autoridades permitiram, logo se voltou à escuta melódica na Praça da Alegria. Até que no início deste ano, a equipa do clube foi surpreendida com o encerramento imediato, por ordem camarária. O encerramento, decretado a 11 de janeiro, aconteceu depois de uma inspeção, e foi justificado com “questões estruturais do edifício”. Em resposta à Lusa, por escrito, a Câmara Municipal de Lisboa acrescentou que “o próprio exercício da atividade inerente ao clube de jazz, e a sua programação, pode colocar em causa a estabilidade das estruturas”.

“Estamos a criar públicos, estamos a criar amadores deste género de música”

Se foi no clube que sucessivas gerações se enamoraram pelo jazz, com o privilégio do convívio com grandes mestres, a escola mais tarde criada foi um verdadeiro caldeirão de talentos e promessas. A Escola de Jazz do Hot Clube de Portugal, hoje Escola Luiz Villas-Boas, em homenagem ao fundador do clube, tem sido definidora de gerações do jazz, mas também escultora de percursos artísticos de nomes que extravasam o género. “Cada vez que vejo um grupo novo a aparecer vejo ‘olha aquela pessoa que estudou no Hot, ou que estudou jazz’”, aponta Pedro Moreira. “O jazz dá uma excelente base de formação musical e auditiva. Tem esta coisa maravilhosa que é uma música estilística e esteticamente totalmente inclusiva. Musicalmente, nós formamos muita gente que nem sequer vai desenvolver necessariamente carreira na área do jazz”, diz. Um dos sucessos da escola do Hot é “formar músicos com um determinado tipo de consciência estética”.

Criada em 1979 pelo contrabaixista Zé Eduardo, a escola funciona na Junqueira, em Alcântara, no edifício municipal da Orquestra Metropolitana de Lisboa. Tem cerca de 350 alunos inscritos. “Não temos mais porque não cabem, não temos espaço, não conseguimos, e temos pedidos nesse sentido”, revela Pedro Moreira. Hoje com mais oferta educativa, o que move futuros músicos a escolherem esta escola? “Insistimos muito no lado da improvisação e no lado auditivo”, diz. “É uma escola que tem uma grande autonomia pedagógica e uma grande criatividade na proposta de atividades escolares e pedagógicas”, até porque “não está sujeita a uma quantidade de normas que as escolas que dependem diretamente do ministério da educação são forçadas a ter”.

Hot Clube

Villas-Boas sempre presente: ao centro da orquestra de Count Basie; e num dos muitos concertos do clube

Fotos: arquivo Hot Clube

Joga a seu favor a “relação direta com um dos melhores clubes de jazz da Europa, onde os alunos podem tocar com alguma regularidade”, bem como a ligação a uma orquestra profissional — no caso, uma formação tradicional de big band com 18 músicos, entre saxofones, trompetes, trombones e secção rítmica —, que permite um futuro possível. “Às vezes há um trânsito natural através de substituições ou através de estágios em que os alunos podem circular da escola para a orquestra quando atingem um determinado nível de aperfeiçoamento”.

Atualmente, o projeto alargou-se aos mais novos, com um ateliê de iniciação musical pela via do jazz para jovens. “É um projeto absolutamente pioneiro em Portugal, está a acontecer neste momento com alunos de 8, 10, 12 anos. Nem todos serão músicos de jazz, mas serão pessoas que vão ter uma ligação ao jazz. Estamos a criar públicos, estamos a criar amadores deste género de música”.

“Um clube que é uma escola, uma orquestra e um futuro museu? Não conheço mais nenhum”

“Clubes e escolas de jazz há muitos, orquestras há muitas, mas um clube que é uma escola, uma orquestra e um futuro museu? Isso não conheço mais nenhum”, sublinha o presidente do HCP. É uma das ideias antigas de quem vai sonhando com o futuro do Hot Clube de Portugal: converter o edifício da Praça da Alegria (ou qualquer futuro espaço) numa “casa do jazz, o museu do jazz”, depois de realizadas as obras necessárias. Mas a ideia tem tido dificuldade em sair do imaginário das direções.

O espólio, maioritariamente herdado de Luiz Villas-Boas, o melómano fundador, tem mais de quatro mil discos, centenas de livros, cartazes, guiões de programas radiofónicos, cassetes e bobinas de gravações. “Temos tudo em caixotes, catalogado, mas numa sala fechada, não está disponível ao público”, conta Pedro Moreira. O que começou por ser o arquivo histórico de Villas-Boas tem vindo a crescer, através da recolha de outros espólios de outros sócios fundadores. “Temos ali uma pequena coleção, mas que tem um interesse histórico absoluto”, diz, frisando que “não se pode separar a história do jazz em Portugal com a história do hot clube”.

“Faltam-nos grandes oportunidades de concertos pelo país fora, para músicos já consagrados, músicos nacionais, e sobretudo para jovens. Há uma rede muito precária de concertos. Esse é para mim o maior problema do jazz.”

O núcleo museológico pretende também ser um ponto de partida para “um centro de estudos de jazz, inclusive com uma colaboração com o mundo académico para fazer investigação sobre a história do jazz em Portugal”. Esta sexta-feira, é oficializada uma colaboração (inédita, de resto) com o Museu Nacional da Música — presidido desde setembro pelo musicólogo Edward Ayres de Abreu — precisamente com este fim. Trata-se da “criação de uma rede chamada Euterpe, que é uma rede de acervos históricos e documentais, museus de música e coleções particulares de música, onde o Hot também vai passar a fazer parte”, explica Pedro Moreira.

“Faremos parte dessa rede de reflexão e de promoção de atividades conjuntas”. A expectativa é que parte do acervo seja digitalizada e disponibilizada, mas que outra fique sob reserva. “Também é bom fazer com que as pessoas visitem o espaço”, diz o responsável do HCP, para descobrir pérolas como um postal que o lendário Louis Armstrong enviou a Luiz Villas-Boas “com uma fotografia giríssima e um comentário muito divertido”.

“Continua a ser uma indústria musical de nicho com muito pouco dinheiro a circular, é extremamente difícil fazer carreira”

Num retrato mais amplo do jazz em Portugal, o improviso não se tem limitado à música. “Continua a ser uma indústria musical de nicho com muito pouco dinheiro a circular, é extremamente difícil fazer carreira”, lamenta Pedro Moreira. Se “a nível estético este é um caso estrondoso de num país tão pequeno ter tanta variedade estilística”, por oposição a países “um bocadinho mais formatados e em que há uma espécie de gosto corrente com uma certa imposição comercial e que as coisas ficam mais uniformizadas”, o outro lado da moeda é a persistência de uma indústria musical de nicho.

Hot Clube

Os músicos da orquestra de Quincy Jones

Fotos: arquivo Hot Clube

“É extremamente difícil os jovens músicos afirmarem-se e ganharem a vida a tocar jazz”, diz Pedro, que os observa de perto. “Ainda há assim um bocadinho aquele preconceito romântico de que os músicos de jazz são fantásticos porque gostam de tocar, então até é bom que não tenham grandes condições porque assim ficam mais criativos. Isto é completamente falso. Ainda existe essa mentalidade que o jazz não precisa de muito apoio financeiro. seja do público ou de instituições ou seja do que for.”

Festivais como o Jazz em Agosto, da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o Guimarães Jazz, o Funchal Jazz, na Madeira, ou o Angra Jazz, nos Açores, vão alimentando a procura dos entusiastas, mas não resolvem questões mais profundas. “Falta-nos uma rede de festivais de maior dimensão”, acusa Pedro, desapontado com o facto de a programação de jazz em casas como o CCB, a Culturgest ou a Casa da Música ser “algo inconstante”. “Faltam-nos grandes oportunidades de concertos pelo país fora, para músicos já consagrados, músicos nacionais, e sobretudo para jovens. Há uma rede muito precária de concertos. Esse é para mim o maior problema do jazz.”

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