Após a vitória estrondosa do Partido Republicano nas eleições presidenciais desta terça-feira, começou a movimentação nos bastidores — bem como os rumores. O Presidente eleito dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, terá uma importante tarefa até 20 de janeiro, dia em que tomará posse: escolher quem serão os rostos que vão compor a sua administração. Entre antigos aliados a republicanos influentes, precisa de definir com quem vai trabalhar nos próximos quatro anos: para já demorou menos de 48 horas a anunciar o primeiro nome: Susie Wiles será a sua chefe de gabinete.
O nome de Wiles, a chefe de campanha de Trump, já tinha sido apontado como o nome mais provável para chefe de gabinete, por seis fontes republicanas à NBC. Confirmação feita e Wiles torna-se assim a primeira mulher a ocupar este cargo na Casa Branca. “A Susie Wiles ajudou-me a alcançar uma das maiores vitórias políticas na história norte-americana e foi uma parte integral das minhas duas campanhas bem-sucedidas, de 2016 e 2020”, afirmou Trump, num comunicado, citado pela BBC.
Anunciado primeiro nome da administração Trump: Susie Wiles será chefe de gabinete
Falta tudo o resto. Nomes não faltam. Falta saber quem escolherá Trump e quem vai aceitar.
No mandato entre 2016 e 2020, a relação de Donald Trump com vários rostos da sua administração não foi fácil. Poucos foram aqueles que aguentaram os quatro anos no cargo, fruto de divergências com o Presidente. Com pouca tolerância para críticas e um carácter imprevisível, o magnata vai ter de escolher personalidades que estejam habituadas e dispostas a liderar com o seu temperamento. Há, no entanto, muitos republicanos e até independentes que já demonstraram interesse em trabalhar com ele.
O Presidente eleito já deixou até algumas pistas sobre as suas possíveis escolhas, mas nenhuma está fechada. Uma coisa é certa: Donald Trump já assegurou que não vai colocar membros da família na sua administração. De resto, as possibilidades são múltiplas — e vão desde o líder do Space X, do X e da Tesla, Elon Musk, que contribuiu ativamente para a campanha, até Mike Pompeo, um dos poucos rostos da antiga administração que deseja voltar a estar ao seu lado na Casa Branca.
Secretário de Estado: há um favorito e três potenciais nomes
É um dos cargos a que o mundo vai estar mais atento e que pode ajudar a desvendar que posicionamento é que o Presidente vai tomar em termos geopolíticos nos próximos quatro anos: o de chefe da diplomacia. Donald Trump adota a máxima de America First (América em Primeiro Lugar) e o secretário de Estado deverá defender ideias de isolacionismo e de “paz através da força”. O responsável por esta pasta terá, não obstante, de gerir duas guerras: a da Ucrânia, que o magnata prometeu terminar em 24 horas, e a do Médio Oriente.
Entre os nomes que se falam para o cargo está o de Richard Grenell, um aliado leal de Donald Trump e da fação mais à direita do Partido Republicano, ainda que seja uma figura vista como conciliadora entre outras correntes. Foi embaixador na Alemanha, ex-diretor interino dos serviços secretos nacionais norte-americanos e um dos enviados especiais norte-americanos nas negociações de paz entre a Sérvia e o Kosovo.
O filho do Presidente eleito, Donald Trump Jr., já deixou rasgados elogios ao antigo embaixador, segundo o Washington Post. “O seu nome surge em vários níveis altos. Está com a base [eleitoral]. É provávelmente o único embaixador que contou a verdade”. O New York Times conta que Richard Grenell, que poderá ser o primeiro secretário de Estado abertamente gay, terá dito a aliados que Donald Trump já lhe prometeu o lugar. Mas o seu nome também está na berlinda para ser Conselheiro de Segurança Nacional.
Sobre a Ucrânia, tema que deve dominar o início do mandato, Richard Grenell já admitiu, numa entrevista à Bloomberg, ser a favor da criação de “regiões autónomas” em territórios ucranianos, ainda que não tenha detalhado de que forma é que seriam criadas. Opõe-se igualmente à entrada de Kiev na NATO e não se inibe de deixar duras críticas aos aliados por não contribuírem para os gastos da organização militar.
Para o cargo, está também em cima da mesa o nome de Marco Rubio, senador da Flórida, que se zangou com Donald Trump mas que entretanto se reconciliou com o magnata. Com raízes cubanas, o responsável é bastante crítico da China, do Irão e até da Rússia. É um nome mais moderado e que elogia frequentemente a liderança ucraniana, ainda que também defenda o fim do conflito entre Kiev e Moscovo.
Na corrida, também está Robert O’Brien, que serviu como o último conselheiro de Segurança Nacional no primeiro mandato Trump e que é a favor do apoio militar à Ucrânia, apesar de considerar “provocador” que o país integre a aliança transatlântica. É também bastante próximo do governo israelita e assegurou que se recusa a “negociar com os terroristas do Hamas”. À Fox News, já garantiu: “Claro” que aceitaria ser secretário de Estado.
Há ainda a possibilidade de Donald Trump escolher para chefe de diplomacia Bill Hagerty, o seu companheiro em torneios de golfe. O antigo conselheiro económico de George W. Bush, ex-embaixador do Japão durante o primeiro mandato do Presidente eleito e atual senador do Tennessee adota um tom bastante crítico da China. No Senado, votou contra o pacote financeiro e militar que os Estados Unidos acabaram por enviar para a Ucrânia em meados de abril.
Secretário da Defesa: um regresso à administração Trump ou um antigo segundo tenente?
É um dos poucos rostos da primeira administração que poderá transitar para a segunda. Mike Pompeo foi o último secretário de Estado do primeiro mandato Trump e está bem cotado para se tornar o próximo secretário da Defesa norte-americano. É defensor, segundo a Reuters, de uma abordagem de apoio sem limites a Israel e à Ucrânia, ao mesmo tempo que critica duramente o Irão e a Rússia.
Em termos políticos, Mike Pompeo, antigo diretor da CIA, pensou competir nas primárias republicanas, desafiando pelo meio Donald Trump. No entanto, o antigo secretário de Estado voltou atrás, preferindo manter uma boa relação com o magnata. O seu nome também está na calha para outros cargos ligados com diplomacia, segurança nacional ou mesmo dentro dos serviços de informações.
Para o cargo surge ainda o nome de Mike Waltz. O atual congressista da Flórida, que foi reeleito esta terça-feira, teve uma carreira militar, chegando a segundo tenente, antes de entrar no meio político. Já admitiu publicamente que está interessado nas funções. “Trabalhei no Pentágono. Trabalhei na Casa Branca e agora em comissões. Servi as forças armadas durante 27 anos. Aconselhei Trump em assuntos de segurança nacional.”
Presença assídua nos meios de comunicação social, onde comenta assuntos da atualidade e apoia de forma acérrima Donald Trump, Mike Waltz defende que os Estados Unidos da América devem tomar uma atitude assertiva face aos três principais inimigos: China, Irão e Rússia. Contudo, faz questão de realçar que os EUA não devem dar “cheques em branco” a Kiev.
Secretário do Tesouro: um bilionário ou um defensor de uma guerra comercial com a China
Angariou 50 milhões de dólares (cerca de 47 milhões de euros) para a campanha de Donald Trump nestas presidenciais. O gestor financeiro e bilionário John Paulson é o nome mais bem colocado para liderar o Departamento de Tesouro. De acordo com a Reuters, já manifestou interesse no cargo e já o terá dito aos aliados do Presidente eleito.
Em termos económicos, John Paulson é um forte defensor do corte das despesas federais. “Todos estes subsídios fiscais para energia solar, eólica são ineficientes e antieconómicos”, disse o gestor financeiro em entrevista ao Wall Street Journal, agitando uma das suas principais bandeiras. Destacou igualmente que está disposto a trabalhar com Elon Musk, de modo a reduzir as despesas públicas.
Robert Lighthizer é outro dos nomes na lista para ser secretário do Tesouro. Já foi representante comercial dos Estados Unidos na primeira administração Trump, sendo um dos poucos que manteve o cargo durante quatro anos. Defende políticas protecionistas e, quando Donald Trump foi Presidente, foi um dos principais impulsionadores da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, assim como da renegociação do acordo da NAFTA, o Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio, que os EUA tinham assinado com o Canadá e o México.
Se for eleito para o cargo em 2024, é muito provável que Robert Lighthizer mantenha as mesmas políticas. O seu nome também está a circular para o Departamento do Comércio.
Também Scott Bessent, investidor e que já aconselhou Donald Trump na área económica, estará a fazer contactos para chegar a secretário do Tesouro. Segundo o Financial Times, admitiu que vai fazer “o que quer que o Presidente Trump lhe peça”. Dador para a campanha republicana nestas presidenciais, acredita numa política comercial virada para o isolacionismo, assim como num estado mínimo.
E depois há Musk. O papel de Elon Musk numa administração Trump é assunto que ainda não está completamente esclarecido, mas deverá ser integrado no Departamento do Tesouro, embora seja improvável que se converta no secretário da tutela. O Presidente eleito já prometeu atribuir um “papel na auditoria das despesas e regulamentos federais através de um Departamento de Eficiência Governamental”, sendo que o bilionário “terá provavelmente um lugar à mesa onde muitas dessas decisões que forem tomadas, dando-lhe a oportunidade de adaptar a política aos seus próprios interesses financeiros”.
Secretário de Segurança Interna: três nomes, todos alinhados com a política migratória de Trump
Três nomes perfilam-se para o cargo de secretário de Segurança Interna. Aquele que, neste momento, parece ter mais hipóteses de vir a ocupar o cargo é Tom Homan, antigo diretor da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos da América. Defende as mesmas políticas restritivas na entrada de imigrantes do que Donald Trump. Foi um dos colaboradores do Projeto 2025 e já apoiou deportações em massa. Foi várias vezes visto durante ações de campanha e é considerado um aliado da ala mais à direita no Partido Republicano.
Outro dos potenciais secretários de Segurança Interna já esteve no cargo durante 14 meses. Chad Wolf foi o último responsável por aquela pasta na primeira administração Trump. Mas terá cometido um erro que poderá revelar-se fatal à lealdade que deveria ter prestado ao Presidente eleito: demitiu-se dias depois do ataque ao Capitólio. Ainda assim, partilha o espaço ideológico Presidente eleito.
Na corrida, está também Mark Green. Bastante leal ao Presidente eleito e também abertamente contra políticas migratórias flexíveis, o nome do antigo cirurgião das Forças Armadas norte-americano estará a ser ponderado para o cargo. Neste momento, é congressista e lidera a Comissão de Segurança Interna na Câmara dos Representantes norte-americana.
Secretário da Saúde e Serviços Humanos — Robert F. Kennedy é o grande favorito, mas a corrida tem um experiente governador
Era uma terceira escolha no boletim de voto para estas presidenciais. Robert F. Kennedy Jr., sobrinho do antigo Presidente John F. Kennedy, tinha previsto concorrer a estas eleições. A sua retórica populista durante a pandemia da Covid-19 fizeram com que entrasse em rota de colisão com os democratas, partido do tio e no qual se tinha filiado há décadas. A meio da campanha, RFK decidiu desistir — e apoiar a candidatura de Donald Trump, dando-lhe um importante trunfo e expandindo a sua base eleitoral.
RFK pode ser agora recompensado pela desistência com o cargo que tem na mira: o de secretário da Saúde e dos Serviços Humanos. Donald Trump já prometeu que o recompensaria com um “grande cargo na administração”. E este é o mais desejado por Robert F. Kennedy, ainda que a sua posição abertamente contra a vacinação possa ser um entrave para muitos republicanos.
Ciente dessa tendência, a retórica antivacinas abrandou na reta final da campanha. Após a vitória de Donald Trump nas eleições, Robert F. Kennedy foi ainda mais vocal e, num périplo em vários meios de comunicação sociais norte-americanos, passou a mensagem de que não “iria retirar as vacinas” do serviço de saúde norte-americano. “As pessoas devem ter o direito à escolha e essa escolha deve ser informada. Vamos garantir que existem estudos científicos seguros e que as vacinas são eficazes”, prometeu.
Entre vários nomes sondados, há um, além de RFK, que se destaca para o Departamento da Saúde e dos Serviços Humanos: o de Bobby Jindal. Ex-membro da Câmara dos Representantes e antigo governador do Louisiana, é o líder do Center for a Healthy America, um organismo com ligações aos republicanos que divulga as principais ideias do partido na área da saúde pública.
Bobby Jindal tem bastante experiência acumulada e até já esteve no Departamento de Saúde, com um cargo menor, durante o segundo mandato de George W. Bush. Experiência não lhe falta para o cargo e mantém boas relações com a ala mais à direita no Partido Republicana.
Procurador-geral: convertido ao trumpismo é o favorito
Quando chegam à Casa Branca, os novos Presidentes elegem o novo procurador-geral norte-americano. Na nova administração, este cargo será mais importante do que nunca. O motivo? Os processos judiciais de que Donald Trump é alvo. Assim, o magnata deverá escolher um aliado e alguém em quem sabe que poderá confiar nos próximos anos.
Este perfil parece encaixar em Mike Lee. O ex-senador do Utah foi um dos convertidos ao fenómeno Trump dentro do Partido Republicano: recusou a votar no magnata em 2016, mas, ao longo do tempo, foi transformando-se num dos seus apoiantes mais ferrenhos. Apoiou a tentativa de reverter as eleições de 2020 e também terá tido um papel na divulgação de teorias de conspiração sobre o ataque ao Capitólio. Os que estão próximo do Presidente eleito acreditam, segundo o Politico, que será o eleito.
Há ainda outro nome na corrida: o de Jeff Clark. O ex-vice-procurador da Divisão do Ambiente e Recursos Naturais do Departamento de Justiça dos Estados Unidos também é bastante fiel a Donald Trump. Também tentou ajudar o Presidente eleito norte-americano no processo de reversão dos resultados das eleições presidenciais de 2020.
Em cima da mesa, para o cargo de procurador-geral, também terá estado o nome de John Ratcliffe, antigo congressista e antigo diretor dos serviços secretos norte-americanos entre 2020 e 2021. Mas, de acordo com a Reuters, Donald Trump terá preferido atribuir-lhe o cargo de diretor da CIA.