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Crítico do regime venezuelano considera que o Parlamento, ao não aprovar o reconhecimento de Edmundo González
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Crítico do regime venezuelano considera que o Parlamento, ao não aprovar o reconhecimento de Edmundo González

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Crítico do regime venezuelano considera que o Parlamento, ao não aprovar o reconhecimento de Edmundo González

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Leopoldo López. "Governo de Portugal não nos apoiou de maneira contundente"

Um dos principais rostos da oposição venezuelana diz que Venezuela exporta corrução, dando como exemplo o caso de Sócrates e os Magalhães. E refere que Europa tem a ganhar com fim do regime de Maduro.

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Foi acusado de corrupção, inabilitado para exercer cargos públicos, esteve preso numa cadeia militar e conseguiu refugiar-se na embaixada espanhola em Caracas durante a tentativa de Juan Guaidó tomar o poder. Leopoldo López foi depois para Madrid, onde, à distância, tenta dirigir uma movimento resistente ao regime do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. “Tenho uma pós-graduação em sociologia militar venezuelana”, assume, com um sorriso, em entrevista ao Observador, na Web Summit, onde, esta terça-feira, participou num painel com a líder da oposição russa, Yulia Navalnaya.

Para Leopoldo López, não há quaisquer dúvidas de que Edmundo González venceu as eleições do passado dia 28 de julho. Ainda assim, o dissidente assume que uma possível tomada de posse do candidato da oposição, marcada para janeiro, é “incerta”. “O que temos é o compromisso e a certeza que a tomada de posse tem de ocorrer”, afirmou, acrescentando que também cabe à comunidade internacional pressionar para que Nicolás Maduro conceda o poder.

Em relação a Portugal, o crítico do regime venezuelano considera que o Parlamento e o Governo, ao não demonstrarem apoio ao reconhecimento de Edmundo González, estão a demonstrar fraqueza face a Nicolás Maduro. Leopoldo López salienta que a principal exportação do regime venezuelano é a “corrupção”, lembrando que Portugal já foi atingido com o que apelida de “escândalo” da exportação de computadores Magalhães para a Venezuela pelo então primeiro-ministro José Sócrates.

Parlamento rejeita reconhecimento de Edmundo González como vencedor das eleições venezuelanas

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“Praticamente todos os dias recebo uma notícia de alguém da minha equipa que foi preso ou torturado”

Após as eleições presidenciais de 28 de julho, e não estando na Venezuela, como é fazer frente a Nicolás Maduro agora? É mais difícil do que no passado? Como é o processo?
Posso dizer que mudou. Desde a vitória contundente da oposição, que o regime não reconhece, Nicolás Maduro tem tentando manter-se no poder usando uma repressão brutal. A situação na Venezuela é de um terror absoluto para toda a população, mas particularmente para aqueles que estão que estão na política, de todos os níveis. Desde María Corina Machado ao [candidato presidencial] Edmundo González, que teve de sair de país, até aos dirigentes de base, os presidentes de câmaras, os das favelas… Não há reuniões em público, há uma perseguição absoluta e isto é o que mudou em particular. Também houve ameaças fora da Venezuela. E houve assassínios e sequestros cometidos pela ditadura no Chile, na Colômbia, nos Estados Unidos, em Espanha… Ou seja, é uma situação de repressão transnacional, que está a afetar os venezuelanos que estão dentro e fora do país.

Qual é o nível de repressão? Quais são as estratégias que Nicolás Maduro usa?
Praticamente todos os dias recebo uma notícia de alguém da minha equipa que foi preso ou torturado. Já não importa estar dentro ou fora da Venezuela. Os que estão na Venezuela e que resistem estão escondidos, os que estão fora do país… Estamos fora do país.

Edmundo González está em Espanha e está marcada a tomada de posse em janeiro. Acredita que é possível que tome posse? Como vão ser os próximos meses até janeiro?
Há incerteza no que diz respeito exatamente como e quando vai ocorrer. O que temos é o compromisso e a certeza que a tomada de posse tem de ocorrer. E o que também tem de ocorrer? O reconhecimento e o respeito da eleição de 28 de julho. E isso significa que o mundo tem de reconhecer Edmundo González como Presidente eleito para que possa jurar como Presidente.

Edmundo González na Web Summit esta terça-feira

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

“Governo de Portugal não nos apoiou de maneira contundente”

Em concreto, o que quer dizer com o mundo tem de reconhecer Edmundo González?
Muita coisa. O primeiro é que os governos democráticos o apoiem. Por exemplo, o Governo de Portugal não nos apoiou de maneira contundente. Como nenhum outro governo de Europa teve uma posição clara. Maduro não ganhou as eleições, as eleições foram ganhas por Edmundo González. E que também haja consequências para Maduro por ter roubado as eleições. Tem de haver consequências: sanções aos corruptos, aos que roubaram a eleição e àqueles que estão a saquear o país.

Então, a Europa pode fazer mais pela Venezuela?
Claro que sim, pode fazer muito mais. Acredito que a Europa tem de refletir. A política europeia, nos últimos quatro anos, tem sido a de não impor nenhuma sanção a Maduro. Foi de restabelecer relações comerciais, aprofundar as relações energéticas, aprofundar as relações diplomáticas… Isso foi o que se passou nos últimos quatro anos. Acredito que essa tendência tem de se revertida. Acredito que tem de haver mais pressão, mais sanções, menos estabilidade e mais coordenação entre os países democráticos, os governos democráticos. E considero que é muito importante que isto seja entendido não apenas como um apoio ao povo venezuelano, mas também como o melhor caminho para a salvaguarda dos interesses estratégicos de Portugal, da Europa e dos países democráticos.

Porque é que a Venezuela é tão importante, em termos estratégicos, para a Europa e para Portugal?
A Venezuela, sob o regime de Maduro, é uma Venezuela onde o principal produto de exportação é a corrupção e também o narcotráfico. E há exemplos concretos. Aqui em Portugal houve casos, escândalos… Até o antigo primeiro-ministro José Sócrates foi envolvido num escândalo que estava relacionado com a venda dos computadores Magalhães. Hoje, em Espanha, há um escândalo por 104 lingotes de ouro, tráfico de influência, violação das sanções europeias, outra demonstração de corrupção. Além disso, a Venezuela deixou de ser um país produtor de petróleo e gás. Por conseguinte, não é um país que contribua para a estabilidade energética. É o contrário do que devia estar a acontecer.

Edmundo González defende que "a Venezuela, sob o regime de Maduro, é uma Venezuela onde o principal produto de exportação é a corrupção e também o narcotráfico"

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

E o que pensa sobre os Estados Unidos? Trump foi eleito. Como serão as relações com a Venezuela? O secretário de Estado Antony Blinken reconheceu Edmundo González como Presidente eleito. Depois das eleições, Nicolás Maduro falou num “novo começo” nas relações entre a Venezuela e os Estados Unidos…
Eu espero que seja um novo começo de mais sanções para o Maduro. Eu espero que esse começo seja um começo de mais pressão para Maduro. Há uma ordem de captura de 15 milhões de dólares [cerca de 14 milhões de euros] em nome de Maduro. Que a subam a 100 milhões de dólares [cerca de 94 milhões de euros]. Que haja toda a pressão a Maduro. É o que acredito, é o que espero. É o que esperamos do Departamento do Estado, do Senado, do Congresso, do governo norte-americanos.

Como avalia a maneira como María Corina Machado, que ainda está na Venezuela, está a desempenhar o papel de líder da oposição?
Tem sido muito valente. Manteve-se na Venezuela. É uma voz que não se cala. Fala praticamente todos os dias. É uma voz que unifica. Direciona e motiva os venezuelanos dentro e fora do país. Aprecio todo o apoio e o esforço que ela está a fazer. Estamos em coordenação permanente.

“Militares venezuelanos estão sob um nível de perseguição, pressão e de supervisão muito intenso”

Na sessão com Yulia Navalnaya na Web Summit falou numa luta de democratas contra autocracias. Que papel tem a Venezuela neste combate?
A Venezuela é um desses muitos países autocratas. Mas tem a particularidade de ser um país com petróleo, gás, ouro e cocaína. Está no norte da América do Sul e está a duas horas dos Estados Unidos. Tem 1.500 quilómetros de costa no Mar das Caraíbas. Tem uma quantidade de condições que tornam o país estratégico. E é por isso que é atrativo para a Rússia, a China, o Irão. Na Venezuela, está a Rússia, a China, o Irão. Mas também estão o cartel [mexicano] de Sinaloa, os cartéis da Colômbia, o Hezbollah, o grupo Wagner. Toda uma constelação de grupos.

Presidente da Rússia? Navalnaya admite ter “ambições políticas” e quer ver Putin “preso numa cadeia russa”

Como vê o futuro da Venezuela nos próximos anos? Acredita que pode haver uma rutura com Maduro? As Forças Armadas mantêm-se próximas e juram lealdade a Maduro…
Na Venezuela, passámos por isto anteriormente. Havia um Presidente que dizia que as Forças Armadas são leiais até o deixarem de ser. Acredito que os membros de todas as componentes das Forças Armadas sentem o mesmo descontentamento do que o resto da população. Eu não sou militar, mas estive preso numa unidade militar quatro anos. Então, tenho uma pós-graduação em sociologia militar venezuelana. E os militares venezuelanos são venezuelanos. Mas estão sob um nível de perseguição, pressão e de supervisão muito intenso. A qualquer momento pode haver mudanças. A população mostrou a sua indignação e também acredito que se vai revelar no âmbito militar.

No futuro, acredita que a Venezuela vai manter uma boa relação com a Rússia, a China e o Irão? Se sim, porquê?
Até agora apoiaram-no. Maduro roubou a eleição de 28 de julho. A 29 de julho, um dos primeiros países que apoiou a fraude de Maduro foi a China. Depois a Rússia e o Irão. Depois mais de 50 países, todos eles autocráticos. Putin disse que o regime de Maduro é próximo do da Rússia. A China fez o mesmo. Esta é a realidade. As autocracias trabalham em conjunto, apoiam-se mutuamente. Em nenhum momento cometemos o erro de pensar que países como Cuba, Rússia ou China podiam ter interesses estratégicos em apoiar a transição democrática na Venezuela. Não acredito. Hoje em dia, não acredito.

Leopoldo López diz que Venezuela tem uma "quantidade de condições que tornam o país estratégico"

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

É o principal rosto do movimento Voluntad Popular. Como funciona e o que faz?
O Movimento Voluntad Popular nasceu em 2009. Nasce como um movimento de base e de trabalho social. Sempre com a componente da luta não violenta muito presente. Hoje em dia é um dos maiores movimentos da resistência democrática na Venezuela. Foi o mais atacado pela ditadura: temos mais de 500 pessoas detidas e presos políticos. Foram perseguidos, detidos. Outros assassinados, como o caso de Edwin Santos, que foi assassinado há apenas quinze dias. Estamos alinhados com Edmundo González e María Corina Machado. A oposição em ditadura tem de estar unida. Se não é mais difícil.

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