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Emma Stone (“Pobres Criaturas”)
O smoking reciclou-se para o grande almoço dos Óscares, e a inspiração steampunk Vitoriana ganhou força nos BAFTA com um coral Louis Vuitton fiel à tendência method dressing que tem sido seguida por Margot Robbie ou Zendaya: na temporada de prémios, alguns atores têm adotado os códigos de vestuário das personagens que desempenham (para este caso de Stone, foram necessárias 450 horas para chegar ao resultado final do vestido). Emma voltaria à mesma marca francesa para brilhar nos Globos de Ouro, ainda que com menos tempo de trabalho para os artesãos da maison.
Nos Governors Awards confiou em Fendi Couture e nos Critics ficou por um longo vestido preto com um ombro a descoberto, de novo com etiqueta Vuitton. Resta saber se alguns deles terá batido o preferido até à data da sua stylist. “É incrível o efeito que teve. Ainda hoje me fazem perguntas sobre ele”. À revista Grazia, Petra Flannery recordava esse jumpsuit Lanvin com calças pretas e boustier brilhante (e ainda o pormenor de uma ligeira cauda). Depois desse momento com o patrocínio do diretor criativo Alber Elbaz nos Globos de Ouro de 2015, muitos outros se seguiriam em parceria com Stone.
A “Bella Baxter” de “Pobres Criaturas” conheceu um dos seus momentos altos quando arrecadou o Óscar de Melhor Atriz dois anos depois, pelo desempenho em “La La Land”. O Givenchy by Riccardo Tisci, dourado e com franjas, bem ao estilo do filme de Damien Chazelle, com cristais Swarovski incrustados, esteve à altura daquele anúncio.
Nos anos mais recentes, sucedem-se os looks que aliam elegância, um toque vintage, e fator surpresa. Nem sempre consensuais, é certo, mas pelo menos imunes à acusação de que provocam sonolência. “A Petra ensinou-me umas coisas sobre qualidade e como pode resultar quando recorres a peças de alfaiataria, e que eu deveria usar roupas masculinas a maior parte do tempo.”, disse Emma à Fashion Gone Rogue.
A stylist, que no seu trabalho se deixa guiar pela vibe 70’s da sua Mill Valey natal, não só reforça a ideia como convoca exemplos de estilo poderosos de outras eras de Hollywood, casos de Katharine Hepburn ou Diane Keaton. O Chanel sobre calças que Stone levou aos BAFTA de 2017 perdura no imaginário, bem como o Vuitton ao estilo boho que exibiu em Veneza no ano seguinte. É entre o girlie celestial e a importação dos códigos masculinos que se vai assim situando.
Se perguntarem a Flannery pelo seu dia a dia, a lista é mais acessível (bom, mais ou menos) mas nem por isso com menos hype. As suas escolhas recaem sobre peças de marcas como Khaite, The Row, Brock Collection, ou Celine.
Ao serviço das metamorfoses das celebridades que orienta, estão detalhes paralelos como acessórios, maquilhagem ou cabelo, claro. No caso de Emma Stone, o fator camaeleónico também dá um ar de sua graça: além do ruivo característico, já a vimos com um bob cool louro, mais retro flip, ou ainda com o “modern undone twist” que revelou na estreia de “Pobres Criaturas”, um trabalho da hairstylist das celebridades Mara Roszakto.
Annette Bening (“Nyad”)
“Movies, marriage, Malibu.” Talvez alguns ainda se lembrem dessa capa da Vanity Fair de 1994, com o casal Annette Bening & Warren Beatty fotografado por Herb Ritts. Trinta anos e quatro filhos em comum depois, é provável que passem menos tempo debaixo de holofotes mas o allure permanece intacto (o casamento também) — e, de resto, Bening regressa às nomeações aos Óscares pelo papel em “Nyad”, em que dá vida a Diana Nyad, nadadora de águas abertas de longa distância e uma das muitas “mulheres difíceis” que interpretou ao longo da carreira.
De “Bugsy” a “Beleza Americana”, Annette é uma legítima estrela do século XX que chega ao século seguinte sem mexer na fórmula a que habituou os seguidores. Sim, a atriz habitou-se a passar com distinção nos testes de red carpet ao longo dos anos, ou nas versões cocktail, mas o seu habitat por excelência (ou competência mais apurada) está à vista no dia a dia (e não só). “É mais conhecida pela sua habilidade única de usar fatos e blazers inspirados em moda masculina, não importa a ocasião. No tempo livre, Bening também não é para ignorar. Ela possui um magnetismo sem esforço que irá inspirá-lo a usar um blusão de cabedal de forma discreta por cima de qualquer conjunto”, escrevia a W em 2017.
Chegados a 2024, está patente o desfecho dessa evolução, das opções mais casuais, com recurso ao denim, por exemplo, aos conjuntos de alfaiataria mais estruturados, ou um little black dress que devia figurar em todos os fundos de armário. Se precisarem de uma gaveta para o estilo da veterana, chamem-lhe masculino-chique, ou básico intemporal, como tem feito ao longo das últimas semanas, em quase tudo o que são aparições na passadeira e photocalls. Quanto a nomes de stylists, não conseguimos descortinar um certo, mas não surpreenderia se a própria assumisse esta despesa com gosto e convicção.
Confiantes, femininos sem ser excessivamente sexy, imaculados na sua vibração muito anos 90, hoje tão em voga. São apenas alguns dos adjetivos quando o assunto são as escolhas de figurino da atriz de 65 anos, a quem é possível gabar as preferências under-stated ou não-Hollywood.Nos Globos de Ouro, por exemplo, o seu smoking preto assertoado Dolce & Gabbana, encheu as medidas. Quase sempre sóbria, sem grandes rasgos que possam manchar a segurança do percurso, a paleta viaja naturalmente pelos tons neutros.
Annette, que foi em fevereiro distinguida com o prémio Artisan concedido pelo sindicato dos Make Up Artistas e Hair Stylists, pelo seu contributo para ao cinema, tem também no cabelo uma das imagens de marca. Tendencialmente curto, e quase sempre com aquele ar de penteado por terminar, num desalinho pensado, junta-se às lentes e armações tartaruga com quem tem rematado os seus looks nas apresentações diante de fotógrafos e público. Aliás, se muito boa gente não gosta de repetir roupa e acessórios nas aparições ao vivo e a cores, a atriz não só não se preocupa com isso como o converteu nas suas peças-assinatura.
Carey Mulligan (“Maestro”)
De entre as pares será a mais fiel ao lema “com o preto nunca me comprometo”, aqui e ali salpicado pelo sempre cúmplice (e inócuo) tom branco — para não dizer que o seu cabelo é já uma assinatura em Hollywood, não costumando sofrer grandes alterações. Um clássico é um clássico é um clássico e Carey Mulligan não dá sinais de se afastar desta fórmula. Não será um hino à ousadia mas pelo menos esbanja infalibilidade e evita presenças numa lista de “mais mal vestidas” da noite. Sim, um look amarelo limão pode ter o seu tempo de antena num chá-convívio da temporada de prémios, mas quando o assunto é passadeira vermelha os exemplos mais recentes vivem de contenção. E de resto estes vestidos carregam mais detalhe do que poderíamos pensar à primeira vista. Pretos, sim, básicos nem por isso.
Também se aplica uma certa nostalgia da era dourada de Hollywood, amparada pelas feições delicadas da atriz e pelos penteados eleitos. De resto, Mulligan bem poderia ter acabado de sair do cenário de “Maestro”. A orientá-la em todos estes momentos estará Andrew Mukamal, que à sua medida é também uma estrela. Com mais de de 142 mil seguidores só no Instagram, o stylist conta entre as intervenções mais sonantes a colaboração com Zoë Kravitz, que conheceu através do namorado da altura.
Nascido em Nova Iorque, criado em Scardsale e educado na Virginia, onde frequentou a faculdade, regressou à Grande Maçã para começar a trabalhar como freelancer na área do styling. Na sua carteira de clientes, além de Mulligan, saltam à vista nomes como Kaia Gerber, Margot Robbie, Billie Eilish, e Lily-Rose Depp.
Quanto a Carey, o historial recente manifesta a tendência com que arrancámos este texto. Um Schiaparelli na Berlinale e outro nos Globos de Ouro, um Dior vintage nos BAFTA, um Armani Privé nos Critics Choice, um Celine nos Governors Awards. Os mais exigentes já terão cedido a um vigoroso bocejo, outros tantos sublinharão a classe da atriz inglesa de 38 anos, que contracena com Bradley Cooper. Analisando o seu dia a dia, é fácil perceber que as escolhas são um prolongamento do luxo silencioso seguido pela atriz, fã de peças de Gabriela Hearst, Khaite ou Celine.
Nem tudo é minimalismo e sobriedade no guarda-roupa de Mulligan. Basta recuar até 2021 e resgatar da memória aquele Valentino rosa choque muito “Revenge Barbie” que a atriz usou na Met Gala desse ano. Ou o vestido floral semi transparente da Erdem que levou ao casamento do príncipe Harry com Meghan Markle, em 2018.
Nem de propósito, Andrew Bukamal não terá tido mãos a medir por estas semanas, já que o styling de Margot Robbie, em todas as suas encarnações na press tour de Barbie, ou pós-Barbie, está por sua conta, só para citar outro nome sob a sua batuta. Robbie pode ter falhado a nomeação nesta categoria mas as suas escolhas não. Menos ousada (ou empolgante, consoante a exigência dos fãs de passadeiras), Carey tem completado os visuais discretos com a make up artist Nina Park, e o hair stylist Jenny Cho. Pode não ser tão memorável como um cisne chamado Bjork, claro, mas pelo menos não perdurará na gaveta dos erros na nossa memória.
Sandra Hüller (“Anatomia de uma Queda”)
Gael Garcia Bernal, Kathryn Hahn, Jennifer Garner, Kiernan Shipka, Sandra Oh, Marlee Matlin, Anna Kendrick, ou Margaret Qualley têm passado pelas mãos criativas da stylist Jordan Johnson Chung, a mesma que vai norteando a alemã Sandra Hüller, uma novata nestas andanças de grande impacto. A Vanity Fair frisa os “passos cautelosos” na linha ascendente da atriz, que em maio de 2023, no sul de França, foi oscilando entre os vestidos longos e os looks casuais para os photocalls – e antecipando o regresso das calças balão?
“Tanto Anatomia quando Zona estrearam em Cannes em maio, levando para casa a Palma de Ouro (primeiro lugar) e o Grand Prix (segundo lugar) do festival, respetivamente. Entre os dois filmes, Hüller mostra uma gama surpreendente. Age extensiva e perfeitamente em três idiomas, oscila entre o desafiadoramente humano e mundanamente mau, agarra close-ups apertados e longas cenas, e responde às solicitações complexas de dois personagens diferentes de todos os que já assumiu”, elogia a revista. Numa produção com styling de Carolina Orrico, Sandra surge bem mais dentro dos parâmetros de um glamour retro do que os looks de qualquer uma das suas personagens — em qualquer dos enredos, a roupa está longe de ser a protagonista mór.
Fora do grande ecrã, diante das objetivas, a conversa é outra. Valentino para o almoço dos Óscares, Vuitton no jantar dos prémios César, e ainda um verde esmeralda nos Globos de Ouro, e mais uma vez Vuitton no prateado com que ativou de vez o modo red carpet, agora nos BAFTA, bem menos fraturante que o Rosie Assoulin com que desfilou na estreia de Zona de Interesse (com o penteado também a deixar muitas dúvidas, mas adiante).”Sinto-me segura e forte com ele”, desabafou à Vogue a protagonista de “Anatomia de uma Queda”, de Justine Triet, e um dos nomes fortes do elenco de “Zona de Interesse”, de Jonathan Glazer, sobre essa passagem bem conseguida pelos prémios do cinema britânico.
Nomeada para Melhor Atriz e Melhor Atriz Secundária, pode não gerar sempre unanimidade quando o assunto são os looks, mas Nicolas Ghesquière tem dado uma ajuda de peso. Para momentos públicos mais informais, a opção tem recaído em nomes como a Bottega Veneta, para um pitada de luxo pouco ruidoso. Foi aliás a marca que elegeu para se sentar ao lado de Jimmy Kimmel no mês passado, para uma escala nos talk shows televisivos que confirma a visibilidade nos EUA. Para a ocasião, Sandra reproduziu uma imagem de lookbook, com um vestido preto e uma botas de cano alto.
Também a poderá ver em Loro Piana, numa produção para a publicação indie Document Journal, com a devida vibe retro. Para a W, já este ano, a atriz estabelecida em Leipzig, deu vida a uma Marylin Monroe reinventada, numa produção dirigida pela realizadora Justine Triet.
Mas reservemos os créditos para a stylist que a tem conduzido nas principais passadeiras vermelhas. Baseada em Los Angeles, Jordan Johnson Chung dava que falar há um ano, quando a “cobaia” ao serviço do seu experimentalismo fashion era a atriz Michelle Yeoh, sobre quem recaíram as principais atenções na red carpet. O percursos da stylist começou bem antes disso, e antes de mais com uma conhecida parceria com Jill Lincoln. A dupla conheceu-se em 2009, trabalharam juntas no estúdio de styling de Rachel Zoe, e em 2014 decidiram sair para se lançarem enquanto dupla — conseguindo mesmo que Jennifer Lawrence deixasse os préstimos de Zoe em 2015. Anos mais tarde, Lincoln deixou o styling e Chug ficou por sua conta. Veremos o que preparou para Hüller nesta noite de domingo.
Lily Gladstone (“Assassinos da Rua das Flores”)
Um curto trajeto pontuado pelo rasgo. As presenças da estreante Lily Gladstone podem ser escassas mas são suficiente para ativar os radares da moda. No papel de Mollie Burkhart em “Assassinos da Rua das Flores”, de Martin Scorsese, Lily tornou-se a primeira nativa-americana nomeada para um galardão como estes e a promessa para a grande noite da temporada de prémios está feita: o look que desfilará pelo Dolby Theatre será de “parar o trânsito”, adiantou à revista People. “Uma prova de que o design indígena merece ter lugar entre a alta-costura na passadeira vermelha”, acrescentou a atriz, que acredita que o resultado final será digno de ter lugar “num museu”.
Pistas sobre o alto impacto não faltam. Para esta caminhada, Gladstone tem contado com o stylist Jason Rembert, para uma abordagem mais teatral encetada na última edição do Festival de Cinema de Cannes, quando recorreu pela primeira vez aos créditos de Valentino, o talismã que faltava. Para a história passam criações personalizadas como o reluzente conjunto de calças da mesma casa italiana com lantejoulas encarnadas, com direito a um não menos vistoso casaco/capa. Para os Globos de Ouro, ativou o binómio preto e branco num look mais clássico também com idêntica assinatura, uma edição em que Rembert assumiu ainda o styling de Shameik Moore, em Saint Laurent, e Aminah Nieves, em Azzizi & Osta.
Enigmático, raramente Jason concede entrevistas mas é público o improvável caminho do miúdo negro de origens humildes, nascido em Queens, que haveria de ver o seu nome entre os 25 melhores stylists de Hollywood, e de colaborar em editoriais para as mais prestigiadas publicações, do The New York Times à Billboard, Variety ou Sports Illustrated. Da música ao desporto, a sua presença é transversal. Rita Ora catapultou-o, Mariah Carey é um dos sonhos. A mãe, Aliétte, foi uma influência poderosa no caminho do stylist que hoje veste algumas das mulheres mais poderosas, e inspirou mesmo a linha de luxo que Rembert criou para a Nordstrom. Jason confessava então que adorava poder vestir a atriz inglesa Michaela Coel, e que um dos seus momentos altos foi ver a atriz e co criadora de Abbott Elementary, Quinta Bruson, numa entrevista a Oprah vestida de Aliétte.
Lembra-se de um cinto polémico usado por Issa Rae em 2018? Ou de Alexandria Ocasio-Cortez na capa da Vanity Fair? Mary J. Blige no intervalo do Super Bowl em 2022? Zayn Malik em Versace na Met Gala de 2016? Ou uma muito reveladora Rita Ora em Donna Karan na after party dos Óscars de 2015? É tudo “culpa” do stylist e dos seus momentos mais virais.
Quanto a Lily Gladstone, alargou o espetro de criadores em eventos como o almoço dos Óscares ou dos prémios AFI. No primeiro, surgiu com um vestido preto bordado de Huishan Zhang. No segundo, retomou o encarnado com um trench Burberry com a cortesia de Daniel Lee. Já no festival de Cinema de Palm Springs atreveu-se com um verde brilhante Rodarte. De resto, a temporada de prémios foi triunfalmente aberta com a passagem pelo New York Film Critics Circle, com um vestido dourado Maison Sara Chraibi couture. Mais recentemente, a 25 de fevereiro, nos Spirit Awards, não passou despercebida com um vestido geométrico Jamie Okuma (e uns brincos Keri Ataumbi). Em matéria de afirmação, o mais relevante será o palco concedido a designers emergentes como Jontay Kahm, oriundo de uma comunidade indígena, que assina o top com penas que a atriz usou em 10 de fevereiro no Festival Internacional de Santa Barbara.
De resto, Lily não tem desperdiçado a oportunidade para apoiar as suas origens. Para a celebração Mulheres em Hollywood 2023, promovida pela revista Elle, a sua maquilhagem foi feita com produtos da marca nativa Cheekbone Beauty.