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JULIAN PEREZ/EPA

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Medidas restritivas. Portugal foi mais rápido do que os outros a responder ao vírus?

Tendo em conta o primeiro caso e o dia em que se tomaram medidas restritivas, Portugal foi quase sempre mais rápido a reagir. Teve a vantagem da experiência da evolução do surto noutros países.

Portugal tem sido um dos países mais rápidos a tomar medidas restritivas para travar o surto da Covid-19. É a conclusão de uma comparação feita pelo Observador entre oito países, todos com realidades distintas, tendo como ponto de partida da comparação o dia em que foi registado o primeiro caso em cada um. Portugal perde na quarentena obrigatória, decisão que o governo optou por não tomar. Na declaração de estado de emergência, só Itália foi mais rápida do que Portugal.

Portugal foi mais rápido a fechar escolas, a fechar fronteiras, a fechar lojas em centros comerciais, a limitar a circulação de pessoas, a sugerir o teletrabalho e a fechar o atendimento presencial de serviços públicos. Há medidas que a China tomou a nível regional, há muitas que a Coreia do Sul não tomou de todo, os EUA tiveram um impulso de Trump numa sexta-feira 13 mas continuam a depender muito de decisões dos governos federais e o Reino Unido parece estar atrasado em tudo.

Só metade destes oito países é que até agora declararam estado de emergência: Portugal, Espanha, Itália e EUA. Itália foi, neste caso, o país a fazê-lo mais depressa para que pudesse tomar medidas excecionais — isso aconteceu um dia depois de ser confirmado o primeiro caso positivo. Ainda assim, os italianos não foram cumprindo as recomendações e só 39 dias depois é que, com a quarentena obrigatória, as pessoas começaram a esvaziar as ruas em todo o país. Já Espanha demorou 43 dias após ser confirmado o primeiro caso a decretar estado de emergência. E os Estados Unidos 54 dias.

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Portugal decretou estado de emergência dias depois de os Estados Unidos e Espanha já o terem feito — mas cá só tinham passado 17 dias desde o início do surto. O Presidente da República foi importante na tomada desta decisão, uma vez que o Governo entendia que ela poderia ser prematura. Já França optou por decretar apenas “estado de emergência sanitária” e não estado de emergência, como tinha feito após os atentados terroristas no país. O Reino Unido ainda não decretou, a China também não necessita de fazê-lo, já que o Estado é todo-poderoso e não precisa do estado de emergência para tomar medidas excecionais, e a Coreia do Sul tem tido uma estratégia de beliscar o mínimo possível os direitos democráticos.

Portugal foi dos países que menos tempo levou a fechar as escolas após ser conhecido o seu primeiro caso. Tinham passado apenas 11 dias desde o primeiro caso positivo quando o governo português anunciou essa medida (a 12 de março). Nos restantes sete países analisados (à exceção da Coreia do Sul, que demorou 34 dias) os países precisaram sempre de mais de 40 dias para tirar os alunos das escolas.

A China foi a mais lenta a tomar medidas: 56 dias depois de ter conhecido o primeiro caso, foi decidido que as férias do Ano Novo Chinês iriam ser prolongadas e que o regresso às aulas não ocorreria a 30 de janeiro como previsto (a decisão começou em Pequim, depois Wuhan, sendo depois alargada a várias cidades).

Portugal demorou muito menos tempo do que a média destes sete países (47 dias) a fechar as escolas, embora tenha decidido encerrá-las na mesma semana que Espanha, França e seis estados norte-americanos. O detalhe que explica isso é que o nosso primeiro caso foi detetado muito mais tarde do que nestes países.

Os centros comerciais tiveram destinos diferentes nestes países. Em França e Itália ficou claro (no primeiro caso 51 dias após o primeiro infetado, no segundo 48 dias) que os estabelecimentos com bens não essenciais seriam encerrados. As lojas de roupa ficaram logo fechadas nestes países, mas noutros foi mais uma consequência do que uma imposição.

Em Espanha não foi decretado o encerramento das lojas, mas as pessoas deixaram de ser autorizadas a sair para ir ao centro comercial (43 dias depois do primeiro caso), logo as empresas que previam uma quebra de clientes começaram a encerrar (nesse dia, a Zara anunciou que encerraria todas as lojas do país). Nos EUA também foram as superfícies que começaram a fechar (neste caso, dependendo dos diferentes estados) e não por terem sido forçados a isso pelo governo federal. No Reino Unido pondera-se agora essa decisão, mas já várias lojas tomaram a iniciativa de fechar em todo o país antes de o governo tomar qualquer opção.

Em Portugal, apenas 18 dias após o primeiro caso (novamente mais cedo do que todos os outros) o primeiro-ministro explicou que só podiam ficar abertos centros comerciais para lá funcionarem lojas essenciais, como supermercados e farmácias. Tudo o resto teria de fechar. Na China não houve nenhuma medida generalizada, mas a 23 de janeiro (53 dias depois do primeiro caso) foi logo aplicada no epicentro do surto (Wuhan, na província de Hubei). Já na Coreia do Sul, o governo continua a não impor o encerramento de lojas.

Mais uma vez, Portugal foi rápido a fechar os serviços públicos — 18 dias depois do primeiro caso. Na verdade, a esmagadora maioria dos serviços continua a funcionar, mas apenas online. O atendimento presencial é que foi sacrificado. França (53 dias), Espanha (43) Itália (48) demoraram mais tempo a fazê-lo. No Reino Unido estes serviços continuam abertos, tal como nos EUA (exceto onde os governos estaduais decidiram, nesse respetivo estado, fechar).

Na China, o governo nunca decretou oficialmente o encerramento de serviços públicos (exceto transportes públicos em algumas cidades da província de Hubei e em províncias vizinhas), mas chegou a parar uma cidade inteira (Wuhan). A medida nunca foi generalizada. Na Coreia do Sul a política, já se sabe, foi a de fechar o mínimo de serviços possível.

O recurso ao teletrabalho é uma recomendação feita pelas autoridades de saúde praticamente em todo o mundo, mas começou a ser feita com mais insistência quando foram tomadas medidas restritivas. Donald Trump incentivou os americanos a trabalharem a partir de casa no dia em que declarou o estado de emergência (a 13 de março, 54 dias depois do primeiro caso confirmado). Boris Jonhson fez o mesmo três dias depois.

Em Espanha, o governo deu indicações nesse sentido 46 dias depois do primeiro caso, quando já várias empresas tinham avançado por iniciativa própria para essa solução. O mesmo aconteceu em França e Itália. Mais uma vez, a China foi o país mais lento a avançar para esta solução (a 3 de fevereiro, 65 dias após o primeiro caso, já com 425 mortes) e Portugal fê-lo mais rápido: 18 dias após o primeiro caso. Mesmo assim, já depois de várias empresas o estarem a aplicar.

Os conselhos para ficar em casa são generalizados. O primeiro-ministro do Reino Unido disse que não ia proibir a circulação entre cidades no país, mas desaconselhou a 16 de março que fossem feitas viagens desnecessárias. Os países demoraram entre 43 e 60 dias a limitar a circulação de pessoas. Portugal, mais uma vez, demorou apenas 18 dias após o primeiro caso a tomar a decisão. A declaração de estado de emergência prevê que sejam proibidas deslocações entre municípios, mas as medidas do governo não foram tão longe.

A China foi o primeiro país a fechar uma cidade (Wuhan), mas antes de o fazer cinco milhões saíram da capital de Hubei. O país só o fez 53 dias após o primeiro caso, embora a circulação entre províncias já seja limitada no país fora de períodos de crise. A Coreia do Sul insiste em não restringir liberdades, optando por massificar os testes como medida de combate ao vírus.

Portugal foi novamente o primeiro país desta comparação a tomar este tipo de medidas — mais uma vez, beneficiou de uma decisão a nível europeu. Portugal precisou apenas de 14 dias para encerrar a fronteira terrestre com Espanha (bloqueando-a, a não ser para regresso a casa de habitantes). Cerca de uma semana antes já tinha suspendido voos de e para o Norte de Itália e de e para a China. Espanha e Itália demoraram exatamente 46 dias a fazê-lo e França 53.

Os EUA também demoraram 54 dias a fazê-lo, mas fecharam logo os voos provenientes da União Europeia (mantendo a possibilidade de voos do Reino Unido). A China continental não fechou as fronteiras a outros países, mas mantém um controlo apertado à entrada. A Coreia do Sul também só o fez depois de já ter o surto mais controlado, 58 dias depois. O Reino Unido ainda não tomou medidas similares.

Portugal optou pelo “dever geral de recolhimento” e por impor o isolamento obrigatório apenas para doentes infetados ou para pessoas em vigilância. Mas países onde a doença evoluiu rapidamente, como França, Itália e Espanha avançaram para a quarentena obrigatória entre 43 a 53 dias após o primeiro caso.

Já a China demorou os mesmo 53 dias após o primeiro caso para submeter a cidade de Wuhan a quarentena. Seguiram-se outras cidades da província de Hubei e dias depois (a 2 de fevereiro) em cidades de outras províncias. Ainda assim, nunca houve um recolher obrigatório em todo o território do país. Mais recentemente, o Reino Unido também anunciou a quarentena obrigatória, 53 dias depois do registo do primeiro caso.

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