Só faltam apurar onze votos e, por isso, as contas das diretas do PSD estão praticamente fechadas. O mapa não podia ser mais claro: Luís Montenegro ganhou em todas as 19 distritais do continente e nas regiões autónomas. O presidente eleito do PSD até teve mais votos que Rio nas duas reeleições, mas ficou atrás da primeira vitória do presidente cessante. Montenegro venceu na terra de Moreira da Silva, na cidade onde está a sede da OCDE (Paris) e, por exemplo, na Alemanha.
Salvador Malheiro garantiu que Ovar caía para Jorge Moreira da Silva, mas sem os números de antigamente. Em todo o país, Moreira da Silva só conseguiu vencer 37 concelhias em sítios tão diferentes como Cuba (no Alentejo) ou na mesa da Bélgica. Aí estão as contas macro e micro das diretas do PSD.
Montenegro venceu todas as distritais (mas não bateu Rio I)
Luís Montenegro venceu em todas as 19 distritais do PSD, nas duas regiões autónomas e até no círculo da Europa. É uma vitória a toda a linha. Só mesmo nas mesas de Fora da Europa houve um empate, mas neste “círculo” votaram apenas 18 pessoas (ficou 9-9).
Na noite eleitoral, o novo presidente do PSD — para reforçar o resultado que teve — fez questão de dizer que teve mais votos do que teve Rui Rio, em termos absolutos, nas duas últimas eleições internas. E é rigorosamente verdade: Luís Montenegro teve 19.225 votos nas eleições deste sábado, enquanto Rio obteve, em 2020, 15.546 votos na primeira volta e 17.158 na segunda volta e, em 2021, teve 18.852. Luís Montenegro teve, no entanto, menos votos do que Rui Rio na primeira vez em que se candidatou: 22.728 votos. Essas eleições foram tão participadas que, nestas diretas, o vencedor Luís Montenegro teve menos votos que o segundo classificado Pedro Santana Lopes em 2018 (19.244 votos).
Luís Montenegro teve também menos votos do que Passos Coelho na primeira vez em que este foi eleito (27.010) e do que o antigo primeiro-ministro conseguiu em 2014, quando, como candidato único, conseguiu 22.161 votos. Ainda assim teve mais do que Passos em todas as outras eleições, mais do que os também vencedores Luís Filipe Menezes e Manuela Ferreira Leite.
A maior diferença entre primeiro e segundo
Ao vencer as eleições com 72% dos votos contra 28% de Jorge Moreira da Silva, Luís Montenegro conseguiu impor a maior diferença de votos entre um primeiro e um segundo classificado das diretas: são cerca de 45 pontos percentuais. A maior diferença até a este sábado tinha sido registada foi nas diretas do PSD de 2010, quando a diferença de Pedro Passos Coelho para Paulo Rangel, o segundo classificado, foi de 27 pontos percentuais (61% versus 34,4%).
Nas últimas três eleições diretas as diferenças foram curtas. Rui Rio e Paulo Rangel ficaram separados, em novembro de 2021, por menos de cinco pontos percentuais. Rio e Montenegro, na primeira volta (com Pinto Luz na corrida), por menos de oito pontos percentuais e os mesmo Rio e Montenegro, na segunda volta, por pouco mais de seis pontos percentuais. Rio e Santana também tinham ficado separados por pouco mais de oito pontos percentuais. Nunca um desequilíbrio entre dois candidatos tinha sido tão grande.
Montenegro venceu na terra de Moreira da Silva
A segunda concelhia do país onde Luís Montenegro teve mais votos foi precisamente naquela onde votou Jorge Moreira da Silva e de onde é natural: Vila Nova de Famalicão. O novo presidente do PSD conseguiu ali obter 695 votos. O apoio do antigo presidente distrital e antigo presidente da câmara municipal, Paulo Cunha, foi fundamental para que Montenegro tivesse este resultado.
A única concelhia do país onde o espinhense teve mais votos absolutos foi em Lisboa — nestas diretas a concelhia do país com mais votantes — onde arrecadou 801 votos. Em Espinho, a sua terra, Luís Montenegro venceu, mas voltou a não ter um resultado brilhante: apenas 84 votos de diferença.
Já Jorge Moreira da Silva teve o seu melhor resultado em termos de votos expressos na concelhia do seu diretor de campanha: Barcelos. Na terra de Carlos Eduardo Reis, o candidato derrotado obteve 523 votos (embora Montenegro também ali tenha tido um bom resultado, com 440 votos).
Salvador ajuda, ma non troppo
Mesmo que não tenha declarado qualquer apoio publicamente, Salvador Malheiro estava a ajudar Jorge Moreira na Silva na sombra. Havia também relatos de que o empenho não era, naturalmente, o mesmo de quando o candidato era Rui Rio. E os números provam isso: o antigo ministro do Ambiente até venceu em Ovar, mas enquanto o presidente cessante ali conseguia sempre vantagens de cerca de 400 votos, Moreira da Silva venceu por apenas 91 votos.
Em Guimarães — a única concelhia do distrito de Braga, além de Barcelos, onde Moreira da Silva podia ambicionar vencer — Luís Montenegro conseguiu levar a melhor: 163-131.
Montenegro vence na cidade onde está sede da OCDE e tem 100% na Alemanha
Embora não fale alemão como o seu antecessor, Luís Montenegro conseguiu uma vitória hegemónica na secção do PSD/Alemanha: 100% dos votos. Os 18 votantes do PSD nesta mesa de voto votaram todos no candidato de Espinho.
Na maior secção da “Europa”, Paris, Luís Montenegro também venceu com números expressivos: mais de 90% dos votos contra 10% de Jorge Moreira da Silva. Na cidade que é a sede da OCDE, e onde Jorge Moreira da Silva vivia até há bem pouco tempo, votaram 41 pessoas: 37 em Montenegro, 4 em Moreira da Silva.
Jorge Moreira da Silva, antigo eurodeputado, venceu, no entanto, na secção da Bélgica, mas votaram apenas oito pessoas (6 no famalicense, 2 no espinhense). Já em Estrasburgo, as três pessoas que votaram, optaram por escolher Luís Montenegro (mais um 100%, portanto).
Em Espanha e no Luxemburgo houve um empate entre os dois candidatos, na Suíça venceu Luís Montenegro e em Inglaterra ninguém votou. No círculo fora da Europa, dois empates nas duas únicas secções onde foram recolhidos votos: EUA e Canadá.
Moreira da Silva venceu 37 concelhias (Montenegro centenas delas)
Apesar de não ter ganho nenhum distrito e de ter registado vários empates com Luís Montenegro, Jorge Moreira da Silva conseguiu vencer 37 concelhias espalhadas por todo o país (sete delas no distrito de Aveiro). Se as do adversário são centenas delas, as de Jorge Moreira da Silva cabem em menos meia dúzia de linhas: “Loulé, Lagos, Cuba, Vidigueira, Odemira, Almodôvar, Cartaxo, Mação, Abrantes, Constância, Sobral Monte Agraço, Porto de Mós, Idanha-a-nova, Covilhã, Miranda do Corvo, Aguiar da Beira, Gouveia, Manteigas, Sabugal, Almeida, Moimenta da Beira, Nelas, Carregal do Sal, Ovar, Arouca, Estarreja, Albergaria-a-velha , Águeda, Anadia, Mealhada, Freixo de Espada à Cinta, Mondim de Basto, Barcelos, Ponte de Lima, Vila Franca do Campo, Lagoa (São Miguel) e Bélgica (Europa).
Mais uma curiosidade, em Celorico de Basto, terra da avó Joaquina do presidente e militante número três Marcelo Rebelo de Sousa, Luís Montenegro venceu com 71,7% dos votos.
Doze empates: dos EUA a São Roque do Pico
Os dois candidatos registaram doze empates, que incluíram duas concelhias em sedes de distrito. Em Setúbal, os candidatos empataram com 73 votos cada e em Viana do Castelo com 90 votos cada. No estrangeiro, Montenegro e Moreira da Silva empataram no Luxemburgo, Espanha, EUA e Canadá. Houve ainda empates em Oliveira de Azeméis, Alcanena, Salvaterra de Magos, Olhão, Lagoa e São Roque do Pico.