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O almoço de Natal do grupo Montepio, encabeçada por uma associação mutualista dedicada ao setor social, vai custar 190 euros por cabeça, mais IVA.
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O almoço de Natal do grupo Montepio, encabeçada por uma associação mutualista dedicada ao setor social, vai custar 190 euros por cabeça, mais IVA.

O almoço de Natal do grupo Montepio, encabeçada por uma associação mutualista dedicada ao setor social, vai custar 190 euros por cabeça, mais IVA.

Montepio. A festa do adeus a Tomás Correia, que vai custar 190 euros por cabeça (+IVA)

Banco Montepio e outras empresas do grupo podem gastar mais de 600 mil euros no almoço de Natal. Custo elevado da festa, em que Tomás Correia é a vedeta, já causou tensão com presidentes do banco.

A festa vai ser de arromba — e, mais uma vez, não se poupa nas despesas. O almoço de Natal do grupo Montepio, encabeçada por uma associação mutualista dedicada ao setor social, vai custar 190 euros por cabeça, mais IVA, apurou o Observador. Contas feitas, um custo de 235 euros por cada um dos quadros (atuais ou reformados) da mutualista e das várias empresas do grupo Montepio que aceitaram o convite para ir, este sábado, à tradicional festa de Natal no Altice Arena — uma refeição servida pela distinta Casa do Marquês, com direito a animação e música ao vivo pela banda de soul/funk HMB.

Esta é uma festa onde, habitualmente, costumam participar mais de 3.000 pessoas. Este ano há uma perspetiva de que possam ser um pouco menos (o que ajuda a que o valor por cabeça seja ainda maior, devido aos custos fixos que o evento assume). Assumindo o custo de 235 euros por cabeça, para um total de pessoas não longe das 3.000, isso significa que a festa pode custar um total à volta de 600 mil de euros — e cada empresa do grupo paga a sua parte, pelo que o Banco Montepio, como maior empregador do grupo, é quem paga a maior parte da fatura.

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É a despedida de Tomás Correia na liderança da mutualista Montepio, uma entidade com dificuldades financeiras conhecidas, numa festa que por causa do seu elevado custo, ao longo dos anos, gerou tensão entre Tomás Correia e os líderes do Banco Montepio, instituição que acaba por pagar a maior parte da fatura.

O Observador questionou as fontes oficiais da mutualista e do Banco Montepio, sobre o custo e número de participantes da festa este ano, mas não obteve respostas. As questões para a mutualista foram enviadas na segunda-feira, tendo o Observador realizado múltiplas tentativas de obter resposta. Assim que a notícia foi publicada, esta quarta-feira, a fonte oficial da mutualista disse ao jornal Eco que serão menos de duas mil pessoas a ir ao almoço, pelo que o valor total não será tão elevado. Mas, segundo o Eco, a mesma fonte “escusou-se a dizer qual o custo do almoço por colaborador”.

Cerca de 24 horas depois da publicação desta notícia, Rita Pinho Branco, diretora de comunicação da Associação Mutualista Montepio, garantiu que o custo da festa noticiado “não corresponde à realidade, fixando-se em montantes significativamente inferiores” — mas não diz quais. O Observador mantém a informação prestada sobre o custo por cabeça — que ascende a 235 euros por pessoa –, reforçando que a multiplicação desse valor por cabeça foi descrita como uma multiplicação do valor por cabeça pelo número de pessoas que normalmente vão à festa, em média, como se pode comprovar no próprio site da Casa do Marquês, por exemplo aqui e aqui.

O texto do Observador sempre indicou que este ano deverão ir menos pessoas, mas a associação mutualista não revelou esse número — tendo tido três dias para o fazer, antes da publicação. Rita Pinho Branco diz, agora, que irão ao evento cerca de 1.800 pessoas este ano. O que significa, fazendo fé nesse número só agora prestou ao Observador, um custo total de 423 mil euros, ao preço por cabeça que o Observador mantém.

“Associação Mutualista Montepio e o seu grupo de empresas alinham a gestão por rigorosas políticas de controlo e redução de custos”, indica Rita Pinho Branco. A mesma fonte garante, também, que “a refeição não será servida pela empresa Casa do Marquês“. O Observador mantém que a Casa do Marquês está envolvida na operação.

Convite enviado aos funcionários ao longo das últimas semanas.

Será uma “celebração repleta de surpresas e emoções”, promete o convite enviado aos funcionários ao longo das últimas semanas. E porque a presença destes funcionários é “fundamental”, o prazo para inscrições até foi alargado mais alguns dias, para que o máximo número de pessoas possa participar nestes encontros de Natal que “aproximam pessoas, fortalecem laços e equipas”. É disso mesmo, e muito mais, que estarão a precisar os funcionários: um estudo da comissão de trabalhadores revelou níveis de satisfação muito baixos nas equipas, que até levaram, segundo o Público, o Banco de Portugal a pedir satisfações ao Banco Montepio.

Se esta festa irá servir para melhorar o satisfação dos trabalhadores, não sabemos. Mas sabemos que esta é uma festa que já serviu para muitas outras coisas, até mesmo para que o líder da acionista aproveitasse para “despedir” presidentes do Banco Montepio — no caso, as fortíssimas críticas feitas em 2017 por António Tomás Correia a José Félix Morgado, que se demitiu do cargo pouco tempo depois.

Desta feita, trata-se da última vez em que Tomás Correia discursa como presidente da associação mutualista (não foi por acaso que a escusa de funções, pedida em outubro, produz efeitos a partir do dia após esta festa). A expectativa é que o gestor aproveite o discurso para repetir as críticas ao novo código das mutualistas, que submeteu a associação mutualista à supervisão financeira da Autoridade dos Seguros e Fundos de Pensões (ASF), na linha do que Tomás Correia escreveu numa carta ao pessoal difundida a 25 de outubro.

Tomás Correia faz carta de despedida a criticar Governo (e sobre o seu processo na ASF nem uma palavra)

Cada empresa paga pelos seus. Ou seja, o banco é quem paga mais

A festa de Natal sempre esteve para Tomás Correia como o Carnaval está para o Rio de Janeiro: assim que termina um, começa-se a pensar no próximo. E não se faz a coisa por menos: uma associação mutualista, que trabalha na área da solidariedade social, nem nos anos do pico da crise contemplou um encontro num local menos imponente do que o Pavilhão Atlântico (hoje Altice Arena) e nunca um serviço de catering e organização alternativo à Casa do Marquês, habituada a organizar jantares de Estado (é a cozinha oficial do Protocolo de Estado).

O simbolismo desta festa anual, por ser a última de Tomás Correia como presidente, é ainda maior, mas a quase obsessão do gestor com esta festa não é de hoje — e começou a causar problemas sobretudo a partir de 2015, quando o Banco de Portugal forçou a separação entre a associação mutualista e a caixa económica (hoje Banco Montepio). Se até esse momento a mutualista e a caixa económica eram, basicamente, a mesma coisa — e tinham o mesmo presidente, Tomás Correia –, a partir de 2015 a separação forçada acabou por suscitar uma questão que até àquele momento não fazia sentido: quem paga a festa?

A quase obsessão de Tomás Correia com esta festa não é de hoje -- e começou a causar problemas sobretudo a partir de 2015, quando houve a separação entre a associação mutualista e a caixa económica (hoje Banco Montepio). Se até aí a mutualista e o banco eram, basicamente, a mesma coisa, a partir de 2015 a separação acabou por suscitar uma questão: quem paga a festa?

Ora, como só entrou em agosto de 2015, José Félix Morgado já não foi a tempo de conter as preparações que estavam em curso — e era o banco que ia pagar tudo. Era “muitíssimo dinheiro” mas “já estava tudo montado”, recorda ao Observador fonte próxima da administração naquela altura. O banqueiro terá dito que, a partir do ano seguinte, só pagaria os custos dos seus trabalhadores, isto é, os da caixa económica — e, logo aí, esse foi um tema que causou frissôn entre José Félix Morgado, acabado de chegar, e Tomás Correia, pouco habituado a fazer contas aos custos da festa.

Passamos para 2016 e, a dada altura, volta a ser apresentada à administração do banco “um orçamento brutal”, entre 600 mil e 700 mil euros, recorda a mesma fonte. José Félix Morgado terá recusado aquele orçamento — mesmo levando em consideração a importância que se sabia que aquela festa tinha para muitos trabalhadores (até mesmo antigos quadros, reformados, que só se reviam uma vez por ano, por ocasião daquela festa).

O presidente-executivo deu ordem para cortar. Afinal de contas, 2016 foi o ano em que foram aplicados congelamentos salariais a todos os trabalhadores, como é que se podia compreender que o banco, depois, fosse gastar quase dois terços de milhão de euros numa festa à qual vai apenas uma minoria dos funcionários?

Imagem do Encontro de Natal de 2016. Foto: @Europalco

Conseguiu-se cortar o custo para o banco para cerca de 400 mil euros em 2016 e, depois, para menos de 350 mil em 2017. “A ementa em 2016 já foi mais pobre. E em 2017 foi mais pobre ainda“, recorda a mesma fonte, referindo-se ao encontro natalício em que José Félix Morgado e a sua equipa foram dispensados, com Tomás Correia a deixar claro no seu discurso que, na sua opinião, o antigo presidente da Inapa não tinha o perfil de gestor de banco da economia social, como considerava desejável. À saída, José Félix Morgado disse ainda não ter percebido muito bem o que é que era “um banco social”.

José Félix Morgado assumiu a presidência da caixa económica em agosto de 2015 e saiu após ter sido "despedido" em público, por Tomás Correia, na festa de Natal de 2017.

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

Já com Carlos Tavares à frente do Banco Montepio — e quando ainda acumulava as funções de presidente do conselho de administração e da comissão executiva — houve um corte ainda mais drástico, pelo menos do ponto de vista do banco. O ex-presidente da CMVM recusou que, sabendo-se que o banco (o Montepio, como os outros) anda a contar tostões na gestão das equipas, se pudesse gastar mais de 300 mil euros num almoço a que só iam um terço dos trabalhadores.

Vai daí, atirou: o Banco Montepio só pagaria o custo dos seus funcionários — e só o catering. Não pagaria o aluguer do Pavilhão Atlântico, nem a animação para a festa de 2018. Só pagaria a refeição. Ao banco acabou por caber uma fatura de cerca de 70 mil euros — e a mutualista assumiu as restantes despesas.

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Mas Carlos Tavares fez mais. Lançou uma deliberação do conselho de administração para que a comissão executiva, que entretanto passaria em 2019 a ser liderada por Dulce Mota, tratasse de fazer uma revisão do formato da festa de Natal, para encontrar uma solução mais barata, num local mais modesto e que, preferencialmente, envolvesse todos os trabalhadores do banco e não apenas uma fração deles.

A pré-reserva já feita no Altice Arena (e o sinal que se ia perder)

A deliberação foi feita mas acabou, porém, por não produzir resultados. E foi na primavera (de 2019) que Tomás Correia telefonou a Carlos Tavares a dizer que, como o Banco Montepio não tinha dito mais nada, já tinha sido feita uma pré-reserva do Altice Arena — e tinha de se confirmar nos dias seguintes, caso contrário iria perder-se o sinal que já tinha sido pago.

Carlos Tavares, que nessa altura já estava no Montepio numa situação hierárquica diferente, remeteu a responsabilidade para a comissão executiva — seria Dulce Mota quem teria de entregar uma proposta ao conselho de administração para que se pagasse aquilo. E foi o que aconteceu… Tomás Correia terá telefonado a Dulce Mota para que lhe explicar o que estava em causa e a presidente executiva não encontrou alternativa — se tem de se pagar, paga-se, que remédio.

Tomás Correia terá telefonado a Dulce Mota para que a CEO apresentasse proposta para pagar a sua parte da festa de Natal, incluindo o aluguer do Pavilhão Atlântico.

MIGUEL A. LOPES/LUSA

A proposta foi levada a conselho de administração e acabou por ser aprovada, mesmo havendo resistências no conselho, sobretudo tendo em conta que existia uma deliberação do conselho de administração para que o modelo fosse revisto. Ao Banco Montepio, a festa de Natal deverá custar quase 300 mil euros em 2019, num banco que já teria dado prejuízo nos primeiros nove meses deste ano não fossem as vendas de títulos de dívida pública que estavam em carteira.

Montepio. Lucros caem 21% nos primeiros nove meses do ano

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