Índice
Índice
“Mas queres mudar o mundo todo num só dia?”, perguntaram a Liliana quando participou num concurso de ideias, tal era a panóplia de planos, de vontades e ambições. A resposta espontânea foi “não, mas pretendo fazê-lo todos os dias.” Aos 14 anos já queria participar numa missão humanitária, depois de ter assistido a uma palestra na escola onde, de repente, percebeu que “havia todo um mundo lá fora”. Liliana Torres nasceu na Terra das Sereias, a Figueira da Foz, e desde cedo começou a interessar-se pelas problemáticas sociais.
Em 2013 ingressou no Mestrado Integrado em Psicologia na Universidade de Coimbra, onde integrou a comunidade associativa, juntando-se ao Núcleo de Estudantes de Psicologia, de Ciências da Educação e Serviço Social da Associação Académica de Coimbra, vindo a ser coordenadora do Pelouro de Intervenção Cívica e Ação Social. Foi no decorrer desta intervenção que surgiu o convite para fazer parte da Académica Start UC .
Este é um projeto de inovação, que nasceu da parceria entre a Universidade de Coimbra e a Associação Académica, com o apoio do Santander. Através de uma rede de Embaixadores, das diferentes faculdades da Universidade de Coimbra, promove o empreendedorismo junto da comunidade estudantil, tendo sido este ano incluídos os estudantes de doutoramento.
A iniciativa, que já vai na quarta edição, visa colocar “o empreendedorismo, a criatividade e o desenho de soluções inovadoras em todas as áreas do saber”, na agenda da educação. Liliana Torres foi eleita “Embaixadora do Ano” da Académica Start UC, em 2018, conquistando o acesso à Bolsa Santander que lhe permitiu fazer o Curso Intensivo de Empreendedorismo “Babson Build”, em Boston, no Babson College.
“Foi um grande privilégio conhecer especialistas na área do empreendedorismo, com uma visão, uma cultura de atitudes e valores diferentes, com um dinamismo muito próprio no ensino e no contacto com os seus aprendizes”, relata a ex-aluna. Foram duas semanas a “desenvolver conhecimentos, treinar pitches e criar projetos em contrarrelógio como forma de dar resposta a problemas atuais, que é, no fundo, o que um empreendedor sente diariamente: a necessidade de se reinventar e de se adaptar aos “estados-atuais” repentinos e incertos.” O contacto com o Babson College foi também interessante no sentido da experiência social, pois deu-lhe a oportunidade de contactar com colegas provenientes de diversas geografias, do México, Argentina, Brasil, Espanha e Nepal.
Durante essa passagem conheceu de perto o ecossistema empreendedor, especialmente as áreas do empreendedorismo social e da inovação social, que são hoje a base da sua atividade profissional na Associação de Desenvolvimento Social e Cultural dos Cinco Lugares (ADSCCL) , sedeada na Lousã.
Liliana começou por fazer um estágio voluntário na primeira Incubadora Social do país, o projeto Microninho, que teve continuidade num estágio profissional e na integração como Técnica Psicossocial, função que exerce atualmente. “Neste momento a ADSCCL promove dois projetos, o Microninho – Incubadora Social e a Rede Cuidas ”.
Considera que “falta introduzir mais empreendedorismo social no sistema educativo, como sendo um sistema compreensivo, inclusivo, dinâmico e de formação de novos pensadores mais atentos às necessidades humanas”. O empreendedorismo social “é uma forma de estar, criativa, inovadora e que tem como principal objetivo a solução de problemas sociais nas suas mais diversas formas”, explica Liliana.
Ao ensinar empreendedorismo social “estamos a motivar, desde cedo, o desenvolvimento de competências emocionais, de empatia, de civismo, pela valorização dos direitos de todos e para todos”, além de fomentar a proatividade e a polivalência, fatores-chave da personalidade empreendedora.
Foi esta vontade que a conduziu à criação do projeto TABOO?, que contempla uma visão holística, integradora e crítica das temáticas do desenvolvimento humano que são consideradas tabu. Liliana dá o exemplo da crise dos refugiados, “numa perspetiva passada, presente e focada na criação de soluções inclusivas e inovadoras para esta população no nosso país.” O TABOO? continua ativo e está, atualmente, dedicado à problemática da deficiência nas suas múltiplas vertentes.
Aos 25 anos, Liliana vive em Coimbra, mas considera-se “uma cidadã do mundo que quer, a cada oportunidade, descobrir um lugar novo onde possa sonhar mais, saber mais, conhecer mais pessoas e deixar uma marca positiva no mundo.”
A importância do modelo de aprendizagem no processo de definição de uma carreira profissional e académica está bem patente no percurso de Liliana Torres que, apaixonada por psicologia e pelas ciências do comportamento, encontrou o seu propósito no Terceiro Setor, ao serviço da inovação e do empreendedorismo social.
Foi neste contexto que as questões da igualdade de acesso às tecnologias e ao conhecimento estiveram em análise no segundo encontro virtual da série “Hoje Conversas. Amanhã és Pro”. A iniciativa, pensada para criar espaços de reflexão sobre educação e ensino, é promovida pelo Observador com o apoio do Santander e, desta vez, teve como tema: “A melhor escola do mundo é a que não deixa ninguém para trás”.
Maribel Pinto, Professora Universitária, Francisco Heitor, Diretor de Marketing do Grupo LeYa, Pedro Almeida, CEO da Teach for Portugal e Marcos Ribeiro, Diretor do Santander Universidades, foram os convidados do debate moderado pela jornalista Laurinda Alves, que pode rever aqui
Veja na íntegra a conversa “A melhor Escola do Mundo é a que não deixa ninguém para trás”
Um salto no escuro
“Os professores foram para a frente, num fim de semana”. O elogio é de Maribel Pinto, professora universitária e investigadora, criadora do Kids Media Lab , há seis anos, quando se apercebeu do potencial das novas tecnologias em contexto educativo particularmente ao nível do ensino pré-escolar e do primeiro ciclo. É notória a entrega dos professores que, com elevado zelo, fazem tudo o que podem para criar as condições mínimas para comunicar com os alunos. Por outro lado, muitas crianças nunca tinham usado plataformas até este momento. “As famílias estão a ter um papel fundamental”, constata a professora que realça as dificuldades em “estabelecer uma estratégia de ação para crianças que não têm os meios”.
Neste tempo de pandemia, a escola transferiu-se para casa e muitos são os casos de famílias e instituições que tiveram de se adaptar, rapidamente, às plataformas. A propósito das dificuldades de acesso às tecnologias, Maribel deu o exemplo de escolas que têm de imprimir os instrumentos para que depois os pais os levem aos alunos, uma vez que não dispõem de computadores e impressoras em casa. Nessas condições, o ensino à distância (EAD) não pode ser pleno. “A dimensão emocional do aluno não pode ser desvalorizada e só resulta se as famílias tiverem condições de acompanhar as crianças”, disse a docente universitária que chamou ainda a atenção para o facto de existirem “crianças com Necessidades Educativas Especiais que neste momento têm falta de apoio e devem ser lembradas, no sentido de não as deixar para trás.”
Todas as crianças devem ter acesso a uma educação que lhes permita a igualdade de oportunidades para atingir o seu máximo potencial, sem limitações provocadas pelo seu contexto de origem. Para Pedro Almeida, ainda estamos longe deste cenário. Os últimos dados do relatório PISA 2018 comprovam que “Portugal é dos países da OCDE onde a associação entre contexto socioeconómico e desempenho académico é mais forte”, constata o professor e CEO da Teach for Portugal.
Esta organização preconiza um modelo de recrutamento e seleção de jovens profissionais, com forte compromisso social e potencial de liderança, evidenciado por experiências de ativismo cívico anterior. “É um trabalho remunerado, que passa por colocar licenciados em diferentes áreas de estudo, durante dois anos nas escolas públicas”, explica o professor. O trabalho nas escolas que servem comunidades carenciadas é feito com os professores nas salas de aula, “visando o desenvolvimento de competências que as tornem capazes de encontrar o caminho das oportunidades”.
“O professor é um dos maiores agentes de mobilidade social”, defendeu Pedro Almeida, que realçou os enormes desafios de estimular a mudança e de conseguir chegar a todos os alunos. São muitas vezes os professores que identificam as necessidades dos alunos, sejam as alimentares ou quaisquer outras. A pandemia faz com que os mais necessitados fiquem ainda mais vulneráveis, por isso na Teach for Portugal já conseguiram reunir 60 equipamentos com ligação à internet, através de campanhas locais de angariação.
A mudança acelerada
Esta pandemia obrigou pais, professores e alunos a passar rapidamente para um modelo virtual, transpondo a escola para o ambiente virtual. De repente, sem tempo de preparação, em cada casa nasceu uma sala de aula.
Francisco Heitor contou-nos que o tráfego na plataforma da LeYa cresceu 10 vezes e regista, atualmente, cerca de 760 mil utilizadores. O módulo colaborativo passou a ser usado de forma intensiva, contabilizando 30 mil turmas e um milhão de testes e trabalhos, partilhados entre professores e alunos.
O ensino à distância (EAD) pode ser uma das grandes formas de aprender e trocar conhecimento. A parte tradicional do livro é combinada com os conteúdos interativos que fazem amplificar o projeto escolar, com testes, vídeos, áudios e animações. Antes eram usados na sala, agora são usados em ambiente de partilha de ecrã, com professores e alunos a trabalhar ao mesmo tempo”, explicou o diretor da LeYa. “Mais do que afastar, o digital aproxima”, salientou, explicando que “a partir do momento em que existe uma ferramenta digital, torna-se muito mais fácil fazer chegar o conteúdo a casa das pessoas”.
Criaram um ciclo de webinars que agrega o know-how da LeYa na formação de professores, integrando conteúdos sobre ensino à distância, “sobre a experiência de dar aulas neste novo ambiente, as questões dos recursos, avaliação e a aprendizagem para alunos com necessidades educativas especiais”, entre outros temas. Francisco Heitor destaca que “os professores querem muita informação, estão muito disponíveis e preocupados com os suportes e instrumentos disponíveis”.
Para o Diretor de Marketing do Grupo LeYa, “o EAD conquistou definitivamente o seu espaço e tudo isto é acelerado pela capacidade que o digital traz no desenvolvimento de novos produtos”. A plataforma Aula Digital, que já é um complemento dos livros escolares desde 2007, vai permitir a utilização de mais e novos recursos, promovendo a interação de todos num ambiente amigável.
A ligação do Grupo Santander à educação em geral, e ao ensino superior em particular, tem tido desde sempre um papel fundamental. “Contrariar as assimetrias naturais da sociedade, criar uma sociedade equilibrada e libertar o potencial das pessoas” é um dos propósitos que guiam a atuação socialmente responsável do Santander, afirmou Marcos Ribeiro, Diretor do Santander Universidades.
A avaliação é um tema estratégico e delicado que deve ser colocado ao mais alto nível, em Portugal como noutros países. São necessárias novas estratégias, estímulos para o desenvolvimento e mais espaço para a melhoria contínua. A vida é uma constante superação de obstáculos e, nesse sentido, “estudar é ganhar competências para ultrapassar dificuldades”, sublinhou o diretor.
As iniciativas disponíveis visam perceber o que limita o progresso e posicionar o esforço e o investimento. O Santander é a empresa privada que mais investe no Ensino Superior no mundo, através de uma rede única de universidades que canalizam os apoios, segundo três grandes eixos: educação, empreendedorismo e empregabilidade.
Em Portugal, este ano, existem 3733 beneficiários de bolsas e outros apoios Santander, dos quais 1877 de alto impacto, representando 6,05 milhões de euros de investimento, distribuídos pelos 50 acordos com Universidades e Instituições de Ensino Superior. Serão disponibilizados fundos para alunos que já se encontram em situação de emergência económica e a partir de setembro serão atribuídas Bolsas de Apoio Social.
O avanço tem de passar pelos alunos, mas também pelos professores que têm um papel central e, em muitos casos, precisam de desenvolver ou atualizar as competências digitais.
Todo o sistema de ensino deveria, acima de tudo, investir mais na motivação, envolvendo professores, alunos e famílias, “porque a forma como estamos a aprender vai perdurar ao longo da vida e é fundamental”, rematou o diretor do Santander Universidades.
A próxima conversa que terá lugar no dia 5 de junho, às 18h30, online num tablet, smartphone ou computador perto de si.
Juntos somos mais fortes a Observar.
Esta é uma iniciativa do Observador e do Santander