Gonçalo Peixoto atende o Observador em plena A3, sentido Porto – Vila Nova de Famalicão, e desfaz-se em desculpas. “Estes dias são complicados, porque há sempre uma peça que não ficou como eu queria, então tive de vir ver ao atelier. Estou a voltar para o escritório”, justifica. Está sozinho. Tem as duas mãos no volante e a chamada em alta-voz. Está a poucos dias de apresentar pela 13.ª vez na ModaLisboa, num desfile que vai fechar o calendário de sábado, 9 de março. A entrevista aconteceu três dias antes de, a 4 de março, ter completado 27 anos.
É do signo Peixes como a mãe, a cunhada, a prima e Rita Pereira, uma das suas grandes amigas, enumera, entusiasmado, e o sorriso sente-se a rasgar mesmo deste lado da chamada. “Sou viciado em signos e sou muito, muito supersticioso. Isto pode soar tonto, mas não conto nada até ter a certeza que vai acontecer.” Não respira dentro dos túneis, para pedir desejos. Quando apresenta uma coleção, é obrigatório vestir parte de cima branca. “É parvo, mas é a minha única regra no dia do desfile”.
Rihanna é uma paixão. “Ela consegue encapsular o que é ser uma fashion icon do século XXI”, declara. “Uma pessoa que arrisca, que sai da zona de conforto e que nos traz novos modos de ver a vida.” Rihanna grávida foi todo um novo capítulo na moda. “O meu sonho, se puder sonhar alto, é vestir a Rihanna.” Que, nem de propósito, também é do signo Peixes. “Está tudo conectado”, ri. “Quando a conhecer, vou dizer-lhe: ‘Então, Rihanna? Nós somos os dois Peixes, por isso vamos dar-nos bem.” E esse dia vai chegar, prevê, alegre e sonhador.
Quem é Gonçalo Peixoto? “Um rapaz trabalhador, acima de tudo”, reflete. “Apaixonado por aquilo que faz. Muito feliz. Que vive a vida que sempre sonhou.” Nasceu e cresceu em Vila Nova de Famalicão. Tirou um curso profissional na Cenatex e uma licenciatura na ESAD. “Os meus três anos de curso já foram uma mistura de Gonçalo estudante com Gonçalo trabalhador.” Quando entrou na faculdade, já tinha uma marca própria. Foi também por essa altura que Rita Pereira vestiu, pela primeira vez, um look Gonçalo Peixoto. “A partir daí, foi… Boom! Uma projeção gigante.”
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Os pedidos acumularam-se. No segundo ano de faculdade, recebeu um convite para apresentar na Semana da Moda de Londres, num evento que destacou jovens promessas. Poucos meses mais tarde, entrou pela primeira vez no calendário da ModaLisboa, enquanto acabava o último ano da licenciatura. Por lá se mantém até hoje, um favorito do público, famoso pelos ajuntamentos de influencers na primeira fila, com uma visão transversal e bom olho para o negócio, que quer que “toda a gente possa comprar Gonçalo Peixoto”. É talento com uma pitada de magia. Gonçalo ri. “Tinha de ser. Acho que estava escrito. Não sei explicar. Era tipo meant to be [“destinado a ser”].”
Os inglesismos estão sempre presentes no discurso — é o derradeiro exemplar da Geração Z. A entrevista decorreu com boa-disposição e fluidez, salve os momentos em que a rede da autoestrada cortava, por breves momentos, a comunicação entre Lisboa e o norte. Leia, abaixo, a conversa do criador com o Observador.
Há poucos sonhos por concretizar?
É verdade, as coisas correm-me bem. Sinto que, aos 26 anos, as grandes coisas estão feitas, em Portugal. Toda a gente que eu gostaria que usasse Gonçalo [Peixoto] já usa, no país. O nome está muito bem consolidado no panorama nacional.
Como é chegar a este lugar?
Sinto que tenho muito pouco por fazer, o que me trouxe um lado de reflexão sobre outro tipo de coisas que me possam vir a dar gozo, como criar vestuário para uma peça de teatro, para integrar um filme, ou talvez lançar uma linha de acessórios. Também falta crescermos e internacionalizarmos a marca. Esse é o meu objetivo para os próximos anos.
Como vê essa internacionalização? Passaria pelas semanas da moda?
Hoje em dia não precisamos só de uma semana de moda, há outros caminhos. Vou dar um exemplo. Em novembro ou dezembro, vestimos a cantora Lola Índigo, que é muito grande em Espanha. Quando fiz os stories, vários amigos espanhóis disseram-me: “Isto é impossível. Como é que conseguiste vestir a Lola Índigo?”, porque é uma figura pública mesmo muito grande. Assim que vestiu os nossos looks, recebemos 200 emails de figuras públicas espanholas e até com expressão internacional, como a Karol G e a Aitana, que pensaram: “Ok, esta pessoa está a fazer um trabalho fixe.” A Bad Gyal, que é outra cantora espanhola, também já usou.
Está a trilhar esse caminho em Espanha?
Temos tentado enviar peças para influenciadoras espanholas. É um mercado muito maior, que consome mais moda de autor. Quero fazer tudo certinho, bem implementado. Não quero estar a atirar para vários sítios, isso não faz sentido. Agora estamos em Espanha, conseguimos duas cantoras, vamos conseguir a terceira.
A Taylor Swift também tem peças suas?
A equipa da Taylor Swift entrou em contacto comigo, porque não estavam a gostar dos looks que ela tinha para as cerimónias de prémios. Gostaram tanto dos que lhes enviei que me perguntaram se a Taylor podia ficar com eles. Não aconteceu tê-los usado para um evento ou ter fotografias de paparazzi na rua, mas de facto a Taylor Swift tem peças Gonçalo Peixoto, com que pediu para ficar por ter gostado muito. Eu fiquei tipo: “Isto não é verdade, uau, que fixe, que fixe, que fixe.”
Como se explica o fenómeno Gonçalo Peixoto?
O fenómeno é o Gonçalo Peixoto perceber o que as mulheres querem usar. Acho que me ponho muito bem no papel das minhas clientes, percebo o que procuram e desejam. Sei vestir essa pele. Sou muito atento ao que as minhas clientes me dizem, me pedem. Se recebo um feedback de quatro ou cinco clientes sobre uma peça que sentem que lhes falta no armário, percebo que devo trazê-la para a marca, implementá-la nas coleções. A minha tentativa é sempre que as minhas clientes estejam satisfeitas.
É uma sensibilidade inata?
Tenho uma teoria, que é: you can’t create a phenomenon [“não se pode criar um fenómeno”, em português]. Há 2 anos, estava num festival e vi tipo 30 pessoas com um top que criei, que diz Sometimes I Just Wanna Kiss Girls [“às vezes só quero beijar raparigas”]. Isto é um fenómeno, não é? Jamais, quando criei este top, pensei que isto iria acontecer.
De onde vem a frase Sometimes I Just Wanna Kiss Girls?
Estava num jantar de amigas, há uns 6 ou 7 anos, onde estavam todas a desabafar sobre a vida e os amores, sobre como as relações são difíceis. Há uma amiga que diz: “Adorava gostar de mulheres. Porque é que não gostamos umas das outras? Estou farta de homens.” E aquilo fez ring a bell [“tocar um sino”], e disse-lhe: “Tipo, sometimes I just wanna kiss girls.” E ela disse que a frase conseguia encapsular tudo aquilo que estava a sentir. “Às vezes só queria estar com mulheres e não pensar em homens.” Quando quis criar um top e fatos de treino, durante a quarentena, pensei que esta frase faria sentido. Quando lancei essas peças, toda a gente se reviu nela.
O que significa?
Não se fica pelo sentido literal. Tenho muitas coleções que se chamam Sometimes I Just Wanna Kiss Girls. Faria 300 coleções com este mood. Porque é sobre empoderamento feminino, sobre as mulheres não precisarem de ninguém para serem felizes, sobre ocuparem o lugar principal. É sobre as mulheres sentirem-se sexies, seguras, confiantes e elegantes. É um modo de viver a vida. Mas não quero parecer fundamentalista. Sou homem e não quero, de maneira nenhuma, rebaixar o homem. O que quero é dar um hino de liberdade às mulheres, para serem o que querem ser.
Aquelas idas às compras com a mãe, aos sábados, podem explicar de onde vem a sensibilidade para o universo feminino?
Vem claramente daí, é mesmo isso. É muito engraçada esta história. Desde muito novo, gostava de ir às compras com a minha mãe, de fazer com que a roupa a ajudasse a expressar-se. Porque a roupa, as cores, as silhuetas que vestimos, dizem muito sobre nós, sobre o nosso espírito. Já gostava na altura deste jogo, de que podemos ser quem quisermos ser através da roupa. Estas idas às compras com a minha mãe eram como pegar numa tela em branco para poder pintar. Isto traz-me recordações muito boas, porque foi o início de tudo.
Fale-me sobre os seus pais.
São seres humanos incríveis, surreais mesmo. Tipo, de outro planeta. São empresários e, desde o dia em que lhes disse que gostava de fazer isto, o apoio foi sempre total, a 300%. Foi: “Ok, se és feliz a fazer isso, vamos estar aqui a ajudar-te, apoiar-te em tudo o que conseguirmos.” Foi isso que aconteceu. Eles perceberam que não era só um capricho de miúdo.
Porque, na verdade, tudo começou quando era um miúdo.
As coisas aconteceram muito rápido e muito cedo. Os meus pais perceberam que não era uma brincadeira, que eu estava a trabalhar com um fim. Estiveram presentes em todos os meus desfiles na ModaLisboa. Todas as edições, vêm para baixo, de Vila Nova de Famalicão, independentemente de horários ou de dias. O apoio deles foi muito importante. Tenho amigos — e conheço pessoas — que não tiveram a sorte que eu tive. Sinto-me um felizardo, um sortudo, por ter tido este apoio. Melhorou muito a minha vida enquanto designer, pessoa e filho.
A sua família já tinha ligações à indústria têxtil?
Sim, temos alguma ligação. Tenho também umas tias costureiras, que me ensinaram a costurar nuns mini ateliers que tinham em casa, e acho que o gostinho nasce um bocadinho aí. Deram-me muita vontade de ir para lá e experimentar, coser e descoser. É muito engraçado porque, ainda hoje, essas tias estão ao meu lado na marca. Foi muito fixe quando, às tantas, percebi que conseguia tê-las como parte da minha equipa. É muito significativo para mim.
Faz lembrar o “ciclo sem fim” do Rei Leão.
Exatamente, a ideia de uma continuidade. Adoro esta história. Nunca contei antes que tenho dois membros da minha família a trabalhar para a equipa, porque nunca achei que tinha chegado o momento. É muito gratificante para mim perceber que posso ajudar a minha família.
Quando fez 18 anos, o presente do seu pai foi criar a empresa que é hoje a marca?
Foi (risos). O meu pai, como empresário, estabeleceu-se muito cedo, aos 27 anos. Disse-me: “Gonçalo, perdeste a cabeça. Eu senti que perdi mocidade por me estabelecer tão cedo. Não imagino tu estabeleceres-te aos 18 anos. Não faz sentido para mim.” Mas era aquilo que eu queria, tinha muita certeza daquilo que queria. E ele realizou-me o desejo. Hoje percebo que era muito novo, mas foi o início de tudo.
A Rita Pereira foi uma espécie de fada madrinha?
Sim. Neste momento, é uma amiga muito, muito, muito próxima. Começou como uma fada madrinha que me ajudou. Eu nem sabia muito bem o porquê. Era e sou-lhe super agradecido, mas não sabia por que motivo é que me estava a ajudar a mim. Mas a Rita é Peixes (risos). Percebeu que eu só queria uma janela, alguém me desse a mão. Até hoje, ela vai à ModaLisboa e apoia-me. Almoçámos juntos na terça-feira e falámos sobre o nosso início, porque já são muitos anos, 8 anos. Ela estava a dizer-me: “Eu só te dei aquela abertura, tu fizeste o trabalho a seguir, tu é que o mereceste.” Sinto que, depois dessa abertura ser feita, se trabalharmos e agarrarmos as oportunidades, as coisas acabam por vir. A dedicação e o trabalho árduo trazem sempre recompensas. Às vezes, podem não trazê-las na forma que esperamos. Se calhar estamos à espera de uma porta e aparece uma janela. É aproveitar essa janela.
Por que acha que a vossa ligação foi tão forte desde o início?
Acho que a Rita percebeu que eu não queria nada dela. Só queria mostrar-lhe o meu trabalho, sem segundas intenções. Conforme os anos foram passando, percebeu que podia confiar em mim. Neste momento, é uma das minhas melhores amigas. Só há mesmo amizade. Gostamos muito um do outro. Não tenho mais palavras se não agradecer-lhe, sempre que estou com ela, por tudo o que fez por mim.
Curiosamente, acabou por atrair a fama e pessoas com essa exposição.
Não sei explicar porquê. Acabou por acontecer de forma natural, nada forçado.
Os seus desfiles são conhecidos por terem as primeiras filas cheias de influencers.
(Risos). Aquilo é todo um evento de celebridades. Na verdade, a maior parte, 90%, são efetivamente minhas amigas. Quando faço roupa para alguém, um vestido para uma gala, para um evento, para uma festa, gosto de conhecer as pessoas, perceber de que precisam, o que sentem. Gosto de percebê-las, estudá-las, saber a vida delas. Isso ajuda-me a criar, a por-me no lugar daquela pessoa. E isso aproxima-nos.
De onde vem a sensibilidade para o potencial das redes sociais?
Percebi que esta marca era uma marca do Instagram, das redes sociais. Era uma marca que tinha nascido ali e que tinha chegado a algum lado a partir dali. Então uso esta arma, as redes sociais, a meu favor o máximo possível. Antigamente, muito pouca gente explorava esta arma, por isso é que a marca cresceu tanto e tão cedo. Nós fomos muito pioneiros em Portugal — nem sei se não fomos mesmo os primeiros — nisto de ter influencers no desfile a mostrarem os looks que estão à venda. Eu estudava e lia muito o que estava a fazer-se lá fora. O que tento fazer em Portugal é aplicar isso.
Também há um lado comercial em Gonçalo Peixoto que tem mais evidência em relação a outros criadores.
Uma marca em Portugal não sobreviveria sem os tops, as sweats, os vestidos do dia-a-dia que toda a gente possa comprar. Não sou elitista, não quero ser elitista, não me sentiria bem se fosse elitista. Quero a chegar a toda a gente. Este lado comercial tem de existir para te conseguires sustentar, para conseguires fazer um desfile, criar coisas novas. Porque isto requer tempo e dinheiro. Por isso, tem de haver uma preocupação com aquilo que é feito, para que, no final do dia, seja vendável e chegue às pessoas. Assumo que, provavelmente, sou até melhor comercial do que designer. O que fazem os empresários é estar à conversa todos os dias das suas vidas: “Ok, amanhã temos de fazer melhor, amanhã temos de fazer mais, de criar isto e aquilo, de pagar as contas.” Isso tornou-me uma pessoa com esta virtude, de me manter focado. Posso gostar muito de fazer um tipo de vestidos, mas penso: “Gonçalo, isto não sai, ninguém compra isto.” Então, bora fazer aquilo, adaptar, perceber o que as clientes querem e precisam, para conseguirmos vender cada vez mais.
Sente-se tão influencer como criador?
Sinto que isto de ser influencer acabou por aparecer na minha vida de uma forma muito natural. É algo que me dá prazer, porque eu gosto muito de comunicar, de falar com as pessoas e contar a minha vida. Sinto que influencio, efetivamente, pessoas que querem muito esta área, que querem perceber e aprender. Consigo contar-lhes a minha história. Isto acabou por aparecer na minha vida, mas vejo-o de forma muito natural, não vejo como algo pejorativo. Porque, em Portugal, temos muitas etiquetas. “Só podes fazer uma coisa.” Eu não concordo. Mais uma vez, se há 7 anos parti pedra com os influencers no desfile, então que esteja eu novamente a partir pedra para que o futuro seja melhor para todos nós.
Os rótulos chateiam-no?
Sim, chateiam-me. Chateiam-me porque não faz sentido. Lá fora toda a gente faz tudo, toda a gente é o que quiser. Se virmos grandes nomes, as pessoas fazem aquilo com que se sentem confortáveis. Há pessoas que têm vários talentos e eu acho que isso está bem. Mas acho que estamos em mudança, por isso agora é hold on [“aguentar”] até as mentalidades mudarem um bocadinho.
Que perceção errada acha que têm sobre si?
Que sou uma pessoa muito séria (risos). É o contrário, sou um palhacinho. Sou muito sério no meu trabalho, por isso percebo que as pessoas achem isso. Mas, na verdade, sou uma pessoa super tranquila, descontraída, que só quer ser feliz.
Como era em criança?
Era uma criança que ainda brincava muito nos matos, na rua. Era uma criança da aldeia, de um meio onde o tato é muito importante, mexer na terra, tocar nas coisas. Fazia peças com folhas, vestidos e calções, para as minhas amigas e para os meus amigos. Sempre fiz isto em criança. O cheiro da relva, o cheiro das flores. Tudo isto constrói aquilo que o Gonçalo é no presente.
É filho único?
Sim.
Que influência é que isso pode ter tido sobre a sua personalidade?
Toda a gente fala dos filhos únicos como se fossem mais mimados. Eu não sinto que o seja. Pus-me sempre out there, desde muito novo trabalhei para aquilo que queria, não me deixei estar à sombra da bananeira.
A exposição desde cedo teve algum impacto sobre a sua saúde mental?
Aprendi a balizar-me muito cedo. Tentei não fazer tudo aquilo que queria, perceber se poderia trazer repercussões no futuro. Aprendi, desde muito novo, a tentar não ligar muito, não ler o que se escreve. Claro que já houve tristezas, momentos difíceis. Mas, mais uma vez, tenho uma amiga chamada Rita Pereira, que tinha muito know-how nesta área, e que me disse: “Olha, Gonçalo, no final do dia, o importante é o trabalho, não é? Por isso, não te preocupes. Vai tudo dar certo.” É tentar levar isto na brincadeira e na boa, num bom sentido. Mas eu sou uma pessoa muito pouco afetada, não me deixo levar por essas coisas. Viro para o outro lado e ando para a frente.
Por que é que acha que o norte é mais vaidoso?
Nós no norte temos muita indústria de produção de vestuário. As pessoas aqui estão habituadas a ver muita coisa. Todas as grandes marcas a que conseguimos dar nome provavelmente produzem em Portugal. De muito novas, as pessoas do norte viram muita coisa passar-lhes pelas mãos, por haver cá uma produção muito grande e de muita qualidade. O norte torna-se mais vaidoso também por estarmos longe da capital, é uma maneira de nos sentirmos integrados na sociedade, tentamos vestir-nos melhor, de forma mais arrojada. As marcas que trazem para cá a produção trazem um know-how a estas pessoas, das fábricas, que se tornaram nas influencers da altura. Uma senhora da confeção via uma peça nova e arrojada na fábrica e fazia igual em casa. E isso vai-se espalhando.
Como vê a indústria de fast fashion?
A fast fashion dá muito trabalho em Portugal, é um fator de muita empregabilidade. Se eu sou comprador assíduo? Tento ser o menos possível, porque concordo pouco com as regras. Mas a verdade é que há um fator que não me deixa apontar-lhes o dedo, que é este de criar postos de trabalho. Neste ponto, não há nada que eu posso dizer de mal. Agora, se há métodos que podiam ser melhorados? Eu acho que sim, há sempre coisas a melhorar.
Se pudesse falar com o Gonçalo de há 10 anos, quando se inscreveu na Cenatex, o que lhe diria?
Diria só: “Força, vai dar tudo certo. Continua.”