Inglaterra, França, Itália, Egito, Iémen, Sri Lanka, Malásia, China e Japão – para o regresso ao ponto de partida, Estados Unidos. Ao todo 10 países em 72 dias, seis horas e 11 minutos. Elizabeth Cochrane Seaman – mais conhecida por Nellie Bly – era jornalista e tinha apenas 25 anos quando se tornou uma heroína nacional (e nome popular além-fronteiras) ao bater o recorde da volta ao mundo mais rápida.
Tudo começou com uma noite de domingo mal dormida: não sabia que propostas havia de levar ao seu editor do New York World no dia seguinte. Estava a dar voltas na cama até que um pensamento, em tom de escape, lhe surgiu: “Quem me dera estar na outra ponta do mundo.” E deu-se o clique. Com o ângulo ideal essa podia ser a reportagem. E se tentasse superar a façanha de Phileas Fogg, o protagonista do icónico “Volta ao mundo em 80 dias” de Júlio Verne? O entusiasmo não a deixou pregar olho. Ninguém diria que esta história arranca no final do século XIX. Nellie narra com entusiasmo e detalhe mas não falta leveza nem arrojo nas suas palavras: os textos que foi escrevendo para o jornal estão reunidos em livro, “A Volta ao Mundo em 72 dias” publicado em 1890.
Quando apresentou a ideia no jornal chamaram-lhe louca. Uma mulher sozinha a dar a volta ao mundo? Nem pensar. Só passado um ano é que o editor acabou por ceder. Depois de receber o “sim”, a primeira coisa que Nellie fez foi visitar o alfaiate: “Preciso de um vestido que aguente uso permanente durante 3 meses” disse antes de acrescentar que precisava da peça para o próprio dia. As bagagens só atrapalhariam a sua movimentação que devia ser o mais rápida possível – o seu objetivo inicial era dar a volta completa em 75 dias.
Por isso levou consigo apenas uma pequena mala. Lá tinha: ouro e libras inglesas, dólares norte-americanos, papel, lápis, canetas e tinteiro, peças de roupa interior, um blazer, um vestido de seda para o calor, saiotes, agulha e linha, três lenços, um par de chinelos, uma bolsa de higiene, um cantil de bolso e copo, e um frasco de creme hidratante – essencial para a pele aguentar diferenças de temperatura. No corpo levava o único vestido para a viagem toda, um boné e um casaco longo. A única coisa que lamentou deixar para trás, confessaria depois, foi a máquina fotográfica. “O único arrependimento da minha viagem, e um que nunca deixarei de lamentar, é que na minha apressada partida me esqueci de levar uma Kodak. Em cada navio e em todos os portos encontrei gente que invejei com as suas Kodaks. Podiam fotografar tudo aquilo que quisessem.”
A jornalista e mulher à frente do seu tempo ficou conhecida pelas reportagens únicas – muitas tornaram-se livros. Quando entrou num jornal rapidamente decidiu que ia ser correspondente no México, para poder viver novas experiências e também houve aquela vez que se fingiu de louca para relatar as condições dos doentes mentais. Mas lá iremos. Antes de tudo, o episódio que marcou a história: foi a 14 de novembro de 1889 que Elizabeth apanhou o primeiro comboio (viajaria de navio, riquexó, burro, camelo) para a viagem mais longa da sua vida.
God save the queen
Nellie pode ter-se esquecido da máquina fotográfica mas trouxe memórias igualmente detalhadas através dos seus relatos. Podemos vê-la sentada na sala de estar da família Verne, a conversar junto à lareira. Foi depois de ter viajado de navio até Londres que apanhou um comboio para Amiens, no norte de França, um pequeno desvio para se encontrar com o autor do livro responsável pela sua aventura. Ele mostrou-lhe o seu escritório, levou-a a conhecer a sua coleção de livros, e acabou a desejar-lhe sorte: “Se conseguires fazer a viagem em 79 dias, eu aplaudirei com as duas mãos”, disse Júlio Verne na despedida.
De França viajou até Itália e daí para o Egipto, atravessando o canal de Suez. Sofreu com o calor no mar Vermelho que até à noite se fazia sentir. Na chegada a Áden (Iémen) os passageiros foram aconselhados a não sair do navio por causa das temperaturas altas: “As mulheres passavam então o seu tempo a regatear com os judeus que subiam ao navio para vender penas de avestruz (…) Eu, na companhia de outros inconsequentes, decidimos aventurar-nos para o calor e ver o que é que Aden tinha para oferecer.”
Do Iémen traz recordações dos bonitos sorrisos e inveja a técnica usada para os conseguir: pequenos pedaços de árvore usados para branquear os dentes. “É pena que alguma empresa ainda não tenha importado este pedaço de madeira para substituir as escovas que destroem os dentes usadas na América.” Também descreve as mulheres ao detalhe, morenas, com lenços de seda à cintura, braços bem modelados e braceletes tanto nos pulsos como nos tornozelos – só ficou horrorizada com os alargadores que lhes deformavam as orelhas. No mundo árabe vai-se admirando com a presença britânica, dos fortes às bandeiras hasteadas. É uma norte-americana a admirar o império inglês. Conta como vai ouvindo entoar o “God Save the Queen”: “Apesar de ter nascido e crescido como uma leal americana, com a crença de que cada homem é o que fizer de si mesmo, não conseguia evitar admirar aquele respeito que os ingleses têm pela família real.”
O Sri Lanka – na altura denominado de Ceilão – é a paragem seguinte e um dos capítulos ao qual dedica mais descrições das paisagens verdes, amplas estradas e praias de árvores tropicais. Fala ainda das bonitas arcadas dos edifícios, dos riquexós (carro de tração humana) que encontrou em Colombo e ainda elogia o caril – estava hesitante em provar mas ficou fã apesar dos efeitos do picante. “Só parei de comer quando percebi, depois de uma pesada refeição, que o caril me dava palpitações.”
Apesar do retrato cultural e histórico – aborda os hábitos das populações locais, os templos e monumentos – a autora consegue fazer um perfeito cruzamento com a vida mundana e os seus maravilhosos detalhes. Nellie queixa-se das crianças do quarto ao lado do seu navio que acordam demasiado cedo, conta-nos a história de um curioso homem que viaja com 19 malas consigo, fala-nos de um estranho admirador que a persegue em plena tempestade e mostra um mórbido desejo de a atirar ao mar. Faz constantemente o exercício da aproximação/afastamento: ora nos mostra o mapa mundo e os cenários distantes de um mundo recheado, ora nos traz para junto dela, para a micro-vivência do seu navio em trânsito.
Um macaco de souvenir
Passaporte – o número 247, exemplar especial assinado por James G. Blaine, então secretário de estado – notas e ouro. Estes eram os essenciais que levava na mala. Mas houve quem lhe sugerisse que acrescentasse outro importante objeto: um revólver. Nellie recusou-se levar uma arma de fogo. Estava convicta que o mundo a receberia com a mesma dose de entusiasmo que ela levava consigo.
Em cada porto e nova paragem admirava-se com as novidades. Na Malásia foram os penteados dos homens, de “rabos de porco” que lhe chamaram a atenção e as suas bocas em tons de vermelho, de mastigarem noz de areca. Nellie visitou Penang e depois Singapura, onde acabou por comprar um macaco. E aqui é um dos poucos momentos em que sentimos o peso dos 130 anos que nos distanciam da autora: “Resisti à tentação de comprar um menino em Porto Said e também reprimir o desejo de comprar uma menina cingalesa em Colombo mas quando vi o macaco a minha força de vontade desvaneceu e comecei logo a regatear por ele. Comprei-o.”
3 a 4 dias
É o tempo estimado que demoraríamos hoje a reproduzir exatamente o mesmo percurso da jornalista, sem grandes visitas, apenas conhecendo aeroportos. O avião, claro, seria o meio de transporte de eleição.
Tufões, tempestades de areia ou até icebergs: os perigos meteorológicos pairavam como uma nuvem negra mas Nellie acabou por ter de enfrentar apenas uma monção em alto mar, em direção a Hong Kong. Aí, as eventuais descrições temerosas são substituídas por momentos de humor: como aquela vez em que um passageiro ficou a sangrar do nariz, culpa de uma queda provocada pela turbulência. Nellie lembra que não conseguia parar de rir: “Quando vi que não se movia, corri ao seu encontro, mas ainda às gargalhadas.”
“Estranhamente pitoresca” é o duo de palavras que usa para apresentar Hong Kong, não sem antes reparar que a cidade “vive num estado de sujidade.” Foi em conversa com um oficial do porto, para saber qual o dia de partida do próximo navio, que se apercebeu que havia outra jornalista, de uma publicação concorrente (a revista Cosmopolitan), a tentar superá-la na façanha. Nellie ficou em choque mas não cedeu: “Não estou numa corrida. Prometi que faria a viagem em 75 dias e é o que farei.” Elizabeth Bisland – a outra jornalista – atraiu alguma atenção, mas, na verdade, acabou por gerar mais entusiasmo pelo percurso de Bly (até porque não a conseguiu bater, terminando a viagem quatro dias depois).
A chegada à China aconteceu no 39º dia de viagem: e Nellie já só conseguia pensar na próxima paragem, o Japão. Os relatos são de estradas sujas, ruas estreitas e caóticas e nativos mal-encarados. Para aproveitar alguns dias em terra firme, viajou até Cantão onde a morte foi o tema central: o passeio turístico que fez consistia em conhecer campos de execução – “Isto é sangue. Cortaram a cabeça a onze homens ontem” explicava o guia – técnicas de tortura ou barris com cabeças de condenados. “Os chineses são indiferentes à morte; parece não ter qualquer terror para eles”, diz a norte-americana.
O Japão provou ser o cenário oposto. A jornalista não se cansa de apresentar os dois países em contraponto, nem de elogiar “a terra do Mikado” como lhe chama. Da limpeza e beleza das ruas, à elegância das gheishas, aos bonitos rituais – de decorar as casas em honra do novo ano e de celebrar o desabrochar das cerejeiras em flor. “Se me apaixonasse e casasse, diria ao meu companheiro: ‘Vem, sei onde é o Éden’ e como Edwin Arnold [autor e poeta que escreveu sobre o Oriente] abandonaria a minha terra natal pelo Japão, a terra do amor-beleza-poesia-limpeza.”
Enquanto a norte-americana viajava, o resto do mundo aguardava notícias. O périplo de Elizabeth foi seguido com entusiasmo – e não só nos Estados Unidos. Os ecos da viagem chegaram também a Portugal. Na reta final da aventura, a 20 de Janeiro de 1890, o Diário de Notícias dava conta de um concurso que o jornal da aventureira tinha lançado: “Miss Bly, a jovem correspondente do “New York World” que empreendeu a volta do mundo em 75 dias, deve chegar no praso indicado a New-York. Tem-se feito grandes apostas. O “World” oferece como premio uma excursão gratuita na Europa, no próximo verão aquelle dos seus leitores que primeiro adivinhar o tempo exacto que gastara a sua colaboradora em fazer a volta ao mundo!”
Boas-vindas com vinho e flores
Aquele mês de dezembro foi (verdadeiramente) diferente: recorda como almoçou em Cantão no dia de Natal e como festejou a passagem do ano em alto mar, a bordo do navio Oceanic (o que mais elogia de toda a viagem) entre Hong Kong e Yokohama. Bebeu ponche e champanhe, comeu ostras, cantou e dançou com os companheiros de bordo. Só a atormentava uma possibilidade: a de não conseguir cumprir o tempo que tinha determinado.
Mas Nellie não só cumpriu a meta como a superou conseguindo chegar a Nova Iorque três dias antes do estipulado. O recorde deixou o país em total euforia. Em todas as paragens (Nellie chegou de navio a São Francisco e depois fez a ligação até Nova Iorque por caminho de ferro) era recebida por multidões que a aplaudiam. Queriam saber detalhes da aventura: como estava o macaco, como era o famoso e único vestido que tinha levado, o que tinha transportado na pequena mala. “Inclinei-me para dar apertos de mão com as duas mãos, em todas as estações e quando o comboio arrancava as multidões corriam, agarrando as minhas mãos enquanto podiam. Os meus braços doeram-me durante um mês seguido”, conta.
Ofereceram-lhe frutas, vinhos e flores. Jornalistas de todos os pontos do país corriam para ter declarações da colega do New York Post. Júlio Verne e a mulher enviaram os “sinceros parabéns.” Nesse dia, Nellie foi capa do jornal onde escrevia – a notícia do recorde ocupou praticamente a página inteira, com uma grande ilustração – e nesse mesmo ano acabaria por reunir os textos da viagem em livro. A atenção gerada em torno da história foi tal que pouco tempo depois o New York World anunciava o lançamento de um jogo de mesa sobre a volta ao mundo: “Um novo e fascinante jogo com diversão de sobra em terra e mar”, lia-se na caixa. O puzzle era composto por 300 peças que unidas constituíam o passo-a-passo dos afamados 72 dias.
Viajante intrépida, sim – mas mais do que isso. Nellie foi uma jornalista precursora de um novo tipo de reportagem: a da primeira pessoa. Podia ser uma mulher num mundo masculino – afinal, só nos últimos anos de vida é que viu as mulheres ganharem direito de voto – mas Nellie tinha liberdade na escrita e no trabalho de campo. A volta ao mundo é uma entre as muitas aventuras que viveu. Aliás, foi logo nos primeiros anos enquanto jornalista que percebeu que precisava de novos ares para poder escrever – logo decidiu que se ia mudar para o México para ser correspondente.
Treinar ao espelho
Nascida a 5 de maio de 1864, em Pittsburgh, Elizabeth cresceu numa grande família. Seria a mais nova de 13 irmãos (ou de 15, não se sabe ao certo) a maioria meios-irmãos que o pai teve no primeiro casamento. Com apenas 6 anos ficou ao cuidado da mãe (o pai morreu), o que colocou a família numa situação económica difícil. Queria ser professora mas foi obrigada a deixar os estudos para apoiar a mãe e irmãos, mas por esta altura já tinha desenvolvido interesse e gosto pela escrita. Assim que com apenas 18 anos conseguiu o seu primeiro trabalho como jornalista: foi ao responder a um editorial do Pittsburgh Dispatch, que criticava as mulheres trabalhadoras, que conquistou o diretor do jornal, que a contratou.
Foi para este jornal – um dos mais importantes do estado da Pensilvânia – que trabalhou como correspondente no México, durante seis meses (ideia dela, claro está). Nellie mudou-se para lá com a mãe retratando os costumes, curiosidades e ambiente geral de uma terra que aos norte-americanos parecia tão distante. Escreveu sobre lendas e celebrações locais, descreveu as touradas, revelou as condutas e regras de boa educação, reviu momentos da história do país e até transcreveu receitas dos pratos típicos (almôndegas, tortilhas ou pimentos verdes com ovos e queijo). De todos os textos escritos para o jornal – novamente reunidos para formar um livro, “Seis Meses no México” – o mais polémico foi aquele em que contou a história do diretor de um jornal local preso por ter criticado o governo. Pouco depois a jornalista era convidada a sair do país: acabou por voltar aos EUA um mês antes do previsto.
Nellie não estava preparada para regressar ao Pittsburgh Dispatch. Queriam que cobrisse os típicos temas femininos de beleza mas a jornalista estava mais inclinada para os assuntos de interesse humano. De expectativas goradas, decidiu mudar de publicação e de cidade. Ao editor deixou apenas um bilhete: “Vou para Nova Iorque. Fica de olho em mim. Bly”
Assim chegou ao New York World, o jornal que lhe permitiria assinar as reportagens que a catapultaram para o sucesso. Antes de dar a volta ao mundo, Nellie Bly já se tinha feito notar através de outro trabalho polémico, em 1887, sobre as condições do asilo da Ilha de Blackwell, em Nova Iorque. Nellie fingiu-se de louca para poder entrar naquele que, aberto a 1841, foi um dos primeiros hospitais psiquiátricos do país. Lá viveu dez dias que deram origem a vários artigos – também em livro, “Dez Dias no Manicómio” – que fizeram a primeira página do New York World.
“Não queremos que vás para lá com o propósito de fazer revelações sensacionalistas. Escreve tudo o que vires, coisas boas e más”, disse-lhe o editor quando lhe propôs a reportagem. Primeiro, Nellie tinha de se comportar como louca: começou por treinar em casa, em frente ao espelho: “Examinei o meu rosto. Lembrei-me de tudo o que tinha lido sobre o que fazem as pessoas loucas e a primeira coisa que me ocorreu foi o olhar arregalado por isso abri os meus olhos o máximo que consegui e olhei fixamente, sem piscar os olhos, para o meu próprio reflexo.”
Da escrita à indústria
Adotou um novo nome, Nellie Brown e pediu auxílio num abrigo de mulheres – lá começou a interpretar o papel de louca, deixando toda a gente em pânico. Em poucos dias era admitida em Blackwell. Logo se apercebeu que estava a entrar noutra dimensão: “A partir do momento em que entrei na ala de psiquiatria na Ilha, não me esforcei de qualquer forma para manter o assumido papel de louca. Falei e agi como faço na minha vida normal. Apesar de estranho, devo dizer que quanto mais normalmente falava e agia, mais louca me achavam.”
As horas custavam passar, pareciam dias, conta a escritora que recorda aqueles dez dias com horror. Descreve os banhos gelados com outros pacientes a assistir, os pequenos-almoços terríveis (de chá frio e pedaços de pão onde se encontravam aranhas e bolor), e os “passeios” diários em que obrigavam os pacientes a ficar parados das 8 da manhã às 6 da tarde. Mais: as agressões verbais e físicas eram frequentes. As enfermeiras batiam nas doentes (muitas ficavam de costelas partidas), arrancavam-lhes o cabelo e forçavam apneias no banho. Nellie relata o momento em que sufocaram, como castigo, uma mulher que estava histérica: “Depois de algumas horas de ausência ela voltou à sala. Vi claramente as marcas dos dedos [das enfermeiras] no pescoço dela o resto do dia.” A jornalista apresenta as mulheres que conheceu, uma a uma – e conta como, para sua admiração, muitas não tinham qualquer tipo de distúrbio mental.
Foi um advogado que tirou a jornalista do asilo, com a justificação de que familiares estavam dispostos a acolhê-la, responsabilizando-se por ela. Nellie ansiava sair mas vivia emoções contraditórias: “Por mais tonto que possa parecer, parecia terrivelmente egoísta deixá-las naqueles sofrimentos.” Poucos dias depois os relatos terríveis da Ilha de Blackwell eram publicados no New York World e o Ministério Público abriu uma investigação. A jornalista acabou por regressar ao asilo, para relatar ao vivo as experiências, na presença de um grande júri. Encontrou tudo diferente: havia sal na cozinha, o pão era impecavelmente branco, tudo estava limpo e lavado, as camas eram melhores. Mais: muitas das pacientes maltratadas tinham sido libertadas ou pura e simplesmente desaparecido.
Outras reportagens de investigação se seguiram: sobre as condições de trabalho em fábricas, corrupção política ou tráfico de crianças. A pausa nas histórias aconteceria em 1895. Foi o ano em que se casou com o industrial milionário Robert Seaman: ela tinha 31 anos, ele 73. A união improvável, agravada pela diferença de idades, causou polémica. Se a família dele garantia que ela se tinha casado por dinheiro, alguns jornais da época questionavam se este não seria mais uma reportagem da jornalista. Nellie afastou-se da escrita e aguçou a veia industrial, tornando-se mãe de várias patentes – de contentores a garrafas para transporte de alimentos.
Foi depois da morte do marido, em 1903, que os negócios se complicaram e Nellie voltou ao jornalismo cobrindo, novamente, assuntos de grande impacto na sociedade, como a luta das sufragistas. Morreria com uma pneumonia em 1922, tinha 57 anos. Desde então a jornalista tem sido inspiração para romances, musicais da Broadway, filmes e telefilmes – o mais recente, “Escaping the Madhouse: The Nellie Bly Story”, com Christina Ricci no principal papel, estreou no passado mês de janeiro no Lifetime.
Elizabeth derrubou preconceitos e estereótipos e traçou um caminho próprio. Não é nada mais do que boa dose de vontade e determinação, garantiria a jornalista: “Tenho sempre este pensamento reconfortante comigo: de que nada é impossível se aplicarmos uma determinada dose de energia na direção correta.”