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Antes de ir para o colégio de Matosinhos, João Trigo esteve vários anos à frente do Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto
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Antes de ir para o colégio de Matosinhos, João Trigo esteve vários anos à frente do Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto

Antes de ir para o colégio de Matosinhos, João Trigo esteve vários anos à frente do Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto

Número 1 do ranking. A história de sucesso do Colégio Efanor começa na escola primária de Belmiro de Azevedo

O xadrez está integrado no currículo e há disciplinas como Criatividade ou Conhecimento do Mundo — trabalho que os rankings "não medem". Propinas são altas, mas há bolsas para quem não as pode pagar.

Belmiro de Azevedo era um jovem estudante quando começou a trabalhar na Empresa Fabril do Norte, a Efanor. Foi o seu primeiro emprego, mas não foi o mais longo. Não demorou muito até seguir para a Sociedade Nacional de Estratificados, vulgo Sonae, nome até hoje ligado à família do empresário, e que já poucos relacionam com o negócio da madeira. No edifício da Efanor, a primeira fábrica têxtil a ter luz eletrificada em Portugal, já não entram operários: entram alunos da creche até ao 12.º ano. Os mais novos ocupam o espaço que resta da fábrica de carrinhos de algodão para coser e bordar, os mais velhos têm construções criadas de raiz na mesma rua da fábrica. Hoje chama-se Colégio Efanor, abriu portas em 2008, nasceu de uma ideia do próprio Belmiro de Azevedo, inspirado pela importância que o seu professor primário teve no seu percurso, e pertence à fundação com o seu nome. Este ano, é a escola onde os alunos tiveram a média mais alta nos exames nacionais: 16,1 valores.

Os bons resultados académicos não são estranhos ao seu diretor João Trigo, que durante anos dirigiu e conduziu ao topo dos rankings o Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto. Agora, passou à frente da escola que fez crescer. Sobre o primeiro lugar do Efanor, não esconde o prazer de receber a notícia, mas diz que essa é apenas uma das muitas dimensões de um colégio onde as propinas mensais passam os 500 euros, mas há bolsas para jovens talentosos que não as possam pagar.

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“O projeto foi fundado por Belmiro de Azevedo com a vocação de ser uma escola de referência a vários níveis, ter um projeto educativo ambicioso, dar formação geral aos alunos, e com a ambição de ser uma escola com bons resultados na componente académica e no trabalho sobre conhecimento”, explica João Trigo ao Observador. Por isso, diz que estão a cumprir o projeto — e a cumprir rapidamente já que o secundário só arrancou no colégio em 2017/18, há cinco anos.

João Trigo diz que uma vez no topo não há descanso: "O difícil é manter"

Octavio Passos/OBSERVADOR

“Os alunos que conseguiram estas médias são o segundo grupo que concluiu o secundário aqui no colégio. O primeiro também teve bons resultados”, refere João Trigo. De facto, nos rankings de 2020, a elevada média dos estudantes (17,95) valia a esta escola o 3.º lugar no ranking do Observador. Antes disso, os resultados já existiam, mas como o grupo de alunos era curto, a escola não fazia exames em número suficiente para ser considerada no ranking. A crescer de ano para ano, esse cenário mudou.

“Estamos satisfeitos porque sentimos que estamos a realizar o nosso projeto, sendo certo que esta é apenas uma das dimensões de trabalho de uma escola e, para as outras, os exames não são a melhor métrica para as avaliar. Sobre muitas destas competências só o futuro dirá se fizemos um bom trabalho, mas eu espero que sim”, defende o diretor do colégio de Matosinhos.

As dimensões? São várias: preparação para a vida ativa, cidadania, sentido estético, sensibilidade e emoções, enumera o diretor. “Tudo isto está no nosso projeto educativo. A parte do conhecimento é uma dimensão importantíssima para qualquer escola. Costumo dizer que é a base da pirâmide — todas as escolas têm a obrigação de dar matéria, depois há outras mais exigentes, uma malha mais fina, que é bom que estejamos lá, e o nosso projeto está a trabalhar tudo isso.”

"Estamos a integrar crianças que não teriam qualquer possibilidade de aceder a uma escola com estas propinas e com estas condições muito na convicção de que a escola e a educação servem para ascender socialmente, para desenvolverem todo o seu potencial, e para transformar as suas vidas.”
João Trigo, diretor do Colégio Efanor

Uma creche bilingue para desenvolver (mais) o cérebro

Nessa base da pirâmide, onde as escolas têm mais autonomia para definir o currículo e a forma de trabalhar com os alunos, o Colégio Efanor aproveita a legislação disponível. Começa desde cedo, assim que as crianças dão literalmente os primeiros passos e, por vezes, até antes disso. A aposta é na abordagem precoce, porque acredita que isso potencia os resultados nos anos mais avançados.

“Temos um projeto muito ambicioso de criar um ambiente bilingue na creche e no pré-escolar. Porquê? Por que a investigação diz-nos que o ser humano tem uma capacidade muito grande nos primeiros anos de vida de aprender outras línguas e que isso contribui para o desenvolvimento de outras funções do cérebro”, explica João Trigo.

Assim, se as crianças antes de começarem a falar forem expostas a um ambiente em que em simultâneo ouvem português e inglês isso vai ter um efeito importante no desenvolvimento das funções do cérebro, acredita o diretor. Além disso, terão mais predisposição de competências que vão depois facilitar a aprendizagem da língua inglesa. “Estamos a fazer isto de forma intuitiva, mas estamos a iniciar um processo de investigação científica com a Universidade do Minho, precisamente para comprovar esta intuição de que é assim.”

O busto de Belmiro de Azevedo tem lugar de destaque no Colégio Efanor

Octavio Passos/OBSERVADOR

É por isso que o resultado dos exames deixa João Trigo satisfeito, mas não deslumbrado, segundo as suas próprias palavras, já que os resultados académicos são uma parte de um todo que é bem mais rico do que isso.

“Nos níveis iniciais, sobretudo no pré-escolar e no 1.º ciclo, a nossa oferta educativa é muito rica”, defende. Têm inglês e espanhol desde a base, a área artística é desenvolvida com as várias expressões, têm tecnologias, o xadrez está integrado no currículo, assim como o instrumento clássico. “Isto também acontece no secundário e em sintonia com o que dizia antes: não estamos exclusivamente focados em fazer um bom trabalho na parte mais académica, porque sabemos que o mundo em que vivemos e a mudança acelerada exige outro tipo de competências.”

A solução passa por enriquecer o currículo, com alguma oferta de escola, que não é opcional. Quem entra no colégio sabe que vai ter de estudar espanhol e um instrumento desde cedo. “No secundário, temos uma disciplina de Criatividade, que é a adaptação à mudança, o ser capaz de encontrar soluções de resolução de problemas”, sublinha João Trigo que aponta a disciplina Conhecimento do Mundo como outra oferta no secundário.

Mas podem mesmo estas inovações ajudar os estudantes a ser cidadãos mais completos? João Trigo tem mais certezas do que dúvidas. “O xadrez e a música, por exemplo, desenvolvem muitas competências. Tocar um instrumento musical clássico é uma tarefa exigente, que pede concentração, resiliência, desenvolve o sentido do que é trabalhar em equipa, porque cada aluno aprende instrumentos diferentes e depois tem de fazer o conjunto”, esclarece, dizendo que é uma forma de criar métodos de trabalho.

No xadrez está envolvida estratégia, resolução de problemas, o ser-se capaz de antecipar uma situação, além de questões matemáticas. “São ferramentas para desenvolver competências em sentido mais lato. Não há competências sem conhecimento, mas temos de nos preocupar em pôr esse conhecimento em ação, ligado à realidade. Competência é isso, capacidade de fazer qualquer coisa, de lidar com a vida real. Nós temos essa preocupação.”

“Há o eixo da primeira infância, integrando crianças logo na base, e há o eixo jovem, para o 3.º ciclo e ensino secundário. E tem continuidade para o superior. Este ano, entre os nossos finalistas, 16 são bolseiros e vão ser apoiados também no percurso do superior. Para 15 deles está já garantido, o 16.º está à espera de finalizar as avaliações porque lhe faltavam umas décimas”
João Trigo, diretor do Colégio Efanor

As bolsas começam na creche e vão até ao ensino superior

As propinas do colégio são elevadas, a rondar os 500 euros, em linha com o que é praticado noutras escolas privadas sem comparticipação do Estado. Apesar disso, a Fundação Belmiro de Azevedo tem um programa de bolsas para tornar a escola acessível a todos. O objetivo, ainda não atingido no colégio de 1.100 estudantes, é ter 10% de bolsistas.

“Neste momento temos cerca de 90 alunos, mas estamos a crescer, iremos até 150 bolsistas, ou mais, mas vai ser gradual”, esclarece João Trigo. O programa de bolsas tem dois eixos diferentes, arranca na creche e pode ir até ao ensino superior.

“Há o eixo da primeira infância, integrando crianças logo na base, e há o eixo jovem, para o 3.º ciclo e ensino secundário. E tem continuidade para o superior. Este ano, entre os nossos finalistas, 16 são bolseiros e vão ser apoiados também no percurso do superior. Para 15 deles está já garantido, o 16.º está à espera de finalizar as avaliações porque lhe faltavam umas décimas”, explica João Trigo, detalhando que o critério para terem acesso à bolsa é terminarem o ensino secundário com uma média de 17 valores.

A escola está dividida em dois pólos, separados por poucos metros, na mesma rua

Octavio Passos/OBSERVADOR

Entre os que entram para a creche e os que chegam ao colégio mais tarde, há um requisito comum: o económico. “O objetivo deste programa é apoiar famílias com menos capacidade económica. No eixo jovem, acrescentamos o serem alunos que revelem potencial, ou seja, têm de já ter resultados académicos bons.” Este ano, o Colégio Efanor recebeu 130 candidaturas e atribuiu pouco mais do que 30 bolsas.

“É uma perspetiva que a fundação tem, de serviço à sociedade, de sermos uma escola inclusiva. Em crianças de dois, três anos, onde não há sequer o filtro académico, estamos a falar disso mesmo. Estamos a integrar crianças que não teriam qualquer possibilidade de aceder a uma escola com estas propinas e com estas condições muito na convicção de que a escola e a educação servem para ascender socialmente, para desenvolverem todo o seu potencial, e para transformar as suas vidas.”

Para esta filosofia, a experiência de vida de Belmiro de Azevedo foi fundamental. O empresário chumbou na 1.ª classe do ensino primário por culpa de um professor incompetente, segundo contava o próprio. No ano seguinte, o novo professor colocado na escola de Tuias, Marco de Canaveses, ajudou-o a recuperar as aprendizagens e a completar os 4 anos em 3. “Este programa é inspirado numa crença do fundador, do engenheiro Belmiro, de que a escola foi fundamental no seu percurso de vida e que o seu professor de 1.º ciclo foi essencial. Foi com esse espírito que quis fundar uma escola e lançou este programa de bolsas para, de alguma maneira, devolver à sociedade aquilo que a escola lhe deu.”

“O xadrez e a música, por exemplo, desenvolvem muitas competências. Tocar um instrumento musical clássico é uma tarefa exigente, que pede concentração, resiliência, desenvolve o sentido do que é trabalhar em equipa, porque cada aluno aprende instrumentos diferentes e depois tem de fazer o conjunto”
João Trigo, diretor do Colégio Efanor

Com 14 anos de vida, hoje o colégio está em plena lotação e há uma longa lista de espera. O futuro já se desenha: “Consideramos a possibilidade de crescer. Estamos a estudar para poder alargar a mais umas quatro ou cinco centenas de alunos no espaço de dois a três anos”, avança João Trigo.

E o segredo do sucesso que João Trigo aplicou primeiro no Colégio do Rosário e agora aqui? “Se calhar é uma fórmula, mas não é um grande segredo. Este resultado é sobretudo mérito dos alunos que estudam, que se aplicam, que são ambiciosos, e de uma equipa muito envolvida com o projeto, de pessoas muito competentes. Há uma cultura de excelência, de rigor, de melhoria contínua. É isso. Não tenho grandes segredos.”

Para outros diretores que estejam na dúvida qual o caminho para formar alunos com bons resultados (académicos e de desenvolvimento pessoal), João Trigo resume numa ideia. “É apostar nas pessoas. Ter bons professores, bons profissionais, apostar no trabalho em equipa, no desafio, nesta lógica de que é sempre possível ir mais além. Todos numa escola estamos em aprendizagem e a ser desafiados a ir mais além. Quando esta mensagem é absorvida por toda uma equipa tem um efeito multiplicador. Depois esse bichinho é espalhado, e as coisas acontecem.”

Uma vez no topo académico, não há descanso. “Há sempre outros desafios, esta é apenas uma das áreas de trabalho de uma escola. Além disso, ficamos com uma responsabilidade: a de mantermos os resultados. E isso é que é difícil.”

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