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O Podemos de Pablo Iglesias perdeu María e Jorge — e pode perder quase tudo nas eleições

As primeiras reuniões do Podemos foram na casa de Jorge. E, noutros tempos, María insistia com todos que votassem neles. Hoje, afastaram-se. "Fazem barulho, mas não passam daí." Reportagem em Madrid.

Enviado especial a Madrid, Espanha

María Morán admite que, a certa altura, foi muito chata. “Houve uma altura em que eu não me calava com o Podemos, todas as pessoas com quem falava, fossem amigos, família, conhecidos… Falava com eles e só os largava quando eles me garantiam a pés juntos que iam votar no Podemos”, diz.

Essa altura foi concretamente o mês de dezembro de 2015, altura em que o Podemos disputava as suas primeiras eleições gerais, isto depois de já ter conquistado 8% nas eleições europeias de 2014 (um resultado surpreendente para um partido que, à altura, tinha apenas cinco meses de existência formal) e também o controlo das câmaras de Madrid e de Barcelona. Vendo esta ascensão, María Morán entusiasmava-se com o que podia vir a seguir.

Tinha razões muito específicas para apostar no Podemos. Quando se apresentou à maioria dos espanhóis, o partido liderado por Pablo Iglesias transformou em bandeiras próprias vários temas: o combate à corrupção, maior regulação dos mercados financeiros e dos bancos, mais democracia direta. E, também, a habitação — algo que María Morán tinha como garantido até que a vida — e também um banco, sublinha — lhe trocaram as voltas.

"Houve uma altura em que eu não me calava com o Podemos, todas as pessoas com quem falava, fossem amigos, família, conhecidos... Falava com eles e só os largava quando eles me garantiam a pés juntos que iam votar no Podemos."
María Morán, ex-eleitora do Podemos e membro da Plataforma Afectados por la Hipoteca (PAH)

María Morán chegou a Madrid, vinda do Peru, há mais de 20 anos. Os primeiros tempos foram passados em casas alugadas, cuja renda pagava a meias com a irmã, que também emigrou para Espanha. Em 2005, porém, achou melhor comprar: era mais barato do que alugar e sempre passava a ter algo seu, naquele país que também passou a sê-lo, já que passou também a ter nacionalidade espanhola.

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Ao início, as contas eram apertadas, mas possíveis. “Nós as duas tínhamos de pagar 1400 euros ao banco todos os meses. Eu ganhava 1100 e a minha irmã 1700. Era esticado, mas dava para vivermos e comermos”, conta. Mas, em 2012, tudo mudou. María Morán e a irmã ficaram desempregadas e, por cima disso, o banco subiu-lhe o valor da prestação para 2100 euros. Quando soube desta alteração, recorda, foi ao banco e pediu para negociar o valor e mudar os prazos do pagamento do empréstimo. Foi aí que, de um dia para o outro, deixou de pagar ao banco e a sua vida passou a estar num fio.

Pablo Iglesias destacou-se nos debates por adotar um tom mais calmo e programático — mas as sondagens dizem que o Podemos pode perder metade dos deputados (JAVIER SORIANO/AFP/Getty Images)

JAVIER SORIANO/AFP/Getty Images

Depois de ter falhado todos os prazos de pagamento, o banco fez-lhe chegar uma carta onde era intimada a pagar ou, em alternativa, sair da casa. Nessa altura, recordando-se de outros despejos aos quais já tinha assistido, procurou a ajuda dos vizinhos. O papel destes seria o de procurar barrar o caminho aos executores da dívida, ao serralheiro e aos polícias que os acompanhassem no dia em que viessem tirá-la e à irmã de casa. Também apareceram os “companheiros do 15M”, o movimento que levou ao acampamento das Portas do Sol durante semanas a fio e que serviu como uma espécie de embrião do Podemos.

No final, María Morán acabou por entregar a casa. Naquele momento, diz, a garantia que teve foi a de que bastaria entregar a casa para que a dívida ficasse saldada. Foi assim que fez, mas não foi isso que aconteceu. “Não li as letras pequeninas e eles não foram honestos”, diz. Desde então, além de não ter casa, tem uma dívida de 98 mil euros para saldar em menos de 15 anos e da qual ainda não pagou nada.

María Morán (à direita) na casa de Jorge Castillo (de amarelo), no dia em que ele recebeu a sua oitava ordem de despejo (JOÃO DE ALMEIDA DIAS/OBSERVADOR)

Desde então, juntou-se à Plataforma Afectados por la Hipoteca (PAH), organização criada em 2009, altura em que rebentava a bolha imobiliária. É precisamente numa ação da PAH, num apartamento no bairro de Salamanca, que a encontramos.

Está sentada, juntamente com um grupo de mais de dez pessoas, que saem e entram na sala, onde, numa mesa posta em frente à televisão, todos se vão servindo de sumos, pão, salame e alguns bolos. Aqui, toda a gente sabe o que é ter uma casa, deixar de poder pagá-la e, por fim, ser despejado com uma dívida fora do seu alcance. E por isso é impossível não reparar no alívio que alguns levam na cara: Jorge Castillo, o dono do apartamento onde se sentam, enfrentava naquele dia a sua oitava ordem de despejo. No final de contas, não apareceu ninguém do banco, nem da polícia. “Por acaso, hoje não vieram, mas já houve vezes em que estiveram cá e foi um pesadelo. Na véspera, a polícia começa a bloquear a rua e só passam moradores. E depois vêm logo cá de manhã, às vezes é Guardia Civil, Policia Nacional, é tudo”, queixa-se Jorge Castillo. “É uma tortura psicológica incrível.”

“Eles fazem muito barulho, falam tudo como deve ser, mas depois não passam daí.”
María Morán, ex-eleitora do Podemos e membro da Plataforma Afectados por la Hipoteca (PAH)

Caso tivessem chegado, o cenário que iam encontrar era o mesmo de tantas outras ocasiões: María Morán e todos os outros ativistas da PAH, vestidos com coletes com o logótipo daquele grupo, tentariam evitar a sua entrada na casa. Se, mesmo assim, isso acontecesse, seriam recebidos em protesto.

“Nós estamos aqui para fazer pressão. Se não formos nós, não sei quem seria”, diz. “O Podemos não é de certeza.”

A desilusão com o Podemos nesta sala é praticamente generalizada. Entre as 11 pessoas, 6 votaram no Podemos nas duas últimas eleições gerais. Mas desta vez, só três o farão – e nenhum parece fazê-lo convicto do seu próprio voto. “Chega uma altura em que não nos restam outras opções além de escolher o que talvez seja menos mau”, diz Miguel Beitia, dirigente da PAH, também na sala.

María Morán já não dá nenhum benefício da dúvida ao partido de Pablo Iglesias. Nos últimos 10 meses, o Podemos esteve numa posição inédita na sua história: serviu de principal muleta ao governo socialista de Pedro Sánchez, que precisava dos votos do Podemos, e também de independentistas bascos e catalães, para poder governar. Nestas eleições, o Podemos prepara-se para, segundo as sondagens, tornar-se no quarto ou quinto partido, com apenas 13% a 14% dos votos e pouco mais de 30 deputados — um trambolhão dos 20,7% e 71 deputados que conseguiu em 2016, quando iniciou a sua aliança com a Esquerda Unida — o Unidos Podemos

O chalé de 600 mil euros que pode custar a Pablo Iglesias a liderança do Podemos

Os últimos 10 meses foram um “desperdício” por parte do Podemos para fazer valer novas políticas para a habitação, garante María Morán. “Eles fazem muito barulho, falam tudo como deve ser, mas depois não passam daí”, diz. Do próprio Pablo Iglesias, diz sem pejo: “Ele é um politólogo, ele sabe muito bem o que dizer. Fazer é que já é diferente”.

Por momentos, guarda algum silêncio. Mas depois lá diz o que lhe ficou preso na garganta: “Lá no chalet dele, de 600 mil euros, é que se deve estar bem”.

No princípio (antes do chalet) era o terraço — e uma ideia diferente

Nem sempre de chalets com vários quartos, jardim e piscina se fez a liderança do Podemos. No princípio, era o terraço de Jorge Lago. Foi naquele apartamento de um quarto em Malasaña, bairro central de Madrid, que nasceu o Podemos. “Tínhamos reuniões todos os dias, estava sempre algo acontecer, havia sempre coisas novas a surgir”, recorda aquele fundador do Podemos, em conversa com o Observador.

Naquele círculo que ali se juntava, e que, nos dias mais compostos, chegava a ser de 20 pessoas, estavam várias caras que hoje são conhecidas de todos os espanhóis. Estava por lá Iñigo Errejón, também Juan Carlos Monedero e, claro, Pablo Iglesias, o primeiro e até agora único líder do Podemos.

Jorge Lago, que se tornou num homem do aparelho do partido — dirigiu o think tank 25M, criado pelo Podemos, além de ter sido o responsável por todas as ações de formação do partido —, acompanhava tudo isto de perto e nada lhe tirava da cabeça que, a partir do momento em que tudo aquilo saísse do seu terraço para o país, nada seria como dantes.

Jorge Lago é co-fundador do Podemos, cujas primeiras reuniões aconteceram no terraço da sua antiga casa. Afastou-se do partido em 2017, em desacordo com a liderança de Pablo Iglesias (JOÃO DE ALMEIDA DIAS/OBSERVADOR)

“Sempre quis que o Podemos fosse uma inevitabilidade histórica que levasse o país a uma mudança irreversível, queria que fôssemos uma vanguarda social que, mais cedo ou mais tarde, teria de governar”, diz, sentado no escritório onde dirige a editora Lengua de Trapo.

Por momentos, Jorge Lago acreditou nisso. Primeiro, foram as eleições para o Parlamento Europeu em maio de 2014. Na altura, apenas cinco meses após a sua fundação oficial e impulsionado pelo movimento dos Indignados, o Podemos conseguiu 8% dos votos e entrada direta para Bruxelas. “O céu não se toma por consenso, toma-se por assalto”, disse Pablo Iglesias uns meses depois, utilizando aquela figura inspirada em Karl Marx e no seu “assalto aos céus”.

Um ano depois, em maio de 2015, foram as eleições autárquicas, onde o Podemos se aliou a forças locais em Madrid e em Barcelona — e, de repente, passou a controlar as duas maiores cidades do país. Pouco depois, em dezembro de 2015, o Podemos disputou as suas primeiras eleições gerais, que foram também aquelas que ditaram o fim do bipartidarismo. A contribuir amplamente para isso estiveram os 20,7% conquistados pelo Podemos, que ficou em terceiro e a morder os calcanhares a um PSOE em crise.

A rota parecia de ascensão, mas, para Jorge Lago, foi aqui que começaram os erros. A seguir às eleições de dezembro de 2015, passaram-se seis meses de impasse, em que o PSOE firmou um pacto com o Ciudadanos para evitar um segundo mandato a Mariano Rajoy e ao PP. Porém, para ali chegarem, aqueles dois partidos precisariam sempre da ajuda do Podemos — e esta nunca chegou.

“Pablo Iglesias e o seu círculo preferiram ganhar o partido em vez de tentar ganhar o país”
Jorge Lago, fundador do Podemos e crítico de Pablo Iglesias

“Foi um erro tremendo não termos ajudado a atirar Rajoy para fora do poder”, assume Jorge Lago. Até porque, garante, nada disto rimava com a ideia original do partido, a que se discutiu no seu terraço e se jurou daí para a frente.

“Quando nós aparecemos, a proposta era quebrar o eixo esquerda-direita e promover um conjunto de causas que pudesse apelar a todas as pessoas, menos ao que chamávamos de ‘casta’, os mais privilegiados. Nós éramos o partido que não pedia identificação à entrada, todos podiam vir”, diz.

Nesse processo, admite, “foram criadas muitas expectativas”. E mais: “Era impossível não virmos a desiludir algumas pessoas nesse processo”. Mas, ao poucos, foi ele mesmo que se começou a desiludir.

“O partido fixou-se muito à esquerda clássica, tornou-se num partido pós-comunista, esquecido de que para ganhar também é preciso falar com as classes médias e estudantes, não se pode viver numa obsessão com a classe trabalhadora e pronto”, diz.

Nas eleições seguintes, realizadas em junho de 2016 para resolver o impasse em que a política espanhola então caiu, o Podemos aliou-se à Esquerda Unida e formou a aliança Unidos Podemos. Algumas sondagens chegaram a colocá-los em primeiro, mas o resultado acabou por não variar: terceiro lugar, com 21,2%, e, desta vez, com uma desilusão acentuada. “O que fizemos nos últimos dois anos é histórico, mas esperávamos resultados diferentes”, admitiu Pablo Iglesias na noite de 26 de junho.

Iñigo Errejón fundou o Podemos juntamente com Pablo Iglesias, mas saiu recentemente do partido, em profundo desacordo com o seu líder (GERARD JULIEN/AFP/Getty Images)

GERARD JULIEN/AFP/Getty Images

Desde então, Jorge Lago entrou em rota de colisão. Aliado de Iñigo Errejón, que liderava uma facção dentro do Podemos que defendia uma versão menos esquerdista para o partido e por isso, se necessário, conciliatória como PSOE, Lago acabou por sair da militância ativa — continua nos órgão dirigentes, para reuniões trimestrais que lamenta não passarem de “conversas de ocasião” — cinco dias depois de a moção que defendia ter sido derrotada no congresso Vistalegre II, o segundo da história do Podemos. Também Iñigo Errejón acabou por sair do partido, virando costas ao seu antigo amigo para se juntar à campanha para a reeleição de Manuela Carmena (que também virou as costas ao partido Pablo Iglesias) na câmara de Madrid.

“Quando as disputas internas saíram cá para fora, isso provocou muitos danos ao partido”, assegura Fernando Vallespín, politólogo e professor catedrático da Universidade Autónoma de Madrid. “Tornou-se num partido tremendamente centralista e leninista, que tomava decisões por aclamação, mas passando sempre pelos círculos e pelas propostas do líder.”

Essa é uma das queixas que, olhando para trás, Jorge Lago mais faz. “Pablo Iglesias e o seu círculo preferiram ganhar o partido em vez de tentar ganhar o país”, aponta. Ainda assim, nota que é “no mínimo irónico” que o seu Podemos tenha seguido a estratégia que Iñigo Errejón tanto defendeu — e à qual Pablo Iglesias tanto se opôs. “É irónico, muito irónico, mas agora já vai tarde. O partido já não é o mesmo, portanto já não tem as mesmas causas”, lamenta Jorge Lago.

“Quando as disputas internas saíram cá para fora, isso provocou muitos danos ao partido. Tornou-se num partido tremendamente centralista e leninista, que tomava decisões por aclamação, mas passando sempre pelos círculos e pelas propostas do líder.”
Fernando Vallespín, politólogo e professor catedrático da Universidade Autónoma de Madrid

Desde que se afastou do partido, Jorge Lago voltou a trabalhar em exclusivo para a editora Lengua de Trapo, que, há um ano, detém a 100% e dirige, numa “constante tentativa, sem sucesso, de não perder dinheiro”. De resto, mantém contacto com Iñigo Errejón, com quem está a trabalhar ocasionalmente na preparação das eleições autárquicas, marcadas para 26 de maio.

Já não vive na casa de Malasañas, pouco contacto mantém com pessoas do Podemos e raramente aparece pelos bares onde os membros e apoiantes do partido saem para beber um copo ao final do dia ou noite adentro. “Tenho mais coisas para fazer, agora”, conclui.

O bar do Podemos que tem um cigano do Vox como senhorio

Mais do que qualquer outra parte de Madrid, o bairro de Lavapiés é o verdadeiro epicentro do Podemos. Nas últimas eleições, de 2016, o Podemos foi a força mais votada na freguesia do Centro de Madrid, com 34,91% — e muito disso se deve ao facto de, naquela zona, estar Lavapiés.

Entre os vários bares do bairro, o Funda Mental é uma paragem obrigatória para muitos dos apoiantes e também líderes do Podemos. É isso que diz um dos empregados de balcão, que nos pede para não escrevermos o seu nome e também que não tiremos fotografias ao espaço, em cujas paredes convivem bandeiras LGBT, da Festa do Avante!, da Coreia do Norte e do Athletic Bilbao. “Na vida de um empregado há três regras de ouro: não fales de política, não fales de religião, não fales de futebol”, diz, rindo. Ainda assim, conta-nos que o bar, que abriu “há cerca de cinco anos”, é frequentado por Pablo Iglesias, entre outras figuras de proa do Podemos. “Esteve cá há pouco tempo, sim”, diz. E a conversa chega ao fim, porque há regras a respeitar.

O bairro de Lavapiés fica no Centro de Madrid e é descrito como um "epicentro" do Podemos (Oli Scarff/Getty Images)

Oli Scarff/Getty Images

Já passa das 19h00 e o bar está longe de estar cheio. Lá fora chove com força e poucos parecem dispostos a entrar no Funda Mental. E, daqueles que lá estão, ninguém quer falar de política. “Nós não vamos votar, estamos fartos disto tudo”, dizem dois homens mais velhos. “Nós somos de cá, somos de Bilbao, e votamos nos independentistas bascos, então por regra não falo de política em Madrid”, dizem outros. “Eu sou inglês, não voto. Mas a verdade é que o entusiasmo político aqui anda a cair. Digamos que o Podemos já não é bem o que era”, diz um terceiro.

Por fim, há quem se acerque e fale abertamente de política. Mariano Fernández, homem cigano de 37 anos e com um físico imponente, não é discreto nem quer sê-lo. Quando entra pelo Funda Mental, já está de voz alta a cumprimentar todos à sua volta. “Vá a ver, dá-me lá o do costume”, diz ao empregado das três regras, que lhe serve um vermute com gelo num ápice.

“Eu sempre fui de direita, mas posso falar com as pessoas de esquerda sem problema. Desde que me paguem a renda, claro.” 
Mariano Fernández, eleitor do Vox e proprietário do Funda Mental, bar frequentado por apoiantes e dirigentes do Podemos

Quando lhe perguntamos se é eleitor do Podemos, Mariano Fernández ri-se. “Hombre, alguma vez? Escuta: eu sou do Vox”, responde. Assim que o diz, tira o telemóvel do bolso e mostra uma conversa de grupo que tem com a família no Whatsapp. “Somos ciganos e votamos todos no Vox”, diz. E mostra uma imagem que ainda na véspera tinha partilhado, com uma fotografia de Julio Iglesias. Ao lado, juntamente com as cores da bandeira espanhola, lê-se uma citação erradamente atribuída ao cantor romântico: “Os bons espanhóis votam no Vox”.

Mariano Fernández é conhecido de todos os que ali param. Além de ser dono de várias lojas de roupa — um negócio que começou o seu avô — é também proprietário de casas que aluga neste bairro de passado proletário e hoje gentrificado. E, nota importante, é também ele o proprietário do bar Funda Mental — este mesmo, frequentado por Pablo Iglesias.

“Eu sempre fui de direita, mas posso falar com as pessoas de esquerda sem problema”, diz. “Desde que me paguem a renda, claro.” Dito isto, guarda o telemóvel, tira um molho de notas para pagar o vermute e prepara-se para sair. Não sem antes dizer: “Escreve aí que eu digo isto: ‘Viva Franco!’”. E sai porta fora, para o bairro do Podemos — com exceções, está visto.

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