Catalunya, comtat gran,/qui t’ha vist tan rica i plena!/Ara el rei Nostre Senyor/declarada ens te la guerra. [Catalunha, condado grande,/quem te viu tão rica e farta!/Agora o rei Nosso Senhor/Declarou-nos guerra]. Esta era a primeira estrofe do velho hino catalão Els Segadors [Os Ceifeiros] que recorda a insurreição do Verão de 1640 quando alguns catalães, partidários de França, declaram guerra a Espanha. A sublevação falhou apesar de, um pouco à boleia da Catalunha, o reino de Portugal, até então dinasticamente unido ao de Espanha, se ter igualmente revoltado em Dezembro do mesmo ano, ajudando implicitamente a causa separatista catalã. Madrid, ensanduichada entre o oeste e o nordeste peninsular, optou por continuar a tentar neutralizar primeiro o condado de Barcelona, o alvo mais fraco, deixando a Lisboa um compasso de espera precioso para preparar a defesa.
Em 1898, a perda das últimas «Jóias da Coroa» do império, no Pacífico (Filipinas) e nas Caraíbas (Cuba e Porto Rico), trouxe à sociedade espanhola o pessimismo, a desorientação e a miséria. Aqui e ali disfarçadas pelo arreigado mas desgastante orgulho castelhano, produziram uma profunda anemia espiritual que haveria de perdurar por muitos anos. Uma das primeiras consequências do «desastre de 98» foi a acentuação dos impulsos separatistas no País Basco e na Catalunha. Com a perda dos mercados do Ultramar, naquelas duas regiões, as mais industrializadas de Espanha, havia a sensação generalizada de que se estavam a afundar, unidas a um corpo moribundo que inevitavelmente as arrastaria para o fundo. E isso contribuiu para acentuar as pulsões nacionalitárias catalãs (e bascas) e para a elaboração romanticista dos mitos de superioridade étnico-cultural que perdurariam até aos nossos dias.
Em 1934, no caldo revolucionário que cavalgou a Segunda República Espanhola, de novo os sectores mais esquerdistas (com a notável abstenção dos anarquistas) resolveram declarar a independência, perante a hostilidade da burguesia catalã, ciosa das suas tradições históricas mas defensora da «Lei e da Ordem». E na sua esmagadora maioria viriam a apoiar os rebeldes de Franco, que os compensaria posteriormente durante a Ditadura, tornando a Catalunha na região mais desenvolvida de Espanha.
Creio que qualquer português consciente não pode ficar alheio ao que está a acontecer na Catalunha. A tentativa de implosão de Espanha não nos pode ser indiferente porque a sua balcanização nos afectaria brutalmente quer em termos económicos quer geopolíticos. E porque é disso que essencialmente se trata, no meio da comoção generalizada que hoje se vive na Catalunha, provocada pela sentença do Procés, não pude deixar de me recordar do que acontecera em Outubro de 1934, há exactamente 85 anos.
Em 14 de Abril de 1931, a República fora inopinadamente reimplantada em Espanha. Apanhado de surpresa, o Partido Socialista Obrero Español (PSOE), que passara o período da Ditadura a colaborar com o general Primo de Rivera, tentava agora surfar a onda, procurando liderar as forças de esquerda que entendiam, tal como o prócere republicano português João Chagas, que «A Nação é de todos mas o Estado é nosso». Durante o primeiro biénio, o PSOE governou em coligação com a esquerda republicana, em executivos liderados por Manuel Azaña. O seu exercício do poder caracterizou-se pela imposição de medidas rupturistas que favoreceram a violência anticlerical, o separatismo federalista e a desagregação das Forças Armadas.
Mas eis senão quando, no Outono de 1933 a direita vence as eleições legislativas, em que as mulheres votaram pela primeira vez. O resultado foi a derrota dos republicanos de esquerda e dos marxistas e o triunfo da direita, republicana e monárquica [i]. A Confederación Española de Derechas Autónomas (CEDA), chefiada por José María Gil-Robles, foi o partido mais votado mas, não havendo maioria absoluta e temendo a reacção revolucionária da esquerda, o Presidente da República, Niceto Alcalá-Zamora, virou-se para o Partido Republicano Radical, o segundo mais votado, e indigitou Alejandro Lerroux para a presidência do Governo. A CEDA, posta de lado, acedeu no entanto a amparar parlamentarmente o novo Executivo. E apoiaria igualmente o seguinte chefiado por Ricardo Samper, igualmente do Partido Radical. Mas a 1 de Outubro de 1934, sucessivas desconsiderações (e diferenças) políticas dos Radicais, levaram Gil-Robles a deixar cair o Governo.
De novo Alcalá-Zamora chama Lerroux mas agora a CEDA, como partido mais votado, exige integrar o novo elenco governamental. Fá-lo apenas com 3 ministros mas foi o suficiente para que as forças que há muito vinham preparando a revolução declarassem que «estava implantado o fascismo em Espanha». Com efeito, irritados pela inesperada vitória da direita, e pelo seu afastamento do poder, alguns sectores do PSOE tinham começado a conspirar, empurrando o partido para a organização de uma revolução. E os dirigentes, para além da preparação de milícias armadas, tinham procurado apoios nas forças políticas separatistas do País Basco e da Catalunha.
Na Primavera de 1934, rebentara na autónoma Catalunha mais um conflito político. O pretexto havia sido a legislação (Llei de Contractes de Conreu) que pretendia regular a relação entre proprietários de terras e os rendeiros, os rabassaires, que poderiam a partir de então ter um acesso mais fácil à propriedade da terra que trabalhavam. Na ausência da Lliga Regionalista, que se retirara em sinal de protesto, a lei foi votada favoravelmente no Parlament, mediante proposta da Esquerra Republicana de Catalunya (ERC). Como as implicações sociais da novel legislação a colocassem fora das competências do órgão legislativo regional, a contestação da Lliga levou o Governo central a enviar o diploma para o Tribunal Constitucional, que fora criado pelo Executivo progressista de Manuel Azaña para dirimir conflitos entre os planos regional e central do Estado.
A 8 de Junho, o Tribunal decidiu, por maioria, a inconstitucionalidade, provocando a resposta irada da Generalitat que procurava fazer ver naquele chumbo um atentado, por parte do Governo espanhol, à dignidade e prestígio do Parlament. No esticar da corda separatista, a Esquerra foi apoiada pelo PSOE, pela esquerda republicana e pelo PNV que viam no conflito uma oportunidade de acossar e desgastar o Governo centrista de Ricardo Samper. Este, um advogado valenciano, predispôs-se a negociar a questão e mostrou-se aberto e conciliador com o intuito de fechar mais uma frente a que o Executivo estava exposto. Companys, o presidente da Generalitat, costumava usar a velha táctica do discurso público incendiário e da relativa contenção em privado. Mas a verdade é que, desta vez, os apoiantes e os quadros afectos ao Executivo catalão se prepararam para dar uma resposta cabal à «agressão dos lacaios da monarquia e das hostes fascistas monárquicas», como incitava Lluís Companys.
Nas suas memórias, intituladas Quaranta anys d’ advocat, Amadeu Hurtado que actuou como mediador entre o Governo de Madrid e a Generalitat afirma que «sempre percebeu que a lei fora um simples pretexto para lançar um movimento insurreccional contra a República, porque, desde as eleições anteriores, as esquerdas tinham deixado de governar». E foi de facto o que, na prática, aconteceu. Na Catalunha, a imprensa e a rádio afectas à Esquerra excitavam os militantes enquanto o Executivo distribuía armas das forças de segurança autonómicas pelas milícias do partido, os escamots [patrulheiros], sob o comando de Miquel Badía, fundador das violentas JEREC (Joventuts d’Esquerra Republicana – Estat Català).
Manuel Azaña, apostado em avivar ainda mais o fogo da rebelião, ao mesmo tempo que enviava emissários seus (como o tenente-coronel Arturo Menéndez, ex-Director-Geral de Segurança) coadjuvar os comités insurreccionais, promovia o assédio político ao Presidente da República, prometendo que acalmaria as coisas na Catalunha se Alcalá-Zamora demitisse o Executivo. Através de Indalecio Prieto, seu «irmão», tentou agrafar a movimentação revolucionária do PSOE à sua conjura, procurando massa crítica para uma insurreição generalizada em Espanha, centrada a partir de uma controlada e excitada Catalunha, tornado baluarte avançado da sua «República». Cada facção pensava utilizar a outra como instrumento de conquista do poder. Se bem que a conspiração não tivesse tido sucesso na primeira instância, quer o levantamento anímico quer o logístico quer a trama de contactos estabelecidos permaneceriam em lume brando. Com uma moção de confiança aprovada, garantida pelo apoio da direita, o Governo de Samper ultrapassou a crise. Mas não sem que antes tivesse havido uma autêntica batalha campal em plenas Cortes; para além de pancadaria generalizada, no dia 4 de Julho, houve pistolas em riste e, por pouco, o caos não se transformou em tragédia.
Na Catalunha, a Lliga Regionalista, de direita, denunciava a implementação cínica da legislação que tanta energia havia derramado. Com efeito, a Generalitat, nas mãos da Esquerra, criara comissões arbitrais dominadas por agentes do partido e que, inclusivamente, se arrogavam poderes que iam muito para além do acordado. Resguardados pela atitude parcial do Governo regional, muitos rabassaires não pagavam as rendas e o caos estava instalado na Catalunha rural. O Institut Agrícola Catalá de San Isidre, o principal órgão associativo dos proprietários, resolve então levar o protesto a Madrid, tendo a Generalitat proibido, de imediato, a saída das camionetas. O Governo regional apelidou os apoiantes da isidrada de «bastardos catalães» e o PSOE comparou a intenção à «marcha sobre Roma» de Mussolini. No dia 8, apesar do boicote, chegaram a Madrid mais de 9.000 catalães que apresentaram as suas queixas num comício realizado no cinema Monumental. Cá fora, os distúrbios provocados por contra-manifestantes de esquerda provocaram 6 mortos e dezenas de feridos.
Dois dias depois, em Barcelona, órgãos de informação afectos ao Governo regional começaram a difundir listas de participantes na manifestação de Madrid, incitando à vingança contra os «bastardos». O conseller Dencàs, responsável pela ordem pública, mandou encerrar o Institut de San Isidre e ameaçou que outras medidas se seguiriam. Tumultos e alterações, desrespeito pelos tribunais [ii] e a actuação arbitrária das forças de segurança às ordens de Miquel Badía, levaram o Governo central a ameaçar recuperar o controlo dos Mossos d’Esquadra. Companys demitiu Badía, como bode expiatório, e Madrid, qual avestruz, ficou contente.
A 11 de Setembro de 1934, numa concentração por ocasião da celebração da Diada, o conseller da Cultura, Ventura Gassol, afirmaria que «o nosso ódio contra a vil Espanha é gigante, louco, grande e sublime». Na Catalunha, a Administração regional confundia-se cada vez mais com a Esquerra, não havendo qualquer pejo que levasse a esconder a promiscuidade dos poderes. Os juízes que procuravam aplicar a Lei eram «convidados» a abandonar a Catalunha pelos próprios responsáveis pela segurança pública. A querela com o Governo de Madrid, num braço de ferro estulto sobre «quem é que manda aqui» intensificou-se. A pretexto do funeral de Jaume Carner, antigo ministro das Finanças de Azaña, reuniu-se em Barcelona, no dia 27, a fina-flor dos conspiradores. Para além do próprio Azaña e da sua «sombra», Casares Quiroga, estiveram presentes Largo Caballero, Fernando de los Ríos e Prieto, tendo trocado impressões e ultimado os pormenores. Garantiram o estado de prontidão dos seus aliados catalães mas receberiam com desilusão a decisão negativa do PNV em participar na coisa. Os bascos, afinal, depois de grandes reflexões e discussões, negavam-se a participar ou tão simplesmente apoiar a insurreição em marcha.
A 1 de Outubro, o Executivo centrista chefiado por Samper cai, depois do «golpe de misericórdia» que Gil-Robles lhe administra, nas Cortes. Alcalá-Zamora ainda tentou convencer o filósofo José Ortega y Gasset a formar Governo mas ele, desiludido com a forma como o regime que ajudara a criar evoluíra, declinou o convite. E, de novo, Alejandro Lerroux foi chamado a constituir a equipa governamental. No outro lado, tudo estava a postos para a sublevação, até porque os rigores do Inverno se anunciavam já. A 4 de Outubro, Lerroux apresenta o seu novo Executivo e a revolução eclode de imediato. A UGT e o PSOE declararam a greve geral revolucionária, como plataforma subjacente à insurreição armada. O PSOE tinha aceitado a sugestão dos comunistas heterodoxos do BOC (Bloc Obrer i Camperol) para a criação de um agrupamento «frentista» revolucionário – a Alianza Obrera.
Na Catalunha, onde os socialistas eram relativamente fracos, era o BOC que mandava. E para eles a Alianza Obrera mais não era que o aguilhão com que pretendiam espicaçar os sectores mais radicais da Esquerra e levá-los a aceitar a revolução comunista. No dia 5, declararam a greve geral perante a surpresa e apatia da maior parte dos barceloneses, onde, recorde-se, a CNT era a estrutura sindical largamente maioritária. No dia seguinte, 6, a greve convocada pela Alianza Obrera estende-se a toda a Catalunha, embora sem o impacto que os seus promotores tinham desejado, perante a indiferença dos anarquistas, os pejorativamente designados murcians. Estes opunham-se mesmo à greve por desconfiança profunda face aos socialistas e à Esquerra que tanto os tinham perseguido. Muitos dos operários simpatizantes da CNT e da FAI eram, na realidade, oriundos do Levante, da Andaluzia e da Extremadura pelo que a questão da secessão da Catalunha pouco ou nada lhes dizia. A sua hostilidade ia sobretudo para a burguesia, a «classe dos patrões», e, para eles, Companys e a sua entourage, pertenciam a essa gente. Perante a recusa de adesão, e até para iludir Madrid e camuflar a revolução que preparavam, as forças do Governo autonómico detiveram alguns cabecilhas acratas, como aconteceu com Buenaventura Durruti.
Pela rádio, chegam as primeiras notícias da insurreição nas Astúrias e dos comunicados dos partidos da esquerda em Madrid. No repertório imagético de Companys bailam as cenas gloriosas do 14 de Abril de 1931. Convencido de que a insurreição ia ser geral, Companys sentia-se seguro de que os 4.000 milicianos escamots, na sua maioria radicais do Estat Catalá da Esquerra Republicana, muitos disfarçados de membros do Somatén[iii], e a polícia autonómica Mossos d’Esquadra (com cerca de 400 efectivos), sob o comando do major Enrique Pérez Farrás, seriam suficientes para neutralizar a reacção das Forças Armadas. Além do mais, desde alguns meses atrás, Guardia Civil e Guardia de Asalto dependiam da Generalitat, através do comissário-geral Coll i Llach. Dencàs, homem forte do Governo catalão em que era responsável (conseller) pela pasta do Interior, assim lho havia «pintado». Pelo menos no papel, tudo parecia «de vento em popa». Na rua, grupos armados concentraram-se em locais previamente acordados. A Alianza Obrera ocupava as instalações do Foment del Treball Nacional, os militantes do PSOE, a Casa del Poble, e os radicais de La Falç [A Foice] e de Nosaltres Sols! [Só nós!] encontravam-se nas sedes das respectivas formações políticas. Miquel Badía fez do café Novedades o seu quartel-general e nas instalações do Círculo del Estat Català concentraram-se algumas centenas de radicais secessionistas.
Dencàs, ao longo da manhã foi insistindo com Companys para que declarasse a República Catalã como «pedia o povo que se manifestava em multidões por toda a Catalunha». E insistia: ou cavalgavam a agitação de rua, criada pela Alianza Obrera, ou eram ultrapassados por ela. Lluís Companys prometeu então que falaria ao fim da tarde e pediu-lhe apoio na escolha do modelo institucional a proclamar. A decisão final pela sublevação formal estava irreversivelmente tomada. A meio da tarde, Companys recebe o delegado residente do Governo central, Ramón Carreras Póns, e o general Domènec Batet i Mestres, comandante da Divisão orgânica da Catalunha. Manhosamente, sossega-os quanto ao que se passa na região; a Generalitat tinha tudo controlado e a Lei e a Ordem prevaleciam, afirmou. Batet retorquiu que quer o Presidente da República quer o Governo tinham toda a confiança no Governo autonómico catalão e que apenas o visitavam para o tranquilizar quanto à iminente declaração do estado de guerra; a sê-lo, nada teria contra a Catalunha mas decorreria apenas de considerações securitárias sobre o que se passava no resto de Espanha. Foi uma conversa de ambiguidades e de entrelinhas que deixou Companys ainda mais nervoso e hesitante. Por seu lado, Batet sossegou Carreras dizendo-lhe que sabia o que fazia e que tinha mandado executar um detalhado plano de contingência, envolvendo as forças de que dispunha, nelas incluindo as Forças da Ordem Pública. Só faltava declarar o estado de guerra e Batet, autorizado por Madrid, fá-lo-ia logo que a evolução da situação o exigisse.
Durante a tarde, Dencàs, depois de falar com o general Santiago Iglesias, comandante da Guardia Civil, apercebeu-se de que a Generalitat fora ultrapassada, pois as forças da ordem só aceitavam ordens do general Batet. Numa agitada reunião do Governo autonómico pede a destituição do comissário-geral da Ordem Pública, Coll i Llach mas Companys não aquiesce. Contactado pelo ministro do Interior, tentou fintar Madrid, dando a entender que ia ocupar militarmente a região apenas para impedir os excessos dos anarquistas da CNT. Por volta das 15h30, os escamots iniciam a sua ocupação do centro da cidade condal, assumindo uma atitude de força efectiva, solicitando a identificação a transeuntes e automobilistas e ordenando o fecho das lojas que haviam desrespeitado a greve geral. Na rádio e nas ruas ouviam-se as tradicionais sardanas, a par do Els segadors e da Internacional (em castelhano); por todo o lado se ouvia: «a les vuit, tots a la Plaça de Sant Jaume!» [Às oito, todos à Praça de São Jaime!].
Pelas 20h00 daquele dia 6, Lluís Companys proclamou o «Estado Catalão dentro da República Federal espanhola». E acrescentou, pensando seguramente em Azaña, ali tão perto: «E ao estabelecer e fortificar a relação com os dirigentes do protesto geral contra o fascismo [de Madrid], convido-os a estabelecer na Catalunha o governo provisório da República». Na Praça de Sant Jaume, muitos ouvem com emoção o discurso proclamador de Companys. No fim, disse: «Ja està fet. Ja veurem com acabarà. A veure si ara també direu que non soc catalanista!» [Já está feito. Já veremos como acabará. A ver se agora também dirão que não sou catalanista!].
Um ouvinte especial da leitura do manifesto foi o general Batet que escutou pela rádio as palavras do President, tendo que, para isso, suspender uma conversação que, nesse momento, mantinha por telex, com o chefe do Governo, Lerroux. Companys, confiado ainda na sua atitude e nas suas convicções e solidariedades republicanas (e maçónicas), tentou aliciar o seu patrício Domènec Batet, enviando-lhe um emissário, Joan Tauler Palomeres, Director-Geral do Trabalho, com uma nota escrita a solicitar que se colocasse às suas ordens. O general pediu algum tempo para decidir e aproveitou-o para preparar o contra-golpe, tendo resolvido implementar o estado de guerra de imediato.
Naquelas condições, por força da lei vigente, as forças de segurança passavam formalmente da obediência regional para a nacional e a Generalitat deixava de poder contar com elas. Pérez Farrás, chefe dos Mossos d’Esquadra, o coronel Enric Bosch do Somatén e o tenente-coronel Ricart March das forças de Seguridad y Asalto respondem que se mantêm ao serviço da Generalitat. Um oficial de Asalto, Maximiliano Viardeau, cuja comissão de serviço fora suspensa face às actividades subversivas em que se envolvera, propôs-se neutralizar Batet e, se necessário, executá-lo; com três guardias e um civil, num carro, começou a rondar as instalações do Comando da Divisão, até que uma patrulha da Guardia Civil o mandou parar, tendo-o abatido depois dos tiros com que haviam respondido à intimação da Benemérita. Mas muitos outros oficiais da Guardia de Asalto cumpriram a Constituição e colocaram-se às ordens de Batet.
Mobilizando com rigor e audácia as poucas tropas de que dispunha, Batet começou por mandar, pelas 9h30, uma companhia de infantaria, precedida por uma fanfarra e uma secção de batedores, proclamar e afixar o edital do estado de guerra. Ordenou então às poucas tropas disponíveis que sitiassem os principais redutos rebeldes que se situavam nos edifícios da Generalitat, da Conselleria de Gobernació [Interior] e do CADCI (Centre Autonomista de Dependents del Comerç i de la Indústria). Neste último local, na Rambla de Santa Mónica, encontrava-se entrincheirado um importante núcleo de separatistas (cerca de 700 homens) chefiados por Jaume Compte, Manuel González Alba e Amadeu Bardina, dirigentes do Partit Català Proletari. E é aqui que se iniciam os verdadeiros confrontos militares. Pelas dez da noite, o destacamento que saíra para proclamar o estado de guerra e que então manobrava para cumprir a sua missão em frente àquele reduto, foi fustigado por fogo rebelde que lhe provocou baixas.
Como Batet tivesse mandado regressar aquelas tropas ao Quartel-General, a euforia apoderou-se dos milicianos que resolveram atrever-se a atacar o vizinho Quartel de Atarazanas, de Artilharia, onde a tropa se encontrava formada na parada às ordens do coronel Llanos. De imediato, este manda sair duas peças que vão ter como alvos o Quartel-General do Somatén e o CADCI. Mal as peças começam a troar, Compte solicita a Dencàs que o ajude, enviando um destacamento miliciano a cercar pela retaguarda os artilheiros. Mas aos primeiros disparos dos canhões, todos entram em pânico e todos pedem ajuda a todos. Dencàs solicita auxílio a Compte que por sua vez lho pede a ele. Com a continuação dos tiros de artilharia, os milicianos do CADCI, escondem-se como podem e ninguém os consegue pôr a responder ao fogo das tropas lealistas. Quando, já de madrugada, os soldados resolvem invadir o CADCI, Compte, seguido por González Alba e outros dirigentes, decide morrer antes que render-se e, impulsionado por uma raiva incontida, atirou-se contra os que o atacavam.
Nas ruas e nos diversos acessos a Barcelona, enervados milicianos de diferentes facções (e, nalguns casos, da mesma) atiravam indisciplinadamente uns sobre os outros, convencidos de que se tratava do inimigo. Pela rádio, Companys incitava à revolta sem se aperceber de que os partidários em armas que o responsável pelo pelouro da Gobernació, Josep Dencàs, lhe prometera não apareciam em números minimamente significativos. O próprio Dencàs, conhecedor melhor que ninguém da real situação, agarrava-se ao microfone da Rádio Barcelona e, num estéril exercício de desespero, pede auxílio a tudo e a todos, apela ao sentimento catalanista e vocifera ameaças. E invoca a imagem mítica dos ceifeiros (segadors) do verão de 1640, evocada pelo hino catalão que não cessa de tocar na rádio. Em Madrid, extremamente incomodado com a arenga, o ministro Diego Hidalgo ordenou a Batet o silenciamento da emissora. O general explicou-lhe que era melhor deixar tudo como estava já que o teor das emissões radiofónicas de Dencàs, e o sentimento de impotência desesperada que dele decorria, era o melhor antídoto para evitar o alastramento da revolta entre os catalães. Batet, aparentemente descontraído, encontrava-se numa situação de elevado risco já que a protecção do Quartel-General ficara reduzida a uma secção sob o comando do sargento Moreno Lara; todos os oficiais do Estado-Maior estavam armados assim como o próprio general. No decorrer da noite, o regresso da companhia do capitão Manuel Lechuga que fora em escolta na proclamação do estado de guerra, e de esparsos grupos de guardias civiles e de Asalto que iam abandonando as forças da Generalitat, permitiu diminuir a vulnerabilidade.
No Palácio da Generalitat, a defesa era coordenada pelo major Pérez Farrás. Cerca das vinte e três horas, as forças leais ao Governo da República tentaram posicionar duas peças de artilharia de montanha na Praça de Sant Jaume, com o intuito de «congelarem» dentro do edifício os Mossos d’Esquadra de Farrás, os guardias de Asalto e cerca de uma centena de voluntários que defendiam o Governo autonómico. Pérez Farrás, acompanhado por uma escolta armada, comandada pelo capitão de cavalaria Frederic Escofet i Alsina, saiu ao seu encontro, antes que as tropas de Batet tivessem conseguido montar as peças de 7,5, transportadas no lombo de mulas. Depois de uma acesa discussão com o seu ex-camarada de armas, o major José Fernández Unzué, comandante das forças leais à Constituição, Pérez Farrás recuou para o Palácio. Logo que a porta se fechou, uma forte fuzilaria levou à fuga dos artilheiros que, apanhados em campo aberto, buscaram refúgio nas portadas dos edifícios mais próximos. Sofreram um morto, o capitão Manuel Suárez Navarro, tendo o comandante do destacamento artilheiro, o capitão Francisco Kühnel, ficado ferido, assim como dez soldados. Lá dentro, Pérez Farrás apercebeu-se de que os «seus» guardias de Asalto haviam desertado e não se atreveu a uma saída apenas com os Mossos d’Esquadra. Pede ajuda a Dencàs que, a braços com os seus próprios demónios, nunca lha enviará. Entretanto, reforçado por guardias civiles que estabelecem e guarnecem um perímetro de defesa adequado às circunstâncias e, pouco depois, apoiado por uma companhia de infantaria, Unzué retoma a iniciativa. Cerca da meia-noite, chegam mais efectivos – uma companhia de metralhadoras, sob o comando do capitão Fernando Lizcano de la Rosa. Com os flancos protegidos, os canhões começaram finalmente a disparar contra a fachada do Palácio da Generalitat mas com granadas sem espoleta.
Como se depreende do relato, no sucesso das acções contra-insurreccionais em Barcelona, a Artilharia jogou um papel crucial. Apesar de os insurgentes terem tido sempre superioridade numérica, o simples facto de os militares não terem aderido à sublevação, contrariamente ao que era a ideia propalada por Companys e Dencàs, levou o moral dos rebeldes a níveis bastante baixos. Quando uma bateria improvisada, colocada junto ao Quartel-General de Batet, abre fogo sobre a sede do departamento de Dencàs, as forças de Seguridad e Asalto que ainda tinha com ele, desertam para o Exército. E quando o capitão Escofet, entretanto nomeado por Companys, nessa mesma noite, comissário-geral da Ordem Pública (depois de Coll i Llach se ter demitido), pediu reforços a Dencàs para tentar uma saída do cerco, este não os conseguiu arranjar. Desesperado estava igualmente o tenente-coronel Ricart March, aquartelado na sede da Ordre Públic. Quando Escofet chega para substituir Coll i Llach, Ricart está sozinho; as forças da Guardia de Asalto tinham-se amotinado e recusavam as suas ordens, argumentando agora que, face à lei, só podiam obedecer a Batet.
O general pede à aviação que esteja preparada para iniciar bombardeamentos, ao amanhecer, sobre os alvos estratégicos. A unidade disponível, a Esquadra Aérea nº 3, era comandada pelo major Felipe Díaz Sandino, partidário do radicalismo esquerdista de Ramón Franco Bahamonde e, como tal, simpatizante dos revolucionários. Não desobedece frontalmente a Batet mas alega dificuldades técnicas para poder executar as missões[iv]. Com o avançar da noite, Batet convencido de que a pressão das suas tropas já era suficiente para obrigar Companys a ceder, mandou parar os tiros de artilharia, com ordens para retomar o fogo apenas ao nascer da aurora. A ordem acabou por ter um efeito contrário já que Dencàs, completamente desfasado da realidade, tomou o silêncio dos canhões como um recuo das forças governamentais e acalentou junto de um deprimido Companys esperanças de vitória.
Conhecedor da queda do CADCI, Companys voltou a pedir ajuda a Dencàs que continuava a arengar na rádio puxando pelo levantamento geral. Anunciou a chegada de fortes contingentes de escamots e militantes dos rabassaires. E, desesperado, chegou a pedir a ajuda dos anarquistas – os pejorativamente chamados «murcianos». Descontrolado, até o chegou a fazer em castelhano tendo mesmo gritado «Viva Espanha!» quando já haviam caído os principais redutos rebeldes. Mas o pequeno número de militantes que ocorrera à sua chamada dispersava já pela cidade, cosendo-se com as paredes e abandonando as armas que os tais «murcianos» afanosamente recolhiam, para o que desse e viesse no futuro. Sob o olhar frio e hostil dos poucos barceloneses que circulavam nas ruas, temendo em cada esquina o encontro com uma patrulha da Guardia Civil, os revolucionários sumiram-se.
À alvorada, pouco depois das cinco da manhã, os canhões de Unzué viraram-se para a Câmara Municipal e fizeram três disparos, novamente com projécteis sem espoleta. O troar das peças rasgou o silêncio da esperança que ainda agasalhava alguns dos dirigentes dos revoltosos. Depois da Câmara, de novo os canhões se voltaram para o edifício da Generalitat. Após alguns tiros, também sem espoleta, cerca das seis horas da manhã do dia 7, Companys, depois de consultar os seus colaboradores, incluindo Dencàs, resolveu telefonar a Batet e dizer-lhe que se queria render. O general recebeu a notícia com bonomia mas, com a mesma firmeza castrense com que se havia batido, exigiu uma declaração por escrito, seguida de uma comunicação pela rádio. Companys acedeu mas ligou de imediato ao presidente da municipalidade, Pi i Suñer, dizendo-lhe: «A resistência é inútil. Hasteie a bandeira branca que eu farei o mesmo; temos que evitar que se verta mais sangue». O alcalde respondeu-lhe: «o senhor primeiro, primeiro a Generalitat; a Câmara solidarizar-se-á imediatamente com o Governo, içando também a bandeira branca». E neste ping pong da desgraça apareceu um pano branco num dos buracos da fachada da Câmara produzidos pela artilharia. E Unzué, depois do subchefe da polícia municipal (Guardia Urbana) lhe ter franqueado a porta principal do edifício, aceitou a rendição do Presidente da Câmara, Carles Pi i Suñer, e dos vereadores presentes, que haviam sido convocados para uma sessão plenária, pelas dez da noite do dia anterior.
Parece que no Palácio da Generalitat quando o motorista de Pérez Farrás tentou içar o pano branco numa janela, os sitiantes não se aperceberam das suas intenções e feriram-no. Durante algum tempo, ninguém quis tomar a iniciativa mas o navarro Unzué, provavelmente alertado por Pi i Suñer, resolveu entrar no edifício e, sem problemas, dirigir-se a Companys que já se encontrava expectante, reunido com todo o seu staff presente. Concretizadas as formalidades exigidas por Batet, o Governo autonómico ingressou na prisão, improvisada no navio Uruguay, ancorado no porto de Barcelona. A única excepção, Josep Dencàs, juntamente com Arturo Menéndez, Pérez Salas, Miquel Badía e um tal Sentís, através de um túnel que tinha mandado escavar como escapatória de emergência, havia fugido pela rede de esgotos para parar apenas em Paris. Nas ruas, os milicianos e os Mossos d’Esquadra não fogem e entregam-se às forças da República com evidente alívio.
Sempre em contacto com Madrid, Batet foi dominando com calma mas inquestionável firmeza todos os redutos dos sublevados que rapidamente se foram rendendo. O resto do dia foi gasto em acções de rescaldo, eliminando os poucos focos de resistência. Pela tarde chegariam a Barcelona alguns dos reforços enviados a pedido do general Francisco Franco Bahamonde, assessor especial do ministro da Guerra, um batalhão de Caçadores de África que à noite, pelas 23h00, desfilariam pelas Ramblas, num exercício de demonstração de poder. A recepção dos barceloneses que os vieram ver foi, na generalidade, calorosa. No dia 9, ao cair do dia, uma patrulha policial captura Manuel Azaña, no seu esconderijo, e encaminha-o para o navio Ciudad de Cádiz, donde passará ao Alcalá Galiano e, finalmente, ao seu gémeo, o Sánchez Barcáiztegui. Aqui ficará detido por pouco tempo e iniciará o texto Mi rebelión en Barcelona. O general Sebastián Pozas Perea, maçon como Azaña, foi nomeado instrutor do processo.
A Alianza Obrera queixar-se-ia de que Dencàs não lhes quisera distribuir armas ao contrário do que Companys dera a entender. O responsável pela Segurança afirmou mais tarde de que não havia armas em número suficiente porque, em devido tempo, Companys não as havia querido comprar. As trapalhadas que estiveram na base do insucesso haveriam de vir à tona, mais tarde, na Primavera de 1936, numa tentativa de apuramento de responsabilidades sobrejacente à vitória da Frente Popular. Companys sairia como herói e Dencàs e Miquel Badía [v] (que, com o seu irmão Josep, fora assassinado pela FAI em Abril de 1936) como vilões e bodes expiatórios. Afinal, todos haviam sido vítimas de se terem deixado enredar na armadilha montada pela teia tecida pela sua própria propaganda.
Durante a sublevação e mesmo depois da rendição da Generalitat, houve por toda a parte actos de vandalismo, por vingança e frustração, tendo os mais graves ocorrido em Girona e Lleida. De novo, como em 1931, as igrejas e os sacerdotes constituíram os alvos preferenciais do desenfreado ódio irracional acumulado por anos e anos de propaganda anti-clerical. Como resultado da insurreição na Catalunha morreram 107 pessoas, das quais 30 fora de Barcelona. Os principais responsáveis locais, com a mencionada excepção de Dencàs, foram julgados e condenados a pesadas penas de prisão. No aperto em que se colocaram, pediram para não ser julgados por um Tribunal militar mas sim pelo Tribunal de Garantias Constitucionais, contra o qual tanto haviam vociferado. Os militares, como o major Pérez Farrás e o capitão Frederic Escofet, foram mesmo condenados à morte mas seriam salvos por intervenção do Presidente Alcalá-Zamora que lhes comutou as penas em prisão perpétua. Em Fevereiro de 1936, depois das eleições gerais conquistadas pela Frente Popular seriam todos postos em liberdade.
[i] O bloco da direita conseguiu 199 deputados (dos quais 115 eram de la CEDA, 29 dos Agrarios, 20 dos Tradicionalistas, 15 dos monárquicos «alfonsinos» da Renovación Española e 18 independentes de direita, mais 2 de extrema-direita, um da Falange Española e outro do Partido Nacionalista Español); o centro e os «nacionalistas» obtiveram 181 deputados (104 do Partido Republicano Radical, 22 da Lliga Regionalista catalã, 17 do Partido Republicano Conservador, 11 do Partido Nacionalista Vasco, 8 dos liberal-democratas, 6 do Partido Republicano Gallego, 3 do Partido Progresista, 2 do Partido Republicano do Centro, 1 do Partido Regionalista de Mallorca e 8 independentes). A esquerda, que sofreu uma hecatombe eleitoral, viu a sua representação ficar drasticamente reduzida a menos de uma centena de parlamentares (59 do Partido Socialista Obrero Español, 18 da Esquerra Republicana de Catalunya, 5 da Acción Republicana, 4 federalistas, 3 da Unió Socialista de Catalunya, 3 do Partido Radical Socialista Independiente, 1 do Partido Radical Socialista, 1 do Partido Comunista Español e 1 da Unió de Rabassaires).
[ii] Quando, num tribunal de Barcelona, um militante separatista foi condenado a pagar uma multa de 1.000 pesetas, a assistência amotinou-se e atacou os juízes. Ao resistir, o delegado do MP, Manuel Sancho, foi detido pelas forças da ordem de Miquel Badía e arrastado para os calabouços, entre gritos de «morra Espanha e a Justiça espanhola». Duas semanas depois, numa gigantesca manifestação de homenagem a Badía, Dencàs afirmou: «Ao acto de detenção do delegado do MP, adere toda a Catalunha. […] Todos os magistrados espanhóis devem sair da Catalunha. […] Futuros soldados do exército libertador da Catalunha: em breve sereis chamados a cumprir altos desígnios».
[iii] O Somatén era uma Milícia tradicional catalã reconvertida por Josep Dencàs. Era uma espécie das nossas Ordenanças mas com funções para-policiais a nível local. Embora a sua missão tenha evoluído ao longo do tempo, as suas principais responsabilidades residiam na divulgação dos alarmes (por fogueiras e toque de sinos) em caso de perigo público (incêndios, piratas, bandoleiros, etc.). Em situação de guerra, respondiam como milícia regional.
[iv] Outro oficial, o major Lecea, leal ao Governo da República, apercebendo-se da efectiva traição de Díaz Sandino, tenta pôr-se ao serviço de Batet mas o seu comandante, alertado, deteve-o e encarcerou-o em Montjuich.
[v] Salvador Dalí encontrava-se em Barcelona, a 6 de Outubro de 1934, para onde havia sido convidado como conferencista. Foi testemunha ocular de alguns dos acontecimentos, já que, aconselhado por um amigo, com informação privilegiada, a ir para França, teve de se deslocar à Conselleria de Governació para solicitar um visto de saída. No caminho cruzou-se com guardias civiles e civis armados que, em direcções opostas, fingiam não se ver. Na Conselleria teve de esperar algumas horas, tendo visto a actuação de Miquel e Josep Badía a quem, com humor, identificou com as atitudes melodramáticas de um actor do cinema mudo; pareciam dois Buster Keaton, disse. E seguramente lhe terá passado pela cabeça os separados à nascença Lluís Companys e Charlie Chaplin, digo eu. (vide Salvador Dalí, The Secret Life, New York, Dial Press, 1942).
- Autor dos livros Revolução! Das Internacionais às ditaduras militares: Portugal e Espanha (1864-1926), Casa das Letras, 2019, e Ditadura ou Revolução? A verdadeira história do dilema ibérico nos anos decisivos de 1926-1936, Casa das Letras, 2016.