Cerca das 23h desta segunda-feira, o metereologista Jorge Ponte pegou no telemóvel de serviço do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) para ligar ao comandante da Proteção Civil em Lisboa. O aviso trazia o prenúncio da noite que aí vinha: os radares detetaram (e as imagens de satélite confirmavam-no) que, nos 30 minutos anteriores, uma linha de nuvens muito intensas — os cientistas chamam-lhes “células” — estava a formar-se sobre o Atlântico e a dirigir-se para Lisboa, todas a adensar-se em altitude. E estavam carregadas de chuva.
“Já deve estar a haver precipitação moderada a forte por causa da chegada da primeira célula. Mas daqui a duas ou três horas devem entrar no continente células daquelas que podem formar um oceano. Como estão a ganhar atividade neste momento, preferimos avisar”, descreveu Jorge Ponte, apontando para um monitor onde manchas verdes, amarelas e laranja flutuam por cima de um mapa de Portugal Continental: “Está a começar a ser mais severo, mas há células mais agressivas com convecção de sudoeste.”
Jorge Ponte está na sede do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), junto ao Aeroporto Humberto Delgado. E, juntamente com Paula Leitão, também meteorologista, entrou ao serviço às 20h — já com as previsões dos colegas do turno anterior na mão e mesmo a tempo de serem os vigilantes principais dos fenómenos que o instituto tinha previsto para a noite de segunda-feira: chuvas e ventos muito fortes. “Ainda vos podemos telefonar esta noite”, alertou Jorge Ponte no mesmo telefonema das 23h com a Proteção Civil. E veio mesmo a acontecer.
Depois de uma outra chamada, quando já passava da meia-noite, foi necessário ainda outro contacto por volta das 4h30: o aviso laranja em Lisboa tinha de passar a vermelho. Chamadas como estas — todas complementares ao briefing diário entre o IPMA e a Proteção Civil, a que se juntaram dois pontos de situação adicionais esta terça-feira, sem nunca terem parado ao longo do último fim de semana e do feriado (ao contrário do que é costume) — foram uma constante ao longo da noite. E não só com a Proteção Civil: o chefe do serviço telefonou para pedir um ponto de situação sobre o estado do tempo. Um contacto da Câmara Municipal de Lisboa, liderada por Carlos Moedas, também.
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Os dois meteorologistas também estavam escalados para o turno da noite quando uma tempestade se abateu sobre Lisboa na última quarta-feira, lançando a cidade num caos de inundações que não encontra paralelo nos últimos 14 anos. Menos de uma semana depois, e às portas de uma noite que se adivinhava muito intensa para os meteorologistas, o Observador juntou-se à mesma equipa para acompanhar as operações de vigilância.
Lá fora, era como se o céu estivesse a cair: as chuvas fortes voltaram a alimentar enormes poças de água em muitas das estradas que levam milhares de pessoas à capital e a transformaram passeios e lances de escadas em cascatas e lençóis de água. Dentro do centro, ouve-se jazz mais do que a chuva lá fora. De vez em quando, como se todos os monitores não bastassem, a luz de um trovão recorda-nos da violência do que se passa na rua.
À hora a que Jorge Ponte telefonou para a Proteção Civil, e apesar do agravamento do estado do tempo que se esperava nas horas seguintes, os critérios para o aviso laranja em todos os distritos na faixa entre Lisboa e Guarda, Setúbal e Évora (Lisboa incluída), emitido às 21h de segunda-feira até ao meio-dia de terça, mantinham-se. Dali a cinco horas, tudo mudaria: a quantidade de chuva que os radares tinham detetado confirmaram uma precipitação superior ao previsto. O aviso meteorológico era vermelho.
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A emissão desse aviso vermelho foi mais célere do que na quarta-feira passada. A 7 de dezembro, entre o momento em que os meteorologistas detetaram a necessidade de elevar o aviso meteorológico e o momento em que ele foi oficialmente posto em prática passaram-se 60 minutos. Foi preciso telefonar ao chefe de serviço e depois à Proteção Civil, que só então pôde colocar mais elementos no terreno. Agora, tudo aconteceu em pouco mais de 30 minutos: a burocracia foi menos impeditiva.
Mesmo assim, por essa altura, o caos já estava lançado um pouco por toda a cidade. Às 5h15, menos de uma hora depois de o aviso meteorológico de precipitação ter evoluído para o nível mais gravoso, a Proteção Civil — novamente avisada por telefone da avaliação científica do estado do tempo — já contabilizava 117 ocorrências relacionadas com meteorologia adversa. Já se registavam inundações junto ao Hospital da Luz, perto do Centro Comercial Colombo, e havia escadas transformadas em cascatas junto aos Olivais.
A esmagadora maioria das ocorrências àquela hora (96) registou-se em Lisboa, onde havia 246 elementos dos vários meios da Proteção Civil no terreno, apoiados por 67 veículos. As restantes ocorrências foram em Aveiro (1), Castelo Branco (3), Coimbra (2), Leiria (1), Portalegre (2), Porto (1), Santarém (2) e Setúbal (9). No total, a Proteção Civil destacou 310 elementos para gerir estas situações, com o auxílio de 89 veículos. Quase todas diziam respeito a “inundação de estruturas ou superfícies por precipitação intensa”. As poucas que escapavam a esta descrição continuavam a ser consequência direta das chuvas fortes: “quedas de árvores” e “movimentos de massas”.
A quantidade de chuva foi o critério que convenceu os meteorologistas a agravar o aviso meteorológico de chuva do nível laranja para o vermelho. “Tem a ver com o critério dos 60 milímetros em seis horas”, concretizou Jorge Ponte em entrevista ao Observador: “Até este momento, já registámos 47 milímetros de precipitação em seis horas, mas a grande maioria foi nas últimas duas a três. É provável que se ultrapasse os 60 milímetros, porque a atividade de sudoeste na direção de Lisboa continua e a chuva vai persistir.”
O comunicado às autoridades, no entanto, só foi feito quando os meteorologistas de serviço tiveram certezas de que a tempestade iria agravar-se, mesmo depois de os primeiros sintomas de que a situação ia piorar terem começado a afigurar-se nos seus ecrãs. “Demoramos sempre mais do que as páginas privadas e nas redes sociais porque temos outro tipo de responsabilidade“, justificou o cientista.
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É que um passo em falso pode significar milhares de euros de prejuízo para a Proteção Civil, caso os meios sejam mobilizados sem necessidade; e centenas de operacionais no terreno que podiam estar de prevenção para qualquer outra tarefa. “É preciso interpretar as coisas como um médico interpreta uma ecografia“, defende Paula Leitão.
São informações que os dois meteorologistas de serviço colhem a partir de vários programas espalhados em ecrãs no centro operacional do IPMA, com janelas voltadas para a antena da NAV Portugal, na Rua C. Há 16 canais no total cuja informação se pode conjugar entre si para compreender o que se passa na atmosfera: conjugações diferentes merecem prever (e mais tarde confirmar ou não) informações relativas ao nevoeiro, existência de nuvens altas ou movimentos de massas de ar, por exemplo.
Nenhuma dessa informação é redundante. Na verdade, é como montar as peças de um puzzle: quantas mais se forem juntando, mais evidente se vai tornando a imagem dele. A certa altura, é possível calcular que imagem é essa mesmo que não se tenha recolhido todas as peças — mas ela ficará para sempre incompleta e nunca se terá a certeza de alguns pormenores. Segundo Paula Leitão, o mesmo acontece com a atmosfera: “Nós, na realidade, nunca temos a certeza de todos os pormenores que a natureza tem. A natureza é infinitamente imprevisível”.
Uma dessas peças está permanentemente sob o olhar dos meteorologistas: são monitores com manchas que a pairam sobre o mapa de Portugal Continental e que funcionam de modo semelhante a um sonar. As manchas são obtidas com recurso a radares que emitem um feixe de eletrões em todas as direções. Essas partículas voltam para trás sempre que encontram um objeto — e, neste caso, o aparelho está calibrado para refletir gotas de água. O que se vê na imagem é a refletividade das gotas de água: quanto mais intensa for, mais forte se espera que seja a precipitação porque mais altas serão as nuvens.
Mas ela também falha — e falhou a indicar a real dimensão de uma nuvem extremamente ativa que afetou esta noite a ilha da Madeira e que a atirou para um aviso laranja de vento e precipitação. É que o radar foi instalado num ponto do terreno que não lhe permite detetar informações abaixo de uma determinada altitude. Resultado: havia uma “zona de sombra” que escondia uma região muito ativa de chuva e vento prestes a passar pela ilha e que, apesar de se ter começado a formar por volta das 20h30, tinha uma intensidade e dimensão que só foi possível apurar a minutos do temporal que atingiu o arquipélago.
Tanto esta informação como a que surge no monitor imediatamente ao lado, com pinceladas de tons garridos de vermelho, obtidas por satélites geoestacionários que mostram o desenvolvimento (e também o desaparecimento de nuvens na atmosfera), servem para fazer nowcasting — isto é, prever o estado do tempo em períodos muito curtos, duas a três horas depois de os dados serem recolhidos. Não servem para emitir avisos meteorológicos a longo prazo, como aqueles que estavam ativos desde a manhã da última quarta-feira ou os que estavam ativos desde a noite passada.
Para isso, utilizam-se mecanismos de previsão do tempo que são obtidos através de equações físicas e matemática extremamente complexas, mas que têm por base três informações: temperatura, pressão e humidade relativa em cada ponto dos 12 quilómetros de altitude da atmosfera. É como se se captasse uma fotografia da atmosfera num determinado momento inicial, com dados de satélites e radares, e o modelo previsse como é que ela estará ao longo do tempo.
É que a atmosfera é um fluido que se move. Há equações matemáticas que definem como é que os fluxos se mexem — o que é útil na hidráulica, por exemplo. Na atmosfera, há um desafio adicional: esse fluido contém não só uma mistura de gases, como também água nos seus vários estados (gasoso, líquido e sólido).
Ora, há um grupo de contas matemáticas que revela como é que a água passa de um estado para outro na atmosfera. Dessas contas sai uma previsão principal do estado do tempo. Paralelamente, o modelo vai correr as mesmas equações com pequenas variações das condições iniciais da atmosfera — 51 nuances que se traduzem em 51 soluções diferentes para o estado do tempo. Imaginando que, para dali a três dias, 25 dessas soluções apontam para uma precipitação acima dos seis milímetros, a previsão do tempo será a de que há cerca de 50% de probabilidade para essa precipitação.
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Portugal correu o risco de ter tornados na segunda-feira
Foi esta previsão que ainda na terça-feira motivou um aviso raro nos boletins internos do IPMA, que não são partilhados com o público, mas são enviados à Proteção Civil: a da possibilidade do surgimento de tornados em território português. No relatório que Jorge Ponte e Paula Leitão escreveram durante o dia na segunda-feira, alertaram que “existe a possibilidade de tempo severo”, e que “os maiores riscos são a precipitação excessiva e rajadas de vento, não sendo de descartar fenómenos extremos, inclusivamente tornados”.
Uma mensagem semelhante foi escrita no relatório interno pela equipa que esteve de prevenção durante a noite: “Prevê-se precipitação forte e persistente; e possibilidade de ocorrência de fenómenos extremos de vento no Norte e Centro”. E também pelo Laboratório Europeu de Tempestades Severas, que emitiu um comunicado aos cientistas a avisar de que estavam reunidas as condições para o surgimento de uma “ameaça de tornado”.
Essa mesma informação é depois complementada com os dados obtidos por via do nowcasting — um modelo de previsão meteorológica que serve para descobrir fenómenos mais pequenos e mais recentes que se tenham formado sem terem sido observados com a previsão normal do tempo.
Houve muita chuva e muito vento. Não houve tornados: os ingredientes estavam reunidos, mas não surgiram ao mesmo tempo e no mesmo local. Mas o risco de surgirem nunca foi comunicado à população porque era altamente improvável: “Se fosse para a página, se calhar instalava-se o pânico, mas a probabilidade é sempre baixa. As pessoas não iam compreender a linguagem extremamente técnica”, justificou Jorge Ponte. E acrescentou: “Seria alarmista para quem não percebe esta linguagem muito complexa, para quem percebe é útil.”
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Neste momento, o modelo tem uma resolução de nove quilómetros sobre todo o globo e em mais de 100 níveis de altitude. São graus extraordinários de precisão para um planeta com 510 milhões de quilómetros quadrados de área à superfície, mas demasiado grandes, ainda assim, para detetarem eventos tão pequenos como o que deu origem aos caos lisboeta da semana passada — o bater da borboleta que pode dar origem a um tornado do outro lado do planeta, tal como Edward Lorenz descreveu, recordam os meteorologistas do IPMA.
“Os computadores evoluíram imenso, mas ainda não têm a capacidade de receber tal quantidade de dados e de dar essa informação”, concretizou Jorge Ponte. Mesmo assim, dificilmente o aparelho que está a utilizar neste momento para ler este artigo conseguiria alcançar o poder da tecnologia ao serviço do IPMA: para se correr um modelo como o dos cientistas daquele instituto no seu computador, a previsão da meteorologia para amanhã sairia daqui a uma semana.
E “todos os sistemas naturais são diferentes uns dos outros”, acrescentou Paula Leitão: “O estado da atmosfera varia sempre, muda sempre e nunca se repete. Da mesma maneira que um som nunca se repete e que todas as pessoas são diferentes umas das outras, a atmosfera é diferente todos os dias e todos os segundos. É impossível haver modelos numéricos que prevejam uma coisa que varia de forma infinita.”
As nuvens obedecem a estas regras: às vezes formam-se do nada. Foi isso que aconteceu em Lisboa na quarta-feira, asseguram os dois meteorologistas de serviço, e “com o azar” de a linha de nuvens que afetou a cidade ter passado muito devagar sobre ela. Na realidade, as nuvens em questão até ganharam atividade ao sobrevoarem o distrito de Santarém, mas o impacto foi inferior por dois motivos: as nuvens ganharam velocidade, por isso não choveu tanto sempre no mesmo sítio por longos períodos de tempo; e havia naquela região mais área permeável do que em Lisboa. A água infiltrou-se nos campos, enquanto na capital não tinha para onde escoar e acumulou-se à superfície.
“As coisas desenvolveram-se de forma a que a coisa agravasse muito de repente, fora do que era possível prever mais cedo“, justificou Jorge Ponte, recordando como uma nuvem se formou “de forma inesperada” às portas de Lisboa, movendo-se de sul para norte e também para leste — mas muito lentamente nesta direção, muito, muito, muito lentamente, mas com muita atividade”.
“Posso dizer que quando passou Cascais, deu bastante precipitação, mas dentro do nível amarelo ou laranja. Só se intensificou quando começou a chegar a Oeiras. Não havia maneira nenhuma de saber isto antes: o modelo até podia dar-nos essa pista, mas não dava. Porque não consegue resolver as coisas ao pormenor por não ter essa escala”, assegurou Jorge Ponte.
Não houve erros, assegura. Pelo menos, não mais do que aqueles que estão inerentes aos modelos utilizados pelo IPMA para prever o tempo. “Não teria feito melhor naquele dia”, atira o meteorologista. Naquela quarta-feira, os modelos previam 30 milímetros de precipitação ao longo de seis horas. Seriam dez, 15 milímetros em três — critérios suficientes apenas para um aviso amarelo, embora o instituto tenha emitido o aviso de nível laranja “devido ao enquadramento da situação”. “Era uma depressão com um campo muito vasto, entre os Açores e o continente, e esse tipo de situações costuma dar origem a problemas.”
De acordo com os relatos que os meteorologistas transmitiram ao Observador, os modelos indicavam algo muito diferente do que veio a acontecer na quarta-feira passada. A precipitação prevista, com a melhor informação disponível antes de a tempestade se ter abatido sobre Lisboa, era de 10 a 20 milímetros em três horas. Caíram 70 milímetros. E precipitação total nas 24 horas dessa quarta-feira era de 47 milímetros, mas choveram 80 — e até havia modelos que só previam nove milímetros.
“Segundo estas previsões, quanto muito, havia critérios para o nível amarelo”, indicam os meteorologistas: Termos posto o aviso de laranja de manhã já era conservador e foi porque cruzámos estas informações com a experiência que temos. Já foi uma previsão gravosa para aquilo que os modelos davam.”
Trovoadas voltaram a dar alerta para aviso vermelho
Os meteorologistas sabiam que podiam estar a subestimar a situação. Mas não sabiam que a podiam estar a subestimar tanto, garantem. Os sinais que vieram a confirmar um agravamento do estado do tempo, já o mau tempo (e as inundações) estava instalado na cidade, surgiram com trovada: para ela existir “é preciso haver um desenvolvimento vertical relevante”, isto é, as nuvens têm de crescer consideravelmente em altitude, e por norma isso acontece quando estão mais carregadas.
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Nem sempre é assim: pode haver trovoada sem que ela venha acompanhada de chuvas fortes, mas só quando existe muita humidade em níveis atmosféricos muito elevados e pouca nos níveis mais terrenos. Nos últimos dias, não é isso que tem acontecido: toda a atmosfera está extremamente saturada e bastante húmida. Tudo porque o país está a ser afetado por uma massa de ar vinda dos trópicos depois de atravessar o oceano, carregando muita água em suspensão. É precisamente o contrário do que se passa no norte da Europa, que está no percurso de uma massa de ar polar que até provocou queda de neve em Londres.
“Tem a ver com as propriedades termodinâmicas do ar”, resume Jorge Ponte: “Quanto maior a temperatura, mais capacidade tem para reter vapor de água sem a precipitar. O ar frio, assim que ganha um pouco de humidade, tem de a precipitar porque tem pouca capacidade de a reter. Não consegue ter muito armazenamento.”
As trovoadas foram, novamente, um sinal de alerta nas horas anteriores ao aviso vermelho do IPMA. Os avisos meteorológicos que estavam ativos já eram produto das informações retiradas de um modelo que indicava um padrão de zonas com chuva muito persistente na mesma linha, precisamente na direção sudoeste para nordeste. “Já temos antecipado que este padrão de persistência pode surgir. Toda a zona entre Setúbal e Leiria, Évora e Castelo Branco pode ser afetada por esta linha de células“, explicou Jorge Ponte ao Observador, referindo-se às zonas com aviso laranja naquele momento.
Mas quando um carreiro de nuvens densas se alinhou de sudoeste para nordeste, a caminho de Lisboa, algumas dessas células deram origem a descargas elétricas que foram detetadas nos radares em terra. “Começa a haver algumas descargas elétricas em toda esta zona”, confirmaram os meteorologistas ao Observador, durante a madrugada: “Estão a crescer algumas células, todas na mesma direção. Se começarem a crescer e a ficarem mais perto umas das outras, mantendo sempre esta direção, onde elas forem bater pode estar a chover fortemente durante muito tempo.”
Tempestades só darão tréguas no sábado
Se está em Lisboa e acordou por volta das 7h30 sem chuva, não pense que o pior já passou. Enquanto na quarta-feira não parou de chover durante algumas horas, o que agravou a situação no solo porque a água não tinha tempo de escoar totalmente, agora está a acontecer o inverso: prevêem-se períodos de acalmia entre a passagem de uma nuvem carregada de chuva e o aparecimento de outra vinda do mar.
Aliás, quase todo o território nacional está sob aviso laranja de precipitação ao longo de toda a segunda-feira, com as únicas exceções a serem Bragança e, na Madeira, a Costa Norte, Costa Sul e Porto Santo. A passagem de mais uma nuvem extremamente ativa por Lisboa esta manhã manterá o aviso laranja de precipitação até às 15h — e mesmo assim passará ainda para o nível amarelo. A estes alertas juntam-se outros que avisam para a agitação marítima e ventos fortes, ocorrência de trovoadas e neve em alguns distritos.
O mau tempo persistirá até sexta-feira, com a fase mais complicada a terminar já na quarta-feira. A partir daí, a situação meteorológica deve acalmar até que, no sábado, nenhuma nuvem venha atrapalhar a bonança depois da tempestade. Mas os últimos dias ensinaram a lição: tudo pode mudar num bater de asas de uma borboleta.