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O Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) suspeita que Jorge Nuno Pinto da Costa terá alegadamente desviado vários milhões de euros dos cofres da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do FC Porto através de um esquema de burla que envolverá o seu filho Alexandre Pinto da Costa e o empresário Pedro Pinho. O Observador sabe que o DCIAP suspeita ainda do envolvimento de outros administradores da SAD portista.
Burla e abuso de confiança são os crimes centrais no inquérito liderado pelo procurador Rosário Teixeira, já que a SAD do FC Porto terá sido enganada em diversos processos de transferência de jogadores com a ajuda de vários dirigentes do Porto para beneficiar o filho de Jorge Nuno Pinto da Costa e o empresário Pedro Pinho, tido pela investigação como alegado testa-de-ferro do líder histórico do clube portista. Há igualmente suspeitas de crimes fiscais e branqueamento de capitais.
Operação Fora de Jogo. Desvio das receitas das transferências sob investigação
Em comunicado, a FC Porto-Futebol, SAD confirmou as buscas “nas suas instalações, por suspeitas das entidades judiciais de crimes de abuso de confiança, fraude fiscal e branqueamento de capitais que tiveram a sua génese em movimentos financeiros relativos a transferências de jogadores de futebol” e garantiu que está a colaborar com a Justiça.
Passes de jogadores sobrevalorizados e contratação desnecessárias: as semelhanças com Luís Filipe Vieira
Os alegados esquemas de que o procurador Rosário Teixeira suspeita nos autos deste processo aberto em este ano não são muito diferentes das suspeitas que levaram à detenção de Luís Filipe Vieira, do seu filho Tiago, e do empresário Bruno Macedo na Operação Cartão Vermelho em julho deste ano.
Na prática, estão em causa alegadas burlas qualificadas à SAD do FC Porto que levaram à sobrevalorização dos passes de jogadores de segunda linha e ao dispêndio por parte da sociedade portista de valores que não corresponderiam ao valor de mercado dos futebolistas comprados — como aconteceu no Benfica com Derlis González, Cláudio Correa e César Martins. E a alegada apropriação de fundos da SAD do Porto por parte de Jorge Nuno Pinto da Costa e de outros dirigentes do FC Porto.
No centro da atenção do Ministério Público (MP) estão as comissões pagas aos empresários de jogadores de futebol a título de intermediação, tal como aconteceu com o Benfica. No caso do FC Porto, Alexandre Pinto da Costa e Pedro Pinho são os visados.
Ao que o Observador apurou, o MP está ainda a investigar o pagamento do mesmo tipo de comissão em operações de venda de jogadores do FC Porto a clubes como o Real Madrid (Éder Militão) ou o Atlético de Madrid (Filipe), bem como a intervenção de Alexandre Pinto da Costa e dos empresários Pedro Pinho e Bruno Macedo em diversas operações de transferência de jogadores portistas.
Alvos das buscas são suspeitos mas ainda não são arguidos
Uma coisa parece certa: a execução de 33 mandados de busca durante esta segunda-feira no Porto e em Lisboa não conduziu à constituição de arguidos, mas apenas à apreensão e “recolha de prova”, confirmou o DCIAP em comunicado. Isto é, Pinto da Costa, o seu filho Alexandre e o empresário Pedro Pinho ainda não são formalmente suspeitos por uma questão de estratégia do DCIAP.
Entre os locais visitados pelas autoridades, encontram-se as residências de Jorge Nuno Pinto da Costa, do seu filho Alexandre e do empresário Pedro Pinho. Os escritórios da SAD do Porto e das empresas de Alexandre Pinto da Costa e de Pinho foram igualmente alvo de buscas.
MP investiga parceria entre ex-patrão de Sócrates e FC Porto. SAD do Porto confirma negócio
O Banco Carregosa, instituição financeira histórica do Porto que se dedica ao private banking onde diversos suspeitos têm contas bancárias, também terá sido alvo das visitas das autoridades. Já no caso de José Veiga, o Carregosa tinha sido alvo de atenção judiciais.
A Operação Fora de Jogo antecipou as suspeitas sobre Pinto da Costa e Vieira
Esta é a quarta operação de buscas judiciais que visa o Estádio do Dragão desde março de 2020. Desde suspeitas sobre falsificação de testes Covid (maio de 2021), negócios com o ex-patrão de José Sócrates (dezembro de 2021) e a Operação Fora de Jogo, que tinha os contratos de jogadores de Jorge Mendes no centro da sua ação e a suspeita de que nem todos os rendimentos tenham sido declarados ao Fisco, que os portistas têm estado sob mira judicial.
O Observador tinha antecipado que a Operação Fora de Jogo já investigava o alegado desvio de receitas dos sociedades anónimas desportivas (SAD) dominadas por Benfica, FC Porto, Sporting e Sporting de Braga para os dirigentes dos próprios clubes e empresários de futebol.
Desde então que Luís Filipe Vieira foi detido no âmbito da Operação Cartão Vermelho por suspeitas dos crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento de capitais por alegadamente ter desviado cerca de 2,5 milhões de euros dos cofres da Benfica SAD. Tudo com a ajuda do empresário Bruno Macedo, filho de um conhecido advogado de Braga, Vespasiano Macedo.
A Operação Cartão Vermelho tem precisamente Bruno Macedo em comum com as buscas realizadas SAD do Porto esta segunda-feira. Tudo porque Macedo também intermediou vendas importantes do FC Porto através das suas sociedades BM Consulting e Yes Sports, como é o caso de Éder Militão — vendido ao Real Madrid por 50 milhões de euros em 2019 — e de Filipe — cujo passe foi alienado ao Atlético de Madrid também em 2019 por 20 milhões de euros. Segundo a revista Sábado, Bruno Macedo terá recebido cerca de 5,5 milhões de euros da SAD do FC Porto.
Há, contudo, uma diferença grande entre a operação que visou Pinto da Costa durante esta segunda-feira e aquela que levou à detenção de Luís Filipe Vieira: o grau de conhecimento do MP sobre os circuitos financeiros construídos pelos suspeitos.
Como hoje em dia a cooperação judiciária internacional permite uma reconstrução total de todos os circuitos, este caso ainda vai dar (muito) que falar.