No livro O Comboio do Luxemburgo, Irene Flunser Pimentel e Margarida de Magalhães Ramalho recordam os acontecimentos de 1940, quando o “terceiro transporte”, como ficou conhecido, não teve autorização para entrar em Portugal. Tratava-se de mais um grupo de refugiados judeus vindos do Luxemburgo, durante a II Guerra Mundial, acompanhados por agentes da Gestapo. Depois de os dois primeiros comboios terem entrado no país, um terceiro acabou por encontrar dificuldades diplomáticas e tensões que envolviam a PVDE, o Governo e a comunidade internacional, relacionados com o estatuto de neutralidade de Portugal e com a falta de documentação de muitos dos refugiados.

Escreve Margarida de Magalhães Ramalho no preâmbulo: “Ao fim de dez dias deste verdadeiro calvário e já com negociações para os instalar provisoriamente no Luso, o governo português acabou por lhes negar a entrada. De regresso a França, estiveram ainda vários dias no comboio até os alemães decidirem interná‑los em Mouserolles, perto de Baiona, num antigo campo de internamento para republicanos espanhóis durante a Guerra Civil. Libertados meses depois, muitos conseguiram partir para outras paragens. Outros acabaram por ficar na França de Vichy. Destes, poucos sobreviveram aos campos de extermínio.”

O Observador faz a pré-publicação de parte do terceiro capítulo, “O Terceiro Transporte”. O Comboio do Luxemburgo está nas livrarias a partir de sexta-feira, dia 23.

o comboio do luxemburgo

“O Comboio do Luxemburgo” (Esfera dos Livros)

“Desde Agosto de 1940 que as autoridades alemãs juntamente com os responsáveis pela comunidade judaica luxemburguesa estavam a organizar transportes de judeus para Portugal. O primeiro saiu em 14 de Agosto chefiado por Albert Nussbaum e acompanhado até à fronteira espanhola por um oficial alemão. Sobre este transporte lê‑se num documento avulso, sem data nem autor, guardado nos Archives Nationales do Luxemburgo:

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Nussbaum é israelita e presidente da Sociedade de Socorro Judeu, ESRA luxemburguesa. Nasceu no Luxemburgo e é filho de um judeu alemão naturalizado. Nussbaum veio a Portugal, através da França ocupada, com um comboio de cinquenta judeus, todos emigrantes, polacos, austríacos, russos e outros. Este comboio foi acompanhado por um oficial alemão até à fronteira franco‑espanhola. A gasolina para o autocarro foi fornecida gratuitamente pelas autoridades alemãs da França ocupada. De Irun, o comboio utilizou o caminho‑de‑ferro até Portugal. Cerca de trinta encontram‑se já em Lisboa; o resto ficou bloqueado até agora em Vilar Formoso devido a problemas nos passaportes.

Apesar das dificuldades encontradas na passagem deste comboio na fronteira portuguesa e do outro que se lhe seguiu em Outubro, com 150 pessoas a bordo, a situação desesperada em que os judeus viviam naquele país levou à preparação de mais um transporte. Desta vez, o grupo era substancialmente maior, cerca de trezentas pessoas. À semelhança do que acontecera anteriormente, também este fora organizado sob a supervisão da Gestapo. A partida das camionetas ficou marcada para a manhã de 7 de Novembro e o local de encontro dos que iriam partir era a sede da ESRA, junto à estação de caminho‑de‑ferro da capital luxemburguesa. À hora marcada, as pessoas foram distribuídas por oito autocarros, sendo cada um deles escoltado por dois elementos da Gestapo fardados e armados. Os que viajavam nesse dia tinham sido avisados de que deveriam levar mantimentos suficientes (sardinhas em lata, biscoitos, chocolates, água, etc.) para alguns dias. Haviam sido também autorizados a levar uma mala com roupa e 10 Reichsmark por pessoa.

Entre os que deixavam o grão‑ducado nessa manhã contavam‑se alguns membros da família Galler, nomeadamente Rachel (posteriormente Wolf por casamento). Filha de comerciantes abastados, Rachel vivera sempre na cidade do Luxemburgo com os pais e a irmã, no andar por cima da sede da ESRA. Quando abandonava, na manhã do dia 7 de Novembro de 1940, o apartamento em que sempre vivera, “um soldado alemão em uniforme”, ao vê‑la descer as escadas, pediu‑lhe que lhe mostrasse as mãos e tirou‑lhe “então, o relógio e o anel de sinete, que tinha acabado de receber pelos seus dezoito anos”. Duro golpe para uma jovem que acabara de perder todas as referências do que tinha sido até então a sua vida.

O embarque das pessoas nos autocarros – estacionados em frente à ESRA – fez‑se, como uma operação militar, sob as ordens do oficial da Gestapo Albert Schmidt. Terminada a distribuição das pessoas, as oito viaturas arrancaram. Dentro dos autocarros, relata Rachel, “reinava um silêncio pesado. Ninguém ousava falar. Alguns bebés agitavam‑se e choravam. O medo era visível nos olhos de toda a gente”. Para a sua tia Renée Galler, que viajava com o marido e os dois filhos pequenos, o ambiente não era assim tão mau: “Dentro dos autocarros respirava‑se um certo alívio. Acreditávamos que nos íamos embora e estávamos esperançosos”.

A viagem decorreria sem grandes incidentes, tendo a travessia da França demorado dois ou três dias. Segundo Renée Galler, a viagem fez‑se muitas vezes fora de horas “já que os alemães não queriam” que “os vissem e que se soubesse o que estava a ser feito”. A primeira noite foi passada em Poitiers, onde os alemães requisitaram hotéis baratos, bordéis e casas particulares para os instalar e “os SS foram de porta em porta dizendo ‘esta noite têm de receber esta família judia’”, como refere o então jovem Otto Klein, que viajava com a mãe e a irmã. Em Poitiers, os alemães marcaram um lugar e uma hora bem matutina para todos comparecerem no dia seguinte e a viagem poder prosseguir. Infelizmente para Otto, então com 13 anos, a saída à pressa da casa onde pernoitara levou‑o a esquecer‑se do relógio que lhe tinha sido oferecido por ocasião do seu Bar Mitzvá.

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A segunda paragem foi em Paris. Conta Otto Klein que dormir na capital francesa foi, para ele, uma grande aventura, tanto mais que a meio da noite tiveram de se refugiar nos abrigos antiaéreos devido a um bombardeamento aliado. Após uma outra dormida já no sul de França, chegaram finalmente a Hendaia, na fronteira espanhola. Aí, o líder do grupo, Charles Hayum, e as autoridades alemãs que os acompanhavam tiveram de travar complicadas negociações para obterem a autorização necessária para entrar em Espanha, já que ninguém tinha visto para aquele país. Segundo Vincent Artuso, o problema também se colocava por a esmagadora maioria das pessoas serem portadoras de vistos cubanos não válidos e por 18 delas não terem qualquer tipo de documento. Segundo este historiador, estes últimos, entre os quais se contaria René, irmão de Albert Nussbaum, teriam sido detidos pelas autoridades francesas.

A ser verdadeiro este facto, a relação do número de passageiros que irá constar em toda a correspondência oficial trocada após a chegada do comboio a Vilar Formoso, estaria errada. Aliás, mesmo em documentação coeva, o número de passageiros apresentado nos diversos documentos varia, o que pode ser explicado pela não actualização da lista de passageiros original.

Na fronteira espanhola o grupo abandonaria as camionetas em que viajava – que regressariam ao Luxemburgo – e seria encaminhado para um comboio com carruagens de terceira classe, que seguiria depois para a fronteira portuguesa. Ao contrário do que sucedera nos transportes anteriores – em que a Gestapo ficara em Espanha – desta vez os alemães decidiram acompanhar o grupo até território português. E foi aí que as coisas se complicaram. Além de ser um grupo extenso, de quase trezentos judeus, (maioritariamente apátridas e portadores de vistos duvidosos), vinha acompanhado por elementos fardados e armados pertencentes a um país beligerante, o que era totalmente contra os princípios da neutralidade.

As autoridades de fronteira portuguesa reagiriam e não deixariam sair ninguém do comboio enquanto não houvesse uma solução para os passageiros. Enquanto a polícia portuguesa encetava conversações com o Joint, alguns soldados alemães que tinham entrado em território português recusaram‑se a entregar as armas e foram detidos. Pouco depois, mais soldados alemães cruzaram a fronteira para ver o que se passava e acabaram também detidos. A situação só se resolveria depois da intervenção do embaixador alemão em Madrid. Este incidente diplomático terá, porventura impedido uma solução mais tolerante para os passageiros do terceiro transporte.

Entretanto – apesar de confundir a data da partida do Luxemburgo com a data da chegada a Portugal – a agência noticiosa judaica JTA referiria a entrada em Portugal deste transporte, ao mesmo tempo que noticiava a substituição, por pressão alemã, de Albert Nussbaum pelo advogado Alex Bonn à frente do Consistório Israelita. Quanto aos luxemburgueses retidos na fronteira de Vilar Formoso, a JTA afirmava‑se esperançosa de que, à semelhança do que acontecera com os comboios precedentes, este também acabasse por ser autorizado a entrar em Portugal, e que as pessoas pudessem instalar‑se numa “estância termal a 200 milhas” da cidade de Lisboa, tal como acontecera com os passageiros do segundo comboio, de Outubro.

Não foi, infelizmente, o que aconteceu. Durante dez dias, estas pessoas permaneceram encerradas nas carruagens, sem quaisquer condições, antes de serem reenviadas para França.

Nussbaum, que tinha ido a Vilar Formoso recepcionar este transporte, regressou rapidamente à capital portuguesa e desdobrou‑se em contactos, pedindo ajuda a várias organizações internacionais, nomeadamente ao Joint e ao HICEM, enquanto implorava apoio ao governo do seu país no exílio. Em 14 de Novembro, já Max Gottschalk, do HICEM, em Nova Iorque, sabia do que se passava em Vilar Formoso através da Comlux, chefiada por Nussbaum. Gottschalk telegrafou então a Vitor Bodson, informando‑o do drama que se vivia na fronteira portuguesa e de que o Joint estava a tentar conseguir a libertação dos 141 passageiros. Contudo, dizia ele, era necessário que Bodson criasse um fundo necessário para dinheiro e passaportes. Dias depois, em 21 de Novembro, já depois de os passageiros deste malogrado transporte terem sido reenviados para França, Nussbaum escreveu a Joseph Beck relatando‑lhe tudo o que acontecera:

Entretanto chegou a Vilar Formoso, em 11/11 um transporte de 290 israelitas munidos de vistos para Cuba e para Portugal, passados em Bruxelas. A Gestapo acompanhou‑os até Vilar Formoso, em território português. Infelizmente, este transporte ficou encerrado num comboio, dia e noite, até 19/11. Nessa altura aquelas pobres pessoas foram recambiadas para Espanha. Chegaram, ontem, a Hendaia num estado de grande exaustão e este aprisionamento acabou por custar a vida a uma mulher.

A mulher referida nesta carta era a austríaca Pearl Greif, de 58 anos, residente no Luxemburgo, onde tinha, desde há uns anos, uma loja de chocolates. Viajava com o marido, Hersch, na mesma carruagem que Rachel Galler Wolf. A tensão em que vivia desde que deixara a sua casa provocara‑lhe um ataque cardíaco. Ainda foi chamado um médico para a assistir, mas este constatou que pouco haveria a fazer. Foi levada para uma casa particular no Largo da Estação, onde viria a falecer às 4h da tarde do dia 18. O seu corpo foi enterrado no cemitério de Vilar Formoso, como consta da certidão de óbito e do livro de registos desse cemitério. Alguns amigos, como o pai de Rachel Galler, foram autorizados a acompanhar o enterro.

As condições em que as autoridades portuguesas mantiveram estas pessoas durante esses dez dias foram deploráveis e pouco consentâneos com a proverbial forma como os portugueses costumavam receber os refugiados. Encerrados dia e noite em carruagens geladas, não tinham sequer autorização para ir aos sanitários. Por essa razão, os dejectos tinham de ser deitados pela janela e todos os dias o comboio era manobrado para se poder limpar a linha. Sem água nem mantimentos, a situação era cada dia mais trágica. Numa primeira fase, valeu aos passageiros o auxílio magro da população de Vilar Formoso, que lhes levava café, pão e por vezes sopa, antes de serem auxiliados pela Cruz Vermelha Portuguesa.

Henri Galler, filho de Renée Galler, que também viajava neste comboio, fez chegar, em 2013, à equipa do Museu Vilar Formoso Fronteira da Paz, a seguinte mensagem:

Sou filho de Renée Galler e, tanto eu, que na altura tinha quase cinco anos, como a minha irmã, então com dois, estávamos nesse comboio. Lembro‑me de que não podíamos sair nunca do comboio e que este, de vez em quanto, tinha de sair da gare para voltar pouco depois para o mesmo sítio. Muitos anos mais tarde, a minha mãe explicou‑me que foram os habitantes dessa terra que prestaram ajuda aos refugiados que estavam naquele comboio, trazendo‑lhes água e comida. Em meu nome, no da minha irmã e no dos meus pais, que já faleceram, quero agradecer do fundo do meu coração por tudo o que fizeram por nós. Que Deus abençoe Vilar Formoso pela humanidade que teve com aqueles estrangeiros há 73 anos. Que eu tenha o privilégio de ser capaz, durante a minha vida, de passar aquela bondade aos outros.

No oitavo dia de cativeiro, chegou, finalmente, a Vilar Formoso um inspetor da PVDE que, pela primeira vez, iria autorizar os passageiros a sair das carruagens para darem um curto passeio de 30 minutos no cais e fazerem a sua toilette. A dureza desses dez dias será porventura responsável pela forma lacónica com que os que viveram esses dias – e a cujos testemunhos tivemos acesso – se lhes referem.

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Apesar de resumido, o relato mais completo é dado pelo memorando que Albert Nussbaum enviaria em 26 de Novembro, através do presidente da Comunidade Israelita Portuguesa, professor Moisés Amzalak, a Oliveira Salazar. Com este documento esperava Nussbaum que o ditador português se condoesse da situação desta pobre gente e acabasse por permitir o regresso dos já então internados em Mouserolles, um campo perto de Baiona.

Segunda‑feira 11 de Novembro – O Comité português de assistência aos refugiados judeus toma conhecimento da chegada à gare de Vilar Formoso de um transporte do Luxemburgo.

Terça‑feira 12 de Novembro – Ficamos a saber que as autoridades da fronteira julgam não poder autorizar estes refugiados a sair do comboio. Catorze pessoas foram logo enviadas para trás, porque os seus papéis não estavam em ordem.

Quarta‑feira, 13 Novembro – As crianças da aldeia trazem café quente e pão seco aos que estão fechados no comboio.

Quinta‑feira, 14 de Novembro – A Polícia Internacional Portuguesa pergunta ao American Joint Distribuition Committee se este se quereria encarregar destes refugiados. Este declarou‑se de acordo e concordou em prover às suas necessidades, seguindo as mesmas regras utilizadas com outros refugiados que se encontravam em Portugal. O presidente da Cruz Vermelha, M. Mendonça, interveio junto à Polícia Internacional para obter melhores condições para as mulheres e para as crianças.

Sexta‑feira, 15 de Novembro – Situação sem alterações na fronteira. Duzentas e noventa pessoas, que tinham sido obrigadas a deixar as suas casas e a sua pátria, continuam fechadas dia e noite em quatro carruagens de terceira classe. Às 15h o presidente da Cruz Vermelha é informado de que o comboio de Vilar Formoso partirá nesse mesmo dia para o Luso, para um asilo temporário, até à sua emigração definitiva.

Sábado, 16 de Novembro – O comboio continua parado em Vilar Formoso e as pessoas continuam fechadas, nas mesmas condições. O tempo está terrível. De vez em quando uma locomotiva liga‑se às carruagens e manda algum vapor para as aquecer. Nova intervenção do presidente da Cruz Vermelha e nova promessa de partir em breve para o Luso.

Domingo, 17 de Novembro – Uma mulher não resistiu e sucumbe. Da parte da tarde chega um inspetor da Polícia Internacional: graças a ele é concedida às pessoas do comboio a possibilidade de se lavarem e de poderem caminhar no cais.

Segunda‑feira, 18 Novembro – Os infelizes passam a sua oitava noite no comboio. Depois de uma promessa formal de que o comboio partiria a seguir ao almoço para o Luso, um delegado do Comité português, o sr. J. Sequerra, foi para lá imediatamente. Chegado ao Luso, constatou que na sexta‑feira dia 15 de Novembro um comissário da Polícia Internacional tinha lá estado a verificar a possibilidade de alojamento para as 290 pessoas que estavam em Vilar Formoso. Um telefonema para Vilar Formoso faria saber que até às 9 da noite o comboio não tinha saído da gare.

Terça‑feira, 19 de Novembro, de manhã – A situação geral é crítica. A bordo do comboio as pessoas desesperam e constata‑se que há muitos casos de doença e a partida para o asilo temporário não está a ser preparada. Mas nessa mesma tarde, chega‑nos um telegrama de partir o coração, às 17h05min o comboio regressava a Fuentes de Oñoro com a sua carga de 290 passageiros tristes e desesperados. Tinham tocado na terra da liberdade… mas ainda não podiam entrar neste país da liberdade!

Terça‑feira, 26 de Novembro. Soubemos que estes desgraçados foram internados em Baiona e que dentro de algumas horas serão transferidos para um desses lúgubres campos de internamento em França, a não ser que por um milagre de última hora se encontre um asilo temporário até que o governo do grão‑ducado lhes encontre um asilo definitivo.

Em 14 de Dezembro, Nussbaum enviava também este memorando a Vitor Bodson juntamente com uma extensa carta, na qual resumia o que estava a ser feito em Lisboa para salvar este grupo e impedir que fosse encaminhado para o sinistro campo de Gurs. Na carta, Nussbaum lamentava que os quinhentos vistos inicialmente previstos para o Congo Belga tivessem sido recusados e que o professor Amzalak não tivesse falado pessoalmente com Salazar sobre estes refugiados e apenas lhe tivesse escrito. Nussbaum relatava também que Amzalak tinha poucas esperanças de que Salazar acedesse, já que “a recusa da garantia do Joint tinha jogado um papel decisivo na decisão da Polícia Internacional”.

Para Nussbaum, cuja família se encontrava também em Mouserolles, a única esperança era que o ministro Pierre Krier conseguisse obter autorizações de entrada em Portugal, pelo menos para os que tinham nacionalidade luxemburguesa. Na sua carta é também claro o interesse da Gestapo em encerrar este assunto:

Ainda ontem a Gestapo, vinda de novo do Luxemburgo, me contactou de Irun para saber quais as possibilidades de partida do grupo, já que eles não estavam dispostos a esperar mais tempo para os transferir para Gurs. Implorei‑lhes que não o fizessem, já que ainda havia a possibilidade de validar os vistos cubanos. Ignoro o que é que eles vão fazer com esta resposta. Neste comboio, encontram‑se uma trintena de luxemburgueses, apátridas domiciliados no Luxemburgo desde 1914, 87 pessoas desde 1933, 69 refugiados de 1938, oito alemães e três polacos.

Grande parte destes estão desde há muito registados para irem para os Estados Unidos e se tivessem a possibilidade de esperar por um cônsul teriam rapidamente os seus vistos.

[Legenda da foto principal deste artigo: Crianças judias juntam-se na estação ferroviária de Lisboa antes de partirem para a Palestina, num transporte organizado pela Juventude Aliyah, em Novembro de 1944. Entre as crianças que partiram, estava Naomi Elath (nascida Gisela Edel, em 1928, em Stettin, na Alemanha). Os pais de Gisele, tal como os outros membros da comunidade judaica de Stettin, foram deportados, em Fevereiro de 1940, para a Polónia (Lublin) e morreram no Holocausto. Créditos: United States Holocaust Memorial Museum, cortesia de Naomi Elath]